Salandro
era um sujeito esperto, malandro de primeira. Vivia de golpes, extorquindo
dinheiro de pessoas de bem. Tinha uma lábia que conseguia chamar a atenção de
todos. Sempre de terno e gravata, sapato de luxo nos pés, porém, duro,
quebrado, sem uma mísera moeda para pagar um café. Como ele tinha aparência de
“boa pinta” ganhava até ticket de refeição das pessoas. Bastava ele dizer: “Que
droga! Esqueci minha carteira no apart hotel”. Safado, sem vergonha!
Ele se hospedava no “aperto hotel”, um mocózinho que só dava gente da sua laia.
Um
dia, Salandro teve uma ideia porreta. Tomou uma ducha fria, se olhou no espelho
e, disse pra si mesmo: “Venderei lote na lua”. Saiu à procura das
vítimas. Pensou naquelas senhoras aposentadas, humildes, analfabetas que,
geralmente, acreditam em tudo.
- É
a senhora mesmo. Como é mesmo o seu nome?
E
a velhinha, humildemente responde:
- Maria
Aparecida da Graça.
E
ele sorri alegremente ou diabolicamente e diz:
- Pois
é Dona Maria Aparecida da Graça, pode rir agora, porque é exatamente a senhora
e mais ninguém que apareceu em nossos arquivos.
E
a velhinha não entende nada.
- Rir
agora? Arquivos? Não estou entendendo nada.
- Nem
queira entender. A senhora foi sorteada pelos lunáticos e, veja bem, não
precisa ir morar lá, mas, acaba de ganhar um lote na Lua.
E
a ingênua velhinha regala seus olhos e fica bem confusa.
- Lote
na Lua?!
- Sim. Pense num lugar calmo, sem violência, paz
paradisíaca, enfim, tudo o que planta lá, dá. É na Lua, minha senhora, mas,
veja bem: não precisa morar lá, se não quiser. Pode me vender o lote que eu
compro. E daí? Quanto vai querer por ele?
E
a velhinha fica mais confusa.
- Quanto
eu quero por “ele”, quem?
- Pelo lote na Lua, vovó.
Não
teve como segurar. A velha, literalmente, soltou um peido que saiu aos berros
de dentro dela e, sem fazer curvas.
- Eu não sei. Eu não estou entendendo nada, senhor.
- Não queira entender, vovó. Só não peide na Lua
porque os lunáticos não vão gostar nem um pouco. Façamos o seguinte: Se eu lhe
der pelo lote lunar “Cinco mil reais”, não se fala mais nisso? Fechado?
E
a velha se torce toda e os “gasesinhos acumulados” dentro de seu
intestino vêm em ritmo de procissão relâmpago: vem peidinho e peidão.
- Cinco mil reais?! Eu vendo pro senhor, é claro.
E
aquele malandro safado prossegue o seu plano.
- Que tal almoçarmos juntos naquele restaurante? Tá
vendo ele lá? Olha ele lá, viu?
- Sim, podemos almoçar lá, sim.
E
era um restaurante finíssimo e de luxo. Quando atravessavam a avenida, Salandro
da uma de preocupado.
- Pela graça de todas as aparecidas imaculadas ou
não, eu só tenho cheque diamante aqui e, eles não vão aceitar lá e...
A
velha o tranqüiliza:
- Eu pago o almoço. Recebi minha aposentadoria atrasada
de seis meses.
E,
dessa vez, quem peida é Salandro, mas, pede licença, primeiro.
- Que maravilha, vovó! Então, a senhora tá com a
grana, tá podendo.
- Que nada! Meu salário é rural e o dinheirinho tá
praticamente contado para eu pagar as dívidas.
- Assim, a senhora me quebra, vovó! Vai me levar um
cheque aço de diamante e eu vou ficar duro.
- Peraí! Dê-me apenas quatro mil reais pelo lote na
Lua e, boa.
E,
Salandro pensa rápido.
- Façamos o seguinte, então: um lunático vai fazer
um depósito via foguete para mim na próxima segunda-feira, bem no dia da Lua e,
vai cair naquele banco lá, ó. Tá vendo o banco lá? Olha ele lá. Muito dinheiro,
vovó. Eu lhe dou pelo lote na Lua dez mil reais e, não se fala mais nisso, ok?
Só que tem um, porém: empresta-me essa miséria que recebeu de sua aposentadoria
atrasada até na segunda?
A
velha fica preocupada.
- Mas, e os docinhos dos meus netinhos? Os
coitadinhos estão esperando.
- Deixe de ser miserável, vovó! Com dez mil reais
poderá comprar até doce lunar para eles. É simples, prático, rápido e objetivo:
passe-me a grana agora.
- E quem vai pagar o almoço?
- Eu pago, vovó.
E
assim, a pobre velhinha ingênua de tudo, passa para aquele malandro todo o
dinheiro que recebeu de sua aposentadoria atrasada e entram no restaurante fino
e de luxo e se fartam de tanto comer. De sobremesa tinha até doce de jaca.
Salandro pede licença, arrota e peida, fazendo a velhinha rir tanto, mas, tanto
que se engasga peida e morre. E vêm garçons, a gerente e a proprietária do
restaurante em volta daquela velha e, Salandro tenta sair de fininho quando é
barrado pela polícia:
- O senhor está preso. Nós, juntamente das micro
câmeras da Globo filmamos tudo, seu bandido. Devolva o dinheiro da velha.
Salandro
treme, pede licença, peida e diz:
- Mas, ela está morta.
Pois
é: este marginal foi para a cadeia, pessoal. Seu plano diabólico estava até que
dando certo. Mesmo que ele não tivesse peidado (que foi a causa da morte da
velhinha), seria capturado, pois, até a Globo filmava tudo. Pelo menos, a
pobrezinha da velhinha morreu rindo, né?
doutorboacultural.blogspot.com/
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