domingo, 20 de outubro de 2013

O MEDO DE MORRER


Não existe nada que seja mais temido do que a morte. Ela assombra a vida de todo o ser vivo. Nós, humanos e racionais preferimos não pensar no que pode nos acontecer nos próximos segundos, pois, a morte, muitas vezes, costuma ser repentina. Não sabemos qual é a sua hora e, sem dúvida, esta hora é inevitável.
A vida, por sua vez, nos surpreende a cada instante com bons ou maus acontecimentos. Não há como prever o futuro e nem tão pouco imaginar como será nosso destino. Ouvimos amiúde palavras de bom ânimo, cheias de promessas e esperanças de que a vida não termina aqui. É lamentável ter que admitir que, absolutamente ninguém, tem a certeza de nada. Tudo aquilo que nos faz bem pensar, pensamos, porém, tudo pode não passar de ilusão, utopia. A qualquer momento, podemos dar o último suspiro de vida e apagar tudo, morrendo para sempre. A morte interrompe todos os nossos sonhos, desligando para sempre nossas esperanças.
Por pior que seja a vida que muitos levam, às vezes, carregada de intensa dor e sofrimentos, no íntimo, ninguém quer morrer. O ser vivo não foi gerado por acaso, porém, por acaso, partirá desta vida um dia. Assim trabalha a natureza.
Cito a história de dois homens: Pedro e Paulo. Ambos amavam a vida, porém, apenas um deles, temia morrer.
Pedro, nascido em berço cristão, cresceu num caminho totalmente diferente dos prazeres do mundo.  Praticava o bem assiduamente e era um homem exemplar e sem vícios. Temia a Deus e, acreditava na imortalidade da alma. Acreditava que, praticando o bem e temendo a Deus, pondo em prática sua fé nos preceitos religiosos que lhe foi ensinado, ganharia por galardão a moradia celestial eterna, junto de Deus, Jesus e todos os anjos.
Paulo estudos muito e chegou à conclusão de que Deus não existe. Sentiu muito por pensar assim, porque deseja ter AA mesma fé que seu melhor amigo Pedro, porém, não podia enganar a si próprio. Para preencher certo vazio que existia dentro dele, procurou os prazeres que o mundo podia lhe oferecer.
Pedro e Paulo conversavam muito e, é claro, o maior sonho de Pedro era ver seu amigo Paulo convertido no cristianismo. Na verdade, Paulo nunca encontrou respostas convincentes às suas perguntas:
Se Deus existe, por que permite o sofrimento há tanto tempo?
A vida de um ser humano, na regra geral, é curta. Por pior que seja o pecado que este homem cometeu em vida, seria justo para esse Deus lançá-lo no inferno, num lugar de fogo e tormento eterno?
Uma vez que esse Deus verdadeiro não deixa confusos aqueles que realmente o adoram em espírito e em verdade, por que existem tantas dissensões, tantos preceitos religiosos e caminhos doutrinários diferentes? Se existe um só caminho e uma só verdade, como entender isso?
Paulo indagava muitos clérigos religiosos, porém, as respostas para as suas perguntas não lhes eram convincentes.
Pedro morreu e, da pior forma que um homem pode morrer em vida. Teve um derrame cerebral e ficou inválido, totalmente inconsciente. Sua esposa e suas três filhas, todas cristãs assim como ele, desejavam convictas de que ele morresse, pois não estavam mais suportando cuidar dele que, requeria cuidados vinte e quatro horas por dia. Pedro doente e acamado dá seu último suspiro de vida e morre.
Paulo nunca se casou, não teve filhos e, preferiu viver boa parte de sua vida na boemia, tentando colher sempre, é claro, o melhor que a vida podia lhe oferecer. Muitas vezes, vivia deprimido e, nem sequer, livros de autoajuda puderam lhe ajudar naquelas horas. Ele lia de tudo, não ignorava nada, porém, nem tudo aceitava. Simplesmente desejava viver para sempre, mesmo sabendo no íntimo, que isso era impossível. Temia morrer e, sua morte foi repentina, sem dor. Dizem que morrer assim é ter uma morte linda. Paulo teve um ataque fulminante enquanto fazia uma das coisas mais prazerosas que achava na vida: jogar xadrez com a morte. Em vida, nunca soube explicar isso, porque, sem dúvida, seria taxado como louco. “Como crer naquilo que, seguramente não acreditava?” Afirmava que alguém, que nunca soube definir quem jogava xadrez com ele e as pedras se moviam. Uma única vez entrou em xeque mate e, neste dia, partiu da vida.
Muitos anos, décadas e séculos passaram. A história de Pedro e Paulo foi esquecida como todas as histórias são esquecidas um dia. Na realidade, os corpos destes homens foram comidos por seus micro-organismos e, se proliferaram. Desta forma, a carne é imortal. Mesmo que o espírito desses seres Pedro e Paulo fosse imortal, fora da carne estaria morto para todo o sempre. O que faz o homem pensar e agir são seus cérebros. E o que, realmente os mantém vivos é o pulsar de suas veias e as batidas de seus corações. Tudo isto é carne.

O melhor da vida, sem dúvida, é viver e, a vida é única. Não há como reverter este quadro. Aqueles que realmente amam a vida temem a morte. Não destruamos os sonhos daqueles que sonham; daqueles que esperam; que confiam. Desta forma sim, seremos eternos.


doutorboacultural.blogspot.com/

Nenhum comentário:

Postar um comentário