João e José eram muitos amigos. Uma amizade tão perfeita
capaz de confundir a perfeição e irritar até Deus, o Criador de tudo e, isto
inclui o oceano pacífico. Eles se gostavam demais. O que?! Brigas? Nem pensar.
Por causa deles muita gente entrava às tapas sim, mas, eles não. Faziam até
boatos de que João e José tinham um caso, pois, aquela amizade era grude demais
tipo cola no sapato ou chiclete na dentadura.
João tinha 40 anos e José também, era pobre e José também; era
casado e José também. Enfim, ambos tinham muitas coisas em comum. Quando
conversavam podiam esquecê-los. Só davam eles.
Sucedeu que um dia, João fez um churrasco em sua casa e, José
estava lá, é claro e trouxe consigo sua esposa Josefa e seu filhinho Josefá, um
molequinho perturbado por natureza.
Quem temperou a carne foi Joana, esposa de João. José achou
aquela carne meio sonsa e comentou com o amigo João.
- Amigo João, você não acha que esta carne está assim mal
temperada, sem sal?
João prova da carne e diz:
- Claro que acho, amigo José e, digo-te mais: está com gosto
de borracha.
- Amigo João, está com gosto de borracha mesmo. Concordo com
você. Isso é uma desfeita que sua mulher está fazendo pra mim, pra Josefa,
minha mulher e pro molequinho abençoado Josefá.
- É uma desfeita mesmo, amigo José. O que você acha de eu dar
uns tapas nela pra ensiná-la a temperar?
- Acho incrível, amigo João. Dê uns tapas nessa besta
quadrada que eu vou fazer o mesmo com a minha que está rindo feita uma gralha no
cio lá na cozinha.
E João enche de tapas o rosto de Joana, sua mulher.
- Aprenda a temperar, sua besta quadrada.
E José faz o mesmo com sua mulher Josefa.
- Está rindo de que, quina de calçada?
Josefá, o molequinho perturbado fica ligando e desligando a
televisão até que consegue queimá-la e, João grita:
- Pare! Até quando você quer mandar e mudar minha vida? Amigo
José, o demônio do moleque queimou a minha televisão.
José fica apavorado.
- Vichi! Queimou mesmo e ela tinha uma imagem tão bonita.
Esse moleque é um demônio mesmo. Concordo com você.
- Mande ele pro inferno, amigo José.
- Vou mandar mesmo. Você está certo. Certíssimo.
- Eu sempre estou certo. Você não concorda comigo?
- Claro que concordo contigo, amigo João. Eu é que sou um
infeliz, azarado e errado.
- Concordo com você amigo José. Pra ter uma mulher feia
dessas, com um filho retardado e perturbado tem que ser infeliz, azarado e
errado. Mas, você, apesar de corno é meu amigo.
- Pois é, meu amigo João, sou corno mesmo e mesmo sabendo que
você também é, sou teu amigo.
- Amigo José, apesar de sua mulher ser feia como a risada do
abutre, até que ela é boazinha na cama, sabia?
- A sua também é, amigo João. É feia feita à estria, mas, até
que é jeitosinha.
- Amigo José, já mandou seu filho pro inferno? Olha só o que
essa bactéria de goiaba bichada está fazendo com meus discos de Amado Batista.
- Pois é, amigo João. Ele está quebrando todos com os pés. O
que eu faço com ele?
- Faça o que quiser, amigo José.
E José da um beijinho na cabeça de Josefá, seu filhinho
perturbado.
- Não faz isso não, meu filho, mas, já que fez, fazer o que
né?
- Amigo José, você tem uma paciência bonita com meu filhinho,
né?
- Tenho justamente porque ele é teu amigo, João. Se fosse meu
eu já teria mandado esse desastre para o inferno.
- E é?! Espera lá.
E João da uma surra da peste suada e salgada no molequinho
Josefá.
- Fora do meu reino, pimenta.
- Isso mesmo, amigo João. Mande-o embora.
- Mande embora sua mulher também, amigo José.
- É claro. Suma samurai. Mande a tua também, amigo João.
E João manda sua mulher embora de casa também. E assim ficam
lá, comendo churrasco e conversando. Que amizade grudenta, Sô! Creio que até os
peidos destas criaturas tinham a mesma sintonia. Vai saber.
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