A
INFÂNCIA E A ADOLESCÊNCIA DE MAIS UM BOÊMIO
Meu nome
é Vicente, sou natural de Leme/SP, hoje com 48 anos e, o mais importante:
muitas histórias para contar. O tempo passou assim tão despercebidamente que,
quando dei por mim descobri que tudo o que vivi até hoje me serviu de
aprendizado. É claro que jamais passaria por tudo isso novamente, pois trago do
passado péssimas lembranças, mas, também inesquecíveis momentos de alegria e,
isso com certeza me aprazem.
Nunca
fui um cara frio e calculista como aparentava ser para certas pessoas. Posso
dizer que fui um grande sonhador e acho que ainda sou. Hoje não preciso mais me
destacar às pessoas como o centro das atenções; não preciso mais mentir
incorporando personagens que nunca existiram. Será que fui tão mau assim? Creio
que não! Eu acreditava nas minhas mentiras. Iludi-me demais com a vida e,
depois de apanhar bastante dela descobri que vale a pena viver.
Sou
sincero e adoro a honestidade. Lá atrás ficou aquele adolescente que queria ser
como o ator Carlos Zara e ter uma mulher como a atriz Eva Wilma. Eu achava que
a vida era uma comédia e eu vivia rindo. Adorava dramatizar e, até hoje fico
indignado por não ter feito uma carreira na falida Rede Tupy de Televisão. Eu
não saía de lá. O ator Carlos Zara me conheceu nos estúdios da emissora no
bairro Sumaré, mais precisamente na Rua Alfonso Bovero, n 56 (São Paulo).
Eu era
aquele molequinho falante, nada tímido que tinha o poder incrível de cativar as
pessoas. Meus pais eram ricos, fazendeiros e estrangeiros, isso é o que eu
dizia a todos. Eu tinha vergonha de dizer que morava num cortiço e que era
pobre, filho de analfabetos. Nas minhas ilusões eu era um pouco de tudo:
cantor, ator, filhinho de papai, etc. Abordava as pessoas em plena Pça da Sé
dramatizando um garoto triste (e até chorava) dizendo ter uma avó hospitalizada
com câncer nos pulmões. Tudo isso para ganhar um dinheirinho para minha maior
diversão da época que era o fliperama. Achava um desperdício de vida ver
aqueles homens bebendo cerveja nos botecos, mas também gostava de conversar com
eles. Ouvia tanta coisa engraçada! Minha bebida predileta era a Fanta Uva. Que
saudades dela!
Apaixonado
por Nacional Kid, Ultra Seven, Ultra Men e outros heróis... Eu achava que
estava bem protegido e, criei também um herói: “Pinga Fogo”, esse era terrível!
Pode acreditar que era. Quando ele incorporava em mim eu virava num diabo.
Eu tinha
quatro anos quando minha mãe me colocou numa creche. Meus pais comerciantes
tocavam um armazém de secos e molhados e eu devia ser um molequinho
insuportável. Consegui fugir daquela creche enganando as tias e, até hoje me
surpreendo com isso! Não sei como cheguei a casa, umas oito quadras daquela
creche.
Eu tinha
sete anos quando nasceu meu irmãozinho caçula. Minha mãe lavando roupas e eu
cuidando do bebê na sala que ria feito um sagui. Quando ouvi o bebê falar
“Gugu” dei um salto feito uma pulga e fui correndo contar as boas novas para
minha mãe. Hoje o bebê cresceu e fala muito mais do que eu.
Sempre
fui curioso, uma das razões de eu ser apaixonado por felinos, em especial o
gato. Eu tinha 12 anos, meu melhor amigo (Wilson) 11. Uma de nossas diversões
era brincar no Horto Florestal, em São Paulo. Conhecemos juntos uma garotinha
chamada Keila e ela tinha só 10 anos. A gatinha gostou tanto de mim que me deu
um bilhetinho com seu endereço que me lembro até hoje: Rua Aquira Yamaguchi, n
51. Vila Japão, em Guarulhos, São Paulo. Coincidência ou não, eu
morava num outro bairro bem longe dela, mas com o mesmo número 51. Rua Lagoa Azul, número 51. Bairro do Limão.
Keila
foi minha primeira paixão. Uma semana depois, curioso como um gato, fui lá a
casa dela. Passei várias vezes em frente e eu achava que estava arrasando com
brilhantina nos cabelos, óculos escuros, camisa xadrez e uma calça bege boca de
sino, sem contar com a bota marrom que foi apelidada por Wilson de (a bota de
ouro). Que ridículo! Uma galera de um colégio começou a mexer comigo e eu saí
fora daquela vila. Eram as menininhas me paquerando. Sem querer me exibir, eu
era bonitinho, vai. Peguei um ônibus e descobri que estava sem um centavo no
bolso. Que vergonha, meu! O motorista me humilhou dizendo que ia parar em
frente ao Juizado de Menores e, tinha um passageiro que dizia ser um Juizado e
eu me gelei. Sacanagem! Eles estavam se divertindo comigo.
Nunca
mais voltei para aquela vila e também não vi mais minha adorável Keila. Muitos
anos depois, eu já tinha meus 20 anos e namorava uma catarinense e, naquela
semana iria me casar com ela. Liguei para a telefônica e descobri o telefone de
Keila. Batemos um longo papo e é claro que ela lembrou- se de mim. Ela também,
coincidentemente iria se casar naquela mesma semana. Passaram-se muitos anos e
não tivemos mais contato. Nessas alturas, eu já tinha quatro filhos e, o mais
novo só quatro anos quando saí de casa e não mais voltei. Chorava muito, mas
muito mesmo! Mas eu estava apaixonado por outra mulher e queria ficar com ela.
Liguei para Keila e ela se surpreendeu dizendo que eu não morreria mais, pois
ela e sua mãe estavam naquele exato momento falando de mim. Keila me contou
chorando que recentemente estava viúva. Seu marido era taxista e foi
assassinado. Batemos um longo papo... Eu, ela e sua mãe pela extensão do
telefone. Hoje, aquela gatinha tem 46 anos e fico aqui imaginando: como será
que ela está, hein?! Fiz para ela duas lindas canções: “Procura” e “Semeia
Coração” e, ela nem sonha com isso.
AS
CANÇÕES QUE FIZ PARA MINHA PRIMEIRA PAIXÃO
PROCURA
“O
porquê de tudo, gostaria de saber, onde ela está”? não consigo compreender! É
sol, é chuva, onde ela se escondeu? Onde ela se escondeu? Onde ela se escondeu?
Saio às esquinas, procuro pelos bares, ruas, avenidas, em todos os lugares... É
sol, é chuva, onde ela se escondeu? Será que ainda me tem por seu? Ao meu lado
não amanheceu! Será que ela me esqueceu? Meu Deus! O que é que aconteceu? Onde
ela se escondeu?
SEMEIA
CORAÇÃO
“Soube
te amar, fiz você sorrir e acreditar que era feliz. De uma amizade que cresceu,
nasceu o amor, aconteceu... Tudo acabou, você já me esqueceu, não mais estou
nos pensamentos teus. Sabe você que o amor não é só paixão porque bate meu
coração! Sabe você que o amor é a sensação de ter, você em meu coração! Amor,
amor semente... Semeia coração! O amor é uma semente, semeia coração, semeia
coração...”
Sempre
adorei compor e cantar! Isso pra mim sempre foi o melhor da vida. É tão prazeroso você
conhecer alguém na vida e falar desse alguém numa canção! Todas elas têm uma
história. Talvez um dia, Keila (minha primeira paixão) ouvirá as duas canções que
fiz para ela.
UM
BOÊMIO SOLITÁRIO
Queria
entender porque todo boêmio, mesmo que esteja sorrindo consegue deixar
transparecer um semblante triste. Pelas andanças da vida conheci muitos deles.
Movidos pelo álcool, porém com uma capacidade incrível de passar um pouco de
alegria a quem lhe der ouvidos. Então, esse solitário se apega a você de tal
maneira que, se você lhe der as costas ele chora.
Em
Joinville, Santa Catarina eram mais de três horas da manhã quando fui para casa
de um beberrão, embora eu estivesse tão embriagado quanto ele. O sujeito me
conheceu num boteco tocando um violão totalmente desafinado e, o interessante é
que estavam adorando o meu show. Quando todo mundo está bêbado, tudo pode passar batido. Só fiquei sabendo que ele estava desafinado
dois dias depois que voltei naquele boteco, pois o proprietário não sabia se
ria de mim ou se me dava bronca.
Chegando
na casa daquele sujeito beberrão, mas, engraçado, ele me apresentou sua esposa e
suas quatro filhas, todas evangélicas. Ele, na sátira, exigiu que todas me
recebessem, mas aquilo foi engraçado demais.
Ele
dizia ser crente evangélico também e, tentava me convencer que Jesus e seus
discípulos eram chegados numa cachaça com limão. E, o pior, era que sua esposa
ainda tinha que concordar com tal absurdo. Suas garotas, a maior com 12 anos
riam das palhaçadas que aquele sujeito falava e fazia. O cara sorria, chorava,
falava em Jesus e, o assunto da hora era sobre nomes bíblicos. Ele era o Pedro,
sua esposa Gislane, suas filhas Ruth, Raquel, Ester e Sara, todas com nomes
bíblicos com exceção a esposa. Então, ele disse:
- Só
essa encrenca aí que eu fui arrumar não tem nome bíblico. Olha só que nome de
encrenca: Gislane. Depois, é só eu que bebo? O pai dela devia estar num porre
do demônio quando registrou esse nome.
A mulher
devia gostar muito desse beberrão, pois ela também ria. Fiquei pensando: quando
eu chegar em minha casa, o clima vai ser outro. Eu também, casado, pai de quatro
filhos, só que lá, era briga na certa quando eu chegava alcoolizado e,
principalmente altas horas da madrugada.
Pedro, o
beberrão, pergunta meu nome mais uma vez...
- E
você? Qual é o seu nome?
- Pode
me chamar de Júnior.
- Júnior
é bíblico também.
Daí, a
gargalhada foi completa. Como também eu estava alterado fiquei tentando lhe
dizer que quem foi engolido pela baleia não foi Júnior e sim Jonas. E ele
teimava comigo dizendo que Jonas era quem traiu Jesus e Jeremias era o irmão de
Judas. O cara fez uma trapalhada ali que é só por Deus, viu!
Mas, no
meio de tanto sorriso, gargalhadas, notei que aquele era um homem tão triste
quanto eu. Disse-me que o maior de todos os seus sonhos era o de ser cantor.
Então, choramos juntos. Sua esposa e suas filhas voltaram para seus quartos e
ficamos conversando na sala até o dia amanhecer. Disse-me que nunca estudou
porque foi obrigado a ajudar seus pais na roça; passou fome, frio. Sentia
necessidade de ter um amigo e a primeira mulher que sorriu para ele, não pensou
duas vezes: casou-se com ela. Ele mantinha o juramento que fez a mulher: “Minha
mulher e filhos nunca passarão fome, nem frio enquanto eu existir”. Achei muito
lindo aquilo. Ele não estava mentindo. Voltei algumas vezes em sua casa e o
encontrei tão sóbrio que ficava envergonhado de procurá-lo. Fui excelentemente
bem recebido e a mesa sempre estava farta e, sua esposa e filhas dando graças a
Deus. Nunca mais voltei na casa de Pedro. Com certeza, mesmo rodeado por suas
filhas e mulher aquele era um boêmio tão solitário quanto eu.
MEU
CASAMENTO, UMA ILUSÃO
Eu tinha
21 anos quando minha mãe morreu. Eu era um jovem bonito, sempre de bem com a
vida, apaixonado por boa música e extremamente apaixonado por mulher, é claro.
Morávamos
(eu, meus pais e mais dois irmãos) numa casinha simples numa cidade da grande
São Paulo: Franco da Rocha. Minha mãe totalmente doente, mas, sem dar trabalho.
Passava o dia sentada triste e, às vezes, com um sorriso sem nada entender. Quem
cozinhava agora era o Sr. Vicente, meu pai. Um homem que, apesar de viver numa
extrema miséria sempre estava feliz, sorridente, assoviando e cantando logo
pela manhã, ao acordar. Roberto, meu irmão quatro anos mais velho do que eu,
sempre pacato, ouvindo suas canções baixinho no rádio não incomodava nem mesmo
os espíritos; meu irmãozinho caçula sete anos mais novo do que eu talvez fosse
a grande preocupação de mamãe. Ela queria dizer algo mas ninguém conseguia
entendê-la.
Wilma,
minha irmã mais velha morava com sua companheira em São Paulo e, isso há muitos
anos. Sempre criticando meu pai e irmãos, tinha uma antipatia por mim (hoje isso acabou), creio. Talvez por eu ter sido o “queridinho do papai”,
será? Mas, ela também era.
Então,
minha irmã chega lá naquela humilde casa junto de sua companheira e, só de
olhar para mim já me agride moralmente tipo: “E, você vagabundo?! Não tem nada
o que fazer para ajudar?!” Minha mãe acamada (talvez dormindo) e,
uma briga física acabara de rolar. Imaginem vocês que baixaria!
Mas, a
vida é mesmo assim. Quando alguém dá certo na vida é porque foi capacitado,
inteligente, moderado, enfim... Quando a miséria persegue o indivíduo é porque
ele é um fraco, um incompetente, um ignorante. Discordo completamente disso.
Meu pai foi um homem. Muitos no lugar dele teria posto fogo na casa, matado a
mulher doente a pauladas ou ter virado num alcoólatra violento. Ele
foi um homem. Ele é um homem. Hoje está morto, porém, muito vivo em minha mente
e coração. Sinto a presença dele sempre.
Saí de
casa depois de ter internado minha mãe. Ela estava num estado delicado demais e
precisava de cuidados. A irmã mais velha, creio que não poderia fazer nada por ela também, materialmente, falando para ajudar; meu irmão mais velho (desse não falei) era
recém-casado e estava sempre presente pronto para ajudar; eu, nada podia fazer.
Eu era jovem, bonito, saudável, vagabundo e, queria era mais viver mesmo e, não
me arrependo de nada do que fiz, ou seja, me arrependo daquilo que não fiz.
Sempre trabalhando dentro de mim, compondo músicas, sonhando...
Cheguei
a São Paulo (capital) e logo de cara já surgiu um rapaz me oferecendo uma
moradia em seu apartamento e, me garantindo que era sem segundas intenções.
Claro. O cara além de militar (tenente) era veado, mas isso não me importava.
Eu tinha lá o meu cantinho. Sérgio, o nome do gay não assumido frequentava um
terreiro de umbanda e, me falava muito de uma nova amiga de Santa Catarina que
recentemente havia perdido seu pai. Eu me lembro de ter dito a ele: “Nem quero
conhecê-la”. Mas, ele insistiu para que eu a conhecesse pois o gay
me queria ver sorrindo e, eu não parava de pensar na minha mãe que, saindo do
hospício agora estava num hospital particular financiado por Celso, meu irmão
mais velho.
Rosana
era uma moça linda. Recepcionista da Demillus, catarinense de olhos verdes,
cabelos longos e lisos, bem mais alta do que eu; charmosa, voz firme e forte,
sorridente, simpática, um sonho. Apaixonamos-nos e, decididamente queria me
casar com ela. Não fizemos planos e logo eu já estava em sua casa em
Joinville-SC conhecendo sua mãe, depois suas lindas irmãs. Minha mãe faleceu em
outubro daquele ano, em novembro conheci Rosana e me mudei para a casa de sua
mãe que me adorou. Lá naquela casa com sótão e tudo eu me sentia um cara
realizado. Sem dinheiro, sem trabalho, miserável, porém realizado. Dona Ruth,
mãe de Rosana, era diarista, pagava aluguel e sustentava a mim, sua filha e, ficávamos vendo televisão e falando de coisas fúteis. À
tardinha chegava minha futura sogra cansada, mas sorridente. Então tinha cigarros
e boa comida. Ficávamos até altas horas da noite trocando ideias na cozinha.
Lá, jogávamos baralho, dominó e, graças a minha influência, a televisão era
ignorada a noite.
No dia 8
de dezembro morreu Celso (meu irmão mais velho) só que eu não sabia. Sentia uma
tristeza profunda, uma vontade de chorar imensa e desabafava com Rosana:
“Alguma coisa aconteceu e eu não sei o que é”.
Dois
dias depois, logo nas primeiras horas da manhã... Ouvi um carro parar em frente
aquela casa e os passos de uma jovem linda que, até então, só conhecia por
fotos. Era Magali, minha futura cunhada dando a notícia de que meu irmão havia
falecido e ficou sabendo disso porque tal de Fernando (meu irmão caçula) dera
tal notícia por telefone.
Meu pai
precisava de consolo, de alguém para ajudá-lo, mas nada pedira. Eu e Rosana
fomos para Franco da Rocha e chegamos lá em altas horas da noite. No dia
seguinte meu pai foi para o hospital e, talvez com a presença de Rosana o velho
se recuperou. Ele dizia que ela era muito linda.
No dia 7
de fevereiro, em Joinville-SC me casei com Rosana. Foi tudo muito simples e sem
festa e igreja. Só no civil e, até então eu não sabia que aquele papel com
testemunhas e tudo depois de assinado me causaria tanta frustração. Nada pude
fazer por aquela jovem e idem. Nos próximos anos (e foram muitos) eu e Rosana
ficamos grudados em Dona Ruth dependendo de tudo.
Rosana
ficou grávida em Joinville e meses depois decidi ir para Mogí-Guaçú, onde
morava meu velho pai com sua nova companheira. Minha intenção era alugar uma
casa e começar do zero, mas jamais pensava em trabalho registrado. Eu queria
compor, só isso. Um dia minhas músicas iriam fazer muito sucesso nem que eu
fosse o único a comprar meus discos.
Eu e
minha cunhada Magali tínhamos um caso, mas, ninguém imaginava. Até hoje sou
taxado de “sem-vergonha”, porém, no caso da minha cunhada, quem foi seduzido fui
eu; quem me comeu foi ela... Ops! Entendam bem esse “comeu”, hein! Ela me
tentou logo na primeira semana que me casei com sua irmã Rosana, ou será que
estou mentindo? Ela cheirava minhas roupas e calçados. Chamava-me de gato.
Abraçava-me e chorava em meus ombros. Gostava de tudo o que eu gostava e isso
também era sexo, como é até hoje. Agora se existe o inferno me deixe do lado de
fora porque nem mesmo Jesus resistiu sua paixão por Maria Madalena ou toda a
história está muito mal contada.
TENSÃO,
MEDO
Eu era
um adolescente, deveria ter uns 16 anos quando pela primeira vez estive no Rio
de Janeiro. Ao descer do ônibus na rodoviária beijei o chão como se aquela terra
fosse sagrada. Eu devia ter umas moedas no bolso e também não estava nem um
pouco preocupado. Conversei com algumas pessoas (homens e mulheres) inventando
qualquer estória e logo meu bolso já estava cheio de moedas e notas de cruzeiro
também. De repente, um cidadão de cavanhaque, magro, aparentando ter na época
uns 40 anos me surpreende.
- Ei
garoto! Tenho observado o que você está fazendo e, quer saber quem eu sou? Sou
polícia.
Fiquei
pálido, ainda mais quando passou por perto da gente dois policiais e ele os
cumprimentou. Disse que queria levar um papo comigo e sentamos num dos bancos
daquela rodoviária. Fez-me um monte de perguntas e, de vez em quando, quando
passava policiais ele acenava pra eles...
- Eu te
levo pra minha casa, garoto. Lá você vai tomar um banho, tenho umas roupas e
calçados da hora e...
- Eu não
vou para a sua casa, senhor.
- Então
eu te prendo aqui e agora, ok?
Pensei
rápido...
- Não.
Tudo bem, tudo bem. Eu não tenho onde ficar mesmo então eu...
Olhei
para o sanitário...
- Vou
precisar usar o banheiro.
- Não
demore.
Lá
naquele sanitário dois boys aparentando minha idade na época (16, 17) me
surpreenderam...
-
Cuidado com aquele sujeito que está conversando com você, cara!
- Ele é
estuprador.
- Leva
os boys para um matagal, os amarra e...
Naquilo,
o demônio estuprador aparece...
- Vamos
então?
Os boys
saíram e, ainda bem que o demônio não ouviu nossa conversa. Achei que não, é
claro. Insisti para ele me pagar uma vitamina de frutas com groselha e queria
comer um misto quente também...
- Você
come lá em casa, moleque!
- Não!
Faz três dias que eu não como e...
-
Exagerado. Tudo bem. Vamos lá.
Naquilo
que o otário estava tirando a ficha no caixa da lanchonete e vazei daquele
lugar. Corri no meio da multidão e cheguei até a rua. Entrei no primeiro
ônibus. Que cidade esquisita! Era só números no letreiro dos ônibus. Fui parar
no Leblon e adorei aquele bairro. Eu estava morrendo de fome e já que dinheiro
não era o meu problema...
- Eu
quero um misto quente no pão francês e...
A
garçonete sorriu para mim...
- Que
pão é esse?
Nossa!
Fiquei com saudades de Sampa, viu! Cada lugar eles falam diferente. Comi o
misto, tomei minha vitamina de abacate com groselha e procurei um hotelzinho
pra dormir. Só que eu era menor e, isto era mais um problema...
- Mas eu
tenho a autorização do juizado de menores moço!
- Isso
não vale nada aqui.
Que
droga! Acabei dormindo na praia de Ipanema, não muito longe dali. Que delícia!
Ninguém me incomodou. Nem uma bala perdida. Dormi pra valer já que eu estava
ferrado no sono. Acordei pela manhã com uma moça me atirando areia no rosto e
briguei com ela, moralmente, é claro...
A moça
era muito linda e era gringa. Raquel, nunca mais vou me esquecer dessa
criatura. Com ela aprendi muitas coisas mesmo, inclusive como fazer amor e
sexo. Só que ela era uma “cavalona” perto de mim. Tinha 21 anos eu
16. Que saudades! Onde será que ela anda, hein?
Mas meu
dinheiro estava acabando e eu precisava de um lugar para ficar e aquela moça
sacana me deixou passar uns dias no apartamento de seus pais já que eles
estavam viajando. Lá eu conheci o uísque Ballantines envelhecido 12 anos. Eu
nunca tinha bebido sequer uma cervejinha de latinha. Fiquei de porre e até
incorporei falando japonês e futilidades da bebida. Fiquei com muito medo.
Raquel, muito sacana me dizia que meu coração ia parar e fiquei numa tensão do
cacete. Foi terrível! Não parava de vomitar e ela continuava a me provocar...
- Daqui
a pouco vem as triplas e...
Eu
chorei muito e odiei aquela moça. Como eu era bobinho, gente!
MINHA
MORADA
Andando
pelas ruas de Cinelândia encontrei um hotelzinho perfeito para mim e decidi
morar ali. À noite eu ficava compondo e, a cada nova inspiração eu acordava o
porteiro...
- Olha
só essa! Escuta essa!
Que
porteiro legal, meu! Sempre tive sorte com porteiros de hotel. Ele nem mais me
cobrava diária ou pernoites e aquela era a minha morada. Só me faltava um
violão e...
Um dos
hóspedes tocava uma música de Nelson Gonçalves (A Volta do Boêmio) para mim, a
melhor e logo já conquistei sua amizade. Mostrei minhas músicas pra ele e,
incrível, eu tinha um carisma tão profundo sobre as pessoas!
À noite,
quando aquele boêmio não estava ali no hotel eu saía pelas ruas de Cinelândia e
ficava nos botecos tomando Fanta uva só para assistir os homens cantarem. Eu me
metia no meio deles e gostava muito de cantar “A Volta do Boêmio” (Nelson
Gonçalves) e Maria Bethânia (todas). Até hoje sou apaixonado por Maria
Bethânia.
Chorei
quando tive que sair daquele hotel. O porteiro morreu e, mudou a direção, sei
lá. Nem quero me lembrar. Dalí do Rio fui parar em Governador Valadares, Belo
Horizonte e uma porrada de cidades de Minas Gerais. Sempre pedindo dinheiro nas
rodoviárias, contando estórias absurdas para sobreviver. Lá atrás tinha ficado
meu trabalho na Bússola Contabilidade e Assuntos Fiscais... Com a minha
capacidade eu seria hoje um dos sócios daquela empresa. Joguei tudo fora. Que
saudades da Bússola! Rua Maria Antônia, n 58 (Sampa).
Conheci
Salvador, a cidade de Santo Amaro da Purificação (a casa que nasceu Bethânia e
Caetano) e Mazico, primo do meu pai que, na época era dono de uma loja de
materiais para construção.
APRENDENDO
A SER MALANDRO
Meu
primeiro emprego registrado foi na Coloman Ind. De Máquinas e Ferramentas. Lá
eu era um Office boy e adorava uma máquina de escrever que minha nossa! Nas
horas em que eu não estava nas ruas trabalhando eu ficava lá “catando milhos”
na Olivetti. Eu escrevia estórias, letras das minhas músicas, etc.
Nas ruas
eu virei um malandro. Gostava de comer misto quente, tomar Fanta uva e sair sem
pagar. Nunca me pegaram. Um dia até almocei e zarpei do lugar sem olhar para
trás. Saí daquele emprego e em poucos dias já estava empregado na Bússola. Lá
sim virei um malandro profissional em todos os sentidos. Só que ainda era
virgem. Deixei escapar mulheres lindas na Bússola, meu!
Sempre
tive uma admiração por meu pai (hoje falecido) e, na época, como ele era
cobrador de ônibus eu trazia para ele uma cartela de vinte passes e isso era
todos os dias com exceção a sábado e domingo. O velho ficava numa alegria
tamanha e aquilo me fazia muito bem. Só que pra ganhar aqueles passes não era
assim tão fácil não. De segunda a sexta logo pela manhã eu pegava uma cartela
de vinte passes na tesouraria. Os lugares que dava para andar a pé, sem problemas.
Os mais longes eu contava uma estória pro cidadão, pra senhora e logo já estava
em meu destino. Na hora de prestar contas de quantas conduções me usei sempre
acrescentava e muitas vezes ainda ganhava mais passes dizendo pra tesoureira
que tive que pagar do meu bolso. Que sacanagem! Tudo para ver meu pai feliz.
Trabalhei
duas vezes na Bússola. A primeira foi quando saí da Coloman e a segunda quando
o primo do meu pai Mazico, lá de Santo Amaro, na Bahia me encheu de conselhos
me pagando uma passagem de volta para Sampa. Eu dizia a ele que queria conhecer
Maria Bethânia e mostrar minha música para ela e... Catso! Naquela época era
tudo mais fácil! Eu tinha certeza de que DNA Canoa (mãe de Bethânia e Caetano)
ia gostar de mim. Mas, voltei para Sampa, pra bússola e virei malandro de vez.
UM JOVEM
APAIXONADO
Nas
minhas andanças pela vida estive também em Florianópolis, capital de Santa
Catarina. Eu tinha 18 anos e me sentia um homem. Não precisava mais de
autorização de juizado de menores para viajar e de ter que ficar me humilhando
para porteiros de hotéis para me deixar dormir.
Saúde
perfeita, corpo sarado, bonito, como narciso. Eu me amava. Não me cansava de
olhar no espelho e me admirar. Adorava passar de frente as lojas e ser
paquerado pelas vendedoras lindas. Que saudades!
Estava
eu na rodoviária de FLORIPA com jaleco verde do exército, cabelos
encaracolados, bem bronzeado, tênis all star nos pés, calça jeans desbotada...
Quando, de repente ,uma garota (Regina) me aborda com um beijo na boca que
quase me tranca a respiração. O beijo foi lascado mesmo e a menina era linda...
-
Desculpa, gato! Acabei de ganhar uma aposta.
Ela
havia apostado com suas duas amigas que se me desse um beijo na boca ganharia
sua passagem para Pomerode, interior de Santa Catarina. Que legal!
- Posso
ir junto com vocês?
Ficamos
zoando ali naquela rodoviária e eu não tirava os olhos de Regina se bem que
suas duas amiguinhas eram bonitinhas também. Perdemos o ônibus para Pomerode e
acabamos indo para Jaraguá do Sul, cidade próxima. Dentro do ônibus a garota me
fez umas carícias assim sabe? Bem da hora mesmo e, se algum passageiro visse
aquilo ia dar muitos problemas.
Chegamos
em Jaraguá do Sul e a mina me abre o jogo...
- Estou
fugindo de Joinville, do meu padrasto e...
Tapei a
boca dela delicadamente...
- Sem
problemas, garota!
Já
estava tarde da noite e precisávamos de um hotel. Eu, Regina e suas duas amigas
todas de Joinville, uma cidade que, até então eu não conhecia. Achamos uma
espelunca de hotel e a alemã não se importou sequer de pedir nem o meu
documento. Acho que ela estava precisando mesmo era de dinheiro. Só que Regina
insistiu:
- São
dois quartos minha senhora! Um pra mim e meu namorado e outro pras minhas
amigas.
E foi
uma noite deliciosa. Muitos amassos, beijos, amor e sexo. Cantei algumas de
minhas músicas para ela e, aquela bonequinha de olhos verdes me faz um pedido:
- Faz
uma música pra mim?
-
Prometo que vou fazer.
Durante
a noite, enquanto transávamos as meninas do quarto vizinho não nos deixavam em
paz. Pediam para ficar com a gente no quarto e Regina estava a ponto de
explodir de tanta raiva e tesão...
- Eu sei
muito bem o que é que vocês querem.
Eu
tentava apaziguar...
- Deixa
elas aqui, Regina! O quarto é grande e...
- Você
escolhe, Júnior! Se elas ficarem aqui eu saio e tudo acaba aqui!
E as
meninas voltaram para o quarto e, o clima já ficou tenso entre eu e Regina. Ela
chorou muito em meu ombro, fiz umas carícias da hora na boneca e cantei uma das
minhas músicas “Solidão” para ela...
- Que
música linda, gato! Faz uma pra mim agora?
- Não!
Agora vamos fazer uma coisa melhor?
E
transamos. Que delícia! Regina, sem dúvida “vai ficar na saudade”, Benito.
No dia
seguinte a mina me implorava querendo que eu fosse com ela e suas amigas para
Pomerode e, que lá ficaríamos na casa de amigos e aquele papo todo. Ela
tentando calçar seus tênis e eu desamarrando os cadarços...
- Por
favor, gato! Vem com a gente!
- Não.
Eu não vou com vocês pra lugar nenhum.
Lembro-me
que Regina ficou de joelhos mas não adiantou. Não fui com elas e acabou. Eram
umas 8.30 da manhã quando foram até a rodoviária e, fiquei ali naquele hotel
rindo à toa, me sentindo realizado. Pensei bestamente: “Um dia eu cruzo com ela
em Joinville”. De repente me bateu uma saudade daquela bonequinha galega de olhos
verdes e eu saí daquela espelunca de hotel desesperado indo na direção da
rodoviária. Tarde demais. O ônibus já estava longe. Peguei o próximo e, assim
conheci a cidadezinha de Pomerode com zoológico e tudo. Mas eu não queria ficar
vendo bichos! Eu queria era aquela leoazinha pra mim. Eu estava totalmente
apaixonado por ela. Sentado num dos bancos da praça central bem de frente a
igreja peguei papel e caneta e me veio tal inspiração. Vou compor uma música
pra esta bonequinha dos olhos verdes dos pés mais lindos que meus olhos já
viram..
Bom, já
não estava mais em Jaraguá do Sul, mas se minha paixão começou por lá...
“Lá em
Jaraguá do Sul quero voltar”... “Fiz várias letras e nenhuma saiu do meu
gosto”. Eu queria um título e... ops! “Mundo Colorido”. Eu estava totalmente
apaixonado por ela e, só de lembrar dela acho que ainda estou.
Então,
minha bonequinha de olhos verdes, onde quer que você esteja, esta é a tua
música:
MUNDO
COLORIDO
“Olhe um
pouco a natureza, sinta prazer em viver... sonhe com um mundo colorido e deixe
a vida acontecer! Sinta então a emoção batendo muito forte em seu coração...
saiba que este sentimento vem a qualquer momento... tire seus pés do chão.
Sinta o mesmo que eu sinto agora, vê se sorri não chora, por que não me namora?”
“Senti
prazer! Que sensação! Quando toquei seus pés com minhas mãos... você sorria e
só me desejava... enquanto eu, sim... loucamente te amava”
“Olhe um
céu cheio de estrelas! Brilham todas pra você... Hoje estamos no paraíso... sou
o seu melhor prazer... Não minta pro seu coração se descobrir que um sonho é só
uma ilusão... Nada pode morrer com o tempo se o amor nasceu lá dentro tire seus
pés do chão...”
Pois
é... Onde será que está esta bonequinha de olhos verdes, hein gente?
Fiquei
apaixonado por ela e tenho certeza de que ela também por mim. Naquela época não
existia celular e, se bem que endereço não ia resolver nada. Ela estava fugindo
do seu padrasto e eu me aventurando na boemia.
Mas, um
dia eu tenho certeza de que vou encontrá-la. Quem sabe quando eu estiver
fazendo shows será uma ótima hora para eu contar trechos dessa minha história.
Ou quem sabe, ela esteja lá na plateia me aplaudindo e
gritando: “Ei!! Sou eu! A Regina! Lembra de mim?!”
BARRACÃO
DE LARANJAS
Mogi
Mirim é uma cidade do interior de São Paulo, 150 km distante da capital. E lá
passei boa parte da minha adolescência e juventude. Lá eu tinha meus amigos,
meus primos e a gente curtia muito em todos os sentidos. Dava gosto ouvir uma
música naquela época, sabe? Falávamos uma só língua e, isso me intriga tanto de
saber que hoje os tempos mudaram e ninguém mais entende mais nada.
Lembro-me que até mesmo o rock era amigo do pop dance. O grupo Queen
(rock) entrou na balada dance com Radio Gaga, I Want To Breack Free e explodiu.
Isso pode ter passado para muitos, menos para mim.
Naquela
cidade, eu e minha família moramos em várias casinhas de aluguel e, uma
delas... A que mais gostei foi numa casa de sítio próximo á um barracão de
laranjas. Sr. Jesus (apelidado de Gésus ou Rodela) era o caseiro e pai de uma
porrada de filhos. Sua mulher Lazinha devia ter na época uns 40 anos, mas
aparentava ter bem menos. Eu não nascia daquela casa... Inclusive fiquei
morando lá com eles. Comidinha mineira, suco de laranja de dez em dez minutos e
umas meninas lindas o que mais eu queria? De madrugada rolava altos malhos com
Valéria (uma aquariana com ascendente em touro) que, durante o dia era uma
santinha e até tímida, mas, na calada da noite ela se transformava. Sentava na
beirada da minha cama e ficava me provocando tipo: tocando em meus pés e... É
isso aí. Caramba! Como fui assediado nesta vida, meu!
Mas a
minha história naquela casa resultou num acontecimento muito trágico. Lazinha
se apaixonou por mim e me assediava direto até mesmo por debaixo da mesa me
acariciando com seus pés. Eu ficava sem jeito, medroso e, sei lá. Durante o dia
seu marido Gésus trabalhando e ela me dando cantadas assim bem do tipo, sabe?
Rolou
muita coisa entre eu e Lazinha, mas isso foi tudo muito demoníaco. Dá-me muito
nojo de me lembrar disso. Seus filhos me adoravam, seu marido também e, por que
é que fui fazer isso meu Deus?
Anos
depois cheguei lá no barracão com minha namorada Rosana (aquela galega
catarinense recepcionista da Demillus lembra?). Não moravam mais lá. Rapidinho,
em cidade pequena tudo se acha, menos trabalho.
Quando
cheguei com minha deusa galega de olhos verdes, perfumada e linda Lazinha ficou
transfigurada. Só eu percebi isso. Ela nos recebeu muito bem e até disse à
Rosana que eu era muito feio para ela e, que ela precisava de homem, não de um
moleque. Na verdade, hoje eu acho que ela estava certa.
Lazinha
nos acomodou na sala e eu e Rosana cheios de vitalidade gozando o melhor da
juventude ficamos ali na sala rindo e falando de coisas fúteis. De madrugada
ouvimos gritos e eram os gritos de Lazinha. O ciúme daquela pobre mulher chegou
num estágio que não deu mais: foi internada e a coisa era tão séria que ficou
por mais de três meses internada no Américo Bairral (em Itapira, cidade
vizinha). Talvez caísse a ficha de Gésus e ele me esculachou dizendo coisas de
que nem me lembro mais. Só entendi isso: “Você é o culpado!” Se Rosana tiver
boa memória, vai se lembrar disso. Saímos dali, mas isso já não era mais
problema. Minha gata jamais ficaria com fome, sede e frio.
Passamos
por vários lugares. Uma das casas era de um usuário de drogas, o “Magrão”, mas
quem decidia tudo ali era sua mãe e, então ela nos abrigou por uma noite. No
dia seguinte ficamos numa outra casa, onde até a geladeira pela madrugada
assaltamos. Que macarrãozinho gostoso!
Mas, lá
atrás tinha ficado o barracão de laranjas, meu passado, minhas amizades, minha
adolescência e, isso me custaria um alto preço mais tarde.
Eu era
frio e calculista e nada sentimental. Gostava dos prazeres e se estivessem rolando,
ótimo. Não era nem um pouco emotivo. Gostava mesmo era de gente nova e me
identificava sempre com aquelas que gostavam de apenas uma coisa: música boa e
de bom gosto. O resto, eu não queria mais nada. Ainda farei uma composição e
música do barracão de laranjas. Afinal, lá tive muitas e muitas inspirações.
RAPA
PEOPLE, RAPA CHURCH
Entenderam
esse título? Pois é, sem trabalho, sem dinheiro... Eu e minha gata não
poderíamos ficar. Campinas era a solução. Campinas foi à solução. A cidade
maior (depois de São Paulo) é Campinas e, lá cheguei com Rosana. Catso! Como é
que pode? Eu gostava dela demais! Morria de ciúmes até mesmo dos seus sonhos!
Nunca
mais ei de me esquecer: ficamos num hotel ali próximo da rodoviária e, quando
voltamos no dia seguinte o proprietário do hotel com uma cara bem feia nos
disse:
- Não
tem mais quarto.
- Mas,
como?
- Não
tem mais quarto.
Caiu a
ficha. Até hoje não entendo as mulheres, sabe? Sujou o lençol da cama com
sangue e... Bah! Esse era o problema. Mas, como eu tinha feito um dinheirinho
pedindo na rodoviária, ficamos num hotel de nome “Esperança” e, o porteiro era
um negrão de voz firme e forte. Quando Rosana me diz no quarto que admirou a
voz do porteiro tudo virou nos diabos:
- Vai
lá! Vai dormir com o porteiro!
Como fui
tolo! Eu morria de ciúmes por uma mulher que (sem eu saber) me daria nos
próximos anos quatro filhos que são os maiores presentes que um homem pode ter
em toda a sua trajetória de vida. Hoje, eles nem fazem ideia de como eu os amo.
Não fazem mesmo!
Eu queria
ser só dela e que ela fosse só minha, entende? Fiquei com ciúmes da voz do
porteiro e aquilo já estragou tudo. Chorei às escondidas de ódio dela. Mas isso
já passou.
Então,
me me deixa traduzir o que é “Rapa People” primeiro...
Eu
abordava casais e não casais em plena Praça de Campinas contando estórias. Ao
meu lado, minha namorada Rosana...
- Olha
só moço... Ela está com anemia crônica, é sério! A gente só quer um dinheirinho
pra chegar a Joinville e...
O
dinheiro entrava, brother!
Aí
atacamos a “church” (igreja). Antes de começar o culto eu contava uma estória
para o pastor e boa. No final da pregação ele contava nossa estória e todo
mundo colaborava.
Não me
arrependo disso e já digo por quê. Muitos desses pastores idiotas (e, aqui não
vou citar nomes de igrejas) falavam que o Espírito Santo de Deus revelara a
eles que nós estávamos sendo sinceros. Tem-se alguém que blasfemou aí, esse
alguém não fui eu. Isso me serviu de aprendizado e não creio que Deus ou os
anjos estejam irados comigo, porque eles são puros, perfeitos e se traduzem em
amor.
Uma vez,
no mesmo horário que marcamos para arrecadar dinheiro, tivemos que estar nas
igrejas. Uma delas era a minha igreja Católica e a outra uma dessas aí
evangélicas. O interessante é que na igreja evangélica fizeram-nos muitas
perguntas antes de passar pra gente o dinheiro ao passo que na Católica um
rapaz semelhante a um anjo deu-nos o dinheiro num envelope fechado e, com muito
amor concluiu:
- Foi
tudo o que a gente conseguiu juntar pra vocês. Mas não abram agora esse
envelope, ok?
Aquilo
sim era um dinheiro sagrado e torramos tudo em coisas fúteis. Desta bronca sim,
meu grande Deus pode me cobrar. Não tenho saudade nem um pouco desse maldito
passado. Enganar as pessoas pra quê? Pra curtir a vida? Talvez se em minha
direção viesse à coisa certa, o lance certo, minha vida seria diferente.
Lá atrás
ficaram meus sonhos de ser um ator como Carlos Zara, de cantar como Nelson
Gonçalves...
VIDA DE
CASADO
Eu não
tive preparo nenhum de ninguém sobre esse lance de casamento. Não sabia
administrar uma casa, fazer planos futuros, etc. Ninguém também preocupado
comigo. Ninguém sequer me ofereceu um bom trabalho ou me apresentou ideias
novas. Minha sogra (Dona Ruth) uma mulher honesta, trabalhadora era a criatura
mais amável pra mim da face da terra. Eu adorava conversar com ela e ela
comigo. Falávamos de tudo um pouco, em especial o esoterismo que sou
profundamente apaixonado. Ela não podia me ver triste, sem dinheiro, sem
cigarro ou algo parecido. Sempre dava um jeitinho de me alegrar. Ela era para
mim muito mais do que uma sogra, uma amiga. Para mim ela era como uma mãe.
Deixava de fazer para as suas quatro filhas para fazer por mim. Jamais tive
pensamentos frios e calculistas no que se refere à Ruth. Eu gostava dela como
gosto até hoje. Seu único mal foi se converter a uma dessas igrejas que pregam
aquilo que jamais eu vou aceitar. Se fosse realmente algo tão bom assim, o
semblante de Ruth seria diferente. Antes eu a via feliz, hoje não. Ela deixa
transparecer algo que vem lá do fundo, da alma. Certa tristeza misturada com
revolta sabe lá. Todo mundo envelhece, mas não precisa ser dessa forma. A
partir do momento que se tem certeza de que está no lugar certo, na casa do
Pai, tem que ter muita comunhão e incorporar o perdão. Não havendo isso, está
tudo errado.
Minha
vida de casado foi uma droga, mas, porém, se fosse pra repetir tudo de novo eu
faria. Porque desse casamento nasceram Marcelo, Priscila, Matheus e Tiago. Só
Deus sabe o quanto amo eles. Não me importo se eles não gostam de mim, mas eu
gosto deles mesmo assim. Isso me faz muito bem. São meus filhos. Se nunca pude
fazer algo por eles, lamento muito. Meus pais também não puderam fazer por mim,
mas eu os amo demais porque graças a eles eu existo e minha vida não tem preço.
Não
preciso me envergonhar de nada. Sofri muito tentando consertar meu passado e,
hoje descobri que não vale a pena consertar aquilo que já está no lixo. Isso já
passou, acabou. Não há como eu voltar e mudar algo.
Eu
sentia uma ausência muito grande de tudo e de todos na minha vida de casado.
Faltavam emoções, diálogos, comunhão. Já começou tudo errado porque traí minha
mulher com sua irmã. Tenho uma dívida com Deus, mas minha cunhada também. Já
falei sobre isso.
Eu tinha
um ciúme doentio de Rosana. Não que eu tinha prazer de vê-la atrás de um fogão,
ou tanque. Eu tinha nojo dos homens que pudessem maliciá-la. Vivia escondendo
minha mulher e era briga na certa quando ela vestia aquelas roupas provocantes,
sabe? Hoje, sei que fui um tolo. Eu tinha uma insegurança muito grande. Já não
tinha mais certeza de nada. Eu só queria beber uísque e lembrar-se de Raquel.
Eu mentia muito, o tempo todo. Só que eu acreditava nas minhas mentiras. Eu
precisava de um médico psiquiatra, um neurologista... Eu estava louco e ninguém
conseguia ver isso. O mais prejudicado de tudo isso fui eu que deixei a vida
passar e nada consegui realizar. “Atrás de um grande homem existe uma grande
mulher”. “A mulher sábia edifica o lar, mas a tola derruba” São frases
bíblicas. Ou será que a Bíblia está errada?
Se eu e
Rosana tivéssemos um preparo para o casamento na minha Santa Igreja Católica
Apostólica Romana, estaríamos juntos e felizes até agora. Não estaríamos presos
a doutrinas que te proíbem de ler um livro que não seja a Bíblia, ou assistir
um filme, uma música do mundo, etc.
Milhões
e milhões de famílias são felizes e não precisam se prender às seitas e
preceitos religiosos espalhados pelos quatro cantos da terra. Não imagino Deus
como um velho chato. Nossa vida aqui na terra é muito curta e ele e nós sabemos
que tudo o que rola aqui é passageiro. Olha só o que eu estava fazendo com
minha mulher. É assim que essas igrejas fazem com seus adeptos.
Desejo
do fundo do meu coração que Rosana hoje seja feliz de verdade. Não me importo
se não é o mesmo que ela deseja para mim.
MINHA
PAIXÃO POR CURITIBA
Numa
dessas minhas aventuras conheci Curitiba, a capital do Paraná. Eu devia ter uns
18 anos quando conheci esta cidade maravilhosa em todos os sentidos. Nesta,
ganhei e perdi as melhores coisas da minha vida. Conheci muitos chineses e me
apaixonei por suas tradições; um povo trabalhador, honesto, enfim, até hoje não
consigo explicar o porquê de eu me sentir assim tão atraído pelo povo chinês.
Adorei o
clima em Curitiba. Sempre gostei de inverno e lá pude curtir esta estação. Para
conseguir algum dinheiro para lá sobreviver eu pedia na rodoviária, mas aquilo
estava ficando insuportável para mim. Eu tinha que conseguir um emprego de
verdade e viver como a maioria. Com o bolso cheio de dinheiro eu dormia num dos
hoteizinhos próximos à rodoviária e sempre levava junto comigo uma bela garota.
Que saudades!
Conheci
uma lanchonete chinesa e, lá eu adorava tomar cerveja. Mas eu não conseguia
tomar mais do que uma garrafa. Eu não tinha o hábito de beber e era apaixonado
mesmo por café, como sou até hoje. Naquela lanchonete uma moça bastante
acanhada acabara de chegar da China e não sabia falar uma sequer palavra em
Português. Ela ficava olhando para nós brasileiros e, sabe-se lá Deus o que passava
na cabeça desta linda!
Fui
embora de Curitiba mas, prometi a mim mesmo: “Um dia eu vou voltar”. Minha mãe
ainda estava viva e, eu não conseguia ficar longe dela por muito tempo. Mas,
não demorou muito e ela morreu. Então, conheci Rosana e namoramos sério em São
Paulo. Levei ela para conhecer Curitiba e ela também gostou muito da cidade
mas, no dia seguinte partiu para Joinville-SC, sua terra natal que, até então
eu não conhecia. Passei o domingo lá em Curitiba e sentia uma depressão
inexplicável, sabe? Fiquei sentado no banco da Pça Tiradentes e...
Que droga! Que vontade de chorar me deu! Chorei muito, porém, sem saber por que
eu chorava. Talvez porque fazia só dois meses aquele dia (8 de dezembro de
1985) que minha mãe havia falecido, sei lá. Eu precisava estar com minha
namorada. A gente se dava muito bem e, a presença dela, sem dúvida me faria
muito bem naquele momento assim em que eu me sentia tão “down”.
Cheguei
em Joinville-SC (pela primeira vez) no dia 9 de dezembro. Era uma
segunda-feira. Me fez lembrar os tempinhos de escola, meu primário onde eu
fazia lindas composições e, não entendia o “por que” da minha professora rir
tanto. Eu sempre citava “João em vila” e, ela me perguntava: “Que cidade é
esta?” Mas, hoje posso garantir de que ela sabia que eu estava me referindo a
Joinville.
Fui
excepcionalmente bem recebido por Ruth (minha sogra) como já contei a vocês e,
não demorou muito voltei à Curitiba e, dessa vez com minha namorada Rosana. Eu
a deixava num bom hotel e saía para fazer “rapa”, ou seja, conseguir dinheiro
para pagar hotel, comer, etc. Só que ela nem sonhava que eu fazia isso. Como um
bom mentiroso eu inventava qualquer coisa que nem me lembro e boa. Pelo menos,
por pior das hipóteses, poupava ela desta humilhação.
Voltei
sozinho lá naquela lanchonete chinesa e, aquela linda ainda estava perdida,
pois, afinal, não é tão fácil aprender Português, certo? Mas, me aproximei dela
e prometi ajudá-la. Acho que ela me entendeu. Estava grávida na época e, hoje o
moleque já tem mais de 20 anos.
Prometi
pra mim mesmo mais uma vez: “Um dia eu volto”.
Depois
de muitos anos voltei para Curitiba e, dessa vez, sobrecarregado de tantos
problemas. Eu já tinha 4 filhos, sendo que dois deles nasceram em Mogi Mirim
(interior de São Paulo), e agora, praticamente passando fome com minha família
precisava mudar essa página. Feito um vagabundo eu vivia nos barzinhos de uma
Vila lá em Joinville, desempregado e bêbado, apanhando nas ruas, usando drogas
e... bah!! Que nojo desse passado! O proprietário da casa em que eu morava com
minha mulher e filhos estava fazendo ameaças porque queria receber os aluguéis
em atraso e também que saíssemos dali o mais urgente possível. Nesta época,
(nunca mais me esqueço) em pleno sábado pela manhã um carro buzinou e eram dois
homens evangélicos querendo falar um pouco do amor de Deus e... Deixei-os
entrarem em casa e aproveitei contar tudo o que se passava com a gente e, desta
vez não menti e também não fui eu quem foi procurá-los. Não ganhamos nada
naquele sábado além de muita oração. Inclusive eu estava com uma ressaca dos
demônios e não via a hora deles irem embora. No domingo pela manhã não eram
dois, eram três. Odiei quando vi eles no portão e ainda comentei com Rosana:
- Os
crentes de novo, Rosana!
Deixei-os
entrarem e, desta vez fizeram-nos uma surpresa esplêndida:
- Teve
uma festa ontem (sábado) lá na nossa igreja e comentei o problema que vocês
estão passando e...
Ele
passou em minhas mãos um envelope grande amarelo e lá tinha muito dinheiro além
de cartõezinhos de referência de trabalho e tudo o mais. Rosana chorou pra
valer e acho que até eu também. Com aquele dinheiro daria para a gente pagar os
três meses de aluguel em atraso (pagávamos cento e cinquenta reais) e ainda
sobrava muito dinheiro. Ainda concluíram:
- Não
estamos comprando vocês para Jesus porque ele sim já pagou um preço muito alto
por vocês na cruz do calvário. Mas, é como um bolo, amados. Comer desse bolo é
tão gostoso que nossa maior alegria é convidá-los a comer com a gente também.
Quando
viraram as costas e foram embora, foi só clima de alegria em casa.
Eu traí
a Deus. A última coisa do mundo que eu queria naquele momento era frequentar
igrejas e dar a “paz do Senhor” para irmãos. Rosana também nunca foi chegada
nesses lances de igreja. Com aquele dinheiro eu faria muitas outras coisas mais
importantes. Pensei mal. Agi muito mal.
Não
demorou muito eu já estava de volta a Curitiba, dessa vez com boa parte daquele
dinheiro que acabei torrando numa lanchonete dentro da rodoviária. Meu prazer
era beber e jogar conversa fora com amigos que fazia nos botecos. Lá falávamos
de muita música e assuntos assim que vinha em mente.
Prometi
pra Rosana que eu voltaria para buscá-la e, assim viveríamos em Curitiba. E eu
posso jurar que esta era a minha intenção mesmo. Meu dinheiro acabou e achei
que, de repente eu encontraria outro povo evangélico e que tal povo alugaria
pra mim uma casa e assim eu voltaria para Joinville para cumprir o prometido.
Como fui tolo!
A IRA
DOS ANJOS
As
portas se fecharam para mim de tal maneira que me vi em desespero na cidade de
Curitiba. Eu era ajudado, é claro. Mas, o dinheiro só dava para o hotel e meus
gastos do dia a dia. Constantemente eu entrava em contato por telefone com Ruth
(minha sogra) e, dessa vez, eu dizia a pura verdade: “Não estou conseguindo!”
Se ela e Rosana acreditaram nisso, foda-se! Eu não estava conseguindo mesmo.
Dormia às vezes dentro de igrejas e fui humilhado por muitos pastores. Até
mesmo pintou polícia na igreja e fiquei preso. Em Joinville, minha mulher e
filhos eram ameaçados pelo proprietário e sua família e, covardemente ia lá até
mesmo armados. Eu contava tudo isso nas igrejas e só queria uma ajuda. Dessa
vez eu queria trabalhar mesmo e prometia devolver tudo o que me fizessem
naquela ocasião. Não consegui nada. Me revoltei com Deus de verdade e disse a
ele: “Se és vingativo, eu também sou”. Desta vez, eu fazia questão de lograr
crentes evangélicos e com o dinheiro eu passava em boas lojas e me vestia e me
calçava bem além de tomar muita cerveja. Sem querer me defender, mas eu fiz um
pacto com Deus na época: “Se tirar eu e minha família desta maldita situação,
eu vou lhe servir e, se isso eu não fizer, tire-me desta vida”. Nada aconteceu
e hoje eu entendo o “por que”.
Eu vivia
chorando pelas praças, pelas esquinas e botecos da vida. Eu cantava muito,
conhecia muita gente, mas muitos percebiam minha depressão e eu não mentia: “Eu
tenho mulher e filhos”. Contava tudo, sem deixar escapar um só detalhe do que
estava passando. Tudo em vão. Eu precisava de um trabalho, de uma casa e,
aquilo parecia impossível.
Então,
eu caí de vez na vida noturna. Frequentei barzinhos GSL, usei drogas, me
embriagava e vivia feito um porco pelas ruas de Curitiba. Tudo isso me dói
muito só de lembrar. Eu ainda era jovem, muito jovem e estava jogando fora tudo
aquilo que Deus e seus anjos havia me dado. Eu queria adorar o adversário de
Deus, mas nem “ele” queria parte comigo. Hoje entendo isso melhor. Eu precisava
passar por tudo aquilo para entender tudo o que sei hoje. Os anjos tinham total
ira de mim, mas não me levaram.
UMA
GRANDE PAIXÃO
Era mais
de dez horas da noite quando eu estava numa lanchonete em Curitiba (aquela da
rodoviária que funcionava 24 horas). Eu estava totalmente bêbado e, dentro da
lanchonete não tinha banheiro para clientes mas, esse não era o problema: tinha
banheiro gratuito na ……rodoviária. Naquilo que eu ia para o banheiro vi uma
linda moça, mais que isso: uma aera-moça lendo um livro, sentada num dos bancos
da rodoviária. Me sentei num dos bancos perto dela e tentei ganhá-la:
- Moça!
Tô com uma vontade tão grande de chorar! (e eu estava mesmo)
Ela
sorrindo, muita linda e simpática me diz:
- Quer
chorar em meus ombros?
Nossa! É
claro que não pensei duas vezes, pois ela poderia desistir do convite que me
fez. Então, eu chorei pra valer falando um monte de besteiras. Mas, na verdade
eu chorava pela minha vida desgraçada; por minha mulher e filhos em Joinville,
etc.
A moça
me sugeriu:
- Que
tal tomarmos um café no térreo da rodoviária? Primeiro vá até o banheiro, lave
bem este teu rostinho lindo de gatinho “pidão” e...
- Minha
querida! Eu não caio nessa! Quando eu voltar do banheiro você já vai estar
longe daqui.
Ela
ficou brava:
- Vai
fazer o que te pedi?
Fui até
o banheiro e dei uma senhora lavada em meu rosto, deixei meus cabelos bem
molhados e voltei para o banco. Aquela gata (Rebeca mais nova do que eu sete
anos) estava lá me esperando. Ela me pagou um café e não deixou tomar ele com
açúcar...
- Assim
passa esse teu porre, moleque!
- Que
horas você vai viajar?
- Daqui
uns minutos mas, espera aí um pouco.
- Aonde
você vai?
- Espera
um pouco, gatinho?
Nossa!
Ela me dominava só com aqueles olhos lindos! Fiquei ali tomando meu café e ela
me surpreende...
-
Consegui trocar minha passagem para amanhã à noite...
- Sim, e
daí? Você vai voltar para sua casa?
- Não.
Tô notando que você está caindo de tanto sono e, se me prometer que não vai
ficar pensando mal de mim sugiro que fique comigo num hotel.
Eu já
estava pensando naquelas tranqueiras de hotéis e ela, delicadamente não me
deixou falar tapando minha boca com uma de suas mãos deliciosas...
-
Ficaremos num hotel bom e não se preocupe: eu pago.
Que moça
incrível! Que presente era aquele, hein? Não aconteceu nada naquela noite. Me
lembro que adormeci chorando em seus ombros e acordei pelas seis da manhã com
ela me servindo cafezinho na bandeja. Tomei café, comi bolos de laranja e me
apaguei instantes depois. Acordei com uma ressaca insuportável e isso já
passava do meio dia. Almoçamos e ela novamente me surpreende...
- A diária
vence aqui ao meio dia, sabia? Como você estava dormindo feito um gatinho
manhoso tão bonitinho fiquei com peninha de te acordar. Renovei à diária. Que
tal?
- Mas
você vai viajar hoje, não é?
- Eu ia.
Não vou mais. Fui até a rodoviária e troquei minha passagem por dinheiro. Não
se preocupe não! Eu ia por aqui perto mesmo na casa de amigos. Não é nada
importante.
Então,
gente rolou minha melhor transa sexual naquele dia e nos vindouros, sabe?
Ficamos três dias naquele hotel e não me faltava nada. Que delícia de garota
mulher era aquela, meu Deus?! É evidente que eu estava apaixonado por ela.
Nunca nenhuma mulher me fez me sentir um homem como Rebeca. Quero que ela saiba
disso. Ela gostava de ser dominada e eu adorava dominá-la, sabe? Que delícia e
que saudades!
Acordei
no quarto dia sem ela ao meu lado e odiei. Rebeca tinha ido embora sem sequer me
dizer adeus. Desci feito um louco até a recepção daquele hotel e confirmaram:
- A moça
foi realmente embora.
- Mas
ela não deixou nenhum recado?
- Não.
Voltei para
o quarto e chorei feito um bebê de colo odiando Rebeca por ter me usado. Quando
fui sair para as ruas de Curitiba com minha mochilinha a recepcionista me
pergunta:
- Vai
continuar, moço?
- Não.
Estou indo embora.
- Porque
sua diária está paga.
- Está paga?
Então, minha namorada vai voltar?!
- Isso
eu já não sei te dizer.
Que
maravilha! Deixei minha mochila no apartamento do hotel e saí pelas ruas de
Curitiba e agora eu só pensava em Rebeca, a minha paixão verdadeira. Eu tinha um
pouco de dinheiro no bolso e só pensei numa cervejinha
estupidamente gelada naquela hora. Era noticiário por todos os lados
sobre a morte do grupo Mamonas Assassinas. Me lembro bem disso. Retornei para o
hotel só à noitinha e tive uma excelente notícia:
- Meu
amigo, meu perdoa, ok? Sua namorada deixou este envelope aqui comigo e...
acabei esquecendo de lhe entregar.
- Sem
problemas.
Abri
aquele envelope com minhas mãos trêmulas e o que li me fez chorar, mas chorar
de alegria, de satisfação, de prazer, muito prazer mesmo. Ela me escreveu uma
linda carta, sem sequer um erro de Português, com uma letra linda que é só dela
e me dizia que nunca, nem um homem conseguiu satisfazê-la como eu. Ela sentiu
orgasmo pela primeira vez na vida comigo. E era exatamente isso que me
aborrecia com Rosana. Cheguei a pensar que o problema estava comigo por não
conseguir fazer aquela mulher gozar. Como fui tolo! Mais tarde ela teve o
prazer de deixar isso bem claro para amigos, irmãs, filhos e sabe-se lá por
quem mais. Seu prazer não parou por aí: veio me jogar na cara anos mais tarde
que fulano de tal conseguiu fazê-la gozar. Que pobreza de espírito! Quanto será
que ela ganhou por isso, hein? Minhas transas sempre ficavam satisfeitas comigo
e eu sabia disso. Só um idiota impotente não sabe. Mas com Rosana a coisa era
complicada demais mesmo.
Rebeca me
levava às alturas e eu fazia o mesmo com ela. Suas pernas ficavam bambas a cada
relação e ela mal conseguia se levantar para ir ao banheiro enquanto eu ficava
na cama rindo e fumando um cigarro satisfatoriamente. Eu jamais iria perder
esta mulher de vista e, quer saber? Não tinha ciúmes dela. Linda! Muito linda
mesmo mas ela me passava tanta segurança que, jamais algum espertinho iria
fazer a sua cabeça. Eu é que ria deles.
Confessei
para Rebeca parte do drama que eu passava e ela não pode fazer mais nada do que
se lamentar. Só que ela preferiu fazer as coisas de um modo justo:
- Não
quero ser sua amante, gato! Quero ser a sua mulher! Tem certeza de que
realmente pretende se separar de sua mulher?
- É
claro que tenho.
- Então
faça isso.
Mas, até
então, Rebeca já havia me levado para sua terra Rio Grande do Sul, me apresentado
à sua família e tudo o mais. Não podia me ver triste que já bolava lá uns
presentinhos para meus filhos na Páscoa, por exemplo e, fazia isso só para me
ver feliz.
Moramos
em muitos lugares em São Paulo capital e mais tarde fomos parar no interior do
estado, a cidade de Araraquara onde nasceu Amanda, nossa filha que hoje tem 16 anos e deve ser linda e inteligente como sua mãe. Eu me sentia um homem de
verdade em casa. Ela elogiava cada uma das minhas composições e música e me
incentivava sempre. Não iria ficar em botecos sabendo que em minha casa eu
tinha uma “Deusa Indomada” me esperando. Eu adorava irritá-la porque isso me
dava muito prazer de puro sadismo, sacam? Mas, às vezes eu não ganhava o que eu
mais queria e então eu forçava tudo e, no final ficava tudo bem. Fiz pra ela
esta canção:
“DEUSA
INDOMADA”
“Não me
maltrates assim, mal sabes o quanto choro e aos céus tanto imploro pra ganhar seu
coração; me cansei da solidão das noites enluaradas, nelas não tenho você minha
deusa indomada...”
“Judia
de mim este seu olhar tão sério! Por que há tanto mistério no véu desta
miragem?! Feito fera selvagem dominas a minha alma e na imensidão do mar és a
brisa que me acalma...”
“Deusa
indomada, teu cheiro me dá prazer! Queria satisfazer os teus sonhos encantados
e lhe dar um beijo molhado, meu desejo proibido! Quem me dera ser seu dono e
provocar sua libido!”
“Deusa
indomada, veja o céu, tem lua cheia! Quando pisas na areia me encanto ao ver
teus pés! Sou teu escravo mulher, rainha mãe da beleza! A primeira maravilha
aos olhos da natureza...”
UM AMOR
DE VERDADE
Tenho
saudades da casinha que alugamos lá em Araraquara e, o interessante é que quero
contar porque é que escolhi esta cidade para viver. Com certeza vão me chamar
de louco, mas não me importo.
Já
passava da 1hr da manhã e eu estava no Terminal do Tietê (rodoviária de São
Paulo) e fiquei paquerando uma linda moça que estava com sua mamãe, por sinal
muito linda também. Rebeca estava no Rio Grande do Sul, na casa de amigos me
esperando para buscá-la e não sabia o certo onde iríamos morar. Ela só não
queria ficar no Rio Grande.
As gatas
mãe e filha haviam perdido o ônibus (eu adorei) e ficamos batendo um longo papo
e a hora foi passando assim despercebidamente. Eu, pedólatra de carteirinha não
tirava meus olhos dos pés daquela princesa (a filha) que usava umas sandálias
assim, show de bola, sabe? Que pés maravilhosos! Lindos demais mesmo! Fiquei excitado,
mas me segurei, é claro. Fiquei me perguntando: “Será que nesta cidade de
Araraquara é comum esse lance de mulheres de pés bonitos?” Então, mãe e filha
ficaram me contando daquela cidade e não pensei duas vezes e disse: “Vocês vão
me ver lá nos próximos dias. Pretendo morar em Araraquara”.
No dia
seguinte fui para Gramado (serra gaúcha) buscar minha amada Rebeca e contei tudo a
ela. Não omiti sequer uma palavra...
- Ontem,
na rodoviária de Sampa, conheci duas princesas, em especial a filha que me deixou
excitado, pacas! São pés maliciosos naquelas sandálias que me deixaram louco.
Mas, fique tranquila amor! Só estou te falando porque prometemos não esconder
nada um para o outro, lembra?
É claro
que ela ficou tristinha. Mas, não demorou muito e eu já dei aqueles tratos nela
e tudo bem. Eu a amava demais. Dois dias depois fomos para Araraquara e ela
adorou a cidade e eu também. Cheiro de laranja na cidade toda, gente bonita e,
foram os pés mais lindos que já vi em todas as minhas andanças, podem acreditar.
Na manhã
seguinte fizemos amizade com dona Iolanda, camareira e irmã da proprietária do
hotel em que pousamos e, não demorou muito ficamos abrigados na casa dela até
conseguirmos alugar uma casa pra gente. Foi tudo muito rápido. Dois dias depois
já estávamos em nossa casa. Não tínhamos nada, nem sequer uma cadeira e o
dinheiro estava acabando.Rebeca ligou a cobrar para o seu pai no Rio Grande e, o
problema fora solucionado. Muitas coisas ganhamos, outras compramos e assim foi
indo.
Rebeca sugeriu uma ótima ideia. Ela falaria com o Padre da igreja matriz da cidade e
venderíamos pães caseiros nas quartas feira já que tinha novena de uma em uma
hora começando a primeira às seis da manhã e a última às onze horas. Os pães
seriam fornecidos por uma padaria mas, ninguém precisaria saber disso.
Lucrávamos cerca de “duzentos e cinquenta reais” e o real, na época
ultrapassava ao dólar. Juntamos muito dinheiro.
E às
seis da manhã estávamos lá de frente à igreja católica com uma linda mesa
repleta de pães caseiros, pães doces, tortas, quindins, brigadeiros, etc. No
final de cada novena o Padre anunciava aos fiéis: “Não se esqueçam de levar
para suas casas o delicioso pão caseiro dos nossos irmãozinhos Marvin e Rebeca”.
Por sinal, são pães deliciosos. E não sobrava pão, nem nada. Rebeca ia até o
orelhão e fazia um novo pedido na padaria e instantes já parava uma Kombi ali
para abastecer. Ganhamos muito dinheiro. Muito dinheiro mesmo.
Minha
mulher grávida, cansada, totalmente exausta ainda me preparava uma comidinha ao
chegar em casa e ficávamos relax ouvindo músicas e falando do futuro. Antes
dela se apagar me perguntava:
- Amor!
Você ainda me ama?
- É
claro que te amo, Lair! Eu sempre vou te amar.
Isso era
toda a sagrada noite. Ela não dormia enquanto não me perguntasse isso. Que
galega deliciosa em todos os sentidos, viu! O amor que eu sentia por ela era
real demais. Não sei nem mesmo como explicar isso. Uma criança, menina, mulher,
uma deusa, um anjo, um sonho, tudo! Um amor de verdade. Jamais eu poderia trair
um amor daquele!
Tive a
péssima ideia de vender pães nas igrejas evangélicas também. Que decepção!
Foram as pessoas mais mesquinhas que tive o desprazer de conhecê-las. Achavam
defeito nos pães. Achavam muito caro, etc. Sem comentários mesmo.
O
NASCIMENTO DE AMANDA
No dia
14 de fevereiro de 1997 nasceu minha filha Amanda. Parto normal, correu tudo
bem e aquele anjinho nasceu com a minha cara, só que um pouquinho mais
bonitinha, é claro. Naquela maternidade, Rebeca ainda não havia dado à luz nossa
filha quando uma moça muito simpática me chamou:
- É o
seguinte, pai, vou ser direta: sua mulher é Rebeca, certo? Para que ela
tenha um parto seguro, sem riscos de morte para ela e para a bebê vai precisar
desembolsar certas despesas à parte que a maternidade não cobre e...
Pensei
rápido e respondi:
- Com
certeza. Pagarei tudo o mais que for necessário.
Eu só
queria que minha filha nascesse segura e que nenhum mal fosse causado também
para Rebeca. Só que aquela mocinha otária não sabia que lá fora da maternidade um
cidadão já me deu a ficha de como agiam. Se não assinassem lá um documento (que
não valia nada, puro 171) o parto seria complicado. Então eu assinei mesmo sem
ler. Assim que nasceu Fernanda eu, com a 2 via do documento em mãos disse:
- Estou
saindo daqui para a Delegacia de Polícia e, se caso aconteça alguma coisa com
minha mulher e filha...
Até um
cafezinho me foi servido, gente!
- Pai, o
Sr, está muito nervoso! Não será necessário fazer nada disso! Achávamos que o
parto de sua mulher seria complicado mas não foi. Não nos deve nada e...
parabéns!
Rebeca e
Amanda foram muito bem tratadas naquela maternidade e no terceiro dia fui
buscá-las. Eu tinha reformado um sofá velho (põe velho nisso) que ganhamos em
uma igreja evangélica e, o preço que paguei para a reforma daquele sofá daria
para comprar pelo menos uns dois. Só deram pra gente porque ia pro lixo mesmo e
até fizemos um favor em retirar aquela tranqueira da casa do pastor. Mas
fizemos questão de reformá-lo e convidar aquele picareta (que ficou nos devendo
muito e até hoje não pagou) para tomar um cafezinho em casa com a gente.
Continuamos
vendendo pães e, dessa vez com a pequena Amandinha que era paparicada por
padres e aquela nossa família católica. Como essa princesinha ganhou presentes,
meu Deus!
Passamos
muitas dificuldades. O dinheiro acabara de vez e já não vendíamos mais pães nas
portas das igrejas católicas devido ao mau olhada e vocês fiquem imaginando de
quem.
A
TRAIÇÃO MULTIPLICADA
Quando Rebeca estava ainda grávida de Amanda me sugeriu que eu fosse para Joinville ver
meus filhos. Ela não queria ficar me vendo triste pelos cantos da casa chorando
e o tempo todo pensando neles. Delicadamente ela me disse:
- Eles
são seus filhos, Marvin! São irmãos dessa princesinha aqui que está pra nascer.
Vá lá ver eles. Dá um abraço assim bem forte neles. É nossa princesinha quem
está pedindo isso. Não sou eu.
Fui para
Joinville com mais de quinhentos reais e o combinado era deixar tudo para eles
só garantindo o meu regresso para Araraquara. No caminho, (na viagem) indo para
Santa Catarina me sentei ao lado de um crente evangélico e não sei por que
desabafei tudo com ele. Chorei muito. Chorei muito mesmo e não omiti uma só
palavra. Ele me aconselhou a abandonar Rebeca porque aquilo era uma cilada do
demônio e aqueles papos todos. “Volte para a sua mulher, rapaz! A primeira
mulher é aquela que Deus te deu. Não traia a Deus ou vai querer passar uma
eternidade no inferno?! Quanto àquela que ficou lá no interior de São Paulo
deixe que Deus a ampare. Conserte-se com Deus...” Eu como um tolo não parava de
chorar e, chegando em Joinville reencontrei com Rosana, nosso filho Marcelo e
minha sogra bem no centro daquela cidade. Eu passaria lá o final do ano com
Rosana e nossos filhos. Evitava sequer de pensar em Rebecar grávida que ficara em
Araraquara me esperando...
Rosana
estava muito linda na véspera e, naquela noite ela será só minha e nas
vindouras também, pensei. Depois eu iria me acertar com Rebeca e fim de papo.
Movidos a champanhe rimos muito e até fizemos amor. Foi muito bom para mim,
para ela não sei. Assim que terminou, eu decidido a não mais enganar ninguém
como tinha feito minha vida toda, lhe disse:
- Estou
com uma mulher, Rosana! Ela está grávida e...
O tapa
que levei na cara foi merecido. Ela disse uma grande verdade: “Você está
traindo nós duas!” “Tenho pena dessa infeliz que se uniu com você!” “Primeiro
foi minha irmã, depois sabe-se lá com quem mais...!” “Você é um monstro, cara!”
Ela chorou muito e eu também. Não adiantava eu falar mais nada. Tudo seria em vão.
Tudo o que eu queria dizer ela jamais iria querer me ouvir.
No dia
seguinte, era Ano Novo... quando deixei minha mulher e filhos chorando na
cozinha e dei as costas. Eu queria morrer aquele dia. Eu tinha nojo sequer de
me olhar no espelho. Rosana ainda me insistia para almoçar com eles. Eu não
iria conseguir. Queria desaparecer dali. Queria que Deus abençoasse não a mim,
mas aquela grande mulher que sei que ela é até hoje e sempre foi.
Chegando
em Araraquara, Rebeca estava bordando e, quando me viu saltou do sofá, me abraçou
chorando e me dizendo:
-
Estávamos com saudades! Ei Amanda! Olha aqui quem chegou?!
No mês
seguinte nasceria nossa Amanda. Depois de chorar muito contei tudo o que me
acontecera em Joinville, inclusive que me deitei com Rosana e fiz amor com ela.
Não levei tapa. Antes eu tivesse levado porque era exatamente o que eu
precisava. Mais do que isso. Eu precisava ouvir de seus lábios lindos que eu
era um monstro, um traidor, etc. Ela simplesmente chorou e não me deixou sequer
piscar os olhos. E, olhos nos olhos, ela me perguntou:
- Você
realmente me ama?
- É
claro que eu te amo,Rebeca!
E acho
que a partir daquele dia o amor dessa gata por mim multiplicou mais ainda. Ela
sempre me dizia: “Um dia Má, a gente vai rir de tudo isso. Você vai ver!”
Sr.
Egídio, um homem velho e aposentado era o proprietário da casa em que
morávamos. Ele gostava da gente demais e insistia em suas brincadeiras
verdadeiras quando dizia: “Seu Vicente, as pessoas aí na redondeza de
Araraquara não me param de perguntar: qual é o segredo de vocês viverem assim
tão felizes, hein?!”
Então,
magoado por ter sido um monstro, um péssimo pai eu caí nas ruas e só queria
encher a cara e usar drogas, daquelas bem pesadas mesmo. Eu chegava em casa
embriagado no dia seguinte. Frequentei muitas boates e conheci o que era
putaria de verdade. Rebeca não me odiou por isso. Ainda insistia em me dizer:
“Tudo isso vai passar, Má!” “Um dia vamos rir de tudo isso”.
Lembram
daquelas princesas mãe e filha que conheci na rodoviária de Sampa? Pois é... me
encontrei com a filha nas baladas da noite e dei meu endereço para ela.
Fernanda já estava na creche e minha mulher trampava e eu vagabundeava, essa
era a minha profissão. Foi um dos lugares que mais compus minhas músicas
(saudosa Araraquara) mas eu era um vagabundo e puteiro demais.
Logo
pela manhã chegou em casa aquela princesa com uma roupa assim bem provocante e
eu estava só de sunga tomando sol no pátio de casa com uma Antártica bem gelada
a meu lado...
Fechei
bem a casa e ficamos lá trocando ideias sobre músicas principalmente. Ela tinha
participado recentemente do programa do Raul Gil e... nossa! Aquela mina me
incentivou tanto que não resisti, entende?
Rebeca chegou pelas cinco da tarde com Fernanda e a princesa dos pés lindíssimos já
estava de saída. Rebeca chorou muito aquele dia, mas acreditou em mim: “Não
aconteceu nada”. Foi o que eu disse e ninguém brigou. Eu é que fiquei de cara
fechada e ela acabou indo na lanchonete de frente a nossa casa e marcou umas
seis Antárticas bem geladas...
Rebeca tinha
um violão que era mais meu do que dela. Mas era dela, entende? Fiz uma canção.
Eu estava inspirado demais. Eu precisa compor ao lado da mulher e companheira
que mais amei em toda a minha vida. Poxa! Por que fui traí-la, hein?
Só que
esta composição e música não é só minha. É de Rebeca também:
“QUEM
REALMENTE TE AMOU”
Mulher
Queria
que tu soubesses
Das
noites de solidão
Como
este homem sofreu
Onde
estavas quando teu nome gritei?
Mulher
como eu te amei!
Tu
Nos
braços de outro alguém
Apaixonada
por quem
Nunca te
deu valor
E
lágrimas derramei
Tanta
dor suportei
Acreditando
no amor
Mulher
Queria
que tu soubesses
Das
mágoas de um coração
Que um
dia foi teu
Onde
andavas quando por ti procurei?
O meu
amor era tanto
Que à
solidão me entreguei
Porém
Hoje
confesso estou bem
Não amo
a mais ninguém
O meu
amor acabou
Sei que
agora choras por mim
Mas
tinha que ser assim
Pra tu
saberes da dor
Vá
Há
tantos homens lá fora
Porque
este aqui vai embora
Quem
realmente te amou
Fizemos
esta música se não me falha a memória para o “Rato”, um velho bêbado que a
gente adorava. Sabe aquele tipo de “pau pra toda obra?” O homem quebrou muitos
galhos pra gente, sabem? Não nos pedia nada em troca mas ganhava umas
pinguinhas, é claro. Que saudades do Rato!
Saí
pelas ruas de Araraquara e muitas vezes voltava só no dia seguinte e, lá estava
o grande amor da minha vida que ainda me servia um cafezinho e me amava
loucamente. Eu chorava muito de ódio e de raiva. Eu já era até então um
dependente químico e não poderia me faltar cocaína, a maldita cocaína. Transei
muito no cemitério municipal daquela cidade e me dá nojo só de lembrar. Eu
bebia todos os dias e queria arrumar um pretexto para ir embora da vida de Rebeca e Amanda. Fiquei louco. Completamente louco. A gente não brigava nem assim.
Muitas vezes fiz sexo forçado com ela para ver se ela me odiasse, mas não
adiantou nada. Me lembro que uma vez... passava uma novela com a atriz Eva
Wilma (A Indomada) e Rebeca adorava aquela novela exibida na Globo... a TV em
nosso quarto eu não queria ver novela, eu queria fazer sexo animal mesmo e ela
carinhosamente me pediu:
- Deixa
eu ver o final da novela, amor? Depois a gente brinca. Eu prometo.
Mandei
ela se levantar da cama e desligar a TV e ela me obedeceu e fizemos sexo. Fiz
ela chorar muito naquela sexta-feira em que eu estava completamente dominado
pela droga e pelo álcool. Transamos até às 3hs da manhã e me apaguei como um
porco.
De manhã
acordo e não vi nem Rebeca e nem nossa filha Amanda. No criado mudo um bilhete:
“Amor, bom dia! Fui até a igreja com Amanda mas, deixei o cafezinho pronto, ok?
Promete não brigar comigo, amor! Vem pra igreja também. Te amamos muito! Mal
consigo andar, Ma! Judiou de mim de verdade, meu homem. Vem encontrar com a
gente? Beijão!”
Fui ao
encontro dela e mal conseguia encará-la. Naquele sábado chorei muito. Muito
mesmo. Eu não estava mais suportando tudo aquilo e, quer saber? Por que Deus
foi colocar Lair no meu caminho, hein? Que amor louco era aquele? A gente se
dava bem demais! Ela totalmente submissa e muito mais experiente na vida do que
eu. Aprendi coisas com ela demais!
Rebeca me
chamava de “Meu homem” e, eu adorava isso. Passava a mão na minha bunda em plena
Praça Pública só para provocar outras garotas, aposto. Bastava eu estar triste
para ela inventar alguma palhaçada leonina para eu cair em gargalhadas. Odiava
a ideia de passar o domingo em casa de frente à maldita televisão vendo Gugu,
Silvio Santos e Faustão; raramente perdíamos o Programa do Jô. Até nisso
combinávamos. Ela sabia que eu gostava de frequentar a lanchonete de frente a
nossa casa e até preferia que eu ficasse lá do que ir para as noitadas e voltar
no dia seguinte com cheiro de puta em meu corpo. Ela só me pedia gentilmente
que se lembrasse dela e trouxesse ao menos uma latinha de cerveja. Meu anjo! O
que é que eu fui fazer pra te perder, hein?!
O tempo
foi passando e o dinheiro também acabou de vez. Rebeca aceitou o trabalho de
empregada doméstica e eu ficava em casa com Amanda. Trocava as fraldas da
pirralha, lavava roupas e fazia as tarefas do lar. À tardinha ela chegava e me
encontrava num mau humor dos demônios. Eu não parava de reclamar. Então eu
tirava suas botas e a gente ficava ali na sala tomando umas cervejinhas,
cantando, compondo...
Os pais
de Rebeca sugeriram que fôssemos os três, ou seja eu, Rebeca e Amanda para a
cidadezinha de Criciumal (no cl do Rio Grande do Sul) e lá sim, ele poderia nos
ajudar a começar por uma casa que ganharíamos dele. Nem eu e Rebeca queríamos
saber de morar no Rio Grande do Sul. Então o velho não liberou mais dinheiro e
a situação chegou a certo ponto que não houve outro jeito: levei Rebeca e
Amanda até o Terminal Rodoviário do Tietê (umas cinco horas de Araraquara) e
boa. A pequena Amanda tinha oito meses e fez um escândalo naquela rodoviária
que chamava a atenção de todos. Com certeza ela sabia que nunca mais iria me
ver. Não queria sair do meu colo e entrou no ônibus escandalizando e não
adiantava agrados. Que saudades desta molequinha, viu! Nasceu com a minha cara,
pode?
Mas
combinamos o seguinte. Rebeca tentaria pegar uma grana legal de seu pai e
encontraria comigo em Dourados, no Mato Grosso onde estaria com Amanda me
esperando. Voltei pra Araraquara e comecei a me desfazer de tudo. Vendi todos
os móveis e entreguei a casa para o Sr. Egídio que me lembro ter chorado muito.
Ele gostava demais da gente e idem.
O OCULTO
Não
tenho dúvidas quando o assunto é esoterismo. Não porque li ou alguém tenha me
falado a respeito. Posso afirmar que a vida de cada ser é um mistério. É óbvio
que muitas crendices são frutos da mera imaginação dos crentes, mas não me
prendo a elas. Muitas coisas estranhas ocorrem cotidianamente em nossa vida e,
existem aquelas que vagam sem uma solução definida.
Eu ainda
era um adolescente quando, pela primeira vez entrei num terreiro de umbanda.
Tive muito medo, mas fiquei calado o tempo todo assistindo aquelas sessões de
incorporação de espíritos bons e, alguns ainda sem luz, como me diziam. Fiquei
tão fascinado com tudo que via e ouvia que me convenci a desenvolver minha
mediunidade. Com o passar do tempo já incorporava um caboclo, porém, eu tinha
consciência de tudo, mas omitia isso. Eu não falava como um adolescente e sim
como um preto velho que falecera há muitos anos. Eu acreditava estar mesmo
incorporado, mas na realidade eu mistificava o tal guia que era querido por
todos os crentes daquele terreiro. No passar do tempo, outros personagens
imaginários surgiam e eu era fascinado por isso. Tudo isso acontecia em São
Paulo, capital. Alguns anos depois meus pais se mudaram para Mogi Mirim,
interior de São Paulo e, até então, nunca mais tinha entrado num terreiro ou
incorporado mais guias. Coisas estranhas aconteciam dia após dia. Talvez,
movido pela loucura eu dizia: “Se eu quiser, posso fazer chover”. Eu pegava um
pedaço de pau e rabiscava nuvens na terra e, por coincidência ou não, (não sei)
chovia mesmo. Um dia, tentaram me pegar. O céu estava carregado de nuvens e,
com certeza naquela tarde iria chover. Eu disse: “Não vai chover”. E, naquela
tarde não choveu.
Eu era
tão fascinado por Astrologia que era muito difícil eu errar o signo de uma
pessoa. As garotas ficavam admiradas e, eu, é claro, me exaltava com
isso. Apaixonei-me por Regina (uma canceriana), uma morena gata dos
olhos bem castanhos e dos cabelos bem negros, lisos e longos. Eu queria aquela
garota só para mim e acabou.
Tinha uma
festa na igreja católica e lá eu estava com Regina, suas duas irmãs, meu irmão
caçula... Enfim, nosso grupo dava um total de 12. Até a meia noite teríamos que
levar as meninas de volta para o sítio onde moravam porque senão, o pai dela
viria na cidade, ao nosso encontro com sua espingarda e ele falava sério. Por
volta das 23h30minhs voltávamos por uma longa estrada de terra e, o que mais
havia por ali era cachorros. Qualquer pio ou uma tossinha atiçava a cachorrada
em latidos infernais. Em nossa direção vinha um cavalo branco troteando e todos
nós ficamos imóveis. Eu, querendo aparecer, principalmente para minha adorável
Regina, dominei todos:
-
Ninguém dá um passo. Tem um homem de chapéu em cima daquele cavalo e este homem
é o Diabo.
Ficaram
perplexos, com muito mais medo e continuaram imóveis. Apenas eu fui de encontro
aquele cavalo e consegui assustá-lo. O animal pulou uma cerca de arame farpado
e se afundou num matagal e, eu incorporei num caboclo “Arranca Toco” que, até
hoje não sei como consegui quebrar aquele arame com minhas mãos. Perdi de vista
aquele animal e, ouvia todos me chamarem em tom de muito desespero. Eu não ria
deles, pois eu estava certo de que aquilo que estava acontecendo era real.
Subitamente, minutos depois saí daquele matagal e corria atrás deles como um
louco. O mais interessante é que nenhum cachorro latiu. Lembro que peguei um
latão com um pouco mais da metade de concretos e atirei para o alto. A Guarda
Municipal foi até o local e acabou retornando. Eu dava saltos enormes e, enfim,
muita coisa eu não entendo até o dia de hoje. De onde veio esta força?
Na
realidade eu estava brincando conscientemente com o desconhecido, com o oculto
e, não sabia que, futuramente tudo isso iria me custar muito caro.
O PRETO
VELHO
Fiquei
surpreso com algo que me aconteceu ainda na minha adolescência. Fui até o sítio
onde morava minha adorável namorada Regina e me decepcionei ao ouvir da boca de
sua mãe que ela viajara para Aguaí, também interior de São Paulo, onde ela
nasceu. Iria ficar na casa de sua avó por um bom tempo e, eu, desesperado fui
atrás dela sem mesmo saber de seu endereço. Peguei um ônibus e, ele estava
praticamente vazio pegando passageiros na estrada. Um senhor bem velho, bem
negro, de barbas brancas sentou-se a meu lado e eu odiei aquilo, pois tinha
muitos bancos vazios, oras! Aquele Sr gostava muito de conversar e, nunca mais
vou me esquecer do que ele me falou: “Não brinque com aquilo que você não
conhece, meu filho. Isso pode ser muito perigoso!” Na sequência ele ainda me
diz: “Você está correndo atrás de uma garota achando que ela será sua esposa e,
não será. Daqui a alguns anos você vai se casar com uma loura bem mais alta que
você e esta mulher vai te dar quatro filhos. Terá um ciúmes doentio por você,
meu filho”. Achei que aquele velho estava louco e ignorei tudo o que ele me
disse. Jamais eu iria me casar com uma loura bem mais alta do que eu! Ter
quatro ou mais filhos tudo bem, mas só isso. Naquele dia não encontrei minha
adorável Regina e retornei a Mogi Mirim, completamente decepcionado. Anos mais
tarde, eu ainda brincando com o oculto encontrei num terreiro de umbanda a tal
loura que lá estava apenas visitando o local como eu. Começamos a namorar e
isso era tão sério que meses depois, me casei com ela. Aquele preto velho estava
certo. A loura era bem mais alta do que eu e, tinha um ciúme doentio por mim,
além de ter me dado quatro filhos. O interessante é que conheci essa loura em
São Paulo e ela era natural de Joinville, Santa Catarina e, em minhas
composições de colégio sempre citava tal cidade sem sequer
conhecê-la.
UMA
VIAGEM MÍSTICA
Em São
Paulo, capital, eu ainda era bem jovem, solteiro e adorava a vida noturna.
Lembro-me que estava paquerando um tênis pela vitrine de uma loja de calçados e
uma moça deficiente física me abordou batendo levemente em minhas costas, me
entregando um livro...
- Aceite
este presente, meu jovem. Este livro te fará um bem enorme.
O nome
do livro era Três Vidas e o autor Losango Rampa. Devorei aquele livro com meus
olhos. Sentei-me num dos bancos da Estação São Bento (metrô) e me desliguei do
mundo lendo aquele livro. De repente, um Sr que, calculei ter uns quarenta anos
me abordou e começamos a conversar. Achei que ele era homossexual e, apesar de
eu não curtir sexo com homem, aceitei o seu convite: o de ir em sua casa. Eu
não tinha um cruzeiro no bolso, já estava anoitecendo e eu não voltaria para
minha casa. Também sentia muita fome e muito sono. Não me lembro de quantas
conduções de ônibus pegamos para chegar em sua casa que parecia mais ser uma
mansão. Chegando lá, vi seu lindo carro na garagem e, assim que ele abriu a
porta da sala o que mais me chamou a atenção foi o piano. Ele disse-me para
relaxar, me deu uma toalha e fui tomar um banho. Na sequência jantamos e ele me
mostrou um quarto...
- Você
pode dormir aqui. Está bom para você?
- Está
ótimo. Posso fechar a porta por dentro?
- É
claro.
Fiquei
com a consciência pesada, pois aquele homem não era homossexual como havia
pensado. Na calada da noite, saí daquele quarto porque nele ouvia vozes e fui
importuná-lo...
- To
ouvindo vozes naquele quarto! Posso dormir na sala?
- É
claro.
Meia
hora depois eu posso jurar que aquele maldito piano tocou e, aquela melodia me
deixou confuso e, principalmente com muito medo. Dei um salto daquele sofá e
corri por um longo corredor batendo na porta do quarto daquele Senhor..
- O
piano está tocando sozinho! O que é isso?!
Ele
ficou irritado comigo...
- Você é
louco e está querendo me enlouquecer também, é isso?! Pianos não tocam sozinhos
e, quanto a essas vozes que você anda ouvindo é de sua pura imaginação. Posso
te ajudar te dando um calmante, você aceita? Se quiser ler a bula pode ler, eu
até faço questão. Te garanto que você vai ter uma noite maravilhosa e só vai
sonhar com coisas boas.
Aceitei
o calmante e até me lembro do nome dele: Somaliun. Li a bula e prometi
não mais incomodar aquele Sr. Não consegui dormir e, aquele piano
voltou a tocar e isso já era altas horas da madrugada. Gritei naquela sala e,
dessa vez, o Sr é que veio até mim...
- Acho
que você é louco, meu jovem.
Chovia
muito lá fora e eu queria ir embora daquela casa, só isso...
- O Sr
pode me levar para um hospital? Eu não estou nem um pouco legal.
- Não
vou tirar meu carro da garagem uma hora dessas! Isso vai chamar a atenção dos
vizinhos e...
- Então
me leve até um ponto de ônibus e...
- Não
tem ônibus uma hora dessa, cara!
- Me
leve até um ponto de táxi, então! Aqui eu não vou ficar.
Ele me
levou debaixo de chuva à umas quatro ou cinco quadras distantes de sua casa e,
eu não parava de ouvir vozes. Ele conversou com um taxista e, assim que entrei
naquele taxi, me apaguei. Acordei com seus toques em meus ombros e eu estava de
frente a um hospital sem nome...
- É
aqui, garoto.
Desci
daquele taxi e entrei naquele hospital estranho e, uma enfermeira veio ao meu
encontro com uma injeção dizendo ela ser glicose. Nem sequer me perguntou o
nome, endereço, etc. Tudo aquilo estava muito estranho. A enfermeira me liberou
e, eu estranhei...
- Eu não
teria que passar no médico?
- Não
vai ser necessário. Pode ir embora, garoto.
Saí
daquele hospital sem nome e segui por ruas estranhas querendo ao menos saber
que bairro era aquele. Não parava de chover e eu estava completamente molhado
tentando proteger meu livro Três Vidas. Caminhei por várias ruas e não via
ninguém, nem sequer um carro passava naquele maldito lugar. De repente, meu
coração pulou de tamanha emoção: vinha um Sr todo de branco e, simplesmente
queria uma informação dele; queria saber que lugar era aquele. O homem me
ignorou e continuou a caminhar entrando por uma rua e desapareceu. Naquela hora
comecei a chorar convulsivamente. Eu estava convencido de que estava morto.
Gritava pelas ruas bem alto...
- Alguém
pode me tirar desse lugar?! Eu quero voltar para meus pais! Eu tenho uma
família!
Caminhei
muito e, me surpreendi ao ver aquele taxi e o taxista. Entrei em seu carro e,
jamais vou me esquecer do que ele me disse...
- Não
precisa me dizer nada. Eu sei onde vou te deixar.
Me
apaguei novamente ao entrar em seu taxi e acordei com seus toques em meus
ombros...
- Adeus,
garoto! Sua viagem termina aqui.
Totalmente
sonolento, sem um cruzeiro no bolso lá estava eu num lugar que eu conhecia
muito bem: pleno centro de São Paulo. Conversei com alguns porteiros e consegui
dormir num hotelzinho bem simples. Que lugar era aquele que fui
parar, hein? Quem era aquele Sr e quem era aquele taxista? Isso não foi um
sonho! Aconteceu comigo.
A CONVERSÃO DE RUTH
A CONVERSÃO DE RUTH
Mistifiquei
um guia espiritual (que nem me lembro o nome) para falar do amor de Jesus para
Ruth. Fiz tudo errado. Eu jamais poderia trair esta doutrina linda que é o
espiritismo. Aquele guia imaginário conseguiu convencê-la a abandonar o
espiritismo e, conseqüentemente desfazer de muitos livros da forma que Deus
tocasse em seu coração. Tenho nojo de mim quando me lembro disso.
No dia
seguinte eu e Ruth fomos para uma loja chamada Sebo (compra e venda de livros,
revistas e discos) e de lá saímos com muito pouco dinheiro. Eram livros caros e
muito bons. Mais tarde eu iria pagar por tudo isso e paguei, ou creio que ainda
estou pagando.
Durante
a noite, na sala daquela casa eu amarrava um pano na cabeça, com a luz apagada
e com uma vela acesa eu fazia uma leitura da Bíblia e fingia incorporar um guia
espiritual que falasse de Jesus para Ruth e, creio que ali, no centro de total
hipocrisia e mentira esta mulher se converteu.
Então eu
comecei a visitar igrejas evangélicas com ela e meus quatro filhos. Na
realidade eu estava odiando aquilo, mas nem sei explicar porque fazia isso. Não
imagino Deus como um velho chato que proíbe seus filhos dos prazeres da vida
como ler um livro que não seja a Bíblia Sagrada, assistir um filme, uma novela,
um seriado ou sequer ouvir uma música que não seja evangélica. Não! Deus é
totalmente amor e nos deu o livre arbítrio. Ele não manipula ninguém. A Bíblia
tem que ser lida sim e compreendida antes de sair por aí falando besteiras. Se
eu estivesse errado por que será que existem tantas seitas e heresias
espalhadas pelos quatro cantos da terra, hein? Ninguém pode traduzi-la ao pé da
letra. Isso não faz sentido. Ela foi escrita no passado sendo que o velho
testamento foi escrito em aramaico (hoje, uma lingua morta) e hebraico e o novo
testamento em grego. Não vá muito longe: traduza literalmente o inglês para o
português e veja se vai conseguir entender alguma coisa. A Bíblia é sem dúvida
alguma um livro sagrado, mas é complexo.
Então,
por que vou seguir preceitos religiosos? Quem é o homem para doutrinar? Será
que Deus quer que eu me torne um desses fanáticos religiosos que falam sozinhos
pelas ruas? Que envergonham e escandalizam o seu nome nas praças públicas? Não
posso ouvir músicas de Cazuza (que eu adoro) porque estou cultuando à Satanás?
Isso não faz nenhum sentido.
O PORTÃO
Quando
cheguei de carro com Isa (prima de Rosana) de frente aquela casa (que, até
então eu não conhecia) onde morava a minha família fiquei surpreso ao rever
Tiago, meu caçulinha e, nunca mais ei de me esquecer do que ele me falou.
Disse-me com tanta convicção de que já tinha um outro pai que milhões de coisas
passavam em minha mente perturbada. Tive vontade de agarrá-lo e gritar bem
alto: “Eu sou seu pai e você é meu filho!” Eu não tinha direito algum de
protestar qualquer coisa. A verdade é uma só: Eu abandonei minha família e caí
no mundo e, para reparar tudo isso eu teria que pagar um preço muito caro.
Eu tinha
tal intenção de reverter toda a minha história, mas não consegui. Olhei para
minha esquerda e vi um barzinho e não pensei duas vezes: “Preciso tomar uma
cerveja”. Sim, sou um alcoólatra e isso não é ser fraco, covarde como pregam
muitos. Ser alcoólatra é ser doente.
Não
tirava os olhos daquele portão e, no decorrer dos dias que fiquei naquela casa
que não era e nunca foi minha pude ver muitas coisas naquele portão. Minha
mulher agora estava livre de mim e parecia muito feliz. O que eu poderia falar?
Nada. Se ela estava realmente feliz eu teria mais era que aplaudir isso.
Continuei indo na igreja evangélica com minha sogra e meus quatro filhos e
Rosana na casa de amigos, se divertindo. Ela estava certa. Eu chorava por
dentro com muito ciúmes dela, sabem? Eu queria lhe falar milhões de coisas
íntimas que nunca consegui e penso que ela também. Queria lhe falar
de quando a vi pela janela do prédio em que eu morava em São Paulo e ela estava
linda vindo ao meu encontro e que eu ouvia a música “Forever Young” de
Alphaville na rádio cidade. Foi ali que verdadeiramente eu me apaixonei por ela
de verdade. Mas nada falei.
Naquele
portão, muitas vezes vi ela aos abraços com seu novo marido; naquele portão eu
também abracei uma guria que encontrei numa lanchonete daquele bairro. Eu
continuava protestando e não tinha esse direito. De longe vinha Ruth e meus
quatro filhos vindo da igreja (que aquele dia eu não tinha ido com eles)e acho
que viram qualquer coisa.
Ela,
(Ruth Seger) sofria tanto quanto eu. Hoje tenho certeza disso.
Não
demorou muito para que eu e Rosana discutíssemos em plena madrugada, acordando
assim minha sogra, meus filhos e a baixaria foi repleta. Fiquei com ciúme de
uma provocação que ela me fez e, quer saber? Aquilo que ouvi bastou para mim.
Sempre chamei essa grande mulher de nomes baixos, estúpidos e, de fato ela
nunca foi esse tipo de pessoa vulgar a qual eu definia. Tive um caso com a irmã
dela, foram as noitadas com garotas noturnas do Clube Alvorada, da danceteria
Balança Teta e outros lugares. Eu sim, era o que estava merecendo apanhar da
vida, não ela.
Muitas
vezes chorei naquele portão imaginando como tudo poderia ter sido diferente. Eu
errei muito. Adeus minha família! Adeus Joinville, aqui não é e nunca foi o meu
lugar.
DEPRESSÃO
Cheguei
em Curitiba e pensei firmemente numa possibilidade de crescer, ser alguém na
vida. Não que eu queria mostrar isso para alguém. Eu queria ter o grande prazer
de chegar em meus quatro filhos e contar à eles uma história com “H”, uma
história de verdade. Dizer assim pra eles: “Filhos... tudo o que o pai
conseguiu pra vocês foi muito pouco, mas que tal uma casa com quintal e cada um
no seu quarto?” Para isso eu precisaria trabalhar muito, mas muito mesmo. Não
importa. Eu tentei. Dei muitas aulinhas de inglês em Curitiba e nunca tive
formação alguma. Eu esperava a Biblioteca Municipal abrir para estar no meio de
livros e dicionários repetindo para mim mesmo: “Tenho que aprender e vou
aprender”. Então, eu ia até o 3 andar e lá tinha máquinas de escrever à minha
escolha e eu fazia lindas apostilas. Como eu tinha que pagar hotel e comer, não
tinha condições de divulgar meu trabalho numa emissora de rádio, ou um anúncio
no jornal e, nem sequer dava para eu comprar um celular... então eu
datilografava num papel nome e telefone do hotel e tirava Xerox... recortava
aquelas Xerox e, com o auxílio de durex fazia minha divulgação nos orelhões no
centro de Curitiba. A coisa começou a fluir. Muita gente me ligava e eu cobrava
super barato e chegava lá em suas casas bastante animado. Eu morria de medo que
me perguntassem algo que eu não soubesse. Eu também estava aprendendo.
Mas, a
depressão tomou conta de mim de vez. Eu pensava muito em Fernanda e nos meus
quatro filhos de Joinville; eu chorava quando estava ensinando porque
trabalhava com traduções de músicas que me faziam recordar este meu maldito
passado.
Eu
sentia uma necessidade imensa de beber e era só isso que eu queria. Fazia
palhaçadas com três porteiros de hotéis (um colado com o outro) e eles me
adoravam. Eu só finalizava a palhaçada com muito choro e eles me respeitavam
quando sabiam que o assunto era família. Beber não era, nunca foi e nunca será
a solução para qualquer tipo de problema... mas, fale isso para um boêmio!
Consegui
fazer muitos amigos na época que até hoje os preservo aqui dentro do meu
coração. Eu amo aquela cidade e aquelas pessoas.
Lembro
que certa vez, eu estava num certo bairro de Curitiba conversando com três
senhoras que papeavam no portão e, quando comecei a falar de meus problemas e
que precisava de uma ajuda caí numa crise de choro dos diabos. Chorei muito
mesmo sem me importar se elas iriam me ajudar ou não. Até hoje tenho essas
queridas como minhas amigas. Comecei a tomar medicamentos controlados e me
cansei de terapias com psicólogos. Aquilo não estava me adiantando nada. E,
depois outra: eu não podia beber e isso era ruim demais.
No
quarto de hotel tinha uma televisão que eu não podia nem ver... então ela
ficava sempre desligada e eu ficava compondo lá bem quietinho sem incomodar
ninguém.
Numa
noite bem fria de Curitiba (que eu amo) desci as escadas numa alegria por ter
composto uma música e precisava mostrar ela para meus amigos porteiros...
Eu não
parava de pensar em Lair e, esta é uma das canções que eu mais amo...
ACREDITO
EM MILAGRES
Não faz
muito tempo... eu estava morando em hotel em Curitiba e, acordei num domingo de
manhã com um desejo ardente de ir na igreja. Tomei um banho, fazia muito frio e
do hotel até a igreja católica de Nossa Senhora do Guadalupe é apenas uma
quadra. Vesti um sobretudo e fui assistir a missa das 7horas com o Padre
Reginaldo Manzotti. Chegando lá, tinha côro de jovens cantando tão lindo que
não deu pra agüentar: eu chorei de verdade em ouvir aquela música “Fico feliz”.
Só pensei falando com Deus: “Quando é que eu vou ter um violão para cantar prá
ti também, Senhor?!” Assisti uma das missas mais lindas da minha vida e, quando
eu voltava para o hotel reencontrei um amigo que não via há meses. Ele me contou
suas novidades, que não morava mais em hotel, que estava agora em seu
apartamento atrás da Catedral do Guadalupe, me pagou um café...
-
Marvin, você sabe afinar violão?
- É
claro.
Então
fui conhecer seu apartamento e afinar o seu violão. Feito isso ele me pergunta:
- Você
tem violão?
- Não.
- Então,
você acaba de ganhar um.
Nossa!
Fiquei tão feliz e passei aquele domingo inteiro falando à todos do presente
que Deus me deu. Minha fé só aumentou e muitas outras maravilhas foram
acontecendo na minha vida. Eu amava freqüentar aquela igreja. Saía de lá com o
coração puro. Nem consigo explicar. Sentia uma alegria tão grande de viver! Eu
tomava minhas cervejinhas com meus amigos mas isso não me fazia mal nenhum,
como não faz para ninguém. É tão gostoso você fazer as coisas que gosta!
FATOS
INESPERADOS
Quando
conheci Lair Bender no Terminal Rodoviário de Curitiba posso afirmar que foi
uma das coisas mais extraordinárias que aconteceu na minha vida. Eu era casado
com Rosana, pai de quatro filhos...
Quando saí
de Joinville-SC com destino a Curitiba-PR minha intenção era mudar radicalmente
a nossa história como já mencionei isso. Só que viver me humilhando para
clérigos religiosos não vingou. Eu ficava revoltado porque dessa vez eu falava
a verdade e, me perguntava: “Onde está aquele Espírito Santo” que revela as
coisas? Lá atrás, em Campinas-SP era ele que se manifestava quando eu e Rosana
éramos jovens? Lá, eu mentia e obrigava Rosana a mentir também para que o
dinheiro entrasse, e o dinheiro entrava. E falando a verdade para diversos
pastores eu me encontrava numa humilhação dos diabos. Não adiantava dizer que
meus filhos estavam passando fome e que minha família estava sendo ameaçada
pelo proprietário da casa em que morávamos. Chorei em vão. Nem dinheiro eu
queria. Me lembro de pedir o essencial: “Preciso de um trabalho e de um teto”.
Foi inútil. Então, eu me revoltei de verdade mesmo. Para que alguém me desse um
mísero dinheiro eu tinha que ficar ouvindo uma maldita pregação que me doía os
ouvidos; tinha que parar de fumar porque Deus iria me despachar pro inferno;
minha vida era miserável porque Deus tinha um plano na minha vida; que se eu
não dobrasse meus joelhos eu iria morrer os próximos dias e meu espírito
acordaria no inferno; ou eu aceitava Jesus ou estaria nas mãos do capeta e o
maioral do inferno; que Deus tiraria de circulação um de meus filhos se eu não
aceitasse Jesus, etc. Ouví tanta mediocridade que me enojei de verdade. Então,
como meu dinheirinho era pouco porque me davam por esmola eu torrava tudo nos
botecos e reservava um pouco para vagas de hotéis fuleiros de Curitiba. Então
apareceu Lair e é claro: não contei à ela que era um miserável. Mas, no
decorrer do tempo ela descobriu isso e, ao contrário: se apaixonou de verdade
por mim mesmo. Ela dizia: “Não me importo de morar com você num quartinho dos
mais ralés... qualquer cantinho estará ótimo pra mim se eu estiver à seu lado”.
Lair
morava num convento em pleno centro de Curitiba e era a única a ter um quarto
só pra ela. Gaúcha da cidade de Criciumal estava lá estudando e não pagava nada
pelo local que morava graças ao Padre Anacleto que lhe deu tal
cortesia, mas que ninguém ficasse sabendo, pois os valores de cada quarto
daquele convento eram caríssimos.
Lair não
queria mais me ver em quartinhos fuleiros de hotel. Me levou num dos bairros
mais chiques de Curitiba (Santa Quitéria) e me pagou um mês de pensão numa
senhora de uma residência onde moravam médicos, advogados, etc. Lá eu faria
minhas refeições, teria um quarto só prá mim e poderia também ficar com minha
namorada quando eu quisesse. Então, minha galega estava constantemente lá me
dizendo: “Não estou conseguindo ficar longe de você, meu homem”. Em menos de
uma semana ela se mudou para lá.
A Dna da
pensão era Vera, uma moça nova, bonita mas cheia de mágoas por dentro. Ela não
entendia porque Lair me arrumava para sair. Ela me deixava um gato sabendo que
eu iria até o centro beber com meus amigos e Vera não entendia isso.
Paulo
Cézar Faria (o marido de Vera) era funcionário da Prefeitura e um cara usuário
e também traficante de drogas, mas não sabíamos disso. O casal tinha uma
filhinha chamada Iasmin e a pequena estava sendo mal tratada.
Sr
Francisco era um velho aposentado, vítima de três derrames mas falava com certa
dificuldade e adorava minha Lair. Então, às vezes Lair fazia pratos deliciosos
e convidava Sr Francisco para comer com a gente. Eu e Lair passávamos na
locadora e alugávamos bons filmes e em nossa companhia sempre estava o velho
Chico catarinense.
Um dia,
pressionei Lair contra a parede:
- Pare
de agradar este velho, Lair. Não estou gostando disso.
- Mas,
amor... ele teve três derrames e...
-
Foda-se! Pare.
Ela
ficou triste, mas nos próximos dias me pediu desculpas. Estávamos sem um mísero
real na pensão, porém, no dia seguinte Lair pegaria na Caixa Econômica a
quantia de “Mil reais” e, isso salvaria nosso problema. Então, transamos
gostoso e nem fizemos questão de dormir, ansiosos para que o dia amanhecesse e
fôssemos até o centro buscar a grana no banco. Só que, do bairro Santa Quitéria
até o centro de Curitiba é muito longe. Lair, delicadamente me faz um pedido:
-
Amor... não briga comigo, por favor! Posso pedir emprestado “dois reais” para o
Sr Francisco pra gente ir pro centro pegar o dinheiro?
Frio e
calculista eu só pensei nos “mil reais...”
- Claro,
amor!
E é
claro que o Sr Francisco emprestou sorridente e ainda perguntou se era só
aquilo mesmo que precisávamos. Fomos até o centro e, com”milão” no bolso
(amigos) não tem um que não fique feliz. Passamos nas lojas, compramos um monte
de bobageiras, pegamos nossas fotos reveladas, tomamos um porre de cerveja,
passamos no Carrefour e fizemos uma senhora de uma compra e, tarde da noite
voltamos para aquela pensão de táxi. Chegando lá um silêncio dos demônios. Estavam
todos os hóspedes na sala e Sr. Francisco mal podia nos encarar. Lair mostrava
à ele as fotos reveladas e, de repente... Jeferson, o filho do velho Francisco
aponta o dedo para mim e diz:
- Você e
sua namorada roubaram meu pai e é o seguinte: se a grana não aparecer aqui
agora tenho uns amigos meus da polícia que vão levar vocês num cantinho e já
sabe o que vai acontecer, não sabe?
Lair
altera a voz:
- Não
aponte o dedo para meu namorado.
Jeferson
me humilha:
- Teu
namorado? O que ele é? Um advogado, juiz? Teu namorado é um ladrão.
Então,
meu sangue ferveu:
- Vai
ter que provar isso, cara!
Lair foi
até o banheiro e, lamentavelmente perdeu o filho num aborto. Choramos muito
abraçados depois desse fato e, Jeferson totalmente frio (que nem lá morava) não
parava de perturbar a gente...
- O
tempo está passando. E o dinheiro do meu pai vai ou não vai aparecer? Foram
“duzentos reais”.
Lair
pegou o telefone e chamou sua advogada, por sinal gaúcha também. Por telefone
mesmo adiantou o assunto e em menos de meia hora lá estava ela com seis carros
da polícia civil de Curitiba. Eu abraçava Lair em nosso quarto e tinha muito
medo...
- Lair,
sem documento, desempregado, sem rendas... eles vão me prender.
- Não
vão te prender. Vão ter que me matar primeiro! Eu te amo!
A
advogada falou poucas e boas para esse tal de Jeferson e ele teve que ficar
quietinho até que ela terminasse o seu discurso. Me lembro de algumas coisas
que ela falou:
- A
acusação que o Sr está fazendo é muito grave e isso pode lhe custar caro. Está
acusando meus clientes e pode ser processado por isso.
A
advogada perguntou pra gente:
- Tem um
outro lugar para vocês ficarem? Sim, arrume suas coisas e vamos para um local
seguro.
Vera (a
Dna da pensão) não concordou...
- Mas
eles me devem e...
- A
senhora, quem é?
- Sou a
Dna da pensão.
- Então,
cale a tua boca que já vai me ajudar bastante. Procure seus direitos em
pequenas causas, ok? Faz isso amanhã e...
Vera não
parava de falar...
- Cale a
tua boca, mulher!
Que
advogada, meu! Arrumamos nossas coisas e fomos com a advogada para um dos
melhores hotéis de Curitiba. Chegando lá choramos muito. Mas muito mesmo.
Choramos pelo filho que ela perdeu; por tudo o que estava acontecendo com a
gente; de sermos acusados como ladrões, etc.
- Vamos
embora dessa cidade, amor? – Lair odiou Curitiba naquele momento.
- Claro!
Vamos embora daqui.
No dia
seguinte, tínhamos muito a fazer. Eu e Lair fomos até a biblioteca municipal e
reviramos livros e mais livros sobre estatutos da criança, abusos e outras
coisas. Ela escreveu uma linda carta para Sr Francisco e que carta, viu! Me
lembro que, revoltada ela jogou o dinheiro que devia para aquele velho que ela
gostava tanto.
Era
exibido na época um programa policial na rede CNT e o apresentador Alborghet
era um homem porreta. Tínhamos em mãos cartas, Xerox e fizemos uma denúncia da
tal pensão. Antes de sairmos de lá, tivemos o prazer de saber que Iasmin foi
recolhida pelo Conselho Tutelar...
Fomos
para São Paulo e, dias depois Lair foi para o Rio Grande do Sul. O dinheiro
estava acabando e ela ia buscar mais com o seu pai. Mas, para me manter ainda
tinha.
Por telefone fiquei sabendo
quando liguei para Curitiba que Paulo Cézar Farias, sua mulher Vera e mais um
irmão foram presos depois de incendiarem um posto de gasolina. Na prisão
confessaram até sobre o roubo de Sr Francisco. Que vitória! Eu precisava contar
isso à minha princesa Lair e depois tomar muitas cervejinhas. Foi nessa noite
que conheci aquelas gatas mãe e
filha de Araraquara, lembram?
AINDA NA
ADOLESCÊNCIA...
A adolescência
me traz boas e péssimas recordações. Acho que isso acontece com todo mundo. Com
14 anos eu me sentia um homem realizado e cheio de sonhos. Um garoto falante,
queria saber de tudo, conversar com pessoas mais velhas para sempre aprender
algo novo. Não suportava jogar bola ou empinar barrilete como outros moleques.
Gostava mesmo era de ler, escrever, ouvir muitas músicas e cantar. Nessa época
me apaixonei por Maria Goretti. Eu ia na missa aos domingos de manhã só pra ver
aquela linda morena de cabelos tão lisos e negros como uma índia. Mas ela era
muito linda mesmo. Me esnobava. Eu morava na Rua Antônio João, 306 fundos e ela
na mesma rua no número 173. Só que a casa dela era chique, tinha até garagem.
Eu passava direto lá na frente da casa dela e ficava olhando para ver se a via.
Dei muita bandeira. Comprei um compacto duplo dos “Bee Gees”, escrevi uma
cartinha e chamei meu irmão caçula Fernando que tinha na época uns 7, 8 anos...
-
Entrega pra Goretti esse presente?
E ele
foi até a casa dela entregar o disquinho com a minha cartinha. Então, fiquei
ansioso para saber o que ela tinha achado do presente e, num domingo depois da
missa segui Goretti e perguntei tímidamente:
- Gostou
do presente, Goretti?
- Por
que não me entregou pessoalmente? Odeio que fiquem mandando presentes e
cartinhas pra mim.
Nossa!
Que fora levei daquela gata mau humorada. Ninguém gostava dela por ser muito
patricinha e metida, nariz empinado... só eu mesmo. Que paixão doentia eu tinha
por essa moleca que tinha a mesma idade que eu.
Nessa
época eu comecei a trabalhar na Coloman como Office boy, depois na Bússola e,
não tirava ela do meu pensamento. Sua irmã Elaine (um tesouro) na época tinha
21 anos e a gente pegava o ônibus juntos quase todos os dias. Lembram da Tina?
Personagem do desenhista Maurício de Souza? Elaine lembrava muito a Tina com
sua elegância e aquele óculos que eu achava um charme.
UM
BOÊMIO QUE SEMPRE ACREDITOU EM ANJOS DA GUARDA
Anjos Cabalísticos - IERATHEL
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FALTA CORRIGIR ESTE TEXTO
PERDOEM OS ERROS
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