quarta-feira, 14 de maio de 2014

FÉ E SORTE


Fé é um ser muito sentimental. Está no coração de muitos esperançosos e, caso pudesse, se tivesse todo o poder, com certeza ajudaria a todos.
Sorte é um ser muito poderoso. Caso quisesse deixaria um mendigo milionário da noite pro dia, independentemente se este cresse ou não nele.
Sucedeu que numa noite de sábado, numa vila bem pobre da grande São Paulo, Sorte entra numa igrejinha evangélica bem humilde e fica admirada ao ver tanta gente orando fervorosamente a Deus. Olha para Fé, invisível como ele e, pergunta.
- Por que esta gente ora assim tão fervorosamente para Deus?
Fé responde sorrindo.
- Porque esta gente tem fé e, sem fé é impossível agradar a Deus.
Sorte muito inteligente diz.
- Creio que esse Deus é sábio demais e conhece todos os pensamentos. Também creio que este Deus não é surdo e nem sádico. Esta gente chama muito mais que sapos na lagoa pedindo chuva. Acho desnecessário este clamor que mais parece uma loucura.
Fé diz pacificamente.
- Mas Deus escolheu as coisas loucas desse mundo para confundir as sábias.
Com o passar dos dias, Sorte entra na casa de cada membro daquela igreja e fica indignada ao ver tanta miséria. Muitos não tinham sequer nem o que comerem. Literalmente, passavam até fome. Sobreviviam de fé e, por isso é que Sorte não ajudou nenhum deles. Deixou que Fé fizesse isso.
Caminhando pelas ruas de São Paulo, Sorte fica observando um velhinho que acabara de ganhar umas moedas de esmola. Segue aquele velhinho que entra numa casa lotérica e aposta aquelas moedas num jogo da loteria. Sorte pensa: “Vou ajudar este velhinho”.
No dia seguinte, quando aquele velhinho vai conferir na casa lotérica o jogo que apostou, o baque foi tão forte, por saber que foi o único ganhador da Mega Sena acumulada que não resistiu: caiu morto no chão. Nisso, um azarado que ali estava, que nunca ganhou nada na vida, rouba aquele bilhetinho premiado das mãos do falecido velhinho e sai numa correria de avestruz daquela casa lotérica. Encontra-se com Azar, seu admirador. É atropelado por um fuscão preto e morre na hora.
Total engarrafamento naquela avenida devido aquele trágico acidente. Havia repórteres por todos os lados, muita gente gritando, buzinando seus carros, porque tinham pressa de chegar às suas casas, enfim, um caos total.
Dias depois, na Caixa Econômica Federal, aparece Durval que ninguém sabe de onde veio para receber o prêmio.
Fé muito indignada procura por Sorte.
- Por que fez isso com aquele velhinho? Você esteve na igrejinha e também na casa dele.
Sorte responde.
- Só quis ajudá-lo. Quem poderia salvá-lo é você que não fez isso.
- Só não entendo por que você lançou sua sorte para Durval. Aquele homem é um animal que nem em Deus crê.
- Minha querida, não faço acepção de pessoas como você. Para a Sorte todos são iguais. Quanto aquele velhinho, até que levou sorte, pois, morreu na fé e está com Deus. Se Durval é um animal e não crê em Deus, isso é problema dele. Pode levar azar após sua morte.
Fé significa confiança, crença, credibilidade. É um sentimento de total crença em algo ou alguém, ainda que não haja nenhum tipo de evidência que comprove a veracidade da proposição sem causa.
Muitas pessoas movidas pela fé, morrem sem nunca conquistarem o que tanto almejaram em vida. Por outro lado, a vida é tão mística que surpreende a todos com bons ou maus acontecimentos.
Fé é um sentimento que enche os corações de esperança. Crer num mundo melhor, sem violência, sem dúvida, é bom para se viver bem em todos os sentidos, porém, não basta só crer. Tem que fazer acontecer começando por aquele que crer.
Sorte é algo inesperado. Nunca se sabe quando ela pode vir a nosso encontro. É essencial que estejamos preparados para recebê-la, pois, caso contrário, pode ser morte fatal. Sorte significa destino, fado, acontecimento casual, que pode ser bom ou mau.
Não é necessário ter fé para se ter sorte, porém, é necessário ter sorte para alcançar a graça daquilo que pediu com fé. Pense nisso.


 doutorboacultural.blogspot.com/

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