quarta-feira, 16 de maio de 2012

O AZARADO


Nivaldo era um sujeito azarado. Já nasceu se afogando de tanta água de parto que engoliu. Sua mamãe fez aquela respiração boca a boca e, lamentavelmente o bebê se engasgou e engoliu a prótese dentária inferior dela. Que horror! Nivaldinho passou por uma cirurgia delicada e, o diabo do cirurgião estava bêbado. Acabou esquecendo no estômago do bebê uma de suas ferramentas do trabalho. Teve que abrir Nivaldinho de volta e o bacurizinho chorava que dava dó. Eta peste! Graças a Giré correu tudo bem. Nivaldinho não morreu, mas chegou perto.
Quando Nivaldinho completou um aninho de vida se entupiu de tanto bolo de banana que comeu e ganhou uma diarréia da moléstia. O pirralhinho cagava até sangue com bolo. Carinhosamente sua vovozinha lhe fez um chazinho e ele não morreu, mas chegou perto.
Pitoco era um cãozinho vira-latas, fedorento, pulguento e sarnento que adora lamber o bebê Nivaldinho. O cãozinho gostava tanto de Nivaldinho que engolia prazerosamente seus peidinhos e até seus cocozinhos. Isso que é amor, hein Nenê! O pobrezinho do bebê ganhou dessa vez uma hemorróida e uma sarna daquelas bem cocentas lá na saída da misericórdia bem vinda. Veio pomada até da China e o problema só se agravou. Seus venderam o barraquinho onde moravam que era tudo o que tinham para pagarem o curador Zulú que era específico em curar aquele canal. A cura saiu cara, cara! Nivaldinho não morreu, mas chegou perto.
Quando Nivaldinho completou sete anos seus pais lhe deram uma festa. Bem na hora do corte do bolo chega por ali o ciclone e dana-se tudo. Morrem seus pais, avós e todos os seus amiguinhos, porém, Nivaldinho consegue se salvar. Não morreu, mas chegou perto.
Foi adotado por um casal de velhinhos que logo já foi pro pau também. Parece que Nivaldinho levou sorte: herdou o barraco de bangalô do vovô e, ali ficou morando toda a sua adolescência. Apaixonou-se por Raimunda, mas descobriu que ela dava demais seu amor para os outros; metia-lhe chifres mesmo como Antonia, Leopoldina, Creolina, Severina, Maria do Catulo da Paixão Cearense e muitas outras meninas. Ele, cansado de levar tantos chifres se casou com uma cega anã, surda e muda, feia pra demônio. O povo corria de Julieta pra se ter uma idéia. Mas, foi com essa mocinha que Nivaldo se amarrou de vez. Julieta vivia doente e não podia trabalhar. Nivaldo chegava do trabalho de servente de pedreiro cansado e ainda tinha que fazer os serviços domésticos como lavar, passar, cozinhar, etc. Quase tudo o que ele ganhava ficava na farmácia. Julieta tomava remédio até pra vista, se bem que ela era cega. Para alegria de Nivaldo ela fica grávida, pois, o sonho dele era ser papai. Nasceu um bacuri tão preto feito o falecido Ray Charles e Nivaldo achou isso estranho, pois ele e sua amada Julieta era tão brancos feitos algodão. Preferiu ficar quieto e criou Nivaljú com muito amor e carinho. Um ano depois nasce Nivaljúlia tão preta feito Diana Ross, aí danou-se tudo. Nivaldo não era racista, mas queria entender que diabos era aquilo que estava acontecendo.
Numa manhã, Nivaldo sai para o seu trabalho e dá de cara com um negão parado bem na esquina próxima de sua casa. Ligou os pontos e continuou caminhando. Minutos depois volta para sua casa e pega no flagra aquele negão em cima de sua Julieta. Nivaldo não era agressivo, mas encheu de balas o negão e sua amada, que lamentavelmente morreu sem lhe falar “adeus”. Ele ficou preso, é claro. Cumpriu uma pena de vinte anos.
Seus filhos que não eram dele foram criados pela vovó Joana, a mãe do falecido Negão. E não é que os neguinhos se deram bem na vida? Nivaljú virou o rei do reggae, botava Bob Marley no bolso e tocava suas canções com seus pés; Nivaljúlia tornou-se a rainha do funk. Famosos como o dólar ficaram ricos.
Nivaldo cumpriu sua pena e foi pra casa. Não conseguia emprego em lugar nenhum e foi pedir um auxílio aos filhos que não eram dele. Não ganhou nem sequer um autógrafo muito menos um dólar furado. Desesperado ele se torna um mendigo de rua. Vivia fuçando latas e um dia, dentro de uma das latas encontra um pacote. Quando o abriu ficou pasmo: tinha muita grana. Feito um louco gritou para que o mundo ouvisse: “Estou rico! Estou rico!” Deu de cara com a máfia italiana que lhe tomou toda a grana e ainda lhe deu uma surra. Desiludido, fodido e deprimido decidiu cometer um suicídio: subiu no mais alto dos edifícios e se jogou lá do terraço. Não morreu, mas chegou perto. Vive até hoje, já velhinho paraplégico numa cadeira de rodas esperando a morte chegar.

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