quinta-feira, 28 de novembro de 2013

O HOMEM MAIS CARIDOSO DO MUNDO


Genival, sem dúvida, foi o homem mais caridoso que conheci em toda a minha vida. Um sertanejo que, por mérito, ficou rico graças a seu trabalho de servente pedreiro e, também por ganhar sozinho o prêmio da mega sena acumulado.
Podem reparar: quando um pobre do tipo cheirando a peidos fica rico, geralmente, fica nojento. O sujeito antes que era assim tão humilde feito um chinelo ou uma conga; que arrotava em silêncio por respeitar os surdos, agora virou num sujeito insuportável, arrogante que acha que tudo sabe e que tudo pode.
Com Genival, tudo foi diferente. Se ele já era bom, sua bondade por pouco não ultrapassou o sétimo céu onde mora Deus.

Pensem num homem bom. Aquele da fala mansa, vagarosa, carinhosa. Um homem que paga um táxi para atravessar uma velhinha no cruzamento das avenidas; que, por misericórdia, ajuda os cegos, surdos e aleijados do mundo inteiro. Aquele homem que quando olha para um cãozinho de rua virando latas de lixo a procura de comida e, o pega e leva-o para uma churrascaria para comer um espeto corrido com direito a Coca-Cola e sobremesa. Grande Genival.
Genival casou com uma linda mulher. Genilda filha de sertanejos alagoanos nasceu na Alemanha, país de primeiro mundo. Lá, a galegada a chamava de Frida e, ela se sentia nos céus, Cidadã alemã, te mete.
Genival e Frida moravam numa das maiores fazendas da Europa, na Alemanha.

Sucedeu que, um dia, Abelardo (não o Barbosa), amigo de infância de Genival apareceu por lá. Abelardo veio do Brasil, não sabe como e, queria rever o amigo Genival.
O que?! Quando Genival viu o estado lastimável do amigo Abelardo deu-lhe um abraço prolongado que durou, no mínimo uns quarenta minutos e, só rolava lágrimas dos olhos de ambos. Que amizade linda! Frida chega de repente e, solta um peido e, finalmente, os amigos conversam.
- Que saudades de você, meu amigo irmão Abelardo, enviado por Deus em minhas terras.
Abelardo meio tímido revela o motivo de estar ali.
- Estou carente de tudo, meu amado Genival. Literalmente, estou quebrado e fodido.
Genival aperta bem forte as mãos do amigo Abelardo e diz:
- Eu sou a solução para todos os seus problemas amigo irmão. Vou tirá-lo dessa perrenga de vida que tu levas, agora. Venha comigo.
Genival leva Abelardo para dentro do casarão e o hospeda numa das maiores suítes.
- Tem até freezer nesta suíte amigo. Tudo o que está aqui é teu. Abra as portas daquele guarda-roupas.
Abelardo abre uma das portas do imenso guarda-roupas e fica bobo, que até baba e chora. Tinha até sobretudo dentro dele. E voltam a se abraçar e chorar por uns quarenta minutos até aparecer Frida soltando um peido. E eles voltam a conversar.
- Na verdade, amado Genival, estou muito endividado no Brasil. Devo até um litro de conhaque alcatrão pro Lula e uma Sidra pra Dilma.
Genival sorri.
- Isso é muito pouco, amigo irmão.
- Meu aluguel de “duzentão” está atrasado há três meses.
Genival sorri.
- Isso é muito pouco, amigo irmão.
- Estou usando uma cueca há seis meses e, não posso lavá-la porque não consigo comprar outra; doido pra tomar um café alemão, mas, que seja preto.
Genival manda Frida preparar um café alemão, porém preto. Eles se abraçam e choram até que Frida aparece com o café na bandeja e solta mais um peido.
- Pois é, meu amigo irmão Abelardo, quanto é que tu precisas de dinheiro ao todo para saldar tuas dívidas?
- Creio que uns dois mil reais, dá.
Genival da um sorriso amoroso para o amigo Abelardo e diz:
- Lhe darei “dois milhões de reais” fora a tua passagem de ida e volta: Alemanha e Brasil, Brasil e Alemanha. Mas, tu prometes que volta?
Vichi! Quem desta vez solta um peido de pura emoção é Abelardo.
- É claro que eu volto, meu amado, mas, eu não queria lhe incomodar e...
Genival sorri sonolento feito um maluco chapado de maconha e diz:
- Incomodar? Jamais, meu amigo irmão. Caso não queiras morar aqui mais eu e minha mulher Frida, lhe darei uma fazenda com um castelo aqui próximo.
Abelardo se coça todo e não consegue tirar seus olhos maliciosos das pernas de Frida. Genival pergunta:
- Quer mais alguma coisa, amigo irmão?
Abelardo sabendo que tudo o que pedisse ao amigo Genival ganharia, então, foi direto.
- Eu queria passar só uma noite com tua mulher Frida para tirar meu estresse, sabe? Relaxar um pouco, entende?
Genival da um sorriso misericordioso e, calmamente tira de seu bolso um revólver de calibre 38 e dispara seis tiros certeiros na cabeça do ex-amigo irmão Abelardo.
- Frida?! Frida é minha, seu louco. Vá pro inferno que teu caixão e enterro são por minha conta, abutre.
Que final trágico teve Abelardo! Pois é, com isso, chegamos à conclusão de que caridade também tem limites, não é?



doutorboacultural.blogspot.com/

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