segunda-feira, 28 de julho de 2014

HORAS DE AFLIÇÃO



Meu nome é Jessé e, hoje confesso que passei os momentos, as horas de aflição mais tensas que uma pessoa possa imaginar.
Tudo começou numa balada funk onde cheguei totalmente embriagado de vinho e chapado de crack na cabeça. Não me lembro  ao certo das idiotices que lá falei para os meus colegas. Briguei com alguns rapazes, não me lembro por qual motivo e, quando dei por mim, eu estava caído e ensanguentado no banheiro daquele baile. Eu estava imóvel, não conseguia sequer, piscar meus olhos ou então mexer com um dos meus dedos das mãos ou dos pés. Estava ciente, podia ouvir nitidamente as pessoas falarem e o som alto do funk.
- Ele está morto. Foi assassinado.
Mas, eu não estava morto. Como explicar isso? Alguns homens seguranças daquele baile me recolheram do chão.
- É melhor que a polícia não saiba disso, se não, vai sobrar pra gente.
- Vamos nos livrar de seu corpo.
Que aflição! Eu queria poder dizer a eles que estava vivo. Pelos fundos daquele baile, havia uma porta que dava saída para o estacionamento. Jogaram-me no porta-malas de um carro e fiquei ali, creio que, por algumas horas. O carro começou a rodar e eu só ouvia risos e mal pude entender o que eles, (ou quanto eram eles) diziam. Depois de rodar por uns quarenta minutos (calculei) o carro parou. Eu estava gelado e duro, mas, vivo. Jogaram-me num rio, como se eu fosse um saco de lixo. Na queda, bati gravemente com minha cabeça e, ainda assim, eu continuava vivo, sem poder me mexer. Senti a água poluída daquele rio entrar em minhas narinas e boca e meus pulmões incharem pelo excesso de água e, finalmente, desejei a minha morte. Achei que meus pulmões iam estourar, mas, não foi isso o que aconteceu. Eu estava sobrevivendo a tudo aquilo, sem entender como. Senti bichos sobre o meu corpo, comendo a minha carne. Tudo aquilo me doía demais, mas, não era tão doloroso como a forte dor que eu sentia em minha cabeça. Perdi a noção do tempo. Escutei vozes, mas, não pude ver mais nada. Eu estava completamente cego, mas, pior que isso: vivo. Recolheram o meu corpo, levando-o para o Instituto Médico Legal e, lá me deixaram na geladeira. Logo meu corpo foi identificado pela minha mãe que chorava em desespero.
Não. Isso não poderia estar acontecendo comigo: meu corpo estava, horas depois, sendo velado. Ouvi muito choro da minha mãe, dos meus irmãos e entes queridos e, só queria ao menos, poder mexer um dos meus órgãos para chamar a atenção deles e perceberem que eu estava vivo. O caixão foi fechado e, eu não queria acreditar que aquilo estava acontecendo comigo. Não. Eu não estava morto. Fiquei asfixiado dentro daquele caixão e, aí sim, pensei que em questão de minutos eu iria apagar de vez. Isso não aconteceu. Eu continuava vivo. Entendi que aquilo era catalepsia, uma doença que deixa os membros moles, sem contrações. Provavelmente foi da minha intoxicação com álcool e drogas. Desceram meu caixão a sete palmos debaixo da terra e, adeus. Fui enterrado vivo. Quando o coveiro jogou a primeira pá de terra sobre o caixão, consegui mover meus dedos e, sucessivamente, cada órgão do meu corpo. Gritei muito alto, mas, ninguém pode me ouvir. Seria impossível eu sair dali daquele caixão lacrado, há sete palmos debaixo da terra. Lutei muito pela minha vida, mas, muito mesmo, porém, tudo foi em vão. Meu tempo acabou e, felizmente, não queria que fosse desta forma, mas, descansei de verdade.
Dizem que coração de mãe não se engana e, de fato, o coração da minha mãe não se enganou. Ela conseguiu convencer o coveiro para me desenterrar, porque pressentia que eu estava vivo. Já era tarde, mamãe! Quando meu caixão foi aberto, confesso que fiquei atemorizado: eu estava com um semblante agonizante. Minha mãe e todos que ali estavam puderam ver como debati dentro daquele caixão para sobreviver.


Ignore as drogas, caso tenha amor e respeito pela vida. Tudo o que ela é capaz de lhe oferecer é uma “vida ilusória repleta de sonhos mentirosos”. A vida de verdade tem um valor incalculável e infinito. Você, que é usuário de drogas só vai valorizar a vida quando perde-la como eu. Nem mesmo sei hoje onde estou, mas, eu desejaria estar aí em terra viva com todos aqueles que me amavam e eu os ignorava por via da maldita droga. Só se vive uma única vez. Pense nisso.


Postado por Marvin Di Capri
doutorboacultural.blogspot.com/

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