Chico era um cara tranquilo, mulherengo pra caramba,
aventureiro que só a peste. Magrelão alto gostava de tomar umas pinguinhas no
boteco com os amigos sempre nos finais de semana. Tocava um violão que fazia
chorar a madeira. Morava só numa casa bastante grande e, em troca de sua casa
sempre bem arrumada, ele dava umas gorjetas para a velha Amélia que trabalhava
para ele com prazer.
Chico com seus quarenta anos aparentava ter menos, queria
arrumar uma companheira fixa para parar de galinhar. Foi para um bailão e ficou
encantado com uma morena tão linda feita uma pantera. Dançou todas e mais uma
com a moça de nome Bethânia e lotou sua mesa de cervejas e porções. Na hora de
pagar a conta, danou-se. Esqueceu sua carteira em casa. Bethânia, muito gentil,
emprestou dinheiro pra ele e boa. Foram pra casa de Chico. Amaram-se feito dois
passarinhos naquela noite e Chico esqueceu até mesmo de pagar o dinheiro que
devia a ela. Fez uma proposta:
- Queres morar comigo aqui para sempre, meu doce de goiaba?
Bethânia sorridente responde:
- Só se for agora, meu caldo de mocotó apimentado.
E Chico e Bethânia passaram a morar juntos naquela grande
casa. Chico dispensou a velha Amélia:
- Não preciso mais de seus serviços, vovó. Adeus e boa sorte
no seu final de vida.
O que?! Bethânia agora era quem comandava o lar. Deixava tudo
arrumadinho, limpinho e cheirosinho para a chegada de Chico sempre as
madrugadas. Vez! Parecia que o amor estava esfriando, sô! Pela cara do safado,
ele estava festando com outras mulheres.
Bethânia que tinha as mãos tão lindas, suaves, agora já
estava cheias de calos. Ela lavava até as meias e as cuecas do sem vergonha.
Não tinha tempo sequer de sentar no vaso sanitário e ler versículos da Bíblia,
pois, seu lema era trabalhar.
Bethânia que tinha a pele tão suave e macia, agora estava
ficando sebosa, enrugada. Chico ficou uma semana fora, dando um perdido legal
na pobre Bethânia. Apareceu num domingo pela manhã com cara de cachorro sem
dono.
- Oi meu amor, tudo bem?
Bethânia estava brava.
- Podia ao menos ter ligado para mim, não é?
- Pois é, esqueci desse detalhe. Estava na casa do meu guri.
Chico foi tomar um banho e Bethânia foi conferir o que ele
tinha no bolso da calça pesada de tanta sujeira. Vez, sô! Danou. Bilhetinhos
diversos de mulheres apaixonadas. Bethânia chorou feita uma cabra nordestina no
sertão da seca, da lama e do pau. Olhou-se no espelho e disse pra si mesma:
- Estou ficando velha e feia. Chico não me quer mais. Socorro
mamãe Canô! Não posso perder este homem.
Chico com cara de leite pasteurizado lhe diz:
- Seja feliz e passe bem. Adeus.
Chico foi embora de mala e cuia deixando Bethânia na saudade.
Na primeira semana ela chora feita uma besta, depois ela se toca e diz pra si
mesma, olhando-se no espelho:
- Chega de chorar, sua anta! Daqui pra frente tudo vai ser
diferente. Vou ter que aprender a ser gente. Ainda tenho o Roberto e ele está
no portão.
Roberto era um grande amigo e também admirador de Bethânia.
Amava ela demais, porém, respeitava seu amor por Chico. Bethânia foi sincera
com ele:
- Chega de detalhes, desabafo e pare de olhar pros botões da
minha blusa, Roberto. Tome seu café da manhã, vá embora e deixe em paz essa
fera ferida.
Roberto foi embora procurar, quem, sabe, um amor sem limites.
Bethânia tinha um bom dinheiro na poupança que deixou seu
falecido pai de herança. A tigreira passou a freqüentar salão de beleza, casas
de massagem e só andava agora no salto alto. Contratou os serviços domésticos
da velha Amélia e, agora era só alegria. O amor é lindo demais, Caetano! Até
quem não ama sabe disso. Bethânia estava remoçando e, quando Chico a via ficava
com cara de pivete desejando chupar um picolé. Ainda assim, depois do fora que
Bethânia levou de Chico continuava amando-a com todas as letras de uma das mais
belas canções do mundo.
Olhos Nos Olhos
Quando você me deixou, meu bem,
Me disse pra ser feliz e passar bem.
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci,
Mas depois, como era de costume, obedeci.
Me disse pra ser feliz e passar bem.
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci,
Mas depois, como era de costume, obedeci.
Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer.
Olhos nos olhos,
Quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais
Já vai me encontrar refeita, pode crer.
Olhos nos olhos,
Quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais
E que venho até remoçando,
Me pego cantando, sem mais, nem por quê.
Tantas águas rolaram,
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você.
Me pego cantando, sem mais, nem por quê.
Tantas águas rolaram,
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você.
Quando talvez precisar de mim,
Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim.
Olhos nos olhos,
Quero ver o que você diz.
Quero ver como suporta me ver tão feliz.
Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim.
Olhos nos olhos,
Quero ver o que você diz.
Quero ver como suporta me ver tão feliz.
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