quinta-feira, 7 de junho de 2012

Doutor Boa em Curitiba


Sou um homem muito viajado e, numa das minhas inúmeras viagens conheci Curitiba (que significa terra de muito pinhão, segundo os indígenas), a capital do Paraná.
Hospedei-me no melhor apart-hotel da cidade. Fui tão bem recebido que me deu até nojo. Nunca vi antes em toda a minha vida gente tão simpática. Como é que pode uns pequenos macinhos de dinheiro deixar as pessoas tão abestalhadas? Tive a leve impressão de que aquela montanheira de funcionários, ao menos uns cinco deles queriam lamber a sola do meu sapato.
Resolvi dar um passeio na cidade e, em poucos minutos já me arrumaram um motorista tão simpático feito a limusine. Perto das 20horas me deu fome e eu queria jantar. Conheci um dos restaurantes mais famosos do mundo que fica no bairro Santa Felicidade daquela cidade. Não vou divulgar aqui o nome porque não sou nenhum garoto propaganda. Logo de chegada, pisou no tapete já o anotam num caderninho. O ingresso sai caro para entrar ali. Um ambiente aparentemente aconchegante e luxuoso ao extremo. Garçons e garçonetes sorrindo para mim o tempo todo e fiquei pensando: “Que gente tela! Parece boba alegre”. Olhei sério para um dos garçons e disse-lhe sem gentileza:
- Me chame o proprietário deste restaurante.
Em poucos minutos, o proprietário, um magrelão tão branco feito a neve estava à minha frente. Eu sentadão numa mesa de mármore que até velas coloridas tinham sobre ela... Olho sério para aquele sujeito e lhe digo com autoridade.
- Sente-se.
Ele senta-se a minha frente.
- Pois não, senhor. O que deseja?
- Em primeiro lugar quero conhecer a cozinha deste lugar para ver como é que feito o preparo do jatobá com vatapá.
- Jatobá com vatapá?!
- Em segundo lugar: me leve para lá agora.
 Logo de chegada naquela cozinha já flagro uma das cozinheiras limpando o salão (seu nariz) e lhe pergunto:
- Vai ter baile hoje?
Olho a minha direita e vejo um bebezão redondo feito uma bola, peladão sentado em cima de uma mesa com a bunda em cima de folhas de alface e couve. E o retardado ainda cuspia e babava nos tomates e pepinos e grunhia como um porco: róinc, róinc. Olho a minha esquerdo vejo uma das cozinheiras coçando aquilo (imagina) sem luvas.
- Se não me indenizar agora, o nome dessa pocilga vai para o meu livro e, olha que eu vendo bem.
 Exigi uma micharia de cinco salários mínimos isso porque o proprietário foi muito simpático comigo e também é leitor dos meus livros.
 Saindo Dalí, meu motorista me conduziu até uma das lanchonetes chinesas. A proprietária de olhos puxados ou rasgados me pergunta num sotaque ridículo e num tom desagradáveis:
- Vai querer o que?
- Só estou dando uma olhada.
 E a praga da mulher grita para a chapeira:
 - Sai uma X-Salada.
- Não, minha senhora.
- Não demora.
- Não, minha senhora.
- Sai um coca-cola.
 Sai bufando daquela lanchonete e ela ainda me chingando na língua dela. Só me faltava essa! Não como carne e muito menos essas saladas de lanchonetes. O que deve ter de perninhas passeando nelas, só Giré sabe.
Chego numa padaria e fixo meu olhar bem lá no fundão e flagro o padeiro coçando seu escroto sem luvas. Essa foi demais! Voltei para o apart-hotel e comi minhas bolachinhas da marca BOA que eu mesmo fabrico e, que por sinal é muito boa.
 No dia seguinte, logo pela manhã resolvi fazer umas compras. Fui até um shopping (um dos mais famosos das Américas) e visitei uma imensa loja de calçados. Logo de chegada já veio umas seis gurias me atender. Escolhi a mais sorridente e ela ficara com um ar estampado no rosto como quem quisesse dizer às suas amigas de trabalho que ganhara o dia.
 - Em que posso lhe ajudar, senhor?
- Traga-me a princípio uns seis pares de sapato entre eles brancos, vermelhos e pretos. Meu número é 42.
 E a mocinha sorridente sobe o escadão para o estoque buscar os sapatos. Em instantes já volta com as caixas nas mãos. Provei primeiro o vermelho (minha cor preferida).
 - Ficaram lindos em seus pés, senhor.
 Lancei-lhe um sorrisinho diabólico:
 - Creio que esses sapatos vendidos por você ficam lindos em todos os pés; até nos das sereias.
 Provei os brancos, depois os pretos e ela sempre os elogiando em meus pés.
 - Tem outros modelos?
- Tem uns importados da Suíça, da França, da Bélgica, da Alemanha e também do Paraguai.
- Traga-me os europeus, jamais os paraguaios.
 E em instantes ela me traz uns oito pares. Por um triz não tropeça com as caixas no escadão. Provei um por um e ela sempre sorridente elogiando-os.
 - Incrível, senhor! Todos eles calçaram bem em seus pés!
- Deixa eles de lado aqui e me traga uns nacionais.
 E lá vai ela sorridente de volta para o estoque buscar alguns modelos nacionais. Na seqüência...
 - Gostou de algum modelo, senhor?
- Gostei de todos. Deixa eles de lado ai. Tem meias?
- Sim. Temos poliéster, lycra, cem por cento algodão, meias de seda também e...
- Traga-me todos os modelos que tiver, garota.
 E ela me traz variadas meias grossas e finas. Ao meu lado contei: 26 pares de sapatos. Fiquei indeciso.
 - Gostou de algum sapato, senhor?
- Gostei de todo eles.
- São sapatos de marcas e, diretos da fábrica. Quantos pares o SR vai querer levar?
- Todos. Quero dizer todos são muito bonitos e notei que são de couro legítimo, porém, de momento só vou ficar com as meias, menina.
 Ela engoliu seco e, na seqüência me pergunta:
 - Só com as meias?!
- Sim. Só com as meias.
 Não entendi “por que”, mas, o semblante da guria ficou meio desfigurado. Devia ser fome, sei lá. Cheguei lá pela 9hs da manhã e já passava das 13hs. Fiquei chateado. Cadê aquela simpatia de atendimento?
 - Quantos pares de meias o senhor vai querer?
- Apenas um par.
- Um?!
 Ainda tive problemas com a gerência devido a meu cartão de crédito. Fui obrigado a comprar pelo menos uns dois pares de meias se não me parcelavam. Fui embora para o apart-hotel preparar minha refeição. Doutores também comem, não é mesmo? 

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