sexta-feira, 9 de agosto de 2013

O EMOTIVO



Emotivo é aquele que se emociona facilmente por qualquer coisa. Daí eu pergunto: isso é normal?

Pensem num homem emotivo. Aquele que anda com uma coleção de lenços em seu bolso; chora assistindo uma novela mexicana; ao ver um mendigo com os pés sujos; um menininho obeso comendo doce; uma cadela sarnenta se coçando; um papagaio verde cantando o hino do Corinthians; um besouro louco batendo a cabeça na parede; uma velhinha de bengala subindo um morro; um bicho preguiça criança com preguiça de brincar; uma bicha mal amada, etc.



Assim era Felício. Um sujeito que chorava até pelo fato de ser feliz demais. Carinhoso feita uma mamãe gata dando um banho de língua em seus filhotinhos; sentimental como a sogra de Pedro bíblico. 

Felício conheceu Aurora coincidentemente na aurora do dia. Ele solteirão e ela também, iniciaram um romance. O maior prazer de Felício era falar e a pacífica e paciente Aurora gostava de ouvi-lo, afinal, o amor é lindo e, será que isso tem haver? Os assuntos de Felício eram variados e, mesmo que as histórias que ele contava tivessem um final feliz, caíam de seus olhos lágrimas capazes de encher baldes. Ele amava demais a bela Aurora e chorava por isso e, também pelo medo de perdê-la um dia. Vivia dando-lhe buquê de flores e, um dia, a pediu em casamento. 

É claro que ela aceitou, mas, Felício teria que pedir permissão ao velho Neocid, (um veneno de homem) pai da bela e encantadora Aurora.
O sangue de Jesus tem poder, como dizia a crente e religiosa Ruth, o velho Neocid que era amargo feito um jiló ficou doce feito aquele doce de batata doce com a presença de Felício em seu sítio. Felício contou ao velho tantas histórias bonitas e tristes que fez o velho chorar e, olha que isso era difícil e, é claro que o velho liberou sua única filha para se casar com Felício numa única condição: que fosse viver bem longe dele. O que é isso, Sô? Felício falava demais.
No casamento no civil Felício molhou o livro do juiz com suas lágrimas e, por pouco isso não deu problema; no religioso, com suas lágrimas emotivas comoveu até o padre que também chorou feito um bezerrinho.

Felício e Aurora queriam passar uns dias na casa do velho Neocid. Vichi nossa! Felício garrava a conversar com o velho na cozinha do sítio até raiar um novo dia. O velho Neocid não estava mais suportando aquilo, mas, acabou gostando do genro que era um bom rapaz, porém, falava demais.
Felício apresentou ao sogro sua mãe Germicida e, como os velhos eram viúvos não deu outra: juntaram os trapos e passaram a morar juntos na casa do sítio.
Paciência também tem limites, não é Jó? A bela Aurora não estava mais suportando a ausência do marido Felício em sua cama. Ficavam os três na cozinha, isto é: Felício, sua mãe Germicida que também adorava um papo e, o velho Neocid numa conversa que não tinha fim. O tagarela Felício só ia dormir na aurora do dia. Vichi! Ele não queria trabalhar não, Sô! Acordava ao meio dia com a barriga roncando de tanta fome e ia direto pra cozinha onde estava sua amada Aurora, que, nessas alturas, já estava mau humorada, preparando a comida pros vagais: marido, pai e sogra.
O velho Neocid teve um infarto e morreu. Felício foi o que mais chorou, o que não foi novidade. O velho deixou um bom dinheirinho para a filha Aurora e, Felício se contentou tanto com isso que teve que chorar para não perder o costume.
Felício agora conversava com sua mãe Germicida que também era uma vadia, acordava depois do meio dia e não fazia nada, com exceção a comer e prosear com seu filho tagarela enquanto Aurora fazia todos os serviços domésticos sozinha.
Amados, o tempo passou porque ele (o tempo) não espera ninguém que também passam por ele. Seis anos de casados, unidos pelo selo sagrado, Felício e Aurora sem nenhuma relação. Nem só de diálogo vive o Diabo. Aurora se tocou que, daquele homem, ela jamais poderia esperar alguma coisa, com exceção a palavras e lágrimas. Resolveu dar um basta naquela situação solitária que vivia e, afinal, ela tinha um bom dinheiro e isso iria ajudá-la. Bonita feita uma geleia colorida não poderia ficar sozinha. Comprou um carro e foi pras baladas conhecer boys, porque seu marido era um boi. Só comia, caramba! Aurora meteu-lhe uns chifres e, cansada de fazer isso, delicadamente pegou Felício pelo pescoço, o empurrou sobre o sofá da sala, onde ele caiu sentado e lhe disse:
- Marido, estou grávida de Saci, o (Pererê) que tem uma perna só, mas, isso não importa. Quero que você e a senhora da sua mãe vazem daqui porque o Saci está chegando por aqui.
Vichi! Felício e sua mãe vazaram Dalí mesmo. Felício chorou tanto, mas, tanto que, antes de morrer confessou em lágrimas para parentes e amigos:
- Fui perder logo para um Saci.

Parece que agora, ele tinha um bom motivo para chorar , não é? E assim, Aurora e Saci, o (Pererê) foram felizes para sempre.



doutorboacultural.blogspot.com/

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