quarta-feira, 30 de julho de 2014

EM TUDO DAI GRAÇAS

A vida tem seus altos e baixos, porém, tem pessoas que, lamentavelmente, não vingam na vida. Tudo o que fazem da errado. 
Assim acontecia com Leonardo, um sujeito azarado demais. Teve oito filhos lindos e saudáveis, os quais morreram todos de uma só vez, vítimas de um ciclone.
Sempre nessas horas de intensa dor e sofrimento que Leonardo passava, vinha um velhinho em seu caminho (só Deus sabe de onde) para lhe consolar.
- Em tudo daí graças, amado Leonardo.
Leonardo com os olhos lacrimosos dizia:
- Como posso dar graças? Perdi meus oito filhos amados de uma só vez. Morreram todos.
- Mas, ainda tem sua mulher, amado Leonardo. Vocês são jovens, saudáveis e, a vida continua. Podem ter muitos outros filhos. Alegre-se. Deus recolheu seus oito filhos porque, sem dúvida, tinha um plano para com eles. Deus sabe o que faz. Em tudo daí graças.
Ester, a linda mulher de Leonardo a trai com outra mulher. Com a própria cunhada, ou seja: com Leonarda, irmã gêmea de Leonardo.
Leonardo chora muito, porque amava demais sua mulher Ester.

 E vinha aquele velhinho novamente em seu caminho lhe consolar.
- Em tudo daí graças, amado Leonardo.
- Como posso dar graças? Minha mulher traiu-me com minha própria irmã.
- Talvez, ela não era pra ser sua. Deus sabe o que faz. Em tudo daí graças.
Leonardo pagava aluguel da casa onde morava e, para sobreviver, tinha que trabalhar muito. Tudo bem que agora não tinha mais mulher e filhos para sustentar, mas, mesmo assim, tinha que dar um duro danado. Nem pão de mel cai do céu e, aluguel, é aluguel.

Leonardo trabalhava como pintor e, sucedeu que um dia, quando estava pintando a parede de um prédio por fora, de repente, um abutre defeca bem em cima de sua cabeça e ele se assusta. Pior do que isso: cai do décimo terceiro andar e, milagrosamente sobrevive. Fica em coma hos

pitalar entre a vida e a morte, porém, sobrevive. Dias depois, recebe a visita daquele velhinho.


- Em tudo daí graças, amado Leonardo.

Leonardo estava indignado demais.

- Como posso dar graças? Perdi minhas duas pernas e um braço. Estou internado aqui há três meses sem saber o que está acontecendo lá fora.

- Lá fora está tudo igual, amado. Não entendemos os desígnios de Deus, porém, creia: Ele quer sempre o melhor para nós. Você perdeu duas pernas e um braço, porém, Deus poupou a sua vida porque tem um plano com você. Alegre-se! Você ainda tem um braço, uma cabeça, um pescoço, uma bunda, etc., e está vivo, amado.

O velhinho vai embora e, Leonardo fica ali no leito hospitalar questionando com Deus, o porquê de estar sofrendo tanto assim.

Recebe a visita de um pastor político que lhe presenteia com uma cadeira de rodas. Leonardo só precisava assinar alguns papéis e, como ainda tinha um braço, fez isso e pronto. Ganhou a cadeira e, três dias depois, alta hospitalar e foi para casa. Casa? Que casa? Chegando lá, decepciona de vez: havia outros moradores.

Uma alagoana vem lhe atender no portão.

- Pois é, seu cadeirante, esta casa foi abandonada e, o proprietário gostou tanto de mim e de meus doze filhos que, por sinal, são todos trabalhadores que, encarecidamente, alugou para mim, que paguei um ano adiantado.

Leonardo fica preocupado.

- Peraí! E os meus móveis? As minhas coisas?

- Fiquei sabendo que, o proprietário doou tudo para um pastor político.

Leonardo só desejava morrer naquela hora. Desta vez, chora com ódio. Conduzindo sua cadeira de rodas, encontra pelo caminho, aquele velhinho.


- Em tudo daí graças, amado Leonardo.

Leonardo estava muito revoltado.

- Como posso dar graças, enviado de Deus ou do Diabo? Olhe só o estágio do estado que cheguei. Como se não bastasse, além de perder tudo, não tenho mais moradia.

- Alegre-se, amado. Ainda tem uma cadeira e, de rodas. Procure uma assistência social. Será bem recebido. Tomará um bom banho, um cafezinho quente e, amanhã descobrirá que o mundo é colorido como nos sonhos do nenê. Isso não é lindo?

Leonardo procura uma assistência social e, chega lá, todo defecado. Precisava urgentemente que alguém lhe desse uma assistência.

- Mocinha, acabei de defecar. Olhe só o meu estado. Você pode me ajudar?

Que azar! A mocinha chuta tão forte aquela cadeira de rodas que Leonardo cai dela.

- Sai pra lá, seu verme!

E nesse hora chove muito forte. Leonardo caído no chão, defecado e todo molhado, desejava morrer. Pior do que isso: um ladrão ainda rouba a sua cadeira de rodas.


E aquele velhinho aparece em seu caminho.

- Em tudo daí graças, amado Leonardo.

- Como posso dar graças? Olhe só o meu estado. Não tenho mais nada.

O velhinho lhe dá um guarda chuva.

- Agora tem um guarda chuva e pode segurá-lo porque tem um braço. Não seja tão pessimista, amado.

Leonardo com muito ódio da vida, segura aquele guarda chuva.

- O que mais me falta acontecer?

De repente, vem um caminhão em alta velocidade e, acontece um terrível acidente. O velhinho escapa porque da um pulinho de gato para trás, porém, Leonardo morre na hora e, da pior forma: Morre com o bico do guarda chuva espetado em seu reto para se ter uma ideia de quão terrível foi o acidente. Que morte horrível!


O velhinho misterioso chora e diz, olhando para o corpo esfacelado de Leonardo. 

Nem tudo na vida é engraçado, portanto, é desnecessário dar graças a tudo. Dar graça para a desgraça é como aceitar a derrota. É deteriorar a memória, dizendo tolices como ora que melhora e ficar dando glórias e glórias e, esta é mais uma das minhas histórias.



(HISTÓRIAS DA VELHA GLÓRIA 1)


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segunda-feira, 28 de julho de 2014

HORAS DE AFLIÇÃO



Meu nome é Jessé e, hoje confesso que passei os momentos, as horas de aflição mais tensas que uma pessoa possa imaginar.
Tudo começou numa balada funk onde cheguei totalmente embriagado de vinho e chapado de crack na cabeça. Não me lembro  ao certo das idiotices que lá falei para os meus colegas. Briguei com alguns rapazes, não me lembro por qual motivo e, quando dei por mim, eu estava caído e ensanguentado no banheiro daquele baile. Eu estava imóvel, não conseguia sequer, piscar meus olhos ou então mexer com um dos meus dedos das mãos ou dos pés. Estava ciente, podia ouvir nitidamente as pessoas falarem e o som alto do funk.
- Ele está morto. Foi assassinado.
Mas, eu não estava morto. Como explicar isso? Alguns homens seguranças daquele baile me recolheram do chão.
- É melhor que a polícia não saiba disso, se não, vai sobrar pra gente.
- Vamos nos livrar de seu corpo.
Que aflição! Eu queria poder dizer a eles que estava vivo. Pelos fundos daquele baile, havia uma porta que dava saída para o estacionamento. Jogaram-me no porta-malas de um carro e fiquei ali, creio que, por algumas horas. O carro começou a rodar e eu só ouvia risos e mal pude entender o que eles, (ou quanto eram eles) diziam. Depois de rodar por uns quarenta minutos (calculei) o carro parou. Eu estava gelado e duro, mas, vivo. Jogaram-me num rio, como se eu fosse um saco de lixo. Na queda, bati gravemente com minha cabeça e, ainda assim, eu continuava vivo, sem poder me mexer. Senti a água poluída daquele rio entrar em minhas narinas e boca e meus pulmões incharem pelo excesso de água e, finalmente, desejei a minha morte. Achei que meus pulmões iam estourar, mas, não foi isso o que aconteceu. Eu estava sobrevivendo a tudo aquilo, sem entender como. Senti bichos sobre o meu corpo, comendo a minha carne. Tudo aquilo me doía demais, mas, não era tão doloroso como a forte dor que eu sentia em minha cabeça. Perdi a noção do tempo. Escutei vozes, mas, não pude ver mais nada. Eu estava completamente cego, mas, pior que isso: vivo. Recolheram o meu corpo, levando-o para o Instituto Médico Legal e, lá me deixaram na geladeira. Logo meu corpo foi identificado pela minha mãe que chorava em desespero.
Não. Isso não poderia estar acontecendo comigo: meu corpo estava, horas depois, sendo velado. Ouvi muito choro da minha mãe, dos meus irmãos e entes queridos e, só queria ao menos, poder mexer um dos meus órgãos para chamar a atenção deles e perceberem que eu estava vivo. O caixão foi fechado e, eu não queria acreditar que aquilo estava acontecendo comigo. Não. Eu não estava morto. Fiquei asfixiado dentro daquele caixão e, aí sim, pensei que em questão de minutos eu iria apagar de vez. Isso não aconteceu. Eu continuava vivo. Entendi que aquilo era catalepsia, uma doença que deixa os membros moles, sem contrações. Provavelmente foi da minha intoxicação com álcool e drogas. Desceram meu caixão a sete palmos debaixo da terra e, adeus. Fui enterrado vivo. Quando o coveiro jogou a primeira pá de terra sobre o caixão, consegui mover meus dedos e, sucessivamente, cada órgão do meu corpo. Gritei muito alto, mas, ninguém pode me ouvir. Seria impossível eu sair dali daquele caixão lacrado, há sete palmos debaixo da terra. Lutei muito pela minha vida, mas, muito mesmo, porém, tudo foi em vão. Meu tempo acabou e, felizmente, não queria que fosse desta forma, mas, descansei de verdade.
Dizem que coração de mãe não se engana e, de fato, o coração da minha mãe não se enganou. Ela conseguiu convencer o coveiro para me desenterrar, porque pressentia que eu estava vivo. Já era tarde, mamãe! Quando meu caixão foi aberto, confesso que fiquei atemorizado: eu estava com um semblante agonizante. Minha mãe e todos que ali estavam puderam ver como debati dentro daquele caixão para sobreviver.


Ignore as drogas, caso tenha amor e respeito pela vida. Tudo o que ela é capaz de lhe oferecer é uma “vida ilusória repleta de sonhos mentirosos”. A vida de verdade tem um valor incalculável e infinito. Você, que é usuário de drogas só vai valorizar a vida quando perde-la como eu. Nem mesmo sei hoje onde estou, mas, eu desejaria estar aí em terra viva com todos aqueles que me amavam e eu os ignorava por via da maldita droga. Só se vive uma única vez. Pense nisso.


Postado por Marvin Di Capri
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BILHETINHO PREMIADO

Teba era um nordestino porreta, trabalhador, “pau pra toda a obra”.

 Casado com Tiba com quem tinha oito filhos. Pagava aluguel numa casinha feia num cortiço onde moravam mais umas doze famílias. Só havia um banheiro pra toda essa gente e, isso era um problema sério.
Teba era um excelente borracheiro e chegava a sua casa de segunda a sexta sempre as noitinhas. Tirava seus botinões de borracha e os urubus faziam campo de aviação no telhado de sua casa; pois, é! O sujeito tinha um chulé praga que deixava sua mulher e filhos dopados.
O grande sonho de Teba era ganhar na loteria para tirar sua família da boca da miséria. Tiba era doméstica do próprio lar e, por sinal, muito caprichosa. Deixava sua casa perfumadinha e com os panelões de arroz e feijão prontos para a chegada de Teba, que trazia sempre uma mistura diferente. Tiba e seus oito filhos pulavam feitos os cangurus tanta alegria. E olha que essa família comia, meus! 
Tuba era a cadela da família. Feia, magra feito uma cana, ficava em sua casinha no quintal e amarrada. A bichinha era bravinha. Latia a noite toda. Bastava o galo soltar um peido, e pronto. Latia tanto que acordava até as galinhas que costumam acordar cedo. Que cadelinha chata e mal educada, meus!
Teba jogava todos os dias na loteria na esperança de ganhar, é claro. Todas as noites, após tomar seu banho, ele sentava no sofá úmido, fedido, suado e velho e ficava conferindo suas apostas. Sua esposa Tiba estava cansada de ver tantos bilhetinhos de apostas espalhados pela casa e, protestava para o marido.
- Pare com isso, Teba! Todo tipo de jogo é do diabo! É tudo combinado. Pobre não ganha não.
Teba era fanho e, quando ficava nervoso, era difícil de entendê-lo.
- Fun fala festeira, fulhé! Fun fia feu fô fanha.
Talvez ele quisesse dizer: “Não fala besteira, mulher! Um dia eu vou ganhar”.
E Tiba ficava aperreada.
- Vai ganhar nada, filho de uma égua sem patas! Pense na conguinha da Julinha. A bichinha ta indo pra escola só de meias, por causa que nem uma porreta chineleta da fé, ela tem para calçar em seus pés.
Teba não parava de conferir as apostas.
- Fofê fun fabe Fo Fe fala, fulhé. Fun fia fou fanha fa foteria Fe famos fodos ficá ficos.
Talvez ele quisesse dizer: “Você não sabe o que fala mulher. Um dia vou ganhar na loteria e vamos todos ficar ricos”.
E Tiba ficava atentada.
- Vai ganhar nada, filho de brinquedo do cão! Pense na cueca de Jozéca. O coitado ta cagando na calça e a trouxa aqui lava...
De repente, opa! Vixi! Pra que segredos? Tem horas na vida que só uns peidos. Teba soltou logo uma peidorreira de primeira categoria de tanta alegria. Soltou até sua cadela. Ele e sua família pulavam feita pulga na bunda de gordo. Era alegria demais, Sô! Socou a coitada da geladeira velha que pifou na hora; chutou as panelas e mandou seu fogão pro espaço; o sofá ele deu pro vizinho Josafá que só gostava de sentar; de tanta alegria deu uma surra da peste em toda a sua família. Teba ficou louco, gente. No meio de toda aquela confusão, roupas, alimentos e objetos espalhados pelo chão, epa Jureba! Cadê o abençoado bilhetinho premiado? Teba ficou duplamente nervoso.
- Fo filhete fava faqui. Fonde foi Fe foi farar fele?
Talvez ele quisesse dizer: “O bilhete tava aqui. Onde foi que foi parar ele?”
E Tiba puxava seus próprios cabelos e dizia chorando.
- Eu não sei. Sei não eu. Não sei eu. Eu sei não. Sei eu não.
Teba estava quase tendo um infarto. Arregalou seus olhos gordos e, sua família e mais as dozes do cortiço ficaram em silêncio total. Todos ouviram um som tipo assim: “RESKROSKRASKRASGUE”.
Xiii!! A cadelinha Tuba brincando há horas com o bilhetinho que virou picadinhos. Teba pegou sua espingarda, deu três tiros pro alto e disse:
- Feu fou fatar fessa fadela.
De certo a cadela Tuba entendeu: “Eu vou matar essa cadela”. Tuba saiu numa correria da peste e Teba foi atrás.
Tiba, calmamente pega pedacinho por pedacinho daquele bilhetinho e cola, pacificamente, enquanto Teba corria atrás de Tuba. Não é que Tiba conseguiu colar bonitinho aquele bilhetinho, meus?! 
Foi receber o prêmio na Caixa Econômica e, o gerente lhe diz, com pena.
 


- Sinto muito, senhora! Não posso lhe pagar é nada por esse bilhete todo colado. A montagem da colagem ficou perfeita, mas, peraí! To vendo uns números aqui que não são os premiados. Este bilhete não é o premiado, minha senhora.
Ela ficou muito feliz com essa notícia. Voltou pra casa, deu um abraço em Teba que não parava de chorar e ela tentava consolá-lo.
- Marido lindo, não chore homem.
E Teba responde.
- Feu fão five foragem fe fatar Fuda. Fela fesma fulou fo fio. Fadinha! Ferá fe felá forreu fou fá fida?
Talvez ele quisesse dizer: “Eu não tive coragem de matar Tuba. Ela mesma pulou no rio. Tadinha! Será que ela morreu ou ta viva?”
E Tiba estava alegre demais.
- Deixa essa peste de cadela pra lá, homem! To pra dizer a maior: aquele bilhetinho que Tuba picou todos com os dentes não era o premiado. Fui até a Caixa Econômica e...
Teba soltou um peido emocionado.
- Fulhé! Famos frocurar fireito fesse filhete.
Acho que ele quis dizer: “Mulher! Vamos procurar direito esse bilhete”.
E reviraram toda a casinha e nada. Procuraram por tudo, menos no bolso da camisa de Teba. Ele mesmo foi quem achou. Estava tão fácil.
- Fa faqui, Fachei fo filhetinho fremiado.
Talvez ele quisesse dizer: “Ta aqui. Achei o bilhetinho premiado”.
Que final feliz teve Teba e sua família, gente! O cabra, inteligentemente, ganhou sozinho uma bolada acumulada da Mega Sena e, não queria ir muito longe não. Comprou o cortiço, fez mais uns banheiros, reformou sua casinha e continuou a morar lá.


E para alegria das crianças quem vinha lá, abanando o rabinho? Tuba. E pereba da muleka, Sô!





Postado por Marvin Di Capri


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