quinta-feira, 31 de outubro de 2013

AMOR E ÓDIO

Amor e Ódio eram dois irmãos gêmeos, porém, completamente diferentes um do outro. Amor era calmo, dócil, bom e, sua maior virtude era amar a todos sem fazer acepção. Ódio era bravo, amargo, mau e, seu maior defeito era odiar a todos.
Amor amava demais seu irmão Ódio e tinha esperança de que um dia ele mudasse seu modo de agir, pois isso lhe deixava de péssimo humor, muito mal. Amor vendo seu irmão Ódio murmurando, resmungando pelos cantos da casa onde moravam foi encorajá-lo, lhe dar bons conselhos como sempre fazia:
- Por que murmuras tanto, Ódio? A vida é tão linda!
Ódio estava furioso, como sempre:
- Eu odeio a vida, a todos, a tudo, inclusive a você.
- Mas, odiar a vida, a todos e a tudo, inclusive a mim, só vai fazer mal a você, meu querido.
- Mente quando me chama de querido. Você sabe que eu não sou querido de ninguém. Ninguém me quer.
- Engano teu, meu irmão. Eu não sou ninguém. Sou alguém, meu nome é Amor e te quero muito.
- Como você pode me querer?! Sou exatamente o oposto de você.
- É por isso que te quero. Se fôssemos iguais, quem sabe, talvez eu nem te enxergasse.
Ódio ficou confuso:
- Mas, você gosta de mim mesmo sabendo que sou mau, egoísta, fracassado, revoltado?
- Não gosto dos seus adjetivos, gosto e amo você.
- Mas, eu sou cem por cento ódio. Como você pode me amar?
Amor, com muita doçura lhe pergunta:
- Odeia ter ódio de ter ódio?
- Odeio.
- Então, não são é cem por cento ódio. Se você odeia ter ódio de ter ódio é porque sabe que ter ódio é um sentimento ruim. Odeia a você?
- É claro que eu me odeio.
- Por quê?
- Eu me odeio por ser assim diferente do nosso pai Eternidade, da nossa mãe Felicidade, dos nossos irmãos Esperança, Fé, Alegria, Caridade e, principalmente de você, Amor.
- Observe você que reconhece ser diferente dos nossos pais e irmãos. Como pode odiar nosso pai que quer que sejamos eternos como ele? Como pode odiar nossa mãe que quer que sejamos tão felizes quanto ela? Como pode odiar nossos irmãos Esperança, Fé, Alegria, Caridade e eu que querem te levar na casa do vovô Paraíso?
Ódio chora e diz:
- Vovô Paraíso, como eu queria conhecê-lo! Ele não vai me deixar entrar em sua casa.
- Nem você, nem nossas primas Raiva, Contenda, Fofoca, Briga, Desgraça, Praga e outras.
- O que devo fazer então, se quero entrar na casa do vovô Paraíso?
- É simples: deve amar a todos como eu. Nossa irmã Inteligência pode te ajudar levando-o até nossa bisavó Sabedoria. Ouça nossa bisavó e também nosso bisavô Conselho. Eles vão te apresentar outro lado da nossa parentela que vale a pena você conhecer. Nossa tia Amizade, nosso tio Caminho, nossa prima Verdade, nossa madrinha Virtude, nosso padrinho Bênção e muitos outros.
Ódio ouvindo tudo isso sai dali, da presença de seu irmão Amor, predisposto a mudar radicalmente a sua vida. Encontra-se com uma das tias Confusão e vai com ela até um boteco onde encontra o primo Errado e é claro: faz tudo errado. Se junta com Desgraça e Tranqueira e dana-se tudo de vez. Tem filhos com as duas. Nasce Rancor, Fracasso, Lamúria, Nervo, Cólera, Raiva, Desgosto e, inclusive o último é o que mais dava desgosto ao pai.

O tempo passa e Ódio fica velho e suas companheiras Desgraça e Tranqueira os abandonam. Doença se apaixona por ele e ele fica muito doente. Seu irmão Amor, suas cunhadas Cura e Paciência fazem tudo o que podem para ajudá-lo, mas, nada adianta. Até as primas Saúde e Aleluia tentam ajudá-lo, mas não adianta. Sai do hospital com sua companheira Doença e vai morar na casa de uma das netas: a Miséria. O ambiente daquela casa era pesado demais. Quem frequentava lá era a Fome, a Insônia, o Medo, o Distúrbio, a Neurose, a Confusão, a Melancolia, a Depressão e, principalmente a Droga com seus filhos Crack, Cocaína e Maconha. Doença também abandona o velho Ódio e quem se apaixona por ele de verdade é a Morte que o leva embora daquela casa. Coitado! Pensar que ele queria tanto conhecer seu avô Paraíso. Acordou  num lugar sombrio, triste,   num lugar infernal ao lado de todos os demônios e daqueles que são maus.

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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

O JOGADOR

Alegrete era um homem alegre, de bem com a vida, cabra da peste honesto, trabalhador, pai de família num total de oito bocas para alimentar já inclusa sua frágil e raquítica mulher que esperava a morte chegar a qualquer momento sentada numa cadeira de rodas.
Alegrete não tinha estudo não, mas, em compensação era um servente de pedreiro de mãos cheias, isto é: mãos calejadas, mãos de cabra macho trabalhador. De manhã cedo antes de o galo cantar o cabra já estava de pé com sua mochilinha nas costas levando a marmita para o seu trabalho.

Apesar de sua ignorância, o pobre sertanejo cabra da peste tinha suas ambições. Seu grande sonho era tirar sua mulher e seus sete filhos da boca da miséria, da favela onde morava. Então ele fazia sua “fezinha” na loteria. Se ele ganhasse compraria um sitiozinho e ali terminaria seus dias junto de sua família que tanto amava.
Depois de mais um dia árduo de trabalho Alegrete chega numa casa lotérica já com um jogo feito em mãos. Na fila conhece um cidadão de boa aparência que lhe diz:
- Senhor, não lhe conheço, porém, nunca me engano com as pessoas. Consigo ler em sua testa que serás um homem milionário. Só que tem um, porém: deixe de ser miserável.
Alegrete não entende.
- Miserável?!
- Sim. Não é fazendo um mísero joguinho que o senhor vai ser um milionário. As probabilidades de ganhar são praticamente, pelos cálculos matemáticos nenhuma. Deves fazer mais apostas.
- Mas o que eu tenho é pouco. Hoje recebi e meu dinheiro está contado para pagar minhas contas.
Aquele sujeito aparentemente simpático balança a cabeça e lhe diz:
- É por isso que pobre nunca tem nada, não ganha nada. Pare de pensar pequeno, miserável. A oportunidade não bate todos os dias em nossa porta. Olhe só para mim. Veja com teus olhos o sapatão de couro de jacaré adulto que estou usando. Minha limusine está no estacionamento. Até um tempo atrás eu era um miserável assim exatamente como o senhor. Ganhei várias vezes na loteca e continuo ganhando. Sabe por quê? Porque eu aposto, miserável.
Alegrete ficou tentado em fazer mais apostas, porém, ficou preocupado.
- Mas eu tenho família e meu aluguel vence amanhã e...
- Pare de se lamentar, miserável. Que aluguel que nada. Não tem vergonha de deixar sua família num barraco onde pagas aluguel? Compre uma casa, ou melhor: compre uma mansão. Isso é muito fácil.
- Fácil?!
- É claro. Deves jogar tudo o que tens e a hora é agora. Eu já lhe disse: nunca me engano quando bato meus olhos numa pessoa. Será um milionário.
E Alegrete tira de sua carteira todo o seu pagamento e faz mais apostas.
- Só vou deixar reservado o dinheiro do leite das crianças e...
E aquele sujeito balança a cabeça.
- Que pobreza! Pense em quantas vacas leiteiras poderá comprar quando ficares milionário, miserável.
E Alegrete não resiste à tentação: jogou todo o seu dinheiro. Até mesmo a reserva do leite das crianças foi pro pau. Na saída da casa lotérica ainda marca uma cerveja e um X Salada no boteco da esquina onde era freguês. Quer dizer: quem devorou o X e bebeu toda a cerveja foi aquele sujeito.
- Sinta-se um milionário a partir de hoje, meu senhor. Vá pra sua casa e abrace sua família e fique atento: nos próximos dias será um milionário.
E Alegrete chega a sua casa. Seus filhinhos já o esperavam no portão do cortiço:
- Papai, cadê o leite? Está no bolso?
- Papai, cadê meu pirolitinho?
Que tristeza! Alegrete mente para seus filhos.
- Papai não recebeu meus queridos.
Mal conseguiu dormir aquela noite. Ficou ouvindo o choro das crianças pedindo comida e leite. No dia seguinte foi trabalhar e não parava de pensar em seus filhos: “Coitadinhos! Mas, é por pouco tempo”.
Depois de dias de choro e lamentação ele passa na lotérica para conferir suas apostas. O cabra suava frio de tanta emoção. Aquele sujeito de lhe bate nas costas:
- Que satisfação revê-lo, meu senhor! Posso lhe ajudar a conferir suas apostas já que são muitas?
- Sim, é claro.
Alegrete não fez nem sequer um terno. Ficou triste, é claro. Aquele sujeito tenta animá-lo com um sorrisinho cínico e diabólico:
- Não foi desta vez, meu senhor! Não desanime. É exatamente assim que funcionam as coisas: hoje perdes amanhã tu ganhas.
Foi uma dureza da peste aqueles dias. Alegrete teve que pendurar uma comprinha no mercado da vila, pois seus filhos queriam comer. Quinze dias depois Alegrete pega o vale e vai direto para a casa sem olhar para aquela casa lotérica, porém, dá de cara com aquele sujeito.
- Está correndo de quem e de que, miserável?
- Estou indo pagar minhas dívidas.
- Que dívidas? Pare com isso, miserável. Quem paga dívidas é pobre e o senhor não é. Está escrito em sua testa que serás um milionário em poucos dias.
- Meu aluguel venceu e não paguei, meu senhor. O proprietário já está pedindo a casa e...
- Deixe de tolo, miserável! Recebestes?
- Sim.
- A hora é agora: aposte tudo o que tens.
- Mas eu não posso.
- Vai querer morrer pobre mesmo, não é? Dane-se então. Eu lhe avisei.
E Alegrete não resiste: todo o dinheiro do vale fica naquela casa lotérica. Endividado, ele já andava cabisbaixo. Devia pra Deus e para o mundo. Dias depois foi conferir suas apostas e ficou novamente decepcionado. Não ganhou nada e ainda teve que ouvir lorotas daquele maldito sujeito.
- Não faça cara de choro, miserável. Ganharás. Será um milionário nos próximos dias. Veja bem: estás registrado em seu trabalho?
- Sim, estou.
- Tens o nome limpo?
- Claro.
- Então, meu querido, estás fodido porque queres. Traga-me um holerite juntamente de seus documentos e vamos abrir uma conta bancária para o senhor.
- Mas, como?! Eu não tenho dinheiro nenhum para movimentar e...
- Pense adiante! Pense grande, seu miserável! Farás um grande investimento.
- Mas, eu não tenho nada para investir.
- Além de miserável o senhor é um analfabeto porreta, hein! O banco vai lhe dar um bom dinheiro, entendestes? Vai investir em tu, seu miserável.
E assim Alegrete com o auxílio daquele sujeito abre contas em vários bancos e consegue bons empréstimos de financiadoras para movimentar suas contas bancárias. Ingênuo como uma barata em fase de crescimento confessa para aquele sujeito de terno e gravata:
- Acho que o senhor caiu do céu mesmo. Consegui emprestar um bom dinheiro do banco e finalmente vou liquidar as minhas dívidas.
- Que dívidas, miserável? Vai começar de novo com esse papo de pobre, miserável?
- Meu aluguel vai pra três meses que está atrasado, vão cortar minha luz, minha água e...
- Deixe de ser leso filho de uma bactéria anã! Não se preocupe com picadinhos porque desfrutará das picanhas, seu miserável! Será um milionário nos próximos dias. Pegue essa grana que o banco lhe emprestou e aposte tudo porque a hora é agora.
- Será?
- É claro. Jogue tudo na loteria e considere-se desde já um milionário. Inclusive me empreste uma parte desse dinheiro que eu vou apostar para o senhor também.
E Alegrete tentado por aquele sujeito fez altas apostas na esperança de ficar milionário. Os dias passaram-se e ele além de não ganhar nada agora estava no vermelho: devendo pros bancos, pras financiadoras, etc. Danou-se tudo. Foi despejado do barraco da favela e foi parar com sua família debaixo da ponte. Sua mulher morreu com certeza de desgosto e foi enterrada como indigente. Seus sete filhos se perderam na vida: uns viraram trombadinhas, as meninas prostitutas e lascou-se tudo. Alegrete começou a beber e já não tinha mais pique para o trabalho de onde foi mandado embora também. Virou mendigo de rua. Deixou o cabelo e a barba crescerem e tinha só um único objetivo agora em sua vida de pobre miserável: encontrar aquele sujeito  e lhe dizer umas verdades e depois matá-lo. Pois é: aquele sujeito sumiu e a procura foi grande.
Num belo dia, Alegrete entra num finíssimo restaurante e, como estava maltrapilho demais foi barrado logo na porta. Só que ele tinha um olhar infalível. Pode ver lá no fundo daquele finíssimo restaurante uma de suas filhas curtindo o maior dos “Love” com aquele sujeito de terno e gravata. Alegrete furioso invade aquele lugar e dá uma surra da peste serena maldita naquele sujeito.
- Safardana desgraçado! Não me disse que eu ficaria milionário? Olhe só o meu estado, seu demônio!
E Alegrete pega o terno e a carteira daquele sujeito e vai embora.
- Não vou lhe matar não, mas, isso daqui é meu, é meu e meu.
Entra num boteco porque a carteira estava recheada e, tinha os joguinhos feitos que ele até pensou em rasgá-los, mas não fez isso. Depois de tomar umas pingas passou na casa lotérica e, opa! Era o único ganhador da mega sena. Ficou tão feliz que deu um beijo de língua na mocinha do caixa que não achou ruim não. Agora, ele só tinha um único desejo: queria encontrar aquele sujeito  e lhe agradecer, lhe dar um aperto de mão, um abraço e um beijo e depois mandá-lo para o inferno com vários tiros. Se bem aquele sujeito de terno e gravata estava certo quando dizia que Alegrete ficaria milionário, não é?


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segunda-feira, 28 de outubro de 2013

QUE BICHO É ESTE?


Até pouco tempo atrás eu era um homem alegre como um macaco ria como uma hiena cantava como um pássaro e era manso como um veado.
Hoje sou estúpido como um cavalo, valente como um touro, feroz como um leão, prudente como um pombo e astuto como uma cobra.
Meus olhos são hoje como os olhos de uma águia; sou arisco como o coelho que prefere uma cenoura a uma senhora; ágil como rato, esperto como um gato.
Antes eu sentia-me livre como uma borboleta gostava de caminhar como uma formiga com direção ao trabalho e a farinha.
Sim, eu era doce como uma abelha, pegajoso como um carrapato, elegante como uma girafa, inteligente como um castor.
Eu era tranquilo como um Bicho-preguiça; lento como uma tartaruga ou como uma lesma.
Hoje sou sujo como um porco, abobado como um pato e atrapalhado como uma anta.
Hoje sou briguento como um galo; tão parasita como um chato, um piolho, um pernilongo, uma pulga.
Não pulo mais como um canguru e meu pisar é pesado como o pisar de um elefante. Sou gordo como um hipopótamo, cego como um rinoceronte, malicioso como um bode.
Antes eu era delicado como um cabrito, como um carneiro. Hoje meu faro é de lobo e sou tão venenoso como um escorpião e uma aranha.
Eu era fiel como uma baleia. Hoje ando pra trás como um caranguejo, um siri e, meus dentes são tão afiados como os dentes de um tubarão.
Chamar minha mulher de vaca é ofender o boi, se bem que ela gosta de leite e isso não tem nada haver. Chamá-la de galinha por que, se galinha não gosta de rolas?
Lacraia traía piranha! Cheguei à minha casa e, essa cadela da minha mulher estava deitada com meu melhor amigo. Matei os dois. Que bicho é este? Que amigo é este? Hoje estou engaiolado como um passarinho.




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sexta-feira, 25 de outubro de 2013

NEGÓCIO DE LOUCO


Na cidade de Recolhe, interior de Minas Gerais, já recolhida, fora do mapa geográfico, Ari Lobo, um rico fazendeiro, lendo um jornal na varanda de sua casa de fazenda, ficou atraído por anúncio que dizia assim:
“Vendo um prédio de quarenta andares num total de quatrocentos apartamentos semi acabados, em São Paulo, capital, por apenas R$ 200.000,00 (duzentos mil reais). Interessados ligar para (41) 9768-0951 e falar com a Sra. Andréa”.
O que?! Ari Lobo ficou louco ao ler aquele anúncio, que pegou seu cinto de couro de jacaré chinês e surrou Zezé, sua mulher. Vichi! Que loucura! Um prédio de quarenta andares com quatrocentos apartamentos semi acabados em plena capital de São Paulo estava, sem dúvida, barato demais. Imediatamente, ligou para a Sra. Andréa para colher maiores informações.

O que?! Ari Lobo pirou de vez ao ouvir aquela voz suave e gostosa que não tinha nada de senhora no telefone. Babou, louqueou de vez que deu oito tiros em seu cachorro velho e sarnento mandando-o para o inferno. Coitadinho do Bobinho! Marcou um encontro com a Sra. Andréa na Av. Rio Branco (bem no centro de São Paulo) e chegou lá no horário combinado.

Ari Lobo vendo a beleza ao vivo e a cores daquela jovem que não tinha nada haver com senhora que acabou de enlouquecer de vez. Deu uma cabeçada num poste e, por pouco não morreu. Que homem afobado, Sô!

- Senhora, quer dizer, mocinha, estou interessado em conhecer esse tal prédio e, saber, afinal, se tudo isso é verdadeiro ou é pegadinha de televisão.

Nisso, (sabe-se lá de onde veio) Ari Lobo leva dois tapinhas de um homem elegante, comprido e muito sério.
- Duvidas?!
Honésio e Andréa levam Ari Lobo para conhecer o prédio que estava situado na Av. Prestes Maia (centro de São Paulo).
O que?! Ari Lobo tira seu sapato de couro de crocodilo paraguaio, coça os dedos unidos de seus dois pés e diz:
- Eu topo essa parada. Adorei, adorei e adorei. Eu compro o prédio e pago à vista.
Honésio sorri diabólico:
- Não é tão simples assim comprar um prédio, seu otário. Não vai querer saber por que eu e minha adorável mulher estamos vendendo este prédio assim, por um valor tão barato?
Ari Lobo, agora coça seu escroto.
- Sim, por quê?
Honésio dá outro sorriso diabólico:
- Porque somos tão loucos quanto você.
- E é?
- Yes. Vamos até o cartório dar entrada nos papéis, reconhecer firma e todos esses papos dirma.
O que?! Ari Lobo sentiu total confiança naquele negócio que mal podia respirar pelas narinas e boca. Respirou pelo reto e imaginem o ar adocicado dos peidos.
Chegaram à Rua dos Timbiras, s/n, tudo ali mesmo no centro da capital e o cartório ficava nos fundos de um corredor estreito, porém, longo.

Ari Lobo foi muito bem recepcionado por Salandro (o escrivão) e lá, tinha até um Juiz de Direitos: o Meritíssimo Juiz João Ferreira Bigulinho. Sim, tudo parecia muito certinho. Com a escritura carimbada e assinada pelo juiz tudo ficou bom de mais para Ari Lobo. Pagou com amor os “duzentos mil reais” para Honésio. 




Tomou até uma pinga no primeiro boteco que encontrou no caminho. Foi direto para os bancos retirar tudo o que tinha. Fez compras em várias lojas e exigiu que entregassem no ato, já que pagava tudo à vista. É mais fácil pensar no que Ari Lobo não comprou. Tinha de tudo. Ele queria mobiliar pelo menos uns cinco apartamentos que era o que dava o seu dinheiro. Até pinico para barros, escarros, xixís e birirís tinha no caminhão. Peraí! Parece que o mingau do nenê azedou. No que Ari Lobo foi entrando naquele prédio com pelo menos vinte e cinco peões dos caminhões, foi flagrado e atuado pela polícia, por invasão de domicílio. Vichi! Que fria! Até o delegado Geriu sorriu e, imaginem o Diabo. Que mico, Sô!
Honésio, sua esposa Andréa, João Ferreira Bigulinho e seu filho Salandro foram tirar umas férias no Havaí. Duzentos mil reais não é tanto dinheiro assim e, logo eles voltam para buscar mais.



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quarta-feira, 23 de outubro de 2013

HOMENS DE OURO

Nações de toda a terra surpreenderam-se com a mudança radical que beneficiou o planeta. Findou a violência para sempre. Não se via mais mendigos pedindo esmolas pelas ruas da cidade, principalmente nas grandes capitais dos países. Toda e qualquer prática de corrupção e mentira foi eliminada da terra. Não havia mais dor, sofrimento, nem pranto. Finalmente, a tão esperada paz pelas pessoas do bem reinava na terra como nunca antes. Graças aos Homens de Ouro.
Um Objeto Voador não Identificado pousa no mais alto edifício da cidade de São Paulo. Era clima de alegria geral, movida por drogas e muita cachaça. Era a festa da carne, da prostituição, do vale tudo, daqueles que idolatram a carne e seus prazeres. Era Carnaval.
Homens de Ouro aterrissaram e caminhavam e caminhavam no meio da multidão que festava. E eles eram muitos. O povo achou que tais homens estavam fantasiados. No que pessoas tocaram neles, se derretiam feito plásticos no fogo. Viraram cinzas. Isso causou pânico na multidão. Não sobrou uma sequer pessoa daquela festa carnal para contar a história. Todas viraram cinzas. O mesmo aconteceu em outras cidades onde havia esta festividade. Milhões de pessoas e, isto inclui as crianças, viraram cinzas.
Os noticiários eram muitos. Não havia outras notícias a não ser, a presença dos Homens de Ouro na terra.
Os Homens de Ouro se multiplicaram. Nem mesmo o exército podia detê-los com seus canhões e bombas. Onde quer que eles passassem, tinham um imã em suas mãos que puxava seres corruptos, mal quistos e mal vistos pela sociedade, pelas pessoas do bem. Seus corpos derretiam feitos plásticos no fogo e, seus ossos torravam pela forte temperatura do calor até virarem cinzas.
A limpa de malfeitores que sujavam e aterrorizavam o Planeta Terra era geral. Os Homens de Ouro eram tão temidos pelas pessoas do mau, que procuravam morrer antes que eles viessem busca-los e fazê-los cinzas.
Grandes templos e igrejas foram visitados pelos Homens de Ouro. Poucos se salvaram entre os fiéis. A maioria virou cinzas.
Presídios diversos do mundo inteiro, entre presos ou não que havia ali dentro, viraram cinzas.
Todos aqueles que agrediam a vida, a natureza humana, fazendo canções em apologia ao sexo, às drogas ou praticando tais, viraram cinzas.
Não era permitida na nova terra a presença de vermes humanos que, somente existiam para confundir a ciência. Tudo o que não prestava foi aniquilado para sempre da terra e, pior do que isto: viraram cinzas.
A natureza da terra, sem dúvida, agradeceu por isso. Jamais, aquilo que foi feito com grande e total amor pelo Autor da Vida poderia continuar. O medo de errar até mesmo pelas pessoas do bem era tão grande, que dobravam seus joelhos agradecendo pelo ar que respiravam, reconhecendo que, sem Deus em suas vidas não valiam nada. O inimigo real da Vida que é a Morte foi destruído. Virou cinzas.
Um dos Homens de Ouro, quando veio a terra em forma de humano, escreveu uma promessa, que finalmente se cumpriu:
“Não te indignes por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja dos que praticam a iniquidade. Porque cedo serão ceifados como a erva e murcharão como a verdura. Confia no Senhor e faze o bem; habitarás na terra e verdadeiramente será alimentado. Deleita-se também no Senhor, e te concederá os desejos de teu coração. Entrega o teu caminho ao Senhor e Ele tudo o fará. E Ele fará a tua justiça sobressair como a luz; o teu juízo como o meio-dia. Descansa no Senhor e espera Nele; não te indignes por causa daqueles que prosperam em seu caminho, por causa do homem que executa astutos intentos. Deixa à ira e abandona o furor; não te indignes de forma alguma para fazer o mal. Porque os malfeitores serão desarraigados, mas, aqueles que esperam no Senhor herdarão a terra. Pois, ainda um pouco, o ímpio não mais existirá; olharás para o seu lugar e não aparecerá. Mas os mansos possuirão a terra e se deleitarão na abundância de paz”. (Salmos 37: 1 a 11).


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segunda-feira, 21 de outubro de 2013

GOLPE DE MESTRE


Num simples salão de cabeleireiros em São Paulo, Capital, chega um senhor sério, com uma maleta 007 nas mãos e, logo já é atendido por um dos cabeleireiros.
- Deseja cortar o cabelo, senhor?
- Sim.

Durante o corte, o senhor sério abre um diálogo com o cabeleireiro.
- Pois é, noto que é um excelente profissional. Trabalha aqui há muito tempo?
- Este salão é meu.
- Poderia ampliá-lo, meu jovem.
E o cabeleireiro sorri e diz.
- Não é tão simples assim, senhor. Falta-me grana.
E assim que termina o corte, aquele homem sério lhe dá R$ 150,00 (cento e cinquenta reais) em dinheiro. O cabeleireiro se espanta.
- Senhor, o corte é apenas R$ 15,00 (quinze reais).
E aquele senhor sério, de boa aparência lhe diz.
- Gostei de seu trabalho, portanto, este dinheiro é seu. Não se esqueça de fazer um agrado às crianças. Tenho um excelente negócio a lhe propor. É pegar ou largar.
O cabeleireiro, com as mãos trêmulas, guarda o dinheiro recebido no bolso, agradece e fica curioso.
- Que negócio é esse, senhor?
O homem sério abre sua maleta 007 e, isto faz o cabeleireiro empalidecer. Havia dentro daquela maleta centenas de notas de R$ 100 e R$ 50.
- Troco três notas dessas falsas por uma. Mas, peraí! Antes que você grite ou peide, o que não seria nada educado de sua parte tire do bolso aqueles R$ 150 que lhe dei.
O cabeleireiro, com as mãos trêmulas, tira de seu bolso aquele dinheiro e, o homem sério conclui.
- Estas notas são falsas, porém, graças ao meu profissionalismo, são tão verdadeiras feitas às promessas bíblicas. Costumo ser direto: está vendo lá, do outro lado da rua, aquela panificadora? Venha comigo e, com R$ 50, compre um pão doce. A mocinha do caixa vai lhe devolver o troco e ainda lhe agradecer.
O cabeleireiro fica preocupado.
- Pode parar, senhor. Isto é explicitamente ilícito. Sou evangélico, portanto, sou um homem de Deus e...
O homem sério faz um sermão.
- Larga de ser bicudo, bocó! Conhece quem rouba mais do que esses incentivadores da fé? Sou milionário e, digo mais: bilionário. Nenhum presidente lhe daria de bandeja isto que estou querendo lhe dar e, pra terminar, honre aquilo que tem no meio das pernas, ou vai querer deixar pra Jesus, também? Vamos lá à panificadora, depois no banco e você vai sentir como é prazeroso ficar milionário, seu bunda-mole.
E aquele cabeleireiro vai até a panificadora de frente ao seu salão, na companhia daquele homem sério. Compra um pão doce e, a caixa, sorridente lhe devolve o troco. Uma quadra dali havia um banco e, peraí! Um banco central, onde o dinheiro rola mais do que uma rola no cio.
- Troque no caixa este R$ 100 por dez notas de dez.
O cabeleireiro vai até o caixa e sai dali vitorioso. Ficou tão emocionado que, na porta daquele banco dá um forte abraço naquele homem sério.
- Meu Deus! A coisa funciona mesmo.
O homem sério lhe diz.
- Desista, otário. Não negocio com bunda-moles.
- Mas, por que senhor?
- Porque você é um legítimo cagão, ordinário, medroso, covarde, metido a crente. Quer trocar a última nota?
O cabeleireiro, muito emocionado diz:
- Não, meu senhor. Senti por espírito que a coisa realmente funciona. Quero sim, fazer um negócio com o senhor.
O homem sério diz:
- Resido numa mansão num dos bairros mais nobres daqui de São Paulo: Morumbi. Sou vizinho de Silvio Santos, já ouviu falar dele?
- Sim, é claro.
- Costumo jogar alto, rapaz. R$ 30.000,00 (trinta mil reais) é o mínimo que posso aceitar de você. Vai sair da minha mansão com R$ 70.000,00 (setenta mil reais). É pegar e largar.
O cabeleireiro fica pensativo, depois diz:
- Eu topo. Mas, realmente este negócio funciona mesmo?
O homem sério sorri cínico:
- Duvidas?
Honésio, o homem sério, da um cartãozinho para aquele cabeleireiro e diz:
- Não comente com ninguém. Aguardo-te na minha mansão amanhã às 14hs em ponto. Passe bem e até amanhã.
No dia seguinte, Loureiro, o cabeleireiro, chega lá no Morumbi e fica admirado ao ver a imensa mansão onde Honésio morava. Surpreende-se ainda mais quando vê o homem sorriso Silvio Santos (um dos maiores apresentadores da TV brasileira) saindo da mansão ao lado, com quatro seguranças numa limusine. Pensa: “Ficarei milionário também”.
Um dos seguranças de Honésio vem atender Loureiro e, minutos depois, o último já estava lá dentro da imensa mansão de Honésio.
- Você veio mesmo. Está realmente predisposto a ficar milionário?
- Sim, senhor.
Honésio toca um sininho e, logo vem Jarbas, seu mordomo.
- Deseja alguma coisa, senhor?
Honésio pergunta a Loureiro:
- Quer beber um bom vinho daquele que Jesus e seus discípulos bebiam?
- Sim, senhor.
E Jarbas, o mordomo, serve vinho tinto numa taça de bronze para Loureiro. Nisso, o celular de última geração de Honésio toca e ele atende. Loureiro fica admirado de tal forma ouvindo Honésio falar que nem sequer pisca os olhos.
- Sim, pra hoje não tem como. O que?! Você precisa de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) até amanhã? Sem problemas. Pouquinho assim dá pra resolver até amanhã. Agora se me der licença, preciso desligar, pois, estou com um cliente aqui.
Loureiro estava seguro e, ficou ainda mais, após beber daquele vinho. Honésio confere os R$ 30.000.00 (trinta mil reais) que Loureiro lhe trouxe.
- Veja bem, meu caro: ficando milionário, não se esqueça de ajudar as crianças carentes, ok?
Honésio entrega para Loureiro, numa pasta 007 R$ 70.000.000 (setenta mil reais) de notas de R$ 100 e R$ 50 falsas.
- Aconselho que deposite este dinheiro. Será aceito em todo o território nacional. Boa sorte.
Loureiro sai da mansão de Honésio totalmente emocionado, sentindo-se milionário, se bem que, setenta mil reais não é tanto dinheiro assim. Chama um taxi.
- Leve-me até a Av. São João, esquina com a Av. Ipiranga, por favor.
E Loureiro não resistiu: abriu o bico para Salandro, o taxista.
- Rapaz, eu gosto demais do nosso Brasil, sabia? Aqui é fácil demais ficar milionário. Eu, por exemplo, troquei R$ 30.000 (trinta mil) por R$ 70.000 (setenta mil).
Salandro, malandro e interesseiro feito um cachorro por osso, pensa em dar um golpe simples, direto e objetivo em Loureiro.
- Poderia ao menos me pagar um copo de leite?
Loureiro sorri.
- É claro.
Os dois, Salandro (o malandro taxista) e Loureiro (o cabeleireiro) descem do carro e entram numa panificadora. Loureiro diz para Salandro.
- Vou ao banheiro. Vá tomando o seu leite que eu já volto.
Salandro pensa rápido e diz:
- Aconselho a não entrar com esta pasta no banheiro, senhor. É muito perigoso. Só eu, já fui assaltado sete vezes ali.
Loureiro fica preocupado e diz:
- Vichi Maria! Confio em ti. Cuide dessa maleta enquanto vou ao banheiro.
No que Loureiro, o cabeleireiro vai ao banheiro, a polícia invade aquela panificadora numa batida geral. Enquadra Salandro com aquela maleta 007 e o bicho pega.
- Malandro, sem vergonha! Demorou, mas, pegamos você. Anda espalhando essas notas falsas por aí, seu safado? Onde é a fábrica? Fale. Está preso.
Salandro se engasga todo com aquele leite e até arrota e peida. Leva umas bordoadas e vai à cana. Loureiro foi esperto: aproveitou a confusão e saiu de fininho. Entra naquele taxi e se arranca dali dizendo pra si mesmo:
- Pelo menos, não saio no prejuízo. Hê! Hê! Hê!
Coitado de Salandro. Nem mesmo aplicou o golpe em Loureiro, (se bem que pensou) e foi parar atrás das grades.
Aquelas primeiras notas de R$ 50 (cinquenta reais) que Honésio deu ao cabeleireiro pelo corte de cabelo, eram verdadeiras. Ganhou nesse cambalacho cerca de R$ 30.000.00 (trinta mil reais). E agora? Como explicar isso a polícia? Honésio já está em outra mansão, provavelmente. Sem dúvida, este foi um Golpe de Mestre.


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domingo, 20 de outubro de 2013

O MEDO DE MORRER


Não existe nada que seja mais temido do que a morte. Ela assombra a vida de todo o ser vivo. Nós, humanos e racionais preferimos não pensar no que pode nos acontecer nos próximos segundos, pois, a morte, muitas vezes, costuma ser repentina. Não sabemos qual é a sua hora e, sem dúvida, esta hora é inevitável.
A vida, por sua vez, nos surpreende a cada instante com bons ou maus acontecimentos. Não há como prever o futuro e nem tão pouco imaginar como será nosso destino. Ouvimos amiúde palavras de bom ânimo, cheias de promessas e esperanças de que a vida não termina aqui. É lamentável ter que admitir que, absolutamente ninguém, tem a certeza de nada. Tudo aquilo que nos faz bem pensar, pensamos, porém, tudo pode não passar de ilusão, utopia. A qualquer momento, podemos dar o último suspiro de vida e apagar tudo, morrendo para sempre. A morte interrompe todos os nossos sonhos, desligando para sempre nossas esperanças.
Por pior que seja a vida que muitos levam, às vezes, carregada de intensa dor e sofrimentos, no íntimo, ninguém quer morrer. O ser vivo não foi gerado por acaso, porém, por acaso, partirá desta vida um dia. Assim trabalha a natureza.
Cito a história de dois homens: Pedro e Paulo. Ambos amavam a vida, porém, apenas um deles, temia morrer.
Pedro, nascido em berço cristão, cresceu num caminho totalmente diferente dos prazeres do mundo.  Praticava o bem assiduamente e era um homem exemplar e sem vícios. Temia a Deus e, acreditava na imortalidade da alma. Acreditava que, praticando o bem e temendo a Deus, pondo em prática sua fé nos preceitos religiosos que lhe foi ensinado, ganharia por galardão a moradia celestial eterna, junto de Deus, Jesus e todos os anjos.
Paulo estudos muito e chegou à conclusão de que Deus não existe. Sentiu muito por pensar assim, porque deseja ter AA mesma fé que seu melhor amigo Pedro, porém, não podia enganar a si próprio. Para preencher certo vazio que existia dentro dele, procurou os prazeres que o mundo podia lhe oferecer.
Pedro e Paulo conversavam muito e, é claro, o maior sonho de Pedro era ver seu amigo Paulo convertido no cristianismo. Na verdade, Paulo nunca encontrou respostas convincentes às suas perguntas:
Se Deus existe, por que permite o sofrimento há tanto tempo?
A vida de um ser humano, na regra geral, é curta. Por pior que seja o pecado que este homem cometeu em vida, seria justo para esse Deus lançá-lo no inferno, num lugar de fogo e tormento eterno?
Uma vez que esse Deus verdadeiro não deixa confusos aqueles que realmente o adoram em espírito e em verdade, por que existem tantas dissensões, tantos preceitos religiosos e caminhos doutrinários diferentes? Se existe um só caminho e uma só verdade, como entender isso?
Paulo indagava muitos clérigos religiosos, porém, as respostas para as suas perguntas não lhes eram convincentes.
Pedro morreu e, da pior forma que um homem pode morrer em vida. Teve um derrame cerebral e ficou inválido, totalmente inconsciente. Sua esposa e suas três filhas, todas cristãs assim como ele, desejavam convictas de que ele morresse, pois não estavam mais suportando cuidar dele que, requeria cuidados vinte e quatro horas por dia. Pedro doente e acamado dá seu último suspiro de vida e morre.
Paulo nunca se casou, não teve filhos e, preferiu viver boa parte de sua vida na boemia, tentando colher sempre, é claro, o melhor que a vida podia lhe oferecer. Muitas vezes, vivia deprimido e, nem sequer, livros de autoajuda puderam lhe ajudar naquelas horas. Ele lia de tudo, não ignorava nada, porém, nem tudo aceitava. Simplesmente desejava viver para sempre, mesmo sabendo no íntimo, que isso era impossível. Temia morrer e, sua morte foi repentina, sem dor. Dizem que morrer assim é ter uma morte linda. Paulo teve um ataque fulminante enquanto fazia uma das coisas mais prazerosas que achava na vida: jogar xadrez com a morte. Em vida, nunca soube explicar isso, porque, sem dúvida, seria taxado como louco. “Como crer naquilo que, seguramente não acreditava?” Afirmava que alguém, que nunca soube definir quem jogava xadrez com ele e as pedras se moviam. Uma única vez entrou em xeque mate e, neste dia, partiu da vida.
Muitos anos, décadas e séculos passaram. A história de Pedro e Paulo foi esquecida como todas as histórias são esquecidas um dia. Na realidade, os corpos destes homens foram comidos por seus micro-organismos e, se proliferaram. Desta forma, a carne é imortal. Mesmo que o espírito desses seres Pedro e Paulo fosse imortal, fora da carne estaria morto para todo o sempre. O que faz o homem pensar e agir são seus cérebros. E o que, realmente os mantém vivos é o pulsar de suas veias e as batidas de seus corações. Tudo isto é carne.

O melhor da vida, sem dúvida, é viver e, a vida é única. Não há como reverter este quadro. Aqueles que realmente amam a vida temem a morte. Não destruamos os sonhos daqueles que sonham; daqueles que esperam; que confiam. Desta forma sim, seremos eternos.


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sexta-feira, 18 de outubro de 2013

IDEIAS DE JERICO (4)


Se perguntar para Jerico qual é o seu maior prazer na vida, certamente, ele irá responder que é pensar. Pensem num homem que pensa. Pensaram? Jerico pensa muito mais do que pensaram. É aquele tipo de pessoa que adora pensar, exclusivamente no banheiro, onde a concentração de qualquer pessoa costuma ser tão forte que, basta olhar-se no espelho nessas horas para ver o resultado do poder aplicativo que vem em forma de caretas e, muitas delas, de formas assustadoras.
Sucedeu que numa manhã de sábado, uma linda moça procurou por Jerico expondo a ele o seu problema.
- Senhor Jerico, ouvi dizer e, o povo fala muito, que é um gênio em aplicar ideias na regra geral. Vou ser direta: não tenho sorte no amor e, digo mais: não tenho mau hálito, sou higiênica, troco de calcinha assiduamente todos os dias, não cuspo e escarro em lugares públicos; não tiro meleca do nariz e, mesmo assim, ninguém gosta de mim. Por quê?
Jerico dá um sorrisinho daqueles bem diabólicos e diz:
- É porque no íntimo você é porca e digo mais: até fede.
A jovem de nome Vanessa fica brava.
- Eu?! Porca?! Eu?! Fedo?!
Jerico arrota, depois diz:
- O bicho mais limpo que existe no universo é o espírito; Agora quando este bicho, falo do espírito incorpora na carne, a coisa fede. Na verdade, ninguém quer admitir que seja um “fedor” em vida. O que ajuda a carne da boneca humana ficar cheirosa é o perfume, o creme, etc. O sovaco dela, se não for lavado, vai feder e, imagine lá em baixo, no criame dos pelos. Tudo o que gera excesso é indigesto.
Vanessa se irrita.
- Nossa! Que papo mais escatológico! Saiba o senhor que me depilo toda e não tenho excesso de pelos em nenhuma parte do meu corpo. Vim até aqui para comprar uma de suas ideias, mas, pelo que noto, tomei, literalmente no centro do...
- Respeite as crianças, minha cara. Teu mal é ser mal amada e vou lhe dar, quer dizer, vou lhe vender uma excelente ideia. Se pegar terá que pagar. Se não pegar, adeus, passe bem e boa viagem que tenho mais o que fazer.
- Eu pego e, seja o que Deus quiser.
Jerico tira do bolso de seu paletó um frasco de perfume e diz:
- Espanta fedor e atrai o amor. Este perfume tem corrimento de cadelas no cio; orgasmo de menina adolescente virgem e gotas de suor de mãe Joana, aquela que abriga a todos. Não se perfume muito, pois o poder contido neste frasquinho é muito mais forte do que qualquer peido fedido. Use, mas, não abuse.
Vanessa, movida pela fé, compra aquele frasco de perfume e usa.
Grande Jerico! Já esperavam por esse profeta inventor de ideias em Jericó. Vanessa foi muito amada, sem dúvida. Foi amada por tipo de homem cachorro, mas, afinal, era isso mesmo o que ela realmente queria. Vai entender.

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quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O HOMEM DAS CAVERNAS


A imaginação do século XIX forjou um monstro que ainda hoje assombra as caricaturas de jornal e os romances de ficção científica: o Homem das Cavernas.
Dotados de fronte fugidia, com um olhar estúpido; de clava na mão: tendo ao lado a fêmea. Dominada a cacetadas; vestindo uma pele mal curtida, lembrando mais os trapos de um mendigo do que o fruto de um artesanato consciente; falando uma língua de história em quadrinhos, rica em “arrggs” e “hugghs”. Assim são pintados os antepassados imediatos do homem.
Historiadores afirmam que “Huggs” era o primeiro homem do mundo, isto é: após uma série de pesquisas e estudos avançados.
Com uma clava na mão Huggs caminhava com sua fêmea. Não era um caminhar elegante e moderno não, como vemos nos dias de hoje. Era um caminhar totalmente desleixado, assim, como caminha um orangotango. E a fêmea de Huggs, às vezes, parava de caminhar e gritava, olhando para o seu macho:
- Hugghs! Hugghs!
Este he dava uma cacetada violenta e dizia:
- Arrgghs!
Foi aí que os historiadores citam os de hoje, após uma série de viagens astrais, regressões às vidas passadas, etc., chegaram à conclusão de que o nome do macho cavernoso era Hugghs e da fêmea cavernosa era Arrgghs. Que sublime inteligência desses historiadores.
Naquela época não havia cultura de palavras, etiquetas ou qualquer tipo de frescura que o homem moderno tenha inventado. Não se iluda, Cherrys. Naquela época, esse papo de educação era como punhalada no coração. Coitadas das bichinhas da caverna da época. Tomavam, literalmente, no centro do coração com essa mania de doçura.
Toda a vez que Hugghs via um macaco, ele gritava:
- Arrgghs!
O mesmo fazia Arrggs, só que gritava diferente:
- Hugghs!
Os historiadores chegaram à conclusão de que, macacos, na regra geral, chamavam-se, na língua da caverna: Hugghs e Arrgghs também. Que sublime inteligência desses historiadores!
Arrgghs, a fêmea de Hugghs deu à luz na caverna e nasceu uma linda menina. Quer dizer, “linda” entre aspas. A criatura era tão feia, capaz de assustar até a neta do capeta do inferno. O interessante, o que deixou muitos historiadores confusos é que Hugghs, o pai, chamava a menina de Arrgghs e Arrgghs, a mãe, chamava a menina de Hugghs. Afinal, pipoca eletrônica, era Hugghs ou Argghs, o nome da criança? Chegaram à conclusão, após sérias pesquisas de que o nome da criança era Arrgghs Hugghs ou Hugghs Arrgghs. Isto até que faz sentido, pois, a menina Arrgghs Hugghs ou Hugghs Arrgghs era filha de Hugghs e Arrgghs. Que sublime inteligência desses historiadores!
E assim Hugghs, Arrghhs e Arrgghs Hugghs ou Hugghs Arrgghs viviam na caverna.


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