Uma
bebê pernilonga curiosa pergunta para sua mãe:
-
Mamãe, o que eu vou ser quando crescer?
Sua
mãe sorridente acaricia suas asinhas e lhe diz:
-
Será uma pernilonga, minha filha.
E
a bebê pernilonga fica triste.
-
Mas isso não tem graça minha mãe. Já sou uma pernilonga.
-
Não, minha filha. Você é apenas uma bebê pernilonga. Tem manhas e artimanhas
que você ainda não conhece. Sua mãe, por exemplo, é uma pernilonga gostosa,
formada. Siga o meu exemplo e continue voando.
-
Mamãe, isso não tem sentido. Que graça tem em ficar voando? Eu queria ser como
os bebês humanos que mamam nas tetas, crescem, vão às escolas, jogam bola com
seus amiguinhos, namoram se casam...
Sua
mãe sorri:
-
Que bebê bobinha é você, minha filha! Nosso mundo é muito mais fantástico e
divertido do que o mundo dos humanos. Eles pagam um alto preço na vida para
sobreviver sabia?
-
Mas, isso é o que é vida, mamãe. E, quanto a nós? Ficar só voando e chupando
sangue não está com nada. Eles têm variedades de chuparem muitas coisas como
picolés, balas, geladinho, etc...
-
Mas eles não voam minha filha.
-
Voar, voar, subir, subir. Que coisa mais sem graça! Eles andam, correm...
-
Mas se aborrecem minha filha.
-
Nós também, mamãe. Pernilongos detestam inseticidas e, antes de protestarem já
morrem chapados pelo veneno. Que vida sem graça!
-
Não pense nas coisas tristes, minha filha. Está vendo aquela bunda gorda
daquele moleque?
-
Sim. O que é que tem ela?
-
Tem substância, minha filha. Uma gota de sangue daquela bunda me alimenta, á você
e outras famílias de pernilongos, fêmeas, é claro, porque a boca dos machos são
muito fracas para dar picadas. Os bobinhos se alimentam apenas de suco de
plantas. Que vida! Ninguém precisa
brigar, pois temos comida pra vida toda.
-
Que vida sem graça, mamãe! A vida não é só comer não. Eu queria estudar,
trabalhar assim como os humanos.
-
Que bobinha! Teríamos que tirar um eletro encefalograma para descobrirmos
afinal o que é que passa nessa tua cabecinha.
-
Eletro o quê?
-
Uns raios-X do crânio, minha filha. Só que no nosso mundo não temos médicos
pernilongos e muito menos aparelhagem indicada, e, além do mais, nem crânios
temos. Olhe só aquela orelha. Vem com a mamãe, vem.
-
Que loucura! Eu não estou com fome.
-
Mas tem que chupar minha filha. Pelo menos o dedão daquele pé. Venha...
-
Não, mamãe!
-
Que bebê teimosinha é você! Depois vai querer mamar, não é?
-
Não, mamãe. Eu não vou querer mamar.
E
aquela bebezinha pernilonga cresceu e se tornou uma adulta inconformada.
Alimentava-se de sangue somente para sobreviver mesmo. Seus pais morreram numa
bombada de inseticida e ela chorou muito. Dizia pra si mesma: “Até o
final da vida de meus pais foi sem graça. E agora? Vão pro céu ou
pro inferno? Serão ressuscitados? Serão julgados por Deus porque Moisés
escreveu na Bíblia para absterem-se de sangue?
E
aquela pernilonga voava triste e cabisbaixa inconformada com a vida sem graça
que levava.
Aquela
pernilonga admirava demais os humanos. Adorava tocar em seus ouvidos sua
sinfonia pernilongal. Até que um dia e, triste foi esse dia, levou uma bofetada
em seu frágil e raquítico corpo e morreu. Que morte cruel! Creio que para algum
lugar ela foi. O molequinho que o esbofeteou odiava demais os pernilongos.
Fazer o quê? Ela deve ter ido para o céu. Tadinha. Que vida inútil,
mosquitinhos.
doutorboacultural.blogspot.com/
Postado por
Marvin Di Capri
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