Não
somos donos do nosso destino. Não sabemos sequer o que pode nos acontecer nos
próximos minutos. A vida nos surpreende. Talvez um dia eu possa entender por
que tive que ter esse destino em minha vida.
Meu
nome é Amanda. Na época, eu tinha apenas três anos de vida. Meus pais Alcides e
Alice eram as pessoas que eu mais amava. Eu era chamada pela minha mãe de presente de Deus, porque o sonho dos
meus pais era o de ter uma criança. Minha mãe era estéril, não podia
engravidar. Ficou surpresa aos quarenta e um anos quando ficou grávida. Nasci
bonita, forte e saudável.
A
vida poderia lhe roubar tudo, menos eu. Quando eu tinha três anos fui raptada
por um casal de estrangeiros no portão da casa onde eu morava, em Navegantes,
litoral catarinense, onde nasci. A partir de então, minha vida tomou um outro
rumo. Tive um novo nome. Coincidentemente, o mesmo nome de mamãe: Alice.
O
casal de portugueses que me raptou, me adotou me deram bons estudos, uma
excelente educação e, isso, eu não posso negar. Porém, me raptaram e, isso, não
pode ter perdão. É possível uma mãe esquecer que gerou um filho? Que amou este
filho e, de repente, o perdeu? Pior do que isso, quantas horas de aflição meus
pais passaram devido ao meu desaparecimento? Essa tragédia mexeu com o psicológico
deles para sempre. Tirou-lhes muitas e muitas noites de sono. Como perdoar os
autores desse crime?
Por
outro lado, eu, uma menina na época fui obrigada a me calar. O que meus pais
adotivos pensavam era que com o tempo eu iria me esquecer dos meus pais biológicos,
porém, nunca os esqueci.
Quando
eu tinha dezesseis anos joguei minha educação fora. Queria voltar para meus
pais verdadeiros e, por isso, era uma garota revoltada. Por causa disso,
apanhei muito deste casal de portugueses. Internaram-me num colégio interno e
eu odiei isso. Como se não bastasse, tempos depois, meus pais me colocaram num
convento. Fui obrigada a seguir um caminho, um preceito dos quais eu odiava. Como
eu era uma moça bonita, já tinha dezoito anos, era virgem, fui abusada
sexualmente por Alda, a madre superior daquele convento. Espero que hoje ela
esteja queimando no fogo do inferno.
Fugi
daquele convento e, a única coisa que eu mais desejava era me vingar de meus
pais adotivos. Eu assassinei os dois com uma tesoura. Fui presa, é claro e, no
presídio, minhas horas de aflição estavam apenas começando. Não. Eu não queria
acreditar que tudo aquilo estava acontecendo comigo. Fui humilhada e torturada
durante anos naquele presídio. Não quero me lembrar disso agora.
O tempo passou rápido demais, apesar de parecer
para mim uma eternidade. Saí dali, daquele inferno de presídio com quarenta e
cinco anos.
Não
tinha para onde ir e muito menos dinheiro para sobreviver. Não tinha amigos e,
o meu maior de todos os desejos era poder voltar para o Brasil e rever meus
pais, com esperança de que eles ainda estivessem vivos.
Conheci
Abel, um amor de português que me ajudou de verdade. Ainda hoje o tenho como
meu melhor amigo. Voltei ao Brasil. Quando cheguei a Navegantes, em Santa Catarina , meu
coração estava aflito demais. Queria tanto rever meus pais! Não fora tão fácil
assim. Fui ao cartório da cidade onde fui registrada e, não lembrava o meu
sobrenome. Depois de muitas investigações e, isso durou mais de cinco anos,
tive notícias de mamãe. Ela vendeu a grande casa após a morte de meu pai e foi
viver em Pouso Alegre ,
em Minas Gerais. Ela
estava num asilo e com o mal de Alzeimer. É muita emoção de mãe e filha que não
se vêem há cinqüenta anos. Conversamos muito e prometi voltar naquele asilo
para buscá-la. Quando estacionei meu carro, entrei naquele asilo, pude perceber
o quanto o destino meu e de mamãe fora irônico. Minha mãe estava morta. Morreu a poucos
minutos da minha chegada. Saudades, mamãe.
doutorboacultural.blogspot.com/
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