quinta-feira, 22 de maio de 2014

O CELULAR



Maria Lúcia ganhou de seu amoroso pai um belíssimo celular. Ademar, seu irmão caçula e Júlia, sua irmã mais velha ficaram com muita inveja e protestaram: “Se Maria Lúcia tem, queremos ter também”. O pai generoso feito um bolo de pêssego compra para seus filhos mais dois celulares.
Maria Lúcia idolatra tanto seu celular que baba nele falando com seu namorado Nêne. Quem já viu duas bestas conversando sobre imbecilidades?
Ademar com apenas dez anos de vida, tem paixão preferida por mídia. Gravam em seu cartãozinho de memória de oito gibas, as escolhidas pela mídia, ou seja: só músicas insolentes, pedantes, que para curtir tem que ser imbecil e ignorante.
Júlia e sua amiga sapata Tonico dividem o fone de ouvido, mas, não se tocam que incomodam. Dentro de um ônibus circular ficam cantando juntas só músicas imundas. Acham que estão cantando baixinho como os bobinhos.
Por outro lado, a febre do celular contagia o mundo todo. Até o Aroldo tem. Quem? O neném? Tem também. O vírus pega de tal forma que até eu, velha Glória também tem em minha história, porém, sou educada. Se estou dentro de um ônibus circular, eu me toco não deixando tocar, porque fica desligado. Não preciso falar pra Fernando que estou quase chegando, nem pra Matheus servir a Deus, ou pra Aurora deixar o frango de fora do freezer porque Ulisses e Luís Henrique vêm almoçar em casa juntos da tia Adala. Isso é ridículo, geração pobre, fétida e nojenta.
Tudo o que é de mais enjoa e, não deve, nem pode ser uma coisa boa, senão vira balbúrdia, Santa Lúcia. Não sejamos como noias dessa paranoia que nada tem de joia, que só mesmo as nódoas apoiam. Vamos dar glórias, glórias, glórias e glórias e, esta é mais uma das minhas histórias.


Histórias da velha Glória (12)


doutorboacultural.blogspot.com/

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