Às vezes, muita gente não dá sorte na vida por causa da
comunicação; muitos rapazes bonitões, saradões perdem o miau da gatinha manhosa por não terem um bom papo; vivem feito
retardados de boca aberta só pra comer e cuspir, porém, mal sabem falar e,
lamentavelmente, peidam pela boca.
São, em outras palavras: os legítimos bocós.
Fedomiro, por exemplo, já saiu cagado do cartório, vítima de seus pais incompetentes que deram
esse nome horrível. Mamou leite de cadela sarnenta porque sua mãe perdeu os
seios numa briga de foice e, o nenê precisava mamar.
Quando o molequinho completou oito anos, aprendeu a falar as
primeiras palavrinhas que nunca foram encontradas no dicionário: “Fedo, dadá, xoxó e outras”. Como se não
bastasse, descobriram que ele era gago.
Fedomiro cresceu como cresce uma cebola e diversas outras
coisas. Feio feito um presépio de fezes de tamanduá bandeira, assustava até
aqueles mosquitinhos de banheiro que adoram um cheirinho de bunda. Que castigo!
Seus pais chegaram ao veredito que Fedomiro não daria bons
frutos na vida e decidiram se livrar dele. Deram-lhe uma cabaçada de
cotoveladas e jogaram o coitadinho no Rio Tietê em São Paulo. Quem crê em
milagres que coce a goiaba agora, porque o moleque sobreviveu mesmo após ter
engolido aquela água imunda e podre do rio.
Fedomiro fedia feita uma abutre no cio. Não tinha banho turco
ou sueco que tirasse dele aquele cheiro de pum
incorporado. Perdoem-me o pejorativo escatológico: fedia bosta. Os cheirosinhos
queriam mata-lo, é claro, porém, todas as tentativas foram fracassadas. Aquela
coisa não morria não.
Fedomiro andava assustado pelas ruas de São Paulo, simplesmente
porque assustava as pessoas sem, querer. Era um horror e o povo temia.
Sucedeu que um dia, bem debaixo de um dos viadutos da grande
São Paulo, Fedomiro achou uma maleta.
Riam hienas desdentadas. Dentro daquela maleta tinha milhões de dólares,
muito mais que toda a fortuna do saudoso Elvis Presley. Em dinheiro brasileiro
tinha uns R$20,00 (vinte reais). Fedomiro já tinha uns 18 anos nessas alturas e
decidiu tomar uma cerveja na lanchonete do China, porém, já chegou mostrando o
dinheiro, senão, nem lá entraria. O China o mandou sentar na última mesa, onde
ninguém pudesse vê-lo. O que?! O China estranhou por que diabos não entrava
ninguém em sua lanchonete e foi conferir de perto. Piedade meu Deus! Fedomiro
coçava os vãos dos dedos de seus pés numa boa e, pensem num cheiro de queijo
estragado. O China ficou bravo, é claro:
- Maluca você! Não pode
tira sapato aqui nem na China. Não pode coça pé aqui, maluca.
No que Fedomiro assusta, automaticamente e, assim trabalha a
natureza, ele solta um peido tão alto que chama a atenção da polícia que invade
aquela lanchonete, pensando que era tiro. Nessas alturas, Fedomiro já estava
todo cagado. E a polícia estava nervosa.
- Cadê seus documentos, ET? Qual é o teu nome?
- Fedo...
- Qual é o teu nome, maravilha do inferno? Fale.
- Fedo...
E um daqueles policiais bate no coitado, bate, bate, até
sangrá-lo.
- Que maleta é essa?
- Fedo...
Vichi! O miro não
sabia e, finalmente, a polícia constatou que ele era um gago. Abriram a maleta
de Fedomiro e, na sequência, quem crê em milagres que coce a goiaba agora: um
dos policiais abraça Fedomiro e chora.
- É o meu filho amado Fedomiro. Perdoe seu pai, filhão
querido. Joguei-te nas águas do Rio Tietê há muitos anos atrás, meu nenê, mas,
é evidente que me arrependi.
- Fedo...
- Sim, meu filho, não precisa me dizer mais nada.
- Fedo...
O generoso pai de Fedomiro abandonou sua carreira de policial
para cuidar do filhão amado. Como o amor é lindo! Engana-me que eu gosto.
Comprou um castelo em Londres que incluía uma linda donzela para amar seu filho
Fedomiro pro resto da vida. São coisas que o dinheiro faz, não é?
Menos mal para Fedomiro. Comunicação pra que, agora? Nunca
mais o coitado falou outra coisa a não ser “Fedo...”,
porém, o gago agora era um milionário e mesmo fedendo passava batido. Agora, se
tu és pobre compadre, fede pra ver.
doutorboacultural.blogspot.com/
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