Raquel era uma menininha que tinha um grande sonho: O sonho de ser bailarina. Mas, seus pais eram muito pobres e, não tinham como pagar para ela uma escola de dança. A pobrezinha ficava triste e muito aborrecida com isso. Um dia, quando voltava do colégio para a sua casa, teve uma idéia: “Se eu arrumar um trabalho vou ter dinheiro para pagar um curso de dança”.Coitadinha! Ficou frustrada. Ninguém lhe empregava, pois, afinal, ela tinha apenas nove anos.
Seu pai era servente pedreiro e, quando chovia, não tinha trabalho para ele: sua mãe, uma excelente costureira que adorava trabalhar em casa, só que, muita gente não lhe pagava as costuras, pois, a maioria dos seus fregueses era tão pobre quanto ela. Para completar, os pais de Raquel pagavam aluguel da humilde casa onde moravam, num pau lascado. Aí, danou-se tudo.
A menininha Raquel decidiu procurar as escolas de dança e desabafar sua história, na esperança de darem uma chance para ela. Não teve sorte. Os diretores, professores e proprietários das escolas a achavam bonitinha, talentosa, porém, de graça não, boneca. Mesmo assim, Raquel não desistiu de seu sonho. Escreveu várias cartas para programas de rádio e televisão, porém, não obteve resposta de nenhum deles. Ela ficou muito triste, mas, muito triste mesmo. Opa! Ela lembrou que tinha um cofrinho onde juntava moedinhas que seus pais lhes dava. Teve uma idéia brilhante: abriu seu cofrinho, contou as moedas e foi atrás de comprar um aparelho toca CDS made in Paraguai, que era o mais barato. Entrou em várias lojinhas para pesquisar os valores e, numa delas, encontrou um aparelho que seu dinheiro podia comprar e, ainda lhe sobrava umas moedas. Passou em vários camelôs, pois, ela queria comprar um CD de Ravel. Tinha muito bom gosto, por sinal. Achou e comprou. Foi para sua casa feliz da vida.
Raquel era uma menina inteligente demais da conta, sô! Enquanto seu pai trabalhava dando um duro danado nas obras, sua mãe costurando em casa, o que ela fazia? Ligou seu toca CDS na área de sua casa deixando rolar o “Bolero de Ravel”, sua música preferida e, assim, começou a explorar o seu talento. Dançava feito uma bailarina profissional. Isso chamou a atenção de muitos vizinhos. Ela fazia isso todos os dias, depois de chegar do colégio. Até que um dia, estacionou um carrão de luxo bem em frente da sua casa. Vixi! Era mulher elegante, fina e muito bonita.
- Seus pais estão em casa, menininha?
- Só mamãe.
- Vá chamá-la, por favor.
E, qual não foi a surpresa? Aquela mulher elegante era uma excelente professora de dança e também dona de uma das melhores academias de dança do país. Ofereceu um curso para Raquel inteiramente grátis. Que felicidade! Era tudo o que realmente ela queria.
O tempo passou e, Raquel conseguiu chamar a atenção de grandes celebridades, graças a seu talento. Foi convidada para participar de um festival em Berlim, na Alemanha e, a felicidade completou para ela: Seus pais poderiam acompanhá-la e, todos ficariam no maior e melhor hotel de Berlim sem pagar nada. Era alegria demais.
Chegando à Alemanha, os pais de Raquel ficaram boquiabertos. Nem em sonhos viram um lugar que fosse mais lindo do que aquele. Sentiram-se ricos, ganharam muitos elogios por serem pais de Raquel e, também muitos presentes.
Chegou o grande dia da apresentação de Raquel. Seu pai estava tão nervoso, ansioso que pediu licença à filha para tomar uma pinga. Foi quando Raquel disse:
- De forma alguma, meu pai. Quero que esteja sóbrio neste momento que é tão importante para mim.
E Raquel arrasou em sua primeira apresentação dançando “Bolero de Ravel”. Realmente, ela nasceu para ser artista mesmo. O público aplaudiu tanto, mas, tanto, que deixou Raquel tão emocionada que correu para os braços de seus pais abraçando-os forte, deixando as lágrimas escorrerem de seus olhos.
Pois é, aquela pobre menininha agora era muito rica. Ganhou em primeiro lugar no festival de dança e, teria pela frente, muito trabalho. Raquel passou a ser reconhecida mundialmente. Lembram daquelas escolas de dança no Brasil, que um dia ela foi procurar? Todas elas procuravam Raquel desesperadamente para lhes darem apoio. Apoio? Agora, neném? Raquel Viana Vieira Vilmon não precisava mais daquelas escolas. Agora, ela era reconhecida no mundo inteiro. Agora, era só alegria.
Como seus pais era semi-analfabetos, seria necessário alguém capacitado para cuidar do dinheiro de Raquel que só estava multiplicando-se. Quem melhor do que Ana Martins Moreira de Moraes? Sim! Sua professora fina e elegante que lhe abriu as portas para o sucesso. E, dito e feito. Nas mãos desta grande mulher, o dinheiro cresceu muito mais ainda, porque era bem aplicado.
Antes, moravam de aluguel na periferia de São Paulo. A família residia agora em Alphaville, num condomínio fechado onde só mora magnatas, gente. Fala a verdade: ter dinheiro é bom, não é?
Certo dia, Raquel convocou uma reunião com sua empresária Ana e, o assunto era sério. Raquel andou navegando na internet e ficou comovida com a situação das crianças da Etiópia e, resolveu doar boa parte de seu dinheiro para elas. Só que tinha um, porém: ninguém precisaria saber que tal dinheiro viria dela. Sua empresária se emocionou com tal atitude e, em pouco tempo, muitas crianças etíopes já estavam comendo, bebendo, vestindo-se melhor, regadas com muitos brinquedos também. Raquel ficou muito feliz quando soube disso.
E o tempo passou. Raquel, agora era uma moça muito rica, mas, muito rica mesmo. Uma estrela famosa que conhecia o mundo inteiro e, o mundo a amava muito. Em poucos dias, ela iria com sua empresária para Ásia, participar de Festivais de Dança na Rússia, na China, no Japão e na Coréia.
Numa noite, Dona Conceição, sua mãe, sentiu-se muito mal, não coseguia dormir, pois, estava ansiosa, muito aflita. Precisava falar com a filha Raquel. Foi até o quarto da filha, sentou em sua cama e desabafou.
- Minha filha, ouça o que sua mãe vai lhe dizer: Cancele esta viagem para a Ásia, eu lhe peço isso. Estou sentindo, há dias, em aperto em meu coração e, filha, coração de mãe não se engana. Não vá para a Ásia.
Seu Luís, o pai de Raquel, entra no quarto, naquele instante, olha triste para sua mulher e lhe pergunta:
- {Com quem você está falando, mulher}.
E diz Dona Conceição:
- Ora, estou falando com a nossa filha.
E, mais uma vez, como há alguns anos vinha fazendo, ele a consola:
- Mulher, pelo amor de Deus, Raquel está na China uma hora dessa e está bem. Você está confusa e muito perturbada à toa. Está andando por todos os lados da casa, falando sozinha e chorando. Aquiete-se. Raquel está voltando pra casa em poucos dias.
E, Dona Conceição chora convulsivamente e até grita.
- Ela não vai voltar. Nunca mais teremos nossa filha de volta.
Pois é, que tristeza! {Será que Dona Conceição estava certa em dizer que Raquel nunca mais voltaria para o Brasil, para a sua casa} Estava enganada, mas, não tinha culpa disso, porque estava muito doente. Estava tendo alucinações e, por isso variava muito. Há anos que ela vinha se tratando com os melhores psicólogos, psiquiatras e neurolistas do Brasil e do mundo, porém, seu quadro mais e mais se agravava. Quem estava agora se deprimindo era Raquel, a bailarina. Voltou da Ásia e, decidiu interromper definitivamente a sua carreira, pois, não suportava mais ver o estado de sua mãe, que tanto amava.
Numa manhã, eu, Dr. Boa, recebi em meu consultório, Raquel, uma das celebridades mais linda que já pude conhecer. Ela me contou a sua história num desabafo em lágrimas, pedindo-me ajuda para a sua mãe. É claro que a ajudei, expondo a ela, em poucas palavras, o que realmente deveria ser feito:
“Raquel, sua mãe precisa urgentemente ocupar sua mente. A mudança de vida fora radical demais para ela. Ela, jamais vai habituar-se a este novo tipo de vida que está levando: muito luxo e mordomia; vida de madame. Não são drogas e terapias que vão trazê-la de volta a vida real. Monte uma oficina de costura para ela e verá o que vai acontecer em poucos dias, só isso”.
{Quem diria, hein} Hoje, Dona Conceição não tem mais tempo para ter alucinações, pressentimentos e, portanto, não precisa de medicamentos. Hoje ela trabalha duro em suas costuras e, até mesmo não se importa com alguns caloteiros que não pagam suas costuras. Ela está fazendo exatamente o que sempre gostou: trabalhar. Seu Luís, pai de Raquel, é um velho tranquilo e adora jogar dominó com outros velhinhos na praça. Raquel não interrompeu sua carreira de bailarina, não, porque, adora dançar e, continua linda, exuberante, chamando a atenção de milhares de pessoas com sua dança maravilhosa.
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