segunda-feira, 2 de março de 2015

HORAS DE AFLIÇÃO (10) A PIOR FORMA DE MORRER


Meu nome é Jacó. Na época eu era um jovem bonito, forte, saudável, sem vícios. Cursava o segundo ano de medicina na PUC (Pontifícia Universidade Católica) em Curitiba, capital do Paraná.
Eu amava meus pais e minhas irmãs gêmeas. Éramos cinco. Havia uma harmonia muito gostosa em casa, em nossa família que muitos invejavam.
Eu era o caçula e, por sinal, o queridinho dos meus pais. Trabalhava como balconista de uma farmácia das 7hs às 15hs, chegava à minha casa, tomava um banho, tomava um lanche e ia para a Faculdade. Meus pais se orgulhavam de mim.
Conheci Marília, uma linda garota que mudou o meu lado de viver, assim, radicalmente. Apaixonei-me por ela e, com ela conheci um outro lado da vida. Essa garota me dizia frequentemente que eu levava uma vida muito certinha e, isso era ridículo. Eu que não fumava e nem bebia, aprendi a fumar e a beber com Marília, minha namorada. Pior do que isso, fiquei viciado em maconha, cocaína e crack.
O primeiro tombo que levei foi o de perder o meu emprego na farmácia. Eu chegava lá, sempre chapado de drogas na cabeça e, é claro, fazia tudo errado e, por isso fui mandado embora.
Em casa, virei um tormento. Brigava com meus pais e irmãs porque queria dinheiro para manter os meus vícios. Como eles não me davam, eu roubava.
Nessas alturas, já havia abandonado meus estudos na Faculdade. Isso ainda não foi tudo. Virei um marginal e, Marília se orgulhava disso, porque além de ser uma usuária de drogas, também era uma marginal.
Num domingo de manhã, estava só eu e uma das minhas irmãs gêmeas em casa. Meus pais e uma das minhas irmãs estavam na igreja. Jane, minha irmã estava gripada e de cama. Invadi o seu quarto e abusei dela e ainda a ameacei:
- Se abrir o bico e contar o que houve aqui, eu te mato. Pode apostar que eu estou falando sério.
Ela não falou nada para os meus pais, porém, fez algo pior: fugiu de casa e, nunca mais, nem eu, nem meus pais e minha irmã Jade tivemos notícias dela.
Um tempo depois, abusei de Jade também num domingo de manhã, enquanto meus pais estavam na igreja e, eu acabava de chegar das ruas chapado de álcool e drogas na cabeça. Com Jade foi diferente. Ela contou para meus pais que eu a estuprei. Meu pai me expulsou de casa e a briga foi tão feia que ele se enfartou e morreu antes de chegar ao pronto socorro.
Jade também foi embora de casa por minha causa. Marília ficou grávida de mim e veio morar em casa para desgosto de minha mãe.
Marília e eu espancávamos minha mãe com freqüência por causa de dinheiro. Fazíamos dela de nossa escrava. Coitada! Foi parar num sanatório. Ficou totalmente louca.
O interessante é que a minha mudança depois de conhecer Marília foi radical. Confesso que virei um monstro mesmo. Não tinha sentimento de amor por ninguém, com exceção a Marília. Ela era tão fria como eu e, acho que era por isso que a gente se dava tão bem.
Eu trabalhava para traficantes e, com eles, não tinha como brincar. Fiquei devendo para um deles, o Julião, e, minhas horas de aflição estavam apenas começando. Como parte da minha dívida, tinha que assistir Marília e ele transando e, ela estava no sexto mês de gravidez. Não. Eu não queria acreditar que aquilo estava acontecendo comigo.
Minha filha nasceu de parto prematuro e fiquei com nojo de ouvir da boca de Julião, o maldito traficante:
- Deixa ela crescer só mais um pouquinho que vou prová-la.
Eu devia muita grana para aquele traficante matador. Ele cobrava de mim de uma forma diferente: transando com minha mulher e, na minha frente.
Um dia, enquanto Marília amamentava Janaína, nossa filha, vi uma cena terrível. Marília foi estuprada e em seguida esquartejada por aquele monstro e, pior do que isso tive que enterrá-la nos fundos da minha casa. Nunca mais hei de esquecer disso. Depois, o traficante e mais dois dos seus comparsas foram embora.
Eu sabia que eles iriam voltar, é claro. Para poupar a vida da minha filha e a minha também, fugi de Curitiba. Que alívio! Fui parar lá em Gramado, na serra gaúcha no Rio Grande do Sul e, não deixei pistas. Estava mais do que na hora de eu mudar radicalmente de vida e, confesso que realmente mudei, Me converti ao cristianismo e, com o tempo me tornei pastor.
Muita gente que hoje ouve a minha história, me critica, me condena, mas, Deus sabe que me arrependi de tudo o que fiz de errado lá atrás. Estou ciente de que destruí minha família, abusando das minhas irmãs, matando o meu pai do coração e mandando minha mãe para um sanatório. Mas, me arrependi de tal forma que peguei nojo de drogas e de tudo aquilo que desagrada a Deus.
Muito tempo passou. Janaína, minha linda filha já tinha sete anos e cantava no coro da minha igreja, a qual, eu era pastor. Como ela cantava bem, meu Deus!
Num domingo de manhã, aquele que veio para roubar, destruir e matar não estava sozinho. Aquele traficante, o Julião, do qual fiquei devendo lá em Curitiba invadiu a minha casa junto de seus comparsas.
Foram as horas de aflição mais tensas que passei em minha vida. Violentaram minha nova esposa na minha frente e a mataram.
- Eu não lhe disse que quando sua filha crescesse mais um pouquinho, eu iria prová-la?
Clamei alto a Deus para que ele expulsasse aqueles demônios de minha casa, mas, isso não aconteceu. Eu amarrado tive que assistir minha filhinha sendo estupidamente estuprada, agonizando e pedindo-me socorro até fechar seus olhos e morrer para sempre.
- Agora você não me deve mais nada pastor e, sendo assim, vou deixá-lo viver para você entender que essa é a pior forma de morrer.


Fuja do mal, ainda, enquanto é jovem. Joguei minha vida fora e, quando quis recupera-la já era tarde demais. Não faça como eu. Abrace a felicidade que está ao seu lado e, mesmo que você morra, pelo menos, morrerá feliz.

doutorboacultural.blogspot.com/

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