Genival, sem dúvida, foi o homem mais caridoso que conheci em
toda a minha vida. Um sertanejo que, por mérito, ficou rico graças a seu
trabalho de servente pedreiro e, também por ganhar sozinho o prêmio da mega
sena acumulado.
Podem reparar: quando um pobre do tipo cheirando a peidos fica rico, geralmente, fica nojento. O sujeito
antes que era assim tão humilde feito um chinelo ou uma conga; que arrotava em
silêncio por respeitar os surdos, agora virou num sujeito insuportável,
arrogante que acha que tudo sabe e que tudo pode.
Com Genival, tudo foi diferente. Se ele já era bom, sua
bondade por pouco não ultrapassou o sétimo céu onde mora Deus.
Pensem num homem bom. Aquele da fala mansa, vagarosa,
carinhosa. Um homem que paga um táxi para atravessar uma velhinha no cruzamento
das avenidas; que, por misericórdia, ajuda os cegos, surdos e aleijados do
mundo inteiro. Aquele homem que quando olha para um cãozinho de rua virando
latas de lixo a procura de comida e, o pega e leva-o para uma churrascaria para
comer um espeto corrido com direito a Coca-Cola e sobremesa. Grande Genival.
Genival casou com uma linda mulher. Genilda filha de
sertanejos alagoanos nasceu na Alemanha, país de primeiro mundo. Lá, a galegada
a chamava de Frida e, ela se sentia nos céus, Cidadã alemã, te mete.
Genival e Frida moravam numa das maiores fazendas da Europa, na Alemanha.
Sucedeu que, um dia, Abelardo (não o Barbosa), amigo de infância
de Genival apareceu por lá. Abelardo veio do Brasil, não sabe como e, queria
rever o amigo Genival.
O que?! Quando Genival viu o estado lastimável do amigo
Abelardo deu-lhe um abraço prolongado que durou, no mínimo uns quarenta minutos
e, só rolava lágrimas dos olhos de ambos. Que amizade linda! Frida chega de
repente e, solta um peido e, finalmente, os amigos conversam.
- Que saudades de você, meu amigo irmão Abelardo, enviado por
Deus em minhas terras.
Abelardo meio tímido revela o motivo de estar ali.
- Estou carente de tudo, meu amado Genival. Literalmente,
estou quebrado e fodido.
Genival aperta bem forte as mãos do amigo Abelardo e diz:
- Eu sou a solução para todos os seus problemas amigo irmão.
Vou tirá-lo dessa perrenga de vida
que tu levas, agora. Venha comigo.
Genival leva Abelardo para dentro do casarão e o hospeda numa
das maiores suítes.
- Tem até freezer nesta suíte amigo. Tudo o que está aqui é
teu. Abra as portas daquele guarda-roupas.
Abelardo abre uma das portas do imenso guarda-roupas e fica
bobo, que até baba e chora. Tinha até sobretudo dentro dele. E voltam a se
abraçar e chorar por uns quarenta minutos até aparecer Frida soltando um peido.
E eles voltam a conversar.
- Na verdade, amado Genival, estou muito endividado no
Brasil. Devo até um litro de conhaque alcatrão pro Lula e uma Sidra pra Dilma.
Genival sorri.
- Isso é muito pouco, amigo irmão.
- Meu aluguel de “duzentão” está atrasado há três meses.
Genival sorri.
- Isso é muito pouco, amigo irmão.
- Estou usando uma cueca há seis meses e, não posso lavá-la
porque não consigo comprar outra; doido pra tomar um café alemão, mas, que seja
preto.
Genival manda Frida preparar um café alemão, porém preto.
Eles se abraçam e choram até que Frida aparece com o café na bandeja e solta
mais um peido.
- Pois é, meu amigo irmão Abelardo, quanto é que tu precisas
de dinheiro ao todo para saldar tuas dívidas?
- Creio que uns dois mil reais, dá.
Genival da um sorriso amoroso para o amigo Abelardo e diz:
- Lhe darei “dois milhões de reais” fora a tua passagem de
ida e volta: Alemanha e Brasil, Brasil e Alemanha. Mas, tu prometes que volta?
Vichi! Quem desta vez solta um peido de pura emoção é
Abelardo.
- É claro que eu volto, meu amado, mas, eu não queria lhe
incomodar e...
Genival sorri sonolento feito um maluco chapado de maconha e
diz:
- Incomodar? Jamais, meu amigo irmão. Caso não queiras morar
aqui mais eu e minha mulher Frida, lhe darei uma fazenda com um castelo aqui
próximo.
Abelardo se coça todo e não consegue tirar seus olhos
maliciosos das pernas de Frida. Genival pergunta:
- Quer mais alguma coisa, amigo irmão?
Abelardo sabendo que tudo o que pedisse ao amigo Genival
ganharia, então, foi direto.
- Eu queria passar só uma noite com tua mulher Frida para
tirar meu estresse, sabe? Relaxar um pouco, entende?
Genival da um sorriso misericordioso e, calmamente tira de
seu bolso um revólver de calibre 38 e dispara seis tiros certeiros na cabeça do
ex-amigo irmão Abelardo.
- Frida?! Frida é minha, seu louco. Vá pro inferno que teu
caixão e enterro são por minha conta, abutre.
Que final trágico teve Abelardo! Pois é, com isso, chegamos à
conclusão de que caridade também tem limites, não é?
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