Juninho era um menino obediente a seus pais João e Maria,
humildes roceiros da pacata cidade de Bebedouro, interior de São Paulo. Tinha
apenas sete anos, era muito estudioso e sonhava ser doutor um dia para tirar
seus pais da pobreza. Moravam num sítio e, Juninho era filho único do casal de
sertanejos.
Faltavam poucos dias para o Natal. O velho pai João prometeu
dar a seu filho Juninho um bom presente no tão esperado dia.
- Meu filho, papai vai lhe dar um bom presente no Natal.
Juninho vendo o rosto enrugado, envelhecido, as mãos
calejadas de seu velho pai, lhe diz:
- Não carece me presentear não, meu pai. O senhor, mais a
senhora da minha mãe já me deram o maior de todos os presentes me trazendo a
vida.
- Mas, presentes fazem parte da vida, meu filho. É prova de
amor e carinho.
E assim chegou o Natal. Juninho ganha de seu pai uma caixinha
embrulhada com um lindo papel de presente. Desembrulha e fica surpreso: era uma
caixinha de balinhas.
- É tudo o que o seu pai pôde lhe dar, meu filho.
Juninho agradece emocionado.
- Obrigado, meu pai. Feliz Natal!
Juninho guarda aquela caixinha de balinhas e vai brincar com
Princesa, sua cadelinha amiga.
Sucedeu que um dia, dos céus caiu uma grande tempestade de
ventos e chuva fortes e, a humilde casinha de madeira onde Juninho e seus pais
moravam, caiu. Que tristeza! Seus pais e a cadelinha Princesa morreram devido
tal queda, porém, com Juninho nada aconteceu porque na hora do acidente, estava
na escola. Chorou muito juntando seus brinquedos e Atal caixinha de balinhas que
lhe deu seu pai, entre o caos das madeiras espalhadas.
Juninho não tinha mais ninguém da família. Foi adotado pelos
padrinhos Joaquim e Joana, da cidade de Catanduva, vizinha de Bebedouro. O
casal tinha um filhinho de nome José, que, por sinal, tinha a mesma idade de
Juninho. E os dois menininhos eram muito mais que amigos. Eram como irmãos.
Compartilhavam tudo juntos e, isso era bonito de ver.
Sucedeu que um dia, José adoeceu. O pobrezinho contraiu uma
doença muito grave (câncer no sangue) e, possivelmente, só iria sobreviver com
um transplante de medula. Que pena! Seus pais eram muito pobres, não tinham
recursos para despesas médicas.
Juninho vendo seu amiguinho José naquele estado totalmente
frágil, como quem esperava a morte chegar, não aceitou isso. Levou para José
palavras encorajadoras, de bom ânimo:
- Em poucos dias José, você vai se levantar desta cama e
vamos juntos correr muito. Vamos brincar felizes como os anjinhos do céu. Você
vai ver.
José totalmente enfraquecido e sonolento, com os olhos rasos
d’água diz:
- Tudo o que eu mais queria era viver, amigo. Sei que todos
os médicos me enganam dizendo que logo logo sairei daqui. Você também me
engana. Não sei o que eu tenho, mas, acho que não tem cura. Sei que tudo tem o
seu tempo e sinto que o meu tempo está para terminar.
- Creia amigo José: Você vai viver muito, até mesmo, muito
mais do que eu e, depois, seremos crianças para sempre.
José se apagou e minutos depois estava na U.T.I daquele
hospital. Juninho volta para sua casa, vai até seu quarto, abre as portas do
seu guarda-roupas e pega aquela caixinha de balinhas que lhe presenteou seu
velho pai antes de morrer. Volta àquele hospital e fala em particular com três
médicos responsáveis pelo paciente José.
- Olha doutores, eu não tenho nada a oferecer para vocês a
não ser essa caixinha de balinhas que me deu de presente, meu velho pai antes
de morrer. Por favor, aceite-a em troca da cura do meu amiguinho José. Ele foi
o maior de todos os presentes que ganhei na vida. Ficarei muito triste com Deus
se Ele tirá-lo de mim. A vida é tão curta e, poxa! Ainda somos crianças e
queremos viver. Colocar nossas brincadeiras e sonhos em dia. Não vou suportar
perder este diamante verdadeiro que é meu amiguinho José.
Os três médicos ficam em silêncio e também comovidos. Juninho
deixa sobre a mesa daquela sala, a caixinha de balinhas e sai triste,
cabisbaixo, mas confiante, daquele hospital.
Fazia muito calor e Juninho decide tomar um banho no lago a
caminho da casa onde morava.Que triste destino! Juninho morre afogado naquele
lago.
O transplante de medula de José foi realizado com sucesso.
Ele sobreviveu. Quando ficou sabendo da morte de seu melhor e único amigo
Juninho, caiu em depressão profunda. Isolou-se de tudo e de todos.
Passaram-se muitos e muitos anos. Os pais de José nunca mais
viram sorrir. Morreram, desejando muito
ver seu único filho feliz. José não se casou, não teve filhos e já estava
bastante velho. Decidiu morar só num barraquinho bem no meio das matas.
Sucedeu que um dia, logo pela manhã, José recebe a visita de
três homens vestidos de branco e reconhece-os.
- Vocês não envelheceram. Como pode isso?
Um daqueles homens de branco entrega uma caixinha de balinhas
para José.
- Há muitos anos, seu amigo Juninho nos presenteou com esta
caixinha. Havia dentro dela muitas balinhas, porém, de baixo das balinhas,
estes diamantes preciosos que agora são teus, José. És um homem milionário,
graças a esses diamantes.
José chora emocionado e diz:
- Os diamantes são para sempre. Não envelhecem, não morrem
como eu. O diamante precioso, verdadeiro foi aquele que eu perdi lá atrás, quando
ainda era uma criança. Estes daqui não representam nada para mim.
E o homem de branco lhe diz:
- Mas, graças a eles você vive.
José responde indignado:
- Não. Estou morto há muito tempo. Nunca mais voltarei a ser
criança. Caso eu encontre num paraíso (quando eu partir daqui) meu melhor e
único amigo José, já estarei velho e, quem sabe ele também. Não colocamos
nossas brincadeiras e sonhos em dia, como prometemos um para o outro.
E o homem de branco lhe pergunta:
- Já pensou em quantas crianças poderá salvá-las com estes
diamantes?
- Se estes diamantes podem salvar vidas de muitas crianças,
que assim seja.Se dentro dessa caixinha tivesse apenas balinhas,poderiam salvar
vidas de muitas crianças com elas, também?
Os três homens de branco ficam sem palavras e vão embora
entre as matas levando com eles a caixinha de diamantes. Dias depois, José, já
bastante velhinho, da seu último suspiro de vida e morre.
De fato, assim como os diamantes que nunca envelhecem e
morrem, assim é ávida. A carne, comparada aquelas balinhas, um dia acaba,
porém, a vida é imortal.
José voltou a ser criança e encontrou seu melhor e único
amigo Juninho no Paraíso Celestial. Poderiam eles agora brincar por toda a
eternidade,como os anjinhos no céu. Ser criança é a melhor parte da vida e eles
optaram por isso naquele Reino. Tudo pode findar um dia, menos o amor, pois,
este sim é o diamante verdadeiro.
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