quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A REDE


Edir como muitos homens, também tinha sonhos e, a maioria das pessoas que o conhecia achava que seu sonho era fácil demais de se realizar, pois, afinal, ele só queria comprar uma rede.
Com o passar do tempo, parentes e vizinhos chegaram à conclusão de que Edir não passava de um tremendo vagabundo, porque o tranqueira não queria trabalhar não. Roubava o dinheirinho de sua avó velhinha que o guardava debaixo do colchão; ia pros botecos tomar cachaça e contar mentiras, etc. Xii! Esse cara era um pilantra.
Edir arrumou um trabalho e isso surpreendeu a todos que o conhecia. Parou até de beber e afirmava a todos que, um dia, seria alguém na vida. Saía de domingo a domingo de sua casa, maltrapilho, de chinelo nos pés calejados, enfim, o povo dizia que aquele coitado estava de certo trabalhando numa obra, ou quem sabe na roça, sabe-se lá. Nada disso. O pilantra ia aos postos de gasolina manguear os caminhoneiros com sua triste história:

- Moço, pelo amor de Deus, estou juntando uns trocados de um e de outro porque o meu único objetivo na vida é comprar uma rede. Olhe só os meus pés que situação miserável que estão.
Como Edir era bastante obeso, o povo ficava com pena dele e o ajudava. Às vezes, até ia pro seu bolso notas graúdas de R$ 50 e R$ 100 reais. E o descarado, lacraia, ordinário e vagabundo, além de um excelente ator, até simulava um choro:
- Só preciso descansar. Olhem só o meu estado. Mal consigo andar.
Edir ia manguear também nas rodoviárias das cidades e, por incrível parecer, como neste mundo tudo pode acontecer, o pilantra estava ficando rico. Não precisava mais roubar o dinheirinho de sua avó velhinha. Fez diferente: a internou num asilo dos bons e, quem pagava as contas era ele.
O tempo passou e Edir já tinha uma coleção de carros, casas, apartamentos e morava numa belíssima mansão no Morumbi, bairro nobre de São Paulo. Às vezes, fazia viagens longas tipo de São Paulo a Manaus e, sua história era sempre a mesma:
- Moço, pelo amor de Deus, estou juntando uns trocados de um e de outro porque o meu único objetivo na vida é comprar uma rede. Olhe só os meus pés que situação miserável que estão.
Dizem que aquilo que está em oculto um dia é descoberto e também que a mentira tem pernas curtas e, talvez, isso seja até verdade. Edir foi pego em flagrante pela polícia do Paraná no aeroporto Afonso Pena, situado em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba. O delegado ficou sem palavras e não pôde prendê-lo, o que surpreendeu o mundo.
- Seu delegado, nunca menti quando disse ao povo que meu único objetivo na vida era o de comprar uma rede. Hoje já tenho esse dinheiro e, além de comprar uma rede de televisão, pretendo também comprar uma rádio. Passe bem e até logo. Estarei no canal 171 e mandarei para ti e família e a todo esse povão bom de coração que me ajudou um abraço.
Não é que Edir comprou uma rede mesmo, Sô? E com o dinheiro do povo. Eu morro e ainda assim não vejo tudo.



doutorboacultural.blogspot.com/

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