Jacó era um homem de muita sorte na vida. Tudo o que fazia
dava certo. Saudável como uma goiaba
comia de tudo e nada lhe fazia mal. Pai de família, casado com Lília, tinha
duas filhas: Virgília e Emília.
Jacó trabalhava como eletricista. Sem dúvida, um trabalho
muito perigoso. Ele emendava fios de luz nos postes e, haja sorte: escapou da
morte. Viu dois colegas de trabalho morrer eletrocutados e estavam a seu lado.
Decidiu mudar de ramo depois desta.
Arrumou um bom emprego: segurança de banco. Que moleza de
trampo! Cidade interiorana, repleta de caipiras bacanas, pacífica como as águas
do oceano de um poeta alagoano. A hora do almoço era sagrada para Jacó. Meio
dia ia almoçar em casa com sua família.
Sucedeu que, num dia, no que Jacó sai do banco, ocorre muito
espanto, horror e pranto: quatro assaltantes, provavelmente vindos de cidades
grandes invadem aquele banco e, muitos gritos, tiros e tiros que matam e deixam
muitos feridos. Decidiu mudar de ramo depois desta.
Jacó muito bem habilitado consegue um emprego como motorista
de viagem. Não queria mais nada do que passear pelas estradas. De Minas ao Rio,
do Rio a Minas e, ele voltava à sua casa para folgar dois dias com sua família.
Sucedeu que numa noite quando ele conduzia o ônibus para o
Rio, (olha o perigo) cochilou na direção. Veio em contramão, bem em sua
direção, (olha o perigo) um caminhão. Quando algo tem de acontecer,
simplesmente acontece e, não adianta fazer preces para aqueles que padecem e,
(olha o perigo) Jacó conseguiu desviar daquele caminhão que vinha do Rio e
caiu, coincidentemente num rio. Quem conduzia o caminhão era Liu, que fazia
dupla com Léo. Pois é, foi pro beleléo.
Morreu como também morrem os judeus.
Jacó ficou muito assustado depois deste episódio que viveu,
que presenciou que decidiu mudar de ramo. Afinal, vinha mais uma boquinha na família. Que maravilha! Sua
mulher Lília, branca feita à neve com leite de coco estava grávida de uma
menina que daria o nome de Cecília.
Jacó trabalhava agora numa grande fazenda como capataz de
Barrabás, um sujeito negro que tinha Jacó por seu braço direito.
Barrabás gosta tanto dos serviços de Jacó que lhe dá uma casa
em sua imensa fazenda. O que Jacó ia querer mais, Barrabás? Leitinho puro de
vacas e cabras, manteiguinha no pão, arroz e feijão, frutas de todos os tipos
e, isso inclui o figo, enfim, nova vida para ele e para a sua querida família.
Numa manhã de domingo, (olha o perigo) o galo cantou, a bolsa
de Lília estourou, (olha o perigo) e Cecília nasceu saudável feita uma pera. Quem fez o parto de Lília foi
Leonardo, um dos empregados de Barrabás.
O que deu errado, meu Deus? Só porque a neném nasceu pretinha? Não era questão de preconceito, mas, Jacó e Lília eram branquinhos, caçamba! Jacó ficou tão nervoso, mas, tão nervoso que chorou feito um bezerro apaixonado. Para aliviar tanta emoção resolveu tomar uma pinga. Na sequência mais uma, depois outra. Bebeu tanto, mas, tanto que quando voltava para sua casa, escorrega numa casca de banana e leva um tombo tão feio que, lastimavelmente, (olha o perigo) bate com a cabeça numa pedrinha traiçoeira e morre. Coitado! Que final de vida mais bobo.
O que deu errado, meu Deus? Só porque a neném nasceu pretinha? Não era questão de preconceito, mas, Jacó e Lília eram branquinhos, caçamba! Jacó ficou tão nervoso, mas, tão nervoso que chorou feito um bezerro apaixonado. Para aliviar tanta emoção resolveu tomar uma pinga. Na sequência mais uma, depois outra. Bebeu tanto, mas, tanto que quando voltava para sua casa, escorrega numa casca de banana e leva um tombo tão feio que, lastimavelmente, (olha o perigo) bate com a cabeça numa pedrinha traiçoeira e morre. Coitado! Que final de vida mais bobo.
“O perigo pode estar num marido, num amigo inimigo, num ente
querido, num tigre ferido, num abrigo, num caso mal resolvido, num remédio
vencido, num pudim amanhecido; num herói, num bandido, numa mulher, num pé,
numa fé, num café; num barranco, num trampo, num canto, num santo, num banco;
num volante, num instante, numa estante, numa Rita irritante, num alto falante,
num ignorante, num assaltante, num homem elegante, num mosquito, num elefante. Numa
sobra, numa cobra, numa dobra, numa fofoca, numa paçoca; num cortiço, num
comício, num início, num precipício, num vício, num elogio, num bolo prestígio;
numa ilha, numa maravilha, no seio de uma família e também numa Cecília. Não
importa se para muitos esta vida é torta, é morta. “Que soltem seus pintos da
gaiola porque a hora da vitória é agora e deem glórias e glórias e, esta é mais
uma das minhas histórias”.
doutorboacultural.blogspot.com/
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