Fé é um ser muito sentimental. Está no coração de muitos
esperançosos e, caso pudesse, se tivesse todo o poder, com certeza ajudaria a
todos.
Sorte é um ser muito poderoso. Caso quisesse deixaria um mendigo
milionário da noite pro dia, independentemente se este cresse ou não nele.
Sucedeu que numa noite de sábado, numa vila bem pobre da
grande São Paulo, Sorte entra numa igrejinha evangélica bem humilde e fica
admirada ao ver tanta gente orando fervorosamente a Deus. Olha para Fé,
invisível como ele e, pergunta.
- Por que esta gente ora assim tão fervorosamente para Deus?
Fé responde sorrindo.
- Porque esta gente tem fé e, sem fé é impossível agradar a
Deus.
Sorte muito inteligente diz.
- Creio que esse Deus é sábio demais e conhece todos os
pensamentos. Também creio que este Deus não é surdo e nem sádico. Esta gente
chama muito mais que sapos na lagoa pedindo chuva. Acho desnecessário este
clamor que mais parece uma loucura.
Fé diz pacificamente.
- Mas Deus escolheu as
coisas loucas desse mundo para confundir as sábias.
Com o passar dos dias, Sorte entra na casa de cada membro
daquela igreja e fica indignada ao ver tanta miséria. Muitos não tinham sequer
nem o que comerem. Literalmente, passavam até fome. Sobreviviam de fé e, por
isso é que Sorte não ajudou nenhum deles. Deixou que Fé fizesse isso.
Caminhando pelas ruas de São Paulo, Sorte fica observando um
velhinho que acabara de ganhar umas moedas de esmola. Segue aquele velhinho que
entra numa casa lotérica e aposta aquelas moedas num jogo da loteria. Sorte
pensa: “Vou ajudar este velhinho”.
No dia seguinte, quando aquele velhinho vai conferir na casa
lotérica o jogo que apostou, o baque
foi tão forte, por saber que foi o único ganhador da Mega Sena acumulada que
não resistiu: caiu morto no chão. Nisso, um azarado que ali estava, que nunca
ganhou nada na vida, rouba aquele bilhetinho premiado das mãos do falecido
velhinho e sai numa correria de avestruz
daquela casa lotérica. Encontra-se com Azar, seu admirador. É atropelado por um
fuscão preto e morre na hora.
Total engarrafamento naquela avenida devido aquele trágico
acidente. Havia repórteres por todos os lados, muita gente gritando, buzinando
seus carros, porque tinham pressa de chegar às suas casas, enfim, um caos
total.
Dias depois, na Caixa Econômica Federal, aparece Durval que
ninguém sabe de onde veio para receber o prêmio.
Fé muito indignada procura por Sorte.
- Por que fez isso com aquele velhinho? Você esteve na
igrejinha e também na casa dele.
Sorte responde.
- Só quis ajudá-lo. Quem poderia salvá-lo é você que não fez
isso.
- Só não entendo por que você lançou sua sorte para Durval.
Aquele homem é um animal que nem em Deus crê.
- Minha querida, não faço acepção de pessoas como você. Para
a Sorte todos são iguais. Quanto aquele velhinho, até que levou sorte, pois,
morreu na fé e está com Deus. Se Durval é um animal e não crê em Deus, isso é
problema dele. Pode levar azar após sua morte.
Fé significa confiança, crença, credibilidade. É
um sentimento de total crença em algo ou alguém, ainda que não haja nenhum tipo
de evidência que comprove a veracidade da proposição sem causa.
Muitas pessoas movidas pela fé, morrem sem nunca conquistarem
o que tanto almejaram em vida. Por outro lado, a vida é tão mística que
surpreende a todos com bons ou maus acontecimentos.
Fé é um sentimento que enche os corações de esperança. Crer
num mundo melhor, sem violência, sem dúvida, é bom para se viver bem em todos
os sentidos, porém, não basta só crer. Tem que fazer acontecer começando por
aquele que crer.
Sorte é algo inesperado. Nunca se sabe quando ela pode vir a
nosso encontro. É essencial que estejamos preparados para recebê-la, pois, caso
contrário, pode ser morte fatal. Sorte significa destino, fado, acontecimento
casual, que pode ser bom ou mau.
Não é necessário ter fé para se ter sorte, porém, é
necessário ter sorte para alcançar a graça daquilo que pediu com fé. Pense
nisso.
doutorboacultural.blogspot.com/
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