Fernanda era uma menina muito bonita, inteligente, educada e
amada por todos que a conheciam. Morava num bom lar na cidade de Araraquara,
interior de São Paulo, onde nasceu. Contudo, ela não era totalmente feliz.
(como ninguém é). Tinha um único sonho que era acreditar no
impossível. Foi assim que ela decidiu expressar seu sonho para o Autor de sua
vida escrevendo uma carta para Deus.
“Senhor, desde muito
pequena, ouço falar de ti. Suas qualidades, aptidões são muitas e creio que são
infinitas. Posso vê-lo em todas as coisas que admiro, principalmente sabendo
que é o Autor da minha vida. Como todos os seus filhos, suas criaturas, têm o
direito de sonhar e sonham, eu também sonho, porém, quero que este sonho que
sonho acordada se realize um dia para que nunca morra como morre tudo aquilo
que é ilusão. Quero conhecer o meu pai. Não pela internet ou programas de
televisão. Quero ver ele face a face. Ouvir sua voz e também o que ele tem a me
dizer. Sei que muitos falam contigo através de orações, porém, decidi fazer
diferente, escrevendo para ti. Ouço dizer que és o Deus do impossível e, posso
afirmar, mesmo não o conhecendo, que não duvido disso. Responda-me Senhor e,
que assim seja”.
Fernanda colocou a carta que escreveu num envelope.
Remetente: Fernanda White.
Destinatário: Deus
Endereço: Céu
CEP: Estrelas
Selou com um beijo e guardou tal carta.
Sua mãe precisa fazer uma viagem urgente para o Rio Grande do
Sul, pois, seu pai estava muito doente e queria lhe falar.
- Fernanda, minha filha, arrume sua mala que vamos viajar em
poucas horas.
- Para onde, mamãe?
- Para o Rio Grande do Sul. Seu avô está doente.
E Fernanda levou consigo aquela carta e, no interior do
avião, sua mãe notou que ela estava triste e trêmula segurando aquela carta nas
mãos.
- O que foi desta vez, minha filha?
Fernanda com os olhos lacrimosos diz à sua mãe:
- Escrevi uma carta para Deus, mamãe.
Sua mãe sorri:
- Acaso está ficando louca, minha filha? Mesmo que esse Deus
existisse, nunca iria receber uma carta sua e nem de ninguém.
- Mas eu creio que Ele exista e que vai receber a minha carta.
Sua mãe se zanga e pega com estupidez aquela carta e joga
para fora do avião.
- Não me aborreça com esse papo de Deus. Você é muita nova,
bonita, inteligente para crer em tolices, ilusões e fantasias.
Fernanda simplesmente se cala. Chegam à cidade de Criciumal
com quase 500 quilômetros distantes de Porto Alegre, capital do Rio Grande do
Sul.
O avô de Fernanda morreu no hospital uma hora antes da
chegada de sua filha e neta. Lá, ficaram até a missa do 7º dia do falecido e,
após, retornaram para Araraquara.
O mundo dá muitas voltas. Mudaram-se de lá, mãe e filha indo
para São José dos Campos, também interior de São Paulo. Sucedeu que numa manhã
de quarta feira quando Fernanda abria o portão de sua casa para ir pro colégio,
ficou surpresa. Um homem grisalho, de boa aparência, estava com um envelope nas
mãos. Sim, era a tal carta que outrora Fernanda escreveu para Deus. Ela ficou
sem palavras e chorou ouvindo por instantes aquele homem lhe falar.
- Não abri este envelope porque não sou Deus. Sou apenas um
carteiro e encontrei esta carta em minha mochila lá em Curitiba, capital do
Paraná. Pelo remetente, sei quem tu és. Abrace-me minha filha porque sou o teu
pai e temos muito, mas, muito mesmo pra conversar.
É incrível o trabalhar de Deus! Quantas maravilhas Ele que é
o Autor da Vida pode fazer, não é? Quem já não contemplou a maravilha de uma
gota de orvalho a brilhar refletindo a luz do sol? Uma simples teia de aranha e
sua engenharia perfeita? O entardecer, quando o sol se despede deixando rastros
em vários tons dourados como se fosse ouro derretido, levemente espalhados por
mãos invisíveis...
A lua cheia refletindo num lago, parecendo um grande espelho
líquido...
O olhar de um cão solitário, pedindo companhia...
O ir e vir das ondas, acariciando a areia quente como
querendo amenizar o calor...
O dia, que a cada amanhecer renova o convite para que vivamos
em harmonia, imitando a natureza...
Este é o Autor da Vida a quem devemos lembrar sempre.
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