Marica significa homem afeminado, muito sensível. Isto pode
ocorrer também com os animais? Acompanhem.
Marica era um cão da
raça VL, literalmente falando, sem abreviações, porque isso é ridículo: um cão
vira latas. Não tinha donos e, não era nem um pouco humilde. Se este frágil e
impertinente animal tivesse raciocínio e pudesse falar como os homens, sem
dúvida, diria que seu maior prazer era latir. Peraí! Mas, esse latir era
protestar contra tudo e todos, principalmente com o Autor de sua vida.
Bastava um algodão cair
no chão e Marica não deixava ninguém dormir. Esotéricos do mundo todo afirmam
até hoje que este cão via seres ocultos e místicos; os espíritas estão
convictos de que Marica via espíritos malignos e benignos também e, fanáticos religiosos
(daqueles que queimam o microfone de tanto berrarem) juram que este cão via os
demônios ou o próprio cão maior, seu superior, o Diabo.
Marica vivia mau
humorado, talvez, pela vida insignificante que levava. Vai entender um cão,
Marvin. Uma rotina estressante de não fazer nada social na vida, tipo tirar do
bolso da calça uma nota de cem e comer filé de acém e por aí vai. Latir e ficar
virando latas até quando? Que tipo de vida era aquela?
O interessante era que
grandes cientistas do mundo inteiro e, isto inclui o Paraguai queriam entender
o porquê de um orgulho de um cão. Marica, um animal fétido, franzino e feio,
não queria ser adotado por ninguém. A raça homem para ele era a coisa mais
horrível que podia existir. Não abanava seu rabo para ninguém. Sem chances.
Marica, com todo o seu orgulho, revirava latas de lixos e escolhia para si o
melhor. Com seu focinho gelado, separava filés de pescada, cabeças de galinhas,
tripas de carneiro, etc. Se uma mulher caridosa do tipo Wilma de Barra do Sul,
Santa Catarina, (protetora dos cães flagelados) jogasse no chão peixe tulipa
com batatas cozidas, ele era capaz de sangrar a perna da coitada com seus
dentes afiados.
Sucedeu que um dia
Bull, um cão da raça Pitbull, cansado de tanto ouvir Marica latir, escapou da
corrente, pulou o muro da mansão onde morava feita uma gata no cio e, até hoje
não se sabe como é que ele conseguiu fazer isso e, pegou Marica no topo do
morro da vila. Vichi! Bull, o cão pitbull lhe deu uma surra de dentes lascada,
que por pouco não o matou. Ainda bem que Dul, a dona de Bull apareceu com uma
varinha de marmelo nas mãos para terminar com aquela baixaria.
- Já pra casa, Bull.
Pare de dar uma de gostoso, seu animal!
Meia hora depois,
Marica, revoltado por ter apanhado protesta em latidos pertinentes e
irritantes. Filho da pura excepcional vida! Será que esta praga de cão queria
apanhar mais? Com seus latidinhos, certamente, quis dizer a todos os cães que
apanhou de um cão folgado e que isso não poderia ficar assim.
Vichi! Sô de Souza ou
qualquer coisa! Na vila Vinil, naquela noite ninguém mais dormiu. Do topo do
morro, Marica ficou com seus latidinhos desafinados e irritantes incomodando
até o sono dos pintos e de suas mães galinhas que costumam acordar cedo.
Vagner, um cão da raça
Rottwailer abriu o portão cadeado do casarão onde morava e, até hoje não se
sabe como é que ele conseguiu fazer isso e, subiu no topo do morro e deu uma
surra da peste do leste em Marica. A polícia ambiental do reino animal doméstico
foi acionada e, graças aos guardas heróis, Vagner, o cão da raça rottweiller
foi preso por abuso do poder. Marica protestou e, digo mais: protestou muito.
Seus latidinhos acordaram até os passarinhos, sem falar dos vizinhos.
Pelas três horas da
manhã, Mã, uma cadela da raça pastora alemã, mansa feita uma veada bailarina
sobe no topo do morro. Imaginem vocês o som clássico do bolero de Ravel na
cena. Paixão à primeira vista?! O que?! O amor é lindo e quem disse que cães não
amam? Mã parecia ser fã de Marica. Deu umas lambidas da hora no bichinho
nervosinho que ficou calminho como um bebê bicho preguiça. Trocaram muito mais
do que olhares e iniciou ali no topo do morro uma união que jamais poderia
findar no inferno. Fizeram amor e foi só alegria. Mã despediu-se de Marica com
um sorriso e uma lambida caninos e foi embora para a sua casa.
Passaram-se dias e Mã
sentia muita azia e, Luzia Ávida, sua dona, constatou que ela estava grávida.
Três meses depois nasceram lindos cãezinhos que foram gerados por Marica.
Afinal, onde estava Marica que nunca mais o povo da Vila Vinil o viu? Mã subiu
no topo do morro várias vezes com seus filhinhos para afinal apresenta-los ao
pai Marica, mas, foi tudo em vão. Marica sumiu e, crentes fervorosos do mundo inteiro afirmam
até hoje que ele foi arrebatado em espírito para o céu, porque o seu corpo nunca foi
encontrado. Mã é uma cadela que tem muita fé. Ela acredita que, muito em breve, vai reencontrar com seu grande amor Marica. É o que todos esperam e eu também.
mansa como uma veada bailarina? há ha há ha ha essa foi boa doutor boa!
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