Florêncio
era um velho que adorava silêncio. Na verdade, ele era chato demais, sô!
Bastava o velho ouvir um peido do galo, já pegava sua espingarda e atirava
matando todo o galinheiro.
O
velho Florêncio morava na última casinha de um cortiço. Vixi! Só naquele
corredor moravam doze famílias, contando com ele (que morava sozinho) eram
dezesseis.
Aleluia
era uma crente fanática religiosa que morava de parede e meia com o velho
Florêncio. A mulher não tinha televisão nem rádio, não tinha marido nem filhos,
mas, fazia uma festa de glórias em seu barraco que provocava até mesmo o sono
tranquilo dos cachorrinhos. Ela gritava, pulava, batia palmas feita uma doida,
sô!
-
Glórias e glórias e glórias! Aleluias, aleluias e aleluias!
O
que?! O velho Florêncio carregava sua espingarda e enchia de tiros na porta da
crente e ela gritava mais alto ainda:
-
Glórias e glórias e glórias! Aleluias, aleluias e aleluias!
O
velho Florêncio ficou tão louco que encheu a boca de Aleluia de tiros.
-
Vá dar glórias e aleluias nos infernos, sua coceira de reto.
Numa
das casas daquele cortiço, morava um casal de surdos mudos. Pense no barulho
que promoviam estes seres quando fazia amor, sô!
-
Hum! Hiããã!
-
Hiããã! Hum!
Era
um arrastar de cama, barulho de palmas dos diabos.
O
que?! O velho Florêncio cansou de dar tiros na porta do barraco deles, porém,
eles nada ouviam. Não teve outro jeito: o velho Florêncio teve que matar
aqueles pombinhos também. Coitadinhos!
Quando o silêncio
parecia reinar naquele cortiço, o velho Florêncio ouve uma corrida de gatos e
uma miaceira no telhado do seu barraco.
-
Miau! Miau!
O
que?! O velho descarrega sua espingarda dando vários tiros no telhado. Não
matou nem um gato, porque esses bichanos são craques nos pulinhos, sô! Mas, o
telhado do velho ficou cheio de buraquinhos.
Deus
é bom demais! Mandou uma chuva para a alegria dos sapos, rãs e pererecas do
lago seco e eram tantas águas que fizeram piscina e piscinão no barraco do
velho bobão. Aproveita para lavar seu escroto, seu louco!
Pois é, no dia seguinte, o velho arrumou todo o seu telhado, mas, os
gatos queriam mais festa. Não teve outro jeito: o velho Florêncio atirou em
seus próprios ouvidos achando que ficaria surdo e, finalmente dormiria em paz.
Coitado!
Dormiu
mesmo. Acordou no inferno, num caldeirão quente. Pense num barulho. Pensou?
doutorboacultural.blogspot.com/
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