terça-feira, 3 de dezembro de 2013

A FOFOCA


A fofoca é a narração de um fato, em segredo, fazendo uso da astúcia e muitas vezes da maledicência. É um procedimento ardiloso. Poderíamos pensar em cilada, armadilha, traição, embuste, procedimento ardiloso. Alguém tecendo uma rede para complicar, confundir o outro. É importante também pensar no processo repetitivo, no qual se repete a informação, dando-lhe uma ênfase especial.
Cito a história de Bela, uma mulher que adorava uma janela. Cuidava dos seus vizinhos com seus olhos sempre abertos. Ficava atenta a qualquer comentário e, Ramalho (seu esposo) quando chegava do trabalho, cansado, para não magoar a esposa, ouvia suas fofocas.
- Você nem imagina o tipo de serpente que é o nosso vizinho Zé Vicente. Ouvi atentamente ele dizer pra dona Guiné, sua mulher, que ele tem um caso com o Mazo, aquele filho do velho Matarazzo. E sabe o que dona Guiné lhe respondeu? Isso é problema seu. A Lourdinha, a caçulinha deles não tem nada de santa também. Está prenha, esperando neném e, sabe de quem? Do Chico Pedreiro, aquele maconheiro. Tá escrita em suas testas: essa gente não presta. E o Luizinho, aquele mocinho bonitinho, filho desse casal do Diabo? É um tremendo de um veado. Veja! Veja! Não vão à igreja e por isso fazem tudo de errado. São todos encapetados.
E Bela emendava uma fofoca em outra, enquanto Ramalho jantava.
- E a Simone, filha da dona Ivone? Está usando silicone. Escutei da boca da dona Sirlei, a viúva do velho Sidney. Ah! Lembra-se da Vitória? A Dória me contou uma história dizendo que ela perdeu a memória. Coitada! As filhas dela também não valem nada. A Ana é uma tremenda pé-de-cana; a Rosa é muito mentirosa; a Terezinha, uma galinha; a Leila é muito fofoqueira; enfim, quem prestava ali era o Serafim, Coitado chegou ao fim. Morreu brigando com o Irineu. Ah! O Ajinomoto, o japonês tonto, só vive cuidando da vida dos outros. E a dona Madalena tá me dando problema. Não passa de uma costureira relaxada. Que palhaçada! Veja isso. Olha o que esta imundície fez de serviço no meu vestido. Não vou pagar esta costura pra essa filha da mãe. Parece que bebe. Lembra-se do Tadeu? O filho do Romeu, irmão do Rosineu, aquele que conserta pneu. Ele morreu. Pois é Ramalho, tá tudo virado no alho. Morre gente pra caramba. E a Soraia do samba? Aquela lá é uma anta, não adianta. Gorda daquele jeito empurra a vida com os peitos. Balança, balança e acha que ainda samba.
E Ramalho após jantar toma seu cafezinho e Bela não para de fofocar.
- Ah! E a Nair, quer me agredir. Ela e sua filha Lair. Que maldade! Só porque eu falei a verdade. Falei que o marido dela, o Zé Roela nasceu na favela. Essa gente tem que aprender a ser feliz igual o Luís. Está certo que o Luís tem alguns defeitos, mas, afinal, ninguém é perfeito. Ai! Deu-me agora uma dor no peito. Se for prisão de ventre vou soltar uns peidos. Ai Ramalho! Acho que é o coração. Liga pro compadre Wagner e diga que estou tendo um enfarte.

Que final triste teve Bela: morreu infartada. Quer saber? Ramalho achou foi bom. Bela falava demais e, gente que fala demais tem é mais que sair de circulação mesmo.



doutorboacultural.blogspot.com/

Nenhum comentário:

Postar um comentário