Meu nome é Jessé
e, hoje confesso que passei os momentos, as horas de aflição mais tensas que
uma pessoa possa imaginar.
Tudo começou numa
balada funk onde cheguei totalmente
embriagado de vinho e chapado de crack na
cabeça. Não me lembro ao certo das idiotices que lá falei para os meus
colegas. Briguei com alguns rapazes, não me lembro por qual motivo e, quando
dei por mim, eu estava caído e ensanguentado no banheiro daquele baile. Eu
estava imóvel, não conseguia sequer, piscar meus olhos ou então mexer com um
dos meus dedos das mãos ou dos pés. Estava ciente, podia ouvir nitidamente as
pessoas falarem e o som alto do funk.
- Ele está morto.
Foi assassinado.
Mas, eu não estava
morto. Como explicar isso? Alguns homens seguranças daquele baile me recolheram
do chão.
- É melhor que a
polícia não saiba disso, se não, vai sobrar pra gente.
- Vamos nos livrar
de seu corpo.
Que aflição! Eu
queria poder dizer a eles que estava vivo. Pelos fundos daquele baile, havia
uma porta que dava saída para o estacionamento. Jogaram-me no porta-malas de um
carro e fiquei ali, creio que, por algumas horas. O carro começou a rodar e eu
só ouvia risos e mal pude entender o que eles, (ou quanto eram eles) diziam.
Depois de rodar por uns quarenta minutos (calculei) o carro parou. Eu estava
gelado e duro, mas, vivo. Jogaram-me num rio, como se eu fosse um saco de lixo.
Na queda, bati gravemente com minha cabeça e, ainda assim, eu continuava vivo,
sem poder me mexer. Senti a água poluída daquele rio entrar em minhas narinas e
boca e meus pulmões incharem pelo excesso de água e, finalmente, desejei a
minha morte. Achei que meus pulmões iam estourar, mas, não foi isso o que
aconteceu. Eu estava sobrevivendo a tudo aquilo, sem entender como. Senti
bichos sobre o meu corpo, comendo a minha carne. Tudo aquilo me doía demais,
mas, não era tão doloroso como a forte dor que eu sentia em minha cabeça. Perdi
a noção do tempo. Escutei vozes, mas, não pude ver mais nada. Eu estava
completamente cego, mas, pior que isso: vivo. Recolheram o meu corpo, levando-o
para o Instituto Médico Legal e, lá me deixaram na geladeira. Logo meu corpo
foi identificado pela minha mãe que chorava em desespero.
Não. Isso não
poderia estar acontecendo comigo: meu corpo estava, horas depois, sendo velado.
Ouvi muito choro da minha mãe, dos meus irmãos e entes queridos e, só queria ao
menos, poder mexer um dos meus órgãos para chamar a atenção deles e perceberem
que eu estava vivo. O caixão foi fechado e, eu não queria acreditar que aquilo
estava acontecendo comigo. Não. Eu não estava morto. Fiquei asfixiado dentro
daquele caixão e, aí sim, pensei que em questão de minutos eu iria apagar de
vez. Isso não aconteceu. Eu continuava vivo. Entendi que aquilo era catalepsia,
uma doença que deixa os membros moles, sem contrações. Provavelmente foi da
minha intoxicação com álcool e drogas. Desceram meu caixão a sete palmos
debaixo da terra e, adeus. Fui enterrado vivo. Quando o coveiro jogou a
primeira pá de terra sobre o caixão, consegui mover meus dedos e,
sucessivamente, cada órgão do meu corpo. Gritei muito alto, mas, ninguém pode me
ouvir. Seria impossível eu sair dali daquele caixão lacrado, há sete palmos
debaixo da terra. Lutei muito pela minha vida, mas, muito mesmo, porém, tudo
foi em vão. Meu tempo acabou e, felizmente, não queria que fosse desta forma,
mas, descansei de verdade.
Dizem que coração
de mãe não se engana e, de fato, o coração da minha mãe não se enganou. Ela
conseguiu convencer o coveiro para me desenterrar, porque pressentia que eu
estava vivo. Já era tarde, mamãe! Quando meu caixão foi aberto, confesso que
fiquei atemorizado: eu estava com um semblante agonizante. Minha mãe e todos
que ali estavam puderam ver como debati dentro daquele caixão para sobreviver.
Ignore as
drogas, caso tenha amor e respeito pela vida. Tudo o que ela é capaz de lhe
oferecer é uma “vida ilusória repleta de sonhos mentirosos”. A vida de verdade
tem um valor incalculável e infinito. Você, que é usuário de drogas só vai
valorizar a vida quando perde-la como eu. Nem mesmo sei hoje onde estou, mas,
eu desejaria estar aí em terra viva com todos aqueles que me amavam e eu os
ignorava por via da maldita droga. Só se vive uma única vez. Pense nisso.
Postado por
Marvin Di Capri
doutorboacultural.blogspot.com/
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