terça-feira, 7 de abril de 2015

GRANDES AMORES DA MINHA VIDA


AMOR, CONTEÇA O QUE TIVÉ QUE CONTEÇER, NUM CE ESQUESSA DE MIM E DE NOÇO FIO. TE AMO. TEKERO.


obregado por vosse esistir, meu mininu lindo. CONTINOE ME OUVINDO, VISSE?







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quinta-feira, 26 de março de 2015

HORAS DE AFLIÇÃO (18) A TRAIÇÃO


Como perdoar uma traição? Creio que não exista nada, absolutamente nada, que seja mais doloroso do que uma traição.
Meu nome é Ana Clara. Desde minha infância sempre fui uma pessoa sensível. Chorava por qualquer coisa e, principalmente, se alguém chamasse a minha atenção. Eu era muito mimada por meus pais, ainda mais sendo filha única.
Uma garota ingênua que vivia sonhando com seu príncipe encantado.
Atos foi meu primeiro e único amor. Eu o amava de verdade. Na época eu tinha apenas 16 anos e ele 26. Que rapaz doce, bonito e tão encantador! Dizia-me só coisa linda e, eu muito emotiva, deixava cair lágrimas dos meus olhos. Ele era o meu anjo, meu guia, meu herói, meu homem. Casei-me com ele quando ainda menina.
Fomos morar numa fazenda em Pouso Alegre, interior de Minas Gerais. Adorei. Atos era um grande fazendeiro e tinha muitos empregados. Eu ficava na grande casa da fazenda desfrutando do bom e do melhor. Na realidade, ele não me deixava fazer nada. Eu era a rainha do lar. À noite, quando meu homem chegava dos seus afazeres eu estava pronta para ele. Fazíamos amor até altas horas da noite. Que saudades!
Atos, de uma hora para outra, mudou seu comportamento assim radicalmente. Começou a viajar a negócios e, bastava eu lhe perguntar alguma coisa sobre a viagem, por exemplo, ele ficava zangado. Senti uma frieza da parte dele para comigo terrível. Não. Eu não queria acreditar que aquilo estava acontecendo comigo. Minha empregada podia jurar-me que ele estava traindo-me com outra mulher. Chorei muito, mas, muito mesmo. Como pode um homem mudar tanto?
Em uma de suas viagens ele demorou um mês para voltar à nossa casa. Falava com seus empregados ao telefone, mas, nunca comigo. Numa manhã de sábado quando ele chegou, (ninguém o esperava, nem eu, porque ele era imprevisível) surpreendeu-se com a cena que viu: Eu e Alaor, um de seus empregados, estávamos fazendo amor e, pior: em nossa cama. Sua reação foi violenta, é claro, como a de todo homem traído. Ele matou Alaor com quatro tiros e, eu gritei apavorada. Sabe o que é ver um homem ser brutalmente assassinado ao seu lado? Eu tremia assustada e chorava muito. Atos encostou o cano do seu revólver de calibre 38 em meu queixo e, disse-me:
- Você é uma cadela ordinária. Quando sentiu o meu desprezo por você há meses, é porque já estava me traindo. Eu já sabia disso. Nunca lhe troquei por vadia nenhuma. Eu tinha nojo de me deitar com você por saber que você abria as pernas para esse daí, que agora é um defunto.
Não. Eu não queria acreditar que aquilo estava acontecendo comigo. Chorando, gritei:
- Eu sempre te amei, Atos.
- Quem ama não trai, sua vadia. Quem sempre te amou de verdade fui eu e, é difícil acreditar, mas, ainda te amo e, em nome desse amor, vou lhe dar um presente, Ana Clara.
Eu implorei para que ele me matasse.
- Mate-me amor. Pode fazer isso.
Ele disparou um único só tiro em seu ouvido e caiu ensanguentado e morto no chão de nosso quarto. Gritei muito, até que muitos empregados invadiram o quarto para ver o que estava acontecendo.
As horas de aflição e desespero estavam apenas começando para mim. Doze peões da fazenda se divertiram comigo. Abusaram de mim aquele final de semana inteiro. Roubaram valores da minha casa e, antes de fugirem, ligaram para a polícia. A arma assassina que matou meu marido e seu empregado tinha as minhas digitais porque quando fui estuprada, quis por fim a minha vida, mas, não havia mais munição. Fiquei detida por longos e longos anos.
A minha liberdade chegou tarde demais. Hoje estou velha e, pior do que isso: sozinha. Não herdei nada de Atos, meu marido. Vivo pelas ruas das grandes cidades vagando.

Eu confesso que traí o grande e único amor da minha vida. Eu o matei.



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terça-feira, 17 de março de 2015

A VIRGEM MARIA (HORAS DE TENSÃO 1)



Meu nome é Maria e, confesso que há setenta anos eu era uma gata, uma moça bonita e, o mais importante: virgem.
Nasci em berço evangélico. Meu pai era pastor de ovelhas e minha mãe a tesoureira. Nossa comunidade de irmandade era muito amorosa, calorosa, enfim, muito gostosa. Havia lá uma união regada a respeito, educação e bons modos. Dentro da igreja, irmãos sentados de um lado e as irmãs sentadas do outro lado. Para simplificar: homens à esquerda e mulheres à direita. Na entrada dos visitantes dos meio a meio ficavam no meio para receber a bênção do meu pai que expulsava o maligno tanto deles quanto delas. E todos nós numa única voz: “Glórias e glórias! Aleluias e aleluias”. Isso faz muito tempo.
Eu tinha na época 16 anos e, meus cabelos passavam da minha bunda. Para simplificar: as pontas batiam nos pés, às vezes enrolavam no bico do sapato e eu levava um tombo. Para lavar os cabelos era um pouco complicado, mas, nada como um mergulho no rio que não resolvesse.
Quando eu saía às ruas com minhas irmãs da igreja ficava horrorizada e elas também. Só víamos o pecado incorporado naquelas mocinhas impuras empinando as bundinhas com aquelas minissaias ou shortinhos mostrando até as pontas dos pelinhos. Cruzes! Que pecado! Nós, não, irmãos. Vestíamos vestidos longos para nos proteger dos olhos dos tarados dos rapazes e, principalmente dos olhos de Deus. Se bem que Ele nos via por dentro, porém, isso não vem ao caso.
Eu achava aquela juventude sem graça. Molhava-me toda de suor de tanto ver pecado. Aqueles rapazes skatistas exibindo o que são capazes de fazer com seus pés embutidos naqueles tênis batidões, alguns tamanhos família, que a mídia até os dias de hoje acha que é sexy. Minha doutrina era tão rígida que irmãos e irmãs não podiam usar tênis nos pés, não. Porque o chulé não é benigno e provém do maligno.
Um dia, eu e minhas irmãs da igreja fomos fazer uma evangelização num parque lá de Vitória, capital do Espírito Santo e, o que vimos balançar entre as árvores foi o cúmulo do pecado. Um negrão que dava quatro de Mike Tyson malhava uma mocinha impura e, o pior que ela estava gostando. Não, não e não. Foram horas de tensão horríveis. Suei tanto, mas, tanto, que desmaiei. As irmãs oraram por mim e, logo um boy me deu um picolé na boca e, só assim consegui me acalmar daquelas horas tensas que passei. Isso faz muito tempo.
Quando eu tinha 18 anos me movia demais na cama. Dava vontade de pular e arrebentar tudo que estava a minha volta. A irmandade vinha orar por mim, mas, aquele calor, aquele fogo que eu sentia em meu corpo não passava. Era muito mais forte do que a sauna do milho que vira pipoca de tanto calor na panela. Acho que era o Capeta que estava dentro de mim. Não conseguia dormir e, só queria pular. Fui revelada finalmente, que um homem de Deus estava a caminho e eu seria sua esposa. Glórias!
Marcos tinha o dom de línguas. Ele mesmo foi quem me revelou. Nosso namoro era à base de glórias e glórias sem gracinhas, até quando nos casamos. Aí, tudo mudou. Nossa lua de mel melou mais do que melão com mel e mamão. Antes de nos deitarmos, sugeri ao meu amor que orássemos. Ele me olhou sério e disse-me:
- Pula santa! Vou orar dentro de você agora.
- Cruzes!
Marcos deu-me um tapaço na bunda e ele estava encapetado.
- Tire sua roupa irmã que eu te mostrar o que é glória.
As horas de tensão estavam apenas começando em minha vida. Marcos estava incorporado no Saci Agulha. Eu duvidava antes que ele tivesse o dom de línguas, porém, me enganei. Cruzes! Marcos era um poliglota. Quanto mais eu clamava: “Ai, Jesus! Ai, Jesus”, mas, ele me enchia de luz. Deis a luz vinte e quatro vezes para honra e glória do Senhor. O último nasceu meio alegrinho, mas, é uma bênção de filho que adora a espada. Para simplificar: a Bíblia.

Assim que meus pais morreram, que, por sinal, foram os fundadores da igreja, resolvi fazer umas mudanças na doutrina que era muito rígida e chata. Liberei o corte de cabelo e maquiagem para as mulheres, porque elas não merecem parecer velha antes do tempo. Pra juventude, pras vovós e pros vovôs, muita praia, sexo e rock and rol, morô?


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segunda-feira, 16 de março de 2015

HORAS DE AFLIÇÃO (17) ALMA AFLITA

É impossível eu voltar atrás agora. Mesmo que eu viva milhões de vidas aqui na terra, meu destino final será no inferno. Antes fosse lá um lugar de sofrimento eterno como muitos acreditam. Sei que isso é simbólico. Não existe nada, absolutamente nada que possa ser mais triste do que a morte, porque viver é o maior prazer que alguém pode ter em sua vida. No meu caso, ela será interrompida para sempre.
Meu nome é Agatha. Sempre fui uma pessoa amarga, nem um pouco simpática e descontente com a vida. Achava essa vida sem graça demais.
Eu cursava psicologia e odiei porque fui reprovada por faltas na Faculdade. Por outro lado, uma colega minha se formou e seus pais promoveram a ela a maior festa que já pude estar.
Sempre tive inveja de Adala. Ela era a mais bonita, mais desejada, mais inteligente, mais tudo. Queria destruí-la por isso. Antes da festa de sua formatura procurei um excelente feiticeiro e fui direta ao assunto:
- Quero vender minha alma ao Diabo. O que devo fazer?
O feiticeiro me deu algumas orientações que nunca vou revelar a ninguém e fiz isso. Falei com o Diabo e vendi para ele a minha alma.
O interessante foi que, após eu vender minha alma para o Diabo, minha vida mudou radicalmente. Cito assim uma mudança espiritual. Eu chorava por qualquer coisa e, as pessoas que antes eu odiava, passei a amá-las.

O Diabo pediu-me para matar Adala e, eu teria que fazer aquilo na festa de sua formatura. Não. Não tinha como voltar atrás. Era ela ou eu. Estávamos sós nós duas de frente a grande piscina e, não sei aonde me veio tanta força, empurrei ela na piscina e a puxando seus cabelos, deixei ela se asfixiar na água. Voltei para a festa, no salão daquela grande casa onde estavam todos os convidados se divertindo. Só eu sabia que ela estava morta naquela piscina. Pois é, me enganei. Não. Eu não queria acreditar que aquilo estava acontecendo comigo. Eu é que estava morta naquele dia. Não me lembro o que disse para Adala que, ela saiu correndo e, nunca mais foi vista por ninguém. Não. Ninguém é capaz de imaginar as horas de aflição que sente uma alma aflita como a minha.


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HORAS DE AFLIÇÃO (16) O MANICÔMIO

Quanto vale uma vida? Por que, afinal, o último capítulo dessa história da humanidade nunca chega ao fim? Quantas perguntas ainda iremos fazer sem nunca, absolutamente nunca, termos uma resposta única e verdadeira?
Meu nome é Adala. Lembro-me dos meus inesquecíveis 20 anos. Como eu era uma moça bonita! Sempre rodeada de amigos. Que saudades! Pena que a vida é uma viagem curta e, o tempo quando não nos envelhece, interrompe nossas vidas para sempre.
Formei-me em psicologia. Meu grande sonho era ajudar as pessoas problemáticas a encontrar a felicidade dentro delas mesma. Meus pais me deram uma linda festa. Creio que havia mais de duzentas pessoas em nossa grande casa no Morumbi, bairro nobre de São Paulo. Tinha gente no jardim iluminado, em volta da piscina, dentro de casa, no grande salão, enfim, comemorando a minha formatura.
De repente, assim do nada, bateu em mim uma vontade de chorar e chorei muito. Sentei-me na beirada da grande piscina, só deixando meus pés dentro dela. Ninguém veio falar comigo. Fui ao banheiro retocar minha maquiagem que borrou por causa das lágrimas e, cruzei no corredor com Agatha, uma amiga da Faculdade. Não sei por que, mas, ela me ignorou. Fez de conta que não me viu. Depois de retocar minha maquiagem voltei para a festa, no salão de minha casa. Dancei muita discoteca. Nenhum rapaz veio dançar comigo e, eu odiei aquilo. A festa era minha. Todos, incluindo até mesmo meus pais fizeram de conta que eu não existia. Eu só queria entender o por quê. Indignada fui para o meu quarto ouvindo a música Heart Of Glass, da cantora Blondie. Chorei muito. Ninguém veio me consolar e, eu também queria entender o por quê de eu estar assim tão triste e ser rejeitada por todos. Quando dei por mim, (sou sonâmbula) devo ter dormido e, acordei com meus pés na piscina.
Era de manhã e todos os convidados da festa já havia ido embora, com exceção a Agatha que veio me falar.
- Até quando pretende vagar nesta casa, amiga Adala? Você está morta para esse plano. Tudo acabou há muito tempo.
Fiquei confusa e com muito medo.
- Eu estou morta?
E Agatha me diz.
- Há muitos anos seus pais deram uma festa aqui para você, lembra? Era a sua formatura.
Fiquei indignada.
- Esta festa foi ontem.
Agatha sorri e me diz:
- Isso tem mais de trinta anos, Adala. Enquanto todos estavam no salão, eu e você estávamos aqui ao lado da piscina. Cumpri minha missão que era a de te levar. Empurrei você na piscina e, você morreu asfixiada. Um dia você vai entender porque fiz isso.
- Eu não quero entender nada.
Corri apavorada de Agatha, que eu tinha como amiga. Gritei muito. Queria entender o que realmente me aconteceu. Quando dei por mim, eu já estava aqui neste manicômio onde vivo as horas.
De aflição mais horríveis que alguém possa imaginar. Aqui dentro, todos me ignoram. É como se eu estivesse morta mesmo. Mas, eu sei que estou viva e não estou louca. Ou será que estou?



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sexta-feira, 13 de março de 2015

quarta-feira, 11 de março de 2015

HORAS DE AFLIÇÃO (15) O TREM




A vida é uma viagem curta incorporada neste fabuloso, fantástico, esplêndido e místico universo. É uma estrada longa repleta de estações. Quem dera pudéssemos estacionar na Estação Felicidade e permanecer nela para sempre, porque ser feliz é tudo. Eu acho.
Meu nome é Alessandra. O que importa o meu nome agora se, ironicamente o destino me surpreendeu? Sobreviver não é o mesmo que viver e, vegetar é o mínimo que alguém pode fazer para sustentar o seu fôlego de vida.
Eu tinha apenas três anos de vida quando fui obrigada a seguir um rumo diferente. Tudo era novo para mim até descobrir que a podridão existente no mundo é a resposta de que ele, (o mundo), nunca deveria ser criado, isto é: se é que existe um criador.
Eu estava acompanhada de meus pais numa estação de trem chamada Jundiaí, interior de São Paulo. Íamos com destino a capital. Um tumulto de pessoas naquela estação e, me perdi de meus pais. Entrei dentro daquele trem super lotado e, eu fiquei em pânico ao olhar pela janela e ver meus pais apavorados pedindo que aquele trem parasse. Gritei e chorei muito. Não. Eu não queria acreditar que aquilo estava acontecendo comigo.
Um sujeito estranho conseguiu me acalmar dando-me um pirulito e dizendo-me:
- Calma, garotinha. Tudo vai ficar bem. Sou amigo de seus pais.
Como criança é ingênua! Desci com ele numa das estações, que, nunca hei de me lembrar o nome e, minhas horas de aflição estavam apenas começando. Ele levou-me para um retiro, uma chácara, ou melhor, para o inferno. Dentro daquele lugar horrível havia uma longa escada e fui obrigada a descer com ele muitos degraus. 

Estávamos agora no fundo da terra. Meus gritos jamais seriam ouvidos ali. Ele me violentou, me abusou sexualmente, fazendo com que, até os dias de hoje eu tenha nojo de sexo.
Aquele lugar subterrâneo era o meu novo lar. Lá, nas mãos daquele maníaco psicopata eu seria sua escrava durante muitos e muitos anos. Onde estava Deus e o meu anjo da guarda naquelas horas? É óbvio que não estavam em lugar nenhum porque, ao menos para mim, eles nunca existiram.
Debaixo da terra, perdi a noção do tempo. Lá cresci alimentando de restos de comida, lavagem de porcos e, pior do que isso, sendo torturada. Convivi com o medo, com o trauma e, não conheci o amor em nenhum dos seus sentidos. Não estudei e, enfim, eu apenas tinha que viver para sustentar o apetite sexual daquele maníaco. Ninguém jamais é capaz de imaginar o quanto isto foi trágico e triste para mim.
Eu devia ter doze ou treze anos quando fiquei grávida daquele monstro. Ele mesmo fez o meu parto, oito ou nove meses depois, não sei. Naquele cativeiro nasceu uma linda menina que tive o desprazer de vê-la sendo morta pelas mãos daquele maníaco. Eu não tinha mais fôlego para gritar, nem forças para chorar. Eu era para ele apenas um corpo de carne que matava a sua fome.
Sim, apesar de não me olhar no espelho durante anos, eu tinha certeza de que parecia uma selvagem. Ninguém, nunca vai poder, sequer, imaginar isso.
O tempo passou e, nunca vou saber quanto foi este tempo.
Eu, uma selvagem, sem saber o que estava acontecendo no mundo lá fora, me libertei daquela escravidão. Sim. Nem um anjo ajudou-me a sair daquele inferno; nem Deus, nem o Diabo. Dou graças a mim. Única e exclusivamente a mim. Eu não sabia quantos anos eu tinha, mas, isso não me importava. Só queria sair daquele inferno, só isso. No cativeiro onde vivi a maior parte da minha vida havia uma porta e, esta dava acesso a uma longa escada. Naquele dia ela estava aberta. Subi os degraus. Nunca vou saber quantos degraus subi porque eu não sabia contar, mas, foram muitos.
Quando cheguei à saída estava escuro. Engraçado, mas, eu não tinha medo. Só para lembrar, eu era uma selvagem, cujo papel foi o destino que me deu. Em minha direção encontrei um cão tão selvagem quanto eu. Aquela fera queria me dominar, porém, foi dominada por mim que a matei com meus dentes e ainda comi boa parte do seu corpo.
Eu só queria encontrar uma única criatura que não posso e, nem devo chamar de gente. Aquele estranho que foi responsável pelo meu destino. Aquele que me destruiu em vida. E, graças ao meu ódio consegui encontra-lo entre as matas daquela chácara. Enfrentei aquele monstro com meus dentes e unhas. O matei. Posso ouvir até hoje o eco dos seus gritos de horror. As horas de aflição e desespero que ele passou. Tive o prazer de comê-lo vivo antes de sair daquele inferno.
Caminhei muito para chegar ao centro de uma cidade onde havia pessoas. Todos me olhavam com medo. Apesar de selvagem, eu era uma criança. Não sabia me expressar, conversar. Nunca ninguém me ensinou isso. Fui capturada pela polícia e, horas depois estava num manicômio. Com o tempo, uma grande mulher, Aidê, minha psiquiatra tirou-me de lá. Ensinou-me a ser gente, a falar, ler, escrever, enfim, era tudo o que eu queria. Sempre vou amá-la, porque até mesmo foi ela quem me ensinou a amar.

Livre do inferno peguei um trem com destino ignorado. Minha única lembrança era que eu tinha três anos e estava com meus pais numa estação chamada Jundiaí. Não lembro do meu sobrenome e muito menos dos rostos dos meus pais. Não me importa. Muito tempo passou mesmo e, hoje estou numa das estações da vida.

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segunda-feira, 9 de março de 2015

O MILAGREIRO





Honésio, aparentemente era um homem honesto. Falava muito em Deus, anjos e santos, sem contar das almas perdidas e encontradas, segundo ele, no mundo místico, esotérico e  oculto. O homem falava bonito e conquistava a todos com sua oratória.  Inteligente, fazia caridade para ganhar nome, reconhecimento e amizade. Gostava de todos, sem fazer acepção de pessoas: ricos e pobres, negros e brancos, enfim, ele sorria para todos na intenção de ser notório, o centro das atenções.
Honésio tinha 50 anos e era solteiro, mas, dava de mil a zero em Santo Antonio, o santo casamenteiro.

Montou uma tenda bem no centro da pacata cidade de Itapira, interior de São Paulo e a batizou de: “A Tenda Dos Milagres”.

E, não é que a coisa pegou? Ficava ele sentado numa almofada, com um turbante na cabeça, com seus olhos semi abertos visualizando a chegada de curiosos. A maioria sofria do mal de amor e, isso para ele era garapa.

Numa tarde de sexta-feira, entra naquela tenda um homem calvo, barrigudo, careca e, pela aparência, o homem não era fraco não. Tinha cascalho no bolso e, não era pouco.
O tom de sua voz era arrogante, o que mais reforçava a impressão de Honésio: o homem tinha cascalho. Fazia perguntas demais tipo: “Que espécie de milagres acontece por aqui?” “Isso é igreja evangélica ou terreiro de macumba?”. 
Não querendo perder o cliente, Honésio respondia suas perguntas, até que o sujeito lhe confessa:
- Senhor, minha mulher me abandonou e foi viver com outro homem. Ouvi dizer, e o povo comenta muito de que, o senhor faz uma amarração e traz o amor de volta em até sete dias. Se realmente isso é verdade, quero que traga o meu amor de volta.
Honésio acende um charuto, dá uma tragada bem forte e bafora a fumaça bem na cara daquele sujeito e lhe diz sério:
- Tudo tem um preço, amado Luiz.
O homem empalidece.
- Ei! Como sabe o meu nome?
Honésio dá uma cuspida, que, por pouco não acerta nos sapatos de Luiz.
- Eu sei tudo. Sua mulher Lucinha se encantou com um boy de nome Olegário, teu ex-colega que não tinha nada de legal e, você sabe por quê. Ela queria pepino na salada e você lhe dava rabanada. Abandonou-te por opção de escolha e, agora vive numa miséria da peste junto de Olegário, o boy otário.
Luiz ficou impressionado.
- Meu Deus! Tudo isso é verdade mesmo. Como é que pode?! Olegário é o boy que pescava comigo.
- Só que ele tava de olho na piranha.
- Realmente, senhor, ele gostava de piranhas. Eu pago o que for possível para ter ela de volta.
Honésio olha sério para Luiz e diz:
- Desista.
- Por quê? Ela não volta mais para mim?
- Voltar até voltaria, mas, você não vai poder pagar. Sai muito caro o trabalho.
- Quanto?
Honésio pensou, pensou e desabafou:
- Quinhentos mil reais.
Luiz sorriu confiante:
- Mas, eu tenho esse dinheiro, senhor.
Honésio estava achando aquilo fácil demais.
- Na verdade, essa é a entrada. O trabalho completo é “Hum milhão de reais”.
Luiz ficou preocupado, suspirou, por fim, afirmou:
- Eu pago.
Honésio, muito esperto, fixa seus olhos contra os olhos de Luiz e o pergunta:
- Tem a entrada em mãos agora?
- Sim.
- Passe-me a grana. Escreva o nome completo da fulana e o endereço dela legivelmente nesta folha de papel virgem e, pague-me o restante no retorno de sua amada, antes de vencer o sétimo dia. Tem o seguinte: se não me pagar, farei com que ela desapareça definitivamente de sua vida e ainda lhe faço teu membro cair para nunca mais subir.
- Claro, meu senhor. Trarei o restante do dinheiro sim. Mas, ela realmente voltará para mim?
- Em até sete dias. Duvidas?
- Não. Claro que não.
E, assim, Luiz sai daquela tenda, satisfeito e confiante de que sua amada Lucinha voltaria para ele em até sete dias. Será? E, não deu outra: no quinto dia, Luiz recebe uma ligação em seu celular. Para a sua surpresa, era Lucinha.
- Olá, meu amor Luiz, tudo bem?
Luiz tremia de tanta emoção.
- Lucinha?! Estaria tudo bem se estivesse aqui ao meu lado.
- Ainda me amas?
- Eu sempre te amei, Lucinha.
No sexto dia já trocavam carícias num motel e, no sétimo dia, Luiz e Lucinha voltaram a viver juntos definitivamente. Luiz repleto de alegria volta àquela tenda dos milagres, da um abraço bem forte em Honésio e lhe paga o restante da dívida, com prazer.

Como pode isso, gente? Honésio seria um milagreiro mesmo? Pois, assim aconteceu.  Afinal, que espécie de trabalho de amarração porreta foi aquele? Vamos aos fatos:
Assim que Honésio recebeu a quantia de “quinhentos mil reais” nas mãos, procurou por Lucinha que, literalmente, passava até fome. Ele chegou lá, na casa dela, todo alinhado e, por ser o rei da comunicação dominou-a com sua lábia.

 - Minha jovem, Lucinha, vim até sua humilde casinha e, lhe afirmo que, enviado por Deus. Se perderes esta bênção, em sete dias conhecerá a ira de Deus, dos anjos, dos santos e de todas as almas penadas que vagam pelo mundo.
Lucinha regala os olhos.
- Ira de Deus? Bênção em sete dias?
- Sim. A bênção é a seguinte: se voltares para o seu marido vai ser próspera e, prova disso é que irá receber uma bolada de “cem mil reais” nos próximos sete dias: passado mais sete dias receberá mais “cem mil” e aí, minha cara, é só alegria. Pode montar seu próprio negócio e sair definitivamente da miséria. É pegar ou largar. Largou?
Lucinha ficou animada e curiosa.
- Espera aí! Não larguei não. Primeiramente, tenho medo da ira de Deus, dos anjos, dos santos e das almas penadas, porém, um dinheirinho desse vai me ajudar muito e, digo mais: pro resto da vida. Meu ex marido nunca me deu um real, senhor. O que devo fazer?
Honésio pensa convincente: “Esta foi fácil demais”.
- Dê um pontapé no traseiro do boy parasita que está convivendo e volte para o seu maridão, pois, ele te ama mais do que a própria vida dele. Pense nele, sonhe com ele, ligue pra ele, chore por ele. Vocês vão pegar um avião com destino a felicidade e, é claro: serão felizes. Importante: mantenha segredo eterno de tudo isso que lhe diz este anjo.
Lucinha arrepiou-se toda.
- O senhor é um anjo?
- Duvidas?
- Não, claro que não.
E, assim, não deu outra: Lucinha dispensou o boy com um pontapé no traseiro e, na seqüência, ligou para Luiz.



Honésio levou “oitocentos mil reais” nesse cambalacho, mas, pelo menos, cumpriu com sua palavra. A cidade pequena de Itapira geralmente, todos conhecem todos e, isso foi moleza para Honésio, um paulistano malandro e bem vivido. 
O importante é que tudo terminou bem. Luiz e Lucinha, hoje se amam pra valer e, quem vive na cola agora é ele que ficou sem um mísero centavo. Lucinha montou um negócio e, Luiz, além de seu marido, também é seu empregado.
Milagre é um evento sobrenatural, inexplicável, que causa estranheza e admiração. Só é entendido como tal pela fé. Obviamente milagres não existem porque seriam contra as leis do universo, da ciência. O que existe é ilusionismo, fé. Muita gente se deixa enganar por crendices religiosas, simpatias, trabalhos de magia e, em muitos casos conseguem bons resultados, porém, isso tudo não passa de mera coincidência.

Honésio usou sua mente brilhante, inteligente e conseguiu unir Luiz e Lucinha. O amor não tem preço e seu endereço é o coração puro cheio de glórias e glórias e, esta é mais uma das minhas histórias.

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domingo, 8 de março de 2015

HORAS DE AFLIÇÃO (14) IRONIA DO DESTINO


Não somos donos do nosso destino. Não sabemos sequer o que pode nos acontecer nos próximos minutos. A vida nos surpreende. Talvez um dia eu possa entender por que tive que ter esse destino em minha vida.
Meu nome é Amanda. Na época, eu tinha apenas três anos de vida. Meus pais Alcides e Alice eram as pessoas que eu mais amava. Eu era chamada pela minha mãe de presente de Deus, porque o sonho dos meus pais era o de ter uma criança. Minha mãe era estéril, não podia engravidar. Ficou surpresa aos quarenta e um anos quando ficou grávida. Nasci bonita, forte e saudável.
A vida poderia lhe roubar tudo, menos eu. Quando eu tinha três anos fui raptada por um casal de estrangeiros no portão da casa onde eu morava, em Navegantes, litoral catarinense, onde nasci. A partir de então, minha vida tomou um outro rumo. Tive um novo nome. Coincidentemente, o mesmo nome de mamãe: Alice.
O casal de portugueses que me raptou, me adotou me deram bons estudos, uma excelente educação e, isso, eu não posso negar. Porém, me raptaram e, isso, não pode ter perdão. É possível uma mãe esquecer que gerou um filho? Que amou este filho e, de repente, o perdeu? Pior do que isso, quantas horas de aflição meus pais passaram devido ao meu desaparecimento? Essa tragédia mexeu com o psicológico deles para sempre. Tirou-lhes muitas e muitas noites de sono. Como perdoar os autores desse crime?
Por outro lado, eu, uma menina na época fui obrigada a me calar. O que meus pais adotivos pensavam era que com o tempo eu iria me esquecer dos meus pais biológicos, porém, nunca os esqueci.
Quando eu tinha dezesseis anos joguei minha educação fora. Queria voltar para meus pais verdadeiros e, por isso, era uma garota revoltada. Por causa disso, apanhei muito deste casal de portugueses. Internaram-me num colégio interno e eu odiei isso. Como se não bastasse, tempos depois, meus pais me colocaram num convento. Fui obrigada a seguir um caminho, um preceito dos quais eu odiava. Como eu era uma moça bonita, já tinha dezoito anos, era virgem, fui abusada sexualmente por Alda, a madre superior daquele convento. Espero que hoje ela esteja queimando no fogo do inferno.

Fugi daquele convento e, a única coisa que eu mais desejava era me vingar de meus pais adotivos. Eu assassinei os dois com uma tesoura. Fui presa, é claro e, no presídio, minhas horas de aflição estavam apenas começando. Não. Eu não queria acreditar que tudo aquilo estava acontecendo comigo. Fui humilhada e torturada durante anos naquele presídio. Não quero me lembrar disso agora.
O tempo passou rápido demais, apesar de parecer para mim uma eternidade. Saí dali, daquele inferno de presídio com quarenta e cinco anos.
 Não tinha para onde ir e muito menos dinheiro para sobreviver. Não tinha amigos e, o meu maior de todos os desejos era poder voltar para o Brasil e rever meus pais, com esperança de que eles ainda estivessem vivos.
Conheci Abel, um amor de português que me ajudou de verdade. Ainda hoje o tenho como meu melhor amigo. Voltei ao Brasil. Quando cheguei a Navegantes, em Santa Catarina, meu coração estava aflito demais. Queria tanto rever meus pais! Não fora tão fácil assim. Fui ao cartório da cidade onde fui registrada e, não lembrava o meu sobrenome. Depois de muitas investigações e, isso durou mais de cinco anos, tive notícias de mamãe. Ela vendeu a grande casa após a morte de meu pai e foi viver em Pouso Alegre, em Minas Gerais. Ela estava num asilo e com o mal de Alzeimer. É muita emoção de mãe e filha que não se vêem há cinqüenta anos. Conversamos muito e prometi voltar naquele asilo para buscá-la. Quando estacionei meu carro, entrei naquele asilo, pude perceber o quanto o destino meu e de mamãe fora irônico. Minha mãe estava morta. Morreu a poucos minutos da minha chegada. Saudades, mamãe.




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sábado, 7 de março de 2015

HORAS DE AFLIÇÃO (12) O DESAPARECIMENTO DE AMANDA


Eu não sei exatamente dizer o que é que pode ser mais triste no percurso dessa nossa vida, que, na regra geral, é curto. Decepcionei-me com a vida, porque ela, que a todos surpreende, surpreendeu-me também, assim, de certa forma que perdi por completo o amor por ela.
Meu nome é Alice. Carrego dentro de mim um sofrimento, uma perda que já dura cinco décadas. Agora é tarde para ser feliz. Não sei se pode haver algo que seja mais triste do que a perda de um ente querido. Pior do que isso é o pesadelo de você não saber o que realmente ocorreu, porque, misteriosamente, este ente querido desapareceu. Nestas horas, você é capaz de pensar em tudo e, isso, atormenta o seu cérebro. Não tem mais um sono tranquilo. São horas de aflição e desespero que nem mesmo o tempo que é o senhor de nossas vidas conseguirá apagar esta memória inesquecível da perda.

Amanda, minha única filha tinha apenas três anos de vida quando desapareceu. Eu não podia engravidar e, ela foi o maior presente que Deus me deu, aos quarenta e dois anos. Nasceu saudável, linda. Por que é que Deus a tirou de mim? Não. Eu não queria acreditar que aquilo estava acontecendo comigo.
Na época, eu morava em Navegantes, litoral de Santa Catarina. Minha casa era grande e muito bonita. Eu e Alcides recebíamos nossos amigos sempre aos finais de semana em nossa casa. Havia um clima muito prazeroso em casa. Alcides assando carne na churrasqueira, rodeado de amigos e bom papo e eu na cozinha preparando o almoço e conversando com minhas amigas. As crianças brincando e, de repente, dei falta de Amanda. Fiquei em pânico e gritei. Tínhamos uma grande piscina e, a primeira coisa que passou na minha cabeça era que ela tivesse caído dentro dela. Alcides, meu marido, pulou na piscina e, o que dizer? Menos mal. Ela não estava ali. Mas, onde estava minha filha, meu Deus?
Era uma tarde de sábado. Jamais hei de esquecer esse dia. Era a folga de Aurora, a babá da minha filha. Que aflição! Amanda não estava em lugar nenhum. Acionamos a polícia e, lamentavelmente, não tivemos nem boas, nem más notícias. Amanda simplesmente desapareceu.
Por causa disso, desse misterioso desaparecimento de Amanda, nunca mais a vida minha e de meu marido foi a mesma. Caímos em depressão e, nem sequer dialogávamos mais. Não recebíamos amigos em nossa casa, enfim, ficamos distantes de todos.
Cinco anos depois do desaparecimento de Amanda, Alcides suicidou-se. Ele tomou grandes doses de remédios controlados e teve uma parada cardíaca. Sei que é estranho eu dizer isso, mas, meu marido não foi um covarde em tirar a sua própria vida. Quem dera eu ter essa coragem que ele teve.
Passaram-se cinqüenta anos. Cinco décadas sem notícia da minha garotinha Amanda. Caso ela estivesse viva estaria com cinqüenta e três anos. Hoje sou uma velha de noventa e dois anos e vivo num asilo.
Numa tarde de sábado, jamais hei de esquecer esse dia, recebi uma visita. Era uma senhora bonita, elegante e muito simpática. Tinha um sotaque português. Abraçou-me e disse-me:
- Sou Amanda, mamãe. Lembra-se de mim?



Choramos muito, mas, muito mesmo. Eu sempre tive esperança de que um dia ela iria aparecer. Coração de mãe não se engana. Ela contou-me tudo em detalhes o que aconteceu naquela tarde de sábado há cinqüenta anos atrás.
Todos esperam um final feliz de uma história, porém, perdoem-me, pois, esqueci de tudo o que ouvi da minha filhinha Amanda. Tenho o mal de Alzheimer, uma doença que faz com que a gente perca levemente a memória.
Amanda foi embora e, não me lembro para onde, mas, prometeu voltar e me tirar deste asilo. Estou esperando-a. Quem sabe tudo isso foi um sonho, não é? Eu não me lembro.



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sexta-feira, 6 de março de 2015

HORAS DE AFLIÇÃO (13) O PACTO




A vida me surpreendeu. Ela é mística demais. Eu queria muito poder voltar atrás e fazer tudo diferente, mas, sei que isso é impossível. O grande mal que causei no passado ficará marcado para todo o sempre.
Meu nome é Alberto e, a minha história é agonizante, terrível. Sempre quis ter fama, sucesso e muito dinheiro. Nasci com um dom excepcional e, este dom foi Deus quem me deu. Compunha músicas de variados estilos e, meu grande sonho era o de ser reconhecido pelo mundo. Isso pode parecer fácil aos olhos dos sonhadores, porém, não é. Paguei um preço muito alto por isso e, não falo em dinheiro. Não sei se todos os famosos passaram por algo semelhante ao que passei, mas, creio piamente hoje que por trás da fama existe o oculto.

Aos 21 anos, eu, um jovem bonito e saudável gravei meu CD. Consegui realizar o meu tão desejado sonho. Minhas músicas fizeram muito sucesso e, é claro, fiquei rico em pouco tempo. Meus fãs não sabiam que, longe do palco, fazendo shows, alegrando-os, eu, por dentro carregava uma tristeza muito grande. Quando eu estava sozinho chorava muito. Precisava tomar antidepressivos, se não, eu não conseguia dormir. Não deixava transparecer minha tristeza aos outros que minha alegria era forçada, de mentira, mas, coração de mãe não se engana e a minha mãe percebia que eu tinha problemas sérios e, queria saber o que me afligia tanto. Morreu sem saber.
Antes da minha fama eu namorava uma linda garota. 
Andréa veio do norte do Paraná para morar em Curitiba, capital do estado, onde me conheceu cantando em barzinho. Foi amor à primeira vista. Apaixonamos-nos. Ela estava desviada de sua igreja evangélica, mas, pretendia voltar e, sempre lhe dizia: “Desde que você não me leve junto, está bom”. Como fui tolo! Sua doutrina era linda e, nem um pouco rígida. Confesso que nunca tinha visto antes um povo tão dócil, amoroso e simpático.
Numa noite, eu estava em meu quarto, deitado, quase dormindo, quando ouvi claramente uma voz soar em meus ouvidos: “Eu posso te ajudar a gravar um CD, a ter muita fama, sucesso e dinheiro”.
Senti um calafrio porque aquela voz era real.
- Quem está falando?
E aquele ser se manifestou. Pude vê-lo e, apesar de sentir muito medo, confesso que nunca tinha visto antes uma criatura tão linda. Ele me falou:
- Sou Lúcifer. Não tenha medo de mim.
- Você é mesmo real. Posso jurar que não estou sonhando.
- Dobre os seus joelhos e me adore.
- Não! Eu não posso fazer isso. Está escrito que devemos adorar somente a Deus.
- Eu não posso te obrigar a me adorar, mas, também não vou te ajudar.
As horas de aflição estavam próximas a me acontecer. Dobrei meus joelhos e perguntei:
- Como faço para te adorar?
- Repita tudo o que vou lhe falar.
E eu repeti:
- Amaldiçôo o espírito santo de Deus e prometo servir e adorar unicamente Lúcifer para todo o sempre.
Fiz isso e agora era tarde para voltar atrás. Saiu sangue das minhas narinas e ouvidos e fiquei apavorado. Aquele sangue foi sugado pelo Diabo.
Não! Eu não queria acreditar que tudo aquilo estava acontecendo comigo.
- Você agora vai me servir porque sou o teu senhor. Quero que tire a vida de sua namorada.
Gritei apavorado:
- Não! Eu a amo e jamais vou fazer isso.
- Se não fizer o que lhe ordeno a fazer, lhe deixarei paralítico sobre uma cadeira de rodas e, morrerá como um miserável e, lembre-se: Você vai acordar no meu reino.
Chorei muito, mas, muito mesmo. Como eu queria que todas àquelas horas de aflição que estava vivendo fossem pesadelos. Mas, eram reais.
O Diabo, aquele que veio para roubar, destruir e matar me explicou como eu deveria matar Andréa sem ter problemas com a justiça. Levou-me em espírito até o local e disse-me:
- Você vai cavar um grande buraco. Vai precisar de uma enxada. Depois de esquartejá-la, enterre-a.
Consegui uma enxada e entrei num matagal à noite e a deixei lá, encostada numa árvore.

No dia seguinte, levei Andréa para acampar naquele grande matagal. Eu estava muito nervoso e, ela não parava de falar em Deus e, aquilo estava me irritando. Dei vários golpes de facadas em seu coração e depois a cortei em pedaços. Friamente cavei o buraco e lancei o corpo em pedaços de Andréa dentro dele.
Minha consciência estava pesada demais. Não. Eu não queria acreditar que tudo aquilo estava acontecendo comigo.
Meus colegas me perguntavam de Andréa e eu dizia que havia voltado para o norte do Paraná.
Dois meses depois, sempre ouvindo as orientações de Lúcifer, gravei meu CD. Passei a fazer muitos shows e o sucesso fora rápido demais. Andréa aparecia constantemente em meus sonhos e, isso, me atormentava. Pedia a Lúcifer que a tirasse dos meus sonhos.
- Não tenho poder para fazer isso. Peça a Deus.
Clamei muito a Deus, o Todo Poderoso para que ele tirasse Andréa dos meus sonhos, mas, isso nunca aconteceu. Eu pertencia ao Diabo.
Contraí o vírus H.I.V (AIDS) e, tinha medo de morrer porque sabia que iria acordar no reino de Satanás, o Diabo. Minha fama acabou, mas, eu tinha muito dinheiro. De que me adiantava aquela maldita fortuna? Eu já estava morto em vida como estou agora.


Adore somente a Deus e desvie-se do mal. Nada, absolutamente nada pode ter mais valor para o Autor de sua vida do que a sua alma. Fama, sucesso, dinheiro, tudo isso, um dia acaba, porém, sua alma é imortal. Terá que dar conta dos seus atos um dia, para Deus. Não pactue com o Diabo nem em sonhos porque você pode se surpreender ao acordar em seu reino.


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