segunda-feira, 25 de novembro de 2013

ENCONTROS INESPERADOS


Era mais um daqueles dias tristes, cinzentos e nublados. Era um domingo e, o centro de Curitiba (PR) estava praticamente vazio. Vi muitos andarilhos, moradores de rua, alguns pedindo moedas e cigarros; outros vândalos chutando latas ou outros objetos que encontravam pelas ruas. A cidade, naquele dia, parecia estar virada num caos.
Eu caminhava pelas ruas também sem destino. Entrei na Catedral da Pça. Tiradentes e, nem sei por que dobrei meus joelhos se nem tinha fé; tinha dúvidas da existência de Deus. Senti muita vontade de chorar, meu coração estava aflito, mas, não consegui derrubar lágrimas dos meus olhos. Saí daquela Catedral e voltei a caminhar pelas ruas. Entrei no Passeio Público, um imenso jardim, ideal para relaxar, meditar e tentar esquecer-se dos problemas. Vi muitas pessoas do bem, casais de namorados, crianças, jovens, idosos, mas, sei lá, todos pareciam estar tristes assim como eu. Deu-me vontade de fumar e, essa não, eu estava sem cigarros. Queria tomar um café, mas, também estava sem moedas.
Fiquei sentado num daqueles bancos e, de repente, avistei de longe um rosto bastante familiar. Não! Não podia ser minha mãe, pois, ela havia falecido há muitos anos. Não era possível. Era ela mesma que estava naquele jardim. Corri a seu encontro, mas, foi em vão: a perdi de vista, ou simplesmente ela desapareceu. Que estranho!
Sentado num daqueles bancos estava Marivaldo, um colega que havia falecido há alguns anos. Fiquei confuso, totalmente perturbado e também com certo medo. Achei a pensar que estava sonhando ou então ficando louco. Aproximei-me dele e não hesitei em lhe perguntar:
- Você é o Marivaldo?
Ele, com um semblante triste, exatamente o mesmo de quando morreu, só fez sinal com a cabeça, dizendo que sim, que era o Marivaldo.
- Mas, como pode isso?! Fui a seu velório. Você morreu.
Marivaldo levantou daquele banco, me deu as costas e caminhou. Fiquei ali perplexo, chocado, sentindo grande opressão. O que afinal estava acontecendo comigo? Senti extrema necessidade de falar com Deus e, por isso, voltei para aquela Catedral da Pça Tiradentes. Só havia dentro dela algumas pessoas e, entre elas, um colega meu de muitos anos. Sim, Lima estava tão vivo feito eu. Fiquei perturbado de vez porque ele me ignorou, fingiu não me ver e saiu daquela Catedral.
Meu Deus! Aquele estava sendo o dia mais triste da minha vida. Dobrei meus joelhos e, desta vez, chorei de verdade. Com meus olhos fechados, senti o toque de mãos sobre meus ombros e cabeça. Eram meus pais. Eu tinha certeza disso, mesmo sem abrir meus olhos. Eu estava morto. Não queria aceitar isso. Saí correndo daquela Catedral atravessando ruas e avenidas, sem olhar para a direita ou para a esquerda, como fazem os animais. Não se pode morrer duas vezes, mas, naquela hora, desejei intensamente morrer para sempre.
Nem sei como fui parar no Hospital Cajurú. Lá, vi meu corpo estirado numa maca e uma enfermeira dizendo para outra:
- Quando o IML vem buscar este corpo? Está morto há horas.
Lembrei que horas atrás estive ali, naquele hospital, com minha pressão bastante alterada. Tive um derrame cerebral.
Achei que tudo fosse diferente após a morte, porém, não é, pelo menos para muitos como eu. Só se vê o outro lado da vida, o lado bom, quando se parte da terra sem dúvidas, crendo na existência de um Criador, de um Deus, Autor de nossas vidas. Eu, ainda apegado a matéria, as coisas materiais ainda não sou digno de conhecer outro plano. Terei que vagar aqui mesmo na terra e, sabendo hoje que estou morto. Confesso que nada, absolutamente nada pode ser mais triste do que isso.




doutorboacultural.blogspot.com/

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