quarta-feira, 12 de junho de 2013

O CÃO MARICA


Marica significa homem afeminado, muito sensível. Isto pode ocorrer também com os animais? Acompanhem.

Marica era um cão da raça VL, literalmente falando, sem abreviações, porque isso é ridículo: um cão vira latas. Não tinha donos e, não era nem um pouco humilde. Se este frágil e impertinente animal tivesse raciocínio e pudesse falar como os homens, sem dúvida, diria que seu maior prazer era latir. Peraí! Mas, esse latir era protestar contra tudo e todos, principalmente com o Autor de sua vida.
Bastava um algodão cair no chão e Marica não deixava ninguém dormir. Esotéricos do mundo todo afirmam até hoje que este cão via seres ocultos e místicos; os espíritas estão convictos de que Marica via espíritos malignos e benignos também e, fanáticos religiosos (daqueles que queimam o microfone de tanto berrarem) juram que este cão via os demônios ou o próprio cão maior, seu superior, o Diabo.
Marica vivia mau humorado, talvez, pela vida insignificante que levava. Vai entender um cão, Marvin. Uma rotina estressante de não fazer nada social na vida, tipo tirar do bolso da calça uma nota de cem e comer filé de acém e por aí vai. Latir e ficar virando latas até quando? Que tipo de vida era aquela?

O interessante era que grandes cientistas do mundo inteiro e, isto inclui o Paraguai queriam entender o porquê de um orgulho de um cão. Marica, um animal fétido, franzino e feio, não queria ser adotado por ninguém. A raça homem para ele era a coisa mais horrível que podia existir. Não abanava seu rabo para ninguém. Sem chances. Marica, com todo o seu orgulho, revirava latas de lixos e escolhia para si o melhor. Com seu focinho gelado, separava filés de pescada, cabeças de galinhas, tripas de carneiro, etc. Se uma mulher caridosa do tipo Wilma de Barra do Sul, Santa Catarina, (protetora dos cães flagelados) jogasse no chão peixe tulipa com batatas cozidas, ele era capaz de sangrar a perna da coitada com seus dentes afiados.
Sucedeu que um dia Bull, um cão da raça Pitbull, cansado de tanto ouvir Marica latir, escapou da corrente, pulou o muro da mansão onde morava feita uma gata no cio e, até hoje não se sabe como é que ele conseguiu fazer isso e, pegou Marica no topo do morro da vila. Vichi! Bull, o cão pitbull lhe deu uma surra de dentes lascada, que por pouco não o matou. Ainda bem que Dul, a dona de Bull apareceu com uma varinha de marmelo nas mãos para terminar com aquela baixaria.
- Já pra casa, Bull. Pare de dar uma de gostoso, seu animal!
Meia hora depois, Marica, revoltado por ter apanhado protesta em latidos pertinentes e irritantes. Filho da pura excepcional vida! Será que esta praga de cão queria apanhar mais? Com seus latidinhos, certamente, quis dizer a todos os cães que apanhou de um cão folgado e que isso não poderia ficar assim.
Vichi! Sô de Souza ou qualquer coisa! Na vila Vinil, naquela noite ninguém mais dormiu. Do topo do morro, Marica ficou com seus latidinhos desafinados e irritantes incomodando até o sono dos pintos e de suas mães galinhas que costumam acordar cedo.
Vagner, um cão da raça Rottwailer abriu o portão cadeado do casarão onde morava e, até hoje não se sabe como é que ele conseguiu fazer isso e, subiu no topo do morro e deu uma surra da peste do leste em Marica. A polícia ambiental do reino animal doméstico foi acionada e, graças aos guardas heróis, Vagner, o cão da raça rottweiller foi preso por abuso do poder. Marica protestou e, digo mais: protestou muito. Seus latidinhos acordaram até os passarinhos, sem falar dos vizinhos.
Pelas três horas da manhã, Mã, uma cadela da raça pastora alemã, mansa feita uma veada bailarina sobe no topo do morro. Imaginem vocês o som clássico do bolero de Ravel na cena. Paixão à primeira vista?! O que?! O amor é lindo e quem disse que cães não amam? Mã parecia ser fã de Marica. Deu umas lambidas da hora no bichinho nervosinho que ficou calminho como um bebê bicho preguiça. Trocaram muito mais do que olhares e iniciou ali no topo do morro uma união que jamais poderia findar no inferno. Fizeram amor e foi só alegria. Mã despediu-se de Marica com um sorriso e uma lambida caninos e foi embora para a sua casa.
Passaram-se dias e Mã sentia muita azia e, Luzia Ávida, sua dona, constatou que ela estava grávida. Três meses depois nasceram lindos cãezinhos que foram gerados por Marica. Afinal, onde estava Marica que nunca mais o povo da Vila Vinil o viu? Mã subiu no topo do morro várias vezes com seus filhinhos para afinal apresenta-los ao pai Marica, mas, foi tudo em vão. Marica sumiu e, crentes fervorosos do mundo inteiro afirmam até hoje que ele foi arrebatado em espírito para o céu, porque o seu corpo nunca foi encontrado. Mã é uma cadela que tem muita fé. Ela acredita que, muito em breve, vai reencontrar com seu grande amor Marica. É o que todos esperam e eu também.

Um comentário:

  1. mansa como uma veada bailarina? há ha há ha ha essa foi boa doutor boa!

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