Amor e Ódio eram dois irmãos gêmeos, porém,
completamente diferentes um do outro. Amor era calmo, dócil, bom e, sua maior
virtude era amar a todos sem fazer acepção. Ódio era bravo, amargo, mau e, seu
maior defeito era odiar a todos.
Amor amava demais seu irmão Ódio e tinha esperança de
que um dia ele mudasse seu modo de agir, pois isso lhe deixava de péssimo
humor, muito mal. Amor vendo seu irmão Ódio murmurando, resmungando pelos
cantos da casa onde moravam foi encorajá-lo, lhe dar bons conselhos como sempre
fazia:
- Por que murmuras tanto, Ódio? A vida é tão linda!
Ódio estava furioso, como sempre:
- Eu odeio a vida, a todos, a tudo, inclusive a você.
- Mas, odiar a vida, a todos e a tudo, inclusive a
mim, só vai fazer mal a você, meu querido.
- Mente quando me chama de querido. Você sabe que eu
não sou querido de ninguém. Ninguém me quer.
- Engano teu, meu irmão. Eu não sou ninguém. Sou
alguém, meu nome é Amor e te quero muito.
- Como você pode me querer?! Sou exatamente o oposto
de você.
- É por isso que te quero. Se fôssemos iguais, quem
sabe, talvez eu nem te enxergasse.
Ódio ficou confuso:
- Mas, você gosta de mim mesmo sabendo que sou mau,
egoísta, fracassado, revoltado?
- Não gosto dos seus adjetivos, gosto e amo você.
- Mas, eu sou cem por cento ódio. Como você pode me
amar?
Amor, com muita doçura lhe pergunta:
- Odeia ter ódio de ter ódio?
- Odeio.
- Então, não são é cem por cento ódio. Se você odeia
ter ódio de ter ódio é porque sabe que ter ódio é um sentimento ruim. Odeia a você?
- É claro que eu me odeio.
- Por quê?
- Eu me odeio por ser assim diferente do nosso pai
Eternidade, da nossa mãe Felicidade, dos nossos irmãos Esperança, Fé, Alegria,
Caridade e, principalmente de você, Amor.
- Observe você que reconhece ser diferente dos nossos
pais e irmãos. Como pode odiar nosso pai que quer que sejamos eternos como ele?
Como pode odiar nossa mãe que quer que sejamos tão felizes quanto ela? Como
pode odiar nossos irmãos Esperança, Fé, Alegria, Caridade e eu que querem te
levar na casa do vovô Paraíso?
Ódio chora e diz:
- Vovô Paraíso, como eu queria conhecê-lo! Ele não vai
me deixar entrar em sua casa.
- Nem você, nem nossas primas Raiva, Contenda, Fofoca,
Briga, Desgraça, Praga e outras.
- O que devo fazer então, se quero entrar na casa do
vovô Paraíso?
- É simples: deve amar a todos como eu. Nossa irmã
Inteligência pode te ajudar levando-o até nossa bisavó Sabedoria. Ouça nossa
bisavó e também nosso bisavô Conselho. Eles vão te apresentar outro lado da
nossa parentela que vale a pena você conhecer. Nossa tia Amizade, nosso tio
Caminho, nossa prima Verdade, nossa madrinha Virtude, nosso padrinho Bênção e
muitos outros.
Ódio ouvindo tudo isso sai dali, da presença de seu
irmão Amor, predisposto a mudar radicalmente a sua vida. Encontra-se com uma
das tias Confusão e vai com ela até um boteco onde encontra o primo Errado e é
claro: faz tudo errado. Se junta com Desgraça e Tranqueira e dana-se tudo de
vez. Tem filhos com as duas. Nasce Rancor, Fracasso, Lamúria, Nervo, Cólera,
Raiva, Desgosto e, inclusive o último é o que mais dava desgosto ao pai.
O tempo passa e Ódio fica velho e suas
companheiras Desgraça e Tranqueira os abandonam. Doença se apaixona por ele e
ele fica muito doente. Seu irmão Amor, suas cunhadas Cura e Paciência fazem
tudo o que podem para ajudá-lo, mas, nada adianta. Até as primas Saúde e
Aleluia tentam ajudá-lo, mas não adianta. Sai do hospital com sua companheira
Doença e vai morar na casa de uma das netas: a Miséria. O ambiente daquela casa
era pesado demais. Quem frequentava lá era a Fome, a Insônia, o Medo, o
Distúrbio, a Neurose, a Confusão, a Melancolia, a Depressão e, principalmente a
Droga com seus filhos Crack, Cocaína e Maconha. Doença também abandona o velho
Ódio e quem se apaixona por ele de verdade é a Morte que o leva embora daquela
casa. Coitado! Pensar que ele queria tanto conhecer seu avô Paraíso. Acordou
num lugar sombrio, triste, num lugar infernal ao lado de todos os
demônios e daqueles que são maus.
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