quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

HORAS DE AFLIÇÃO (4) SÍNDROME DO PÂNICO


Meu nome é John. É difícil para eu definir o enigma que virou a minha vida. Passei horas de aflição e muito desespero querendo acreditar que tudo aquilo que vivi e, que ainda vivo foi um pesadelo, é um pesadelo e, de que algum dia eu vou acordar.
Na época eu tinha 21 anos. Era um rapaz bonito, saudável e sem vícios. Eu trabalhava numa agência de publicidade em São Paulo, capital, desde os meus 14 anos. Comecei como office-boy e, com o tempo, me tornei num fotógrafo profissional.
Eu morava num lugar bastante afastado da capital São Paulo. Precisamente numa região próxima a Mogi das Cruzes, região metropolitana. Invadi uma área verde e, lá, bem no meio de uma grande mata construí minha casa.
Aline era a minha namorada. Uma doce garota loura que me preenchia em todos os sentidos. Combinávamos em tudo. Foi meu primeiro e único amor. Impossível esquecê-la.
Numa noite de sábado, eu e Aline estávamos indo a uma balada, como era de nosso costume. Não sei por que eu estava correndo tanto com o meu carro. Aline percebeu que eu não estava legal, mas, não me disse nada. Eu estava muito ansioso, assim, do nada. Meu coração palpitava acelerado demais. Sentia muita falta de ar, meus braços e pernas formigavam. Que sensação horrível! Freei o carro.
- Não estou legal, Aline.
- Já percebi isso.
- Não vou mais para a balada. Voltarei à minha casa e, você não precisa vir comigo se não quiser. Deixo-te lá na balada, estamos pertos e...
- É claro que vou com você para a sua casa, amor. Se bem que eu acharia melhor irmos para um hospital.
- Odeio hospitais e, já estou sentindo-me melhor.
Aline adorou o lugar que eu morava. Bastante místico e deserto, por sinal. Eu morava sozinho, isto é, eu e Rex, meu cachorro e meu melhor amigo.
Aqueles malditos sintomas retornaram. Entrei em pânico. Tive vontade de quebrar tudo à minha volta. Aline ficou muito preocupada.
- É melhor irmos a um hospital, John.
- Não! Já disse que odeio hospitais e, já estou ficando melhor. Só me deixe ficar calado um pouco. Não me pergunte nada. Vai passar. Já está passando.
Minutos depois já estávamos na cama curtindo uma noite prazerosa e inesquecível.
Uma semana depois, recebi um convite especial do meu chefe de trabalho. Iríamos para Amsterdam, na Holanda, a trabalho. Ficaríamos lá por duas semanas. Adorei isso. Era o meu sonho conhecer a Holanda. O problema era Rex, o meu cachorro. Ele não gostava de ninguém com exceção a mim. Deixei ração e água suficientes para ele por duas semanas e, por precaução, o deixei amarrado, mas, ele tinha sua casinha.
Despedi da minha amada Aline e, estranhei o que ela me disse:
- Não importa o que acontecer lá, lembre-se: Eu sempre vou te amar e, estarei lhe esperando.
Em Amsterdam, quando eu tirava algumas fotos, fui abordado pela polícia. Revistaram minha mochila e encontraram dentro dela, muitas drogas como crack, cocaína e maconha. Mas, como?! Desde que me conheço por gente sempre odiei drogas. Quem teria colocado aquelas malditas drogas na minha mochila? Eu só tinha o direito de permanecer calado, só isso. Fui muito humilhado, apanhei muito e fiquei um ano preso naquele inferno.
Perdi a noção do tempo. Para a polícia eu era um traficante e, pior do que isso: um estrangeiro. Foram horas constantes de aflição. Aquelas malditas crises voltaram a acontecer dentro da prisão e, a polícia assim como os detentos me chamava de louco.
Até o dia de hoje não sei quem me libertou daquele lugar horrível. Voltei ao Brasil e, nessas alturas, já não tinha mais celular e, a única pessoa que eu queria rever era Aline, minha namorada. Imaginei que ela estivesse com um novo namorado, mas, lembrei-me do que ela me disse: “Não importa o que acontecer lá, lembre-se: Eu sempre vou te amar e, estarei lhe esperando”. E, para minha surpresa, ela estava me esperando.
A cena mais triste e marcante que me ocorreu regressando ao Brasil foi o estado que encontrei Rex, meu cachorro. Ainda tinha a esperança de que alguém aparecesse por lá, naquele fim de mundo onde eu morava e tivesse libertado ele da corrente. Diante da caveira de Rex, dobrei meus joelhos e chorei muito.
- Perdoe-me, meu melhor amigo. Estive preso em outro país e, não teve como eu voltar antes.
Bem de frente a minha casa, havia uma imensa árvore e, bem debaixo dela, uma caveira humana. Movido de muita raiva peguei um machado e dei várias machadadas, destruindo-a de vez e para sempre.
- Seria homem ou seria mulher esta praga? Quem sabe não foi este monstro que matou o meu cachorro.
Movido pela raiva, creio que, o pior de todos os sentimentos, fiz em pedaços aquela caveira, que é claro, não sentia dor. Que tolo fui eu! Meu cachorro devia ter morrido de fome.
Voltei àquela agência de publicidade onde eu trabalhava para conversar com o meu chefe, porém, ele não quis me ouvir. Fui mandado embora por abandono de emprego. Foram oito anos de trabalho jogados fora. Não me importei com isso. Ainda tinha Aline ao meu lado.
- Eu tinha certeza de que um dia você voltaria para mim, meu amor.
Conversamos muito, Contei a ela tudo em detalhes o que me aconteceu lá na Holanda e, notei que pelo seu olhar, ela sabia de tudo. Não me disse nada, mas, provavelmente, foi ela quem me libertou daquela maldita prisão.
Numa noite de sábado, eu e Aline estávamos num motel em São Paulo. Tive outra daquelas crises horríveis. Desta vez, senti um calafrio insuportável. Uma sensação muito pior do que já sentira antes. Eu senti a presença real da morte. Eu estava agonizando.
- Aline, eu estou morrendo.
Fiquei vendo-a discar seu celular, provavelmente por socorro, mas, não deu para eu ouvir nada. Eu me apaguei e, não sei por quanto tempo. Acordei com dois policiais naquele quarto de motel e, Aline não estava ao meu lado. Ouvi nitidamente um dos policiais me dizer:
- Você está preso.
Senti-me sufocado. A princípio, pensei que tivesse algo haver com o fato que me ocorreu lá na Holanda. Antes fosse. Senti naquele instante que a vida tem dois lados e, um deles, é miserável, demoníaco. Para a minha desagradável surpresa, Aline, a mulher da minha vida, estava morta, totalmente esquartejada no porta-malas do meu carro. Alguém a matou, a cortou em pedaços e, este alguém não fui eu. Foi à cena mais horrível que pude ver em minha vida. Vida?! Quero dizer, o que significa vida que até hoje não consegui definir?
Eu não matei Aline. E agora onde estou? Preso e, pior do que isso: louco;

A vida nos surpreende com bons ou maus acontecimentos. Se você sentir algo estranho, uma sensação horrível dentro de você, não faça como eu. Procure um médico, pois, você pode estar louco e não sabe disso.



doutorboacultural.blogspot.com/

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