Um andarilho de tanto andar, chega num
lugar bem afastado da cidade. Uma gigantesca mata
que mais lembrava uma selva. Decide viver lá até o término de sua vida.
Avista uma casa. Sim, uma única casa no
meio daquela grande mata, com um cachorro amarrado que, sai de sua casinha e
late furioso ao sentir a presença daquele andarilho. Bate palmas várias vezes e
desiste. Não havia ninguém naquela casa.
O cachorro late, late, e, pelos latidos do
bicho, sem dúvida, ele estava com muita raiva daquele andarilho ou de qualquer
passarinho que chegasse próximo de seu portão, ou seja: do portão que ele
achava ser dele.
Havia uma grande árvore bem de frente
aquela casa e, o andarilho senta debaixo dela e decide tirar um cochilo. O
cachorro não parava de latir. O andarilho cochila, acaba se ferrando no sono e,
o cachorro latindo. Quatro horas depois, o andarilho acorda e o cachorro
latindo. “Como pode um bicho
desses sobreviver de tanta raiva?” –
Pensa o andarilho.
O cachorro só fazia uma pausa em seus latidos para comer sua ração (que tinha muita) e beber água e, depois, voltava a latir.
O andarilho tira de seu grande saco de
plástico uns pães, um litro grande de água e faz sua
refeição e, o cachorro latindo.
Cai à noite e o andarilho dorme ouvindo
aqueles latidos impertinentes daquele cachorro. Acorda de madrugada com uma
forte tempestade de chuva e, não se conforma com a cena que vê: o cachorro, ao
invés de se abrigar em sua casinha, molha-se todo na chuva e continua latindo. “Uma curiosidade: será que enquanto
durmo, esse bicho também dorme?” –
Pensa o andarilho.
A tempestade de chuva passa e o andarilho
todo molhado volta a dormir e o cachorro latindo. Acorda com um lindo dia de
sol, faz sua refeição e, o cachorro latindo que, também faz uma pausa para
comer e beber e, depois volta a latir.
Passam dias e algumas semanas e, a ração e
água daquele cachorro acabam e, mesmo assim, ele continua latindo. A água do
andarilho também acaba e ele tinha apenas um único pãozinho duro e acaba
dividindo com aquele cachorro que come com raiva e depois volta a latir. “Mal agradecido. Sua raiva é maior
que sua fome”. – pensa o
andarilho.
O andarilho é picado por um escorpião e
não consegue levantar-se do chão devido a muita dor. Ele queria achar alimento
nas redondezas para si e também para aquele cachorro que não parava de latir.
Sentiu fortes dores de cabeça, febre muito alta e dormiu ouvindo de longe os
latidos daquele cachorro.
O andarilho morre e morre também aquele
cachorro. Não se sabe até hoje qual dos dois morreu primeiro.
Um ano depois, o dono daquela casa chega
e, já esperava, é claro, não encontrar Rex, seu cachorro vivo. Dobra seus
joelhos diante da caveira de Rex e chora muito.
Minutos depois, o sujeito olha para aquela
árvore e, bem debaixo dela, vê uma caveira. Chega próximo dela.
- Seria homem ou seria mulher esta praga?
Quem sabe não foi este monstro que matou meu cachorro. Movido de pura raiva,
aquele sujeito pega um machado e dá várias machadadas sobre a caveira do
andarilho, destruindo-a de vez para sempre.
A raiva é o pior de todos os sentimentos que um ser humano ou
animal possa ter no percurso de suas vidas. Viver com raiva é como morrer na
dor e, não existe dor que seja maior do que a raiva, aquela que destrói tudo
por dentro causando grandes moléstias e intenso sofrimento. Nossas vidas são
almas, nossas almas são glórias e glórias e, esta é mais uma das minhas
histórias.
doutorboacultural.blogspot.com/
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