sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

A TÍMIDA


Consultei outro dia, uma jovem muito bonita, porém, sobrecarregada demais.
Notei nela, certa timidez que estava impedindo-a de tomar decisões no percurso da sua vida. Cristina, o nome da bela, precisava libertar-se de “algo” que havia dentro dela. Acompanhem.
Dr. Boa – Bom dia, Cristina! Por sinal, hoje está um lindo dia, não está?
Cristina – É.
Dr. Boa – Por que não olha para mim?
Cristina – Porque eu tenho vergonha.
Dr. Boa – Vergonha? Mas, você é tão linda que, se me encarar, eu é que vou ter que baixar minha cabeça.
Cristina – O senhor acha que eu sou bonita?
Dr. Boa – Muito mais do que bonita. Você é linda.
Finalmente, Cristina levanta sua cabeça e olha para mim.
Cristina – Não consigo me relacionar com ninguém por causa do meu problema, doutor.
Dr. Boa – Que problema?
Cristina – Eu sou tímida.
Dr. Boa – Mas, este é um problema de fácil solução. Estou certo de que vai sair daqui deixando boa parte desta sua inibição. Crê nisso?
Cristina – Acho que sim.
Dr. Boa – Quem acha, procura e, pode nunca encontrar. Ou você crê ou você não crê. Ficar em cima do muro pode ser muito perigoso para um bebê.
Que bom! Consegui arrancar um sorriso de Cristina e, que dentes lindos! Perfeitos.
Cristina – Eu creio.
Dr. Boa – Então, para que eu possa ajudá-la, conte-me o que te aflige? O que te faz ficar assim tão acanhada?
Cristina – Eu tenho vergonha de falar.
Dr. Boa – Você tem mau hálito? Tem chulé?
E ela sorri novamente.
- Não. Absolutamente não.
Dr. Boa – Então, criatura, você é uma jovem vitoriosa. Tem uma voz linda, uma dentição capaz de deixar qualquer cirurgião dentista louco. Pode apostar que, em algum dente ele vai querer mexer; não tem chulé, já se livrou dos podologistas, por ter pés perfeitos, lindos. Cuidado apenas com os podólatras. Você é perfeita.
Cristina – Não sou, doutor. Existe algo dentro de mim que, sei lá, eu não consigo explicar. Esse “algo” me incomoda e fico irritada e tenho vontade apenas de me isolar do mundo, entende?
Fiquei observando aquela linda jovem e, notei que ela estava perturbada demais. Cruzava e descruzava as suas pernas, roía até as unhas dos pés. “Giré, me ajude”. Pensei.
Dr. Boa – Aceita um café?
Cristina – Sim.
Cristina tomou meu café e, lacraias do deserto! Pensem numa revolução. Pensaram? Rajadas multiplicativas de peidos de todos os tamanhos e medidas saíram de seu ventre, gente! Ela chorava e ria e a peidorreira prosseguia. Condicionei seus peidos ligando o ar condicionado.
Dr. Boa – Sente-se melhor?
Cristina – Desculpe-me, doutor! Não sei o que aconteceu, mas, sinto-me ótima.
Dr. Boa – Você está liberta, Cristina. Gases não podem e não devem ficar alojados, presos dentro da gente porque senão eles mexem com tudo lá dentro, entende? Peidar faz bem, é saudável e o reto agradece quando fazemos o correto pra ele, que é essa forcinha, compreende?
Cristina – Nossa, doutor!Eu segurei esses peidos dentro de mim por muito tempo.
Dr. Boa – Agora você está livre. Recomendo a você que tome bastante suco de mamão com leite e também couve com leite. Tome em jejum e terás um dia pleno com farturas de peidos.
E assim, aquela linda jovem sai do meu consultório liberta e curada. Às vezes, na vida, o que nos falta é muito pouco para nos libertar. O melhor que tem de fazer é expulsar o maligno de dentro da gente.



doutorboacultural.blogspot.com/

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