Era mais um daqueles dias tristes, cinzentos e nublados. Era
um domingo e, o centro de Curitiba (PR) estava praticamente vazio. Vi muitos
andarilhos, moradores de rua, alguns pedindo moedas e cigarros; outros vândalos
chutando latas ou outros objetos que encontravam pelas ruas. A cidade, naquele
dia, parecia estar virada num caos.
Eu caminhava pelas ruas também sem destino. Entrei na Catedral
da Pça. Tiradentes e, nem sei por
que dobrei meus joelhos se nem tinha fé; tinha dúvidas da existência de
Deus. Senti muita vontade de chorar, meu coração estava aflito, mas, não
consegui derrubar lágrimas dos meus olhos. Saí daquela Catedral e voltei a
caminhar pelas ruas. Entrei no Passeio Público, um imenso jardim,
ideal para relaxar, meditar e tentar esquecer-se dos problemas. Vi muitas
pessoas do bem, casais de namorados, crianças, jovens, idosos, mas, sei lá, todos pareciam estar tristes
assim como eu. Deu-me vontade de fumar e, essa
não, eu estava sem cigarros. Queria tomar um café, mas, também estava sem
moedas.
Fiquei sentado num daqueles bancos e, de repente, avistei de
longe um rosto bastante familiar. Não! Não podia ser minha mãe, pois, ela havia
falecido há muitos anos. Não era possível. Era ela mesma que estava naquele
jardim. Corri a seu encontro, mas, foi em vão: a perdi de vista, ou
simplesmente ela desapareceu. Que estranho!
Sentado num daqueles bancos estava Marivaldo, um colega que
havia falecido há alguns anos. Fiquei confuso, totalmente perturbado e também
com certo medo. Achei a pensar que estava sonhando ou então ficando louco. Aproximei-me
dele e não hesitei em lhe perguntar:
- Você é o Marivaldo?
Ele, com um semblante triste, exatamente o mesmo de quando
morreu, só fez sinal com a cabeça, dizendo que sim, que era o Marivaldo.
- Mas, como pode isso?! Fui a seu velório. Você morreu.
Marivaldo levantou daquele banco, me deu as costas e
caminhou. Fiquei ali perplexo, chocado, sentindo grande opressão. O que afinal
estava acontecendo comigo? Senti extrema necessidade de falar com Deus e, por
isso, voltei para aquela Catedral da Pça Tiradentes. Só havia
dentro dela algumas pessoas e, entre elas, um colega meu de muitos anos. Sim,
Lima estava tão vivo feito eu. Fiquei perturbado de vez porque ele me ignorou,
fingiu não me ver e saiu daquela Catedral.
Meu Deus! Aquele estava sendo o dia mais triste da minha
vida. Dobrei meus joelhos e, desta vez, chorei de verdade. Com meus olhos
fechados, senti o toque de mãos sobre meus ombros e cabeça. Eram meus pais. Eu
tinha certeza disso, mesmo sem abrir meus olhos. Eu estava morto. Não queria
aceitar isso. Saí correndo daquela Catedral atravessando ruas e avenidas, sem
olhar para a direita ou para a esquerda, como fazem os animais. Não se pode
morrer duas vezes, mas, naquela hora, desejei intensamente morrer para sempre.
Nem sei como fui parar no Hospital Cajurú. Lá, vi
meu corpo estirado numa maca e uma enfermeira dizendo para outra:
- Quando o IML vem buscar este corpo? Está morto há horas.
Lembrei que horas atrás estive ali, naquele hospital, com
minha pressão bastante alterada. Tive um derrame cerebral.
Achei que tudo fosse diferente após a morte, porém, não é,
pelo menos para muitos como eu. Só se vê o outro lado da vida, o lado bom,
quando se parte da terra sem dúvidas, crendo na existência de um Criador, de um
Deus, Autor de nossas vidas. Eu, ainda apegado a matéria, as coisas materiais
ainda não sou digno de conhecer outro plano. Terei que vagar aqui mesmo na
terra e, sabendo hoje que estou morto. Confesso que nada, absolutamente nada
pode ser mais triste do que isso.
doutorboacultural.blogspot.com/
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