Teba
era um nordestino porreta, trabalhador, “pau pra toda a obra”.
Casado
com Tiba com quem tinha oito filhos. Pagava aluguel numa casinha feia num
cortiço onde moravam mais umas doze famílias. Só havia um banheiro pra toda
essa gente e, isso era um problema sério.
Teba
era um excelente borracheiro e chegava a sua casa de segunda a sexta sempre as
noitinhas. Tirava seus botinões de borracha e os urubus faziam campo de aviação
no telhado de sua casa; pois, é! O sujeito tinha um chulé praga que deixava sua
mulher e filhos dopados.
O grande sonho de Teba era
ganhar na loteria para tirar sua família da boca da miséria. Tiba era doméstica
do próprio lar e, por sinal, muito caprichosa. Deixava sua casa perfumadinha e
com os panelões de arroz e feijão
prontos para a chegada de Teba, que trazia sempre uma mistura diferente. Tiba e
seus oito filhos pulavam feitos os cangurus tanta alegria. E olha que essa
família comia, meus!
Tuba
era a cadela da família. Feia, magra feito uma cana, ficava em sua casinha no
quintal e amarrada. A bichinha era
bravinha. Latia a noite toda. Bastava o galo soltar um peido, e pronto. Latia tanto que acordava até as galinhas que
costumam acordar cedo. Que cadelinha chata e mal educada, meus!
Teba
jogava todos os dias na loteria na esperança de ganhar, é claro. Todas as
noites, após tomar seu banho, ele sentava no sofá úmido, fedido, suado e velho
e ficava conferindo suas apostas. Sua esposa Tiba estava cansada de ver tantos
bilhetinhos de apostas espalhados pela casa e, protestava para o marido.
-
Pare com isso, Teba! Todo tipo de jogo é do diabo! É tudo combinado. Pobre não
ganha não.
Teba
era fanho e, quando ficava nervoso, era difícil de entendê-lo.
-
Fun fala festeira, fulhé! Fun fia feu fô
fanha.
Talvez
ele quisesse dizer: “Não fala besteira, mulher! Um dia eu vou ganhar”.
E
Tiba ficava aperreada.
-
Vai ganhar nada, filho de uma égua sem patas! Pense na conguinha da Julinha. A bichinha ta indo pra escola só de meias, por
causa que nem uma porreta chineleta
da fé, ela tem para calçar em seus pés.
Teba
não parava de conferir as apostas.
-
Fofê fun fabe Fo Fe fala, fulhé. Fun fia
fou fanha fa foteria Fe famos fodos ficá ficos.
Talvez
ele quisesse dizer: “Você não sabe o que fala mulher. Um dia vou ganhar na
loteria e vamos todos ficar ricos”.
E
Tiba ficava atentada.
-
Vai ganhar nada, filho de brinquedo do cão! Pense na cueca de Jozéca. O coitado
ta cagando na calça e a trouxa aqui
lava...
De
repente, opa! Vixi! Pra que segredos? Tem horas na vida que só uns peidos. Teba soltou logo uma peidorreira de primeira categoria de
tanta alegria. Soltou até sua cadela. Ele e sua família pulavam feita pulga na
bunda de gordo. Era alegria demais, Sô! Socou a coitada da geladeira velha que
pifou na hora; chutou as panelas e mandou seu fogão pro espaço; o sofá ele deu
pro vizinho Josafá que só gostava de sentar; de tanta alegria deu uma surra da
peste em toda a sua família. Teba ficou louco, gente. No meio de toda aquela
confusão, roupas, alimentos e objetos espalhados pelo chão, epa Jureba! Cadê o abençoado bilhetinho
premiado? Teba ficou duplamente nervoso.
-
Fo filhete fava faqui. Fonde foi Fe foi
farar fele?
Talvez
ele quisesse dizer: “O bilhete tava aqui. Onde foi que foi parar ele?”
E
Tiba puxava seus próprios cabelos e dizia chorando.
-
Eu não sei. Sei não eu. Não sei eu. Eu sei não. Sei eu não.
Teba
estava quase tendo um infarto. Arregalou seus olhos gordos e, sua família e
mais as dozes do cortiço ficaram em silêncio total. Todos ouviram um som tipo
assim: “RESKROSKRASKRASGUE”.
Xiii!!
A cadelinha Tuba brincando há horas com o bilhetinho que virou picadinhos. Teba pegou sua espingarda,
deu três tiros pro alto e disse:
-
Feu fou fatar fessa fadela.
De
certo a cadela Tuba entendeu: “Eu vou matar essa cadela”. Tuba saiu numa
correria da peste e Teba foi atrás.
Tiba,
calmamente pega pedacinho por pedacinho daquele bilhetinho e cola,
pacificamente, enquanto Teba corria atrás de Tuba. Não é que Tiba conseguiu
colar bonitinho aquele bilhetinho, meus?!
Foi
receber o prêmio na Caixa Econômica e, o gerente lhe diz, com pena.
-
Sinto muito, senhora! Não posso lhe pagar é nada por esse bilhete todo colado.
A montagem da colagem ficou perfeita, mas, peraí!
To vendo uns números aqui que não são os premiados. Este bilhete não é o
premiado, minha senhora.
Ela
ficou muito feliz com essa notícia. Voltou pra casa, deu um abraço em Teba que
não parava de chorar e ela tentava consolá-lo.
-
Marido lindo, não chore homem.
E
Teba responde.
-
Feu fão five foragem fe fatar Fuda. Fela
fesma fulou fo fio. Fadinha! Ferá fe felá forreu fou fá fida?
Talvez
ele quisesse dizer: “Eu não tive coragem de matar Tuba. Ela mesma pulou no rio.
Tadinha! Será que ela morreu ou ta
viva?”
E
Tiba estava alegre demais.
-
Deixa essa peste de cadela pra lá, homem! To pra dizer a maior: aquele
bilhetinho que Tuba picou todos com os dentes não era o premiado. Fui até a
Caixa Econômica e...
Teba
soltou um peido emocionado.
-
Fulhé! Famos frocurar fireito fesse
filhete.
Acho
que ele quis dizer: “Mulher! Vamos procurar direito esse bilhete”.
E
reviraram toda a casinha e nada. Procuraram por tudo, menos no bolso da camisa
de Teba. Ele mesmo foi quem achou. Estava tão fácil.
-
Fa faqui, Fachei fo filhetinho fremiado.
Talvez
ele quisesse dizer: “Ta aqui. Achei o bilhetinho premiado”.
Que
final feliz teve Teba e sua família, gente! O cabra, inteligentemente, ganhou sozinho uma bolada acumulada da
Mega Sena e, não queria ir muito longe não. Comprou o cortiço, fez mais uns
banheiros, reformou sua casinha e continuou a morar lá.
E
para alegria das crianças quem vinha lá, abanando o rabinho? Tuba. E pereba da muleka, Sô!
doutorboacultural.blogspot.com/
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