segunda-feira, 31 de março de 2014
MINHA LINDA
Quanto tempo faz que não almoças, minha linda?
Eis que comerás hoje comigo.
Eis que almoçarás e jantarás hoje comigo, minha linda.
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O GRANDE AMOR DA MINHA VIDA
Gente, sinceramente, o amor não é lindo? Como diz, Marvin: “O
amor não escolhe sexo, idade, nem raça cor ou religião. Se acha no caos da
multidão, se perde no azul de roda a ilusão”.
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domingo, 30 de março de 2014
PAI AMOROSO
Napoleão Espada era, sem dúvida, um grande homem. Anão
extremamente educado, gentil, natural do Brasil. Tinha uma fala mansa, pacífica
que agradava a todos, com exceção aos apressadinhos.
Dádiva, sua única mulher lhe deu vinte e quatro filhos. Deu
tanto a luz que ficou cega. Filhos e filhas formosos, saudáveis. Coisas lindas.
João, o caçula de Napoleão puxou o pai, pelo menos na
estatura. Era anão também. O que chamava a atenção de todos os bundólatras (aqueles que gostam de
bundas) era o tamanho da bunda desse anão. Para os pernilongos, aquela bunda
era o paraíso.
Nesse mundo tem muita gente maligna. João perdeu a sua bunda.
Peraí! Mas, como?! Sim, perdeu aquela
substância rica, aquela carne de primeira, aquele paraíso. Mas, como?!
Lee, um chinês mafioso, muito maldoso, era também um
especialista em bundas e, quando viu aqui no Brasil (um país onde tudo se vê)
aquela bunda, já deu um sinal para os integrantes de sua máfia:
- 採取的屁股
Ou seja, ele quis dizer: Peguem essa bunda.
Lan, mulher de Lee, era semelhante a uma tábua como a maioria
dos chineses. Quem já viu uma tábua com bunda? Pois é, não existe. A cirurgia
foi um sucesso. A bunda de João agora estava implantada em Lan. “Sorria, você
está sendo filmada”. (Que frase estúpida).
O bom filho a casa
torna. João voltou
para a sua casa sem bunda, gente. Puns e
fezes saíam agora de seu pipí. Que
horror! Que ciência mais avançada é esta! Quando Napoleão, o anão, pai de João
também anão, viu seu filho sem bunda, ficou indignado.
- O que é isso, meu filho? Onde deixou sua bunda?
João chorando conta tudo a seu pai. Napoleão Espada, sem
dúvida, era um grande homem. Deu sua bunda para seu filho. Que pai amoroso,
gente!
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sexta-feira, 28 de março de 2014
GAROTA REBELDE
Pensem numa adolescente rebelde, gente. Numa garota linda,
com um espírito de grilo deprimido e velho; numa criatura que só ri da desgraça
dos outros, tipo: ver uma velhinha escorregar numa casca de bananas, cair e quebrar
sua espinha; um padre deixar escapar um peido (sem querer, é claro) bem na hora
da missa, naquela parte da pausa pro silêncio; um anão cair e se afogar dentro
de um vaso sanitário, enfim, assim era Fabíola, uma garota rebelde.
Fabíola não curtia sexo e, muito pelo contrário: achava que
todo o ser vivo era sem vergonha, menos ela, é claro. Quando via uma transa
sexual da barata macho com a barata fêmea, dizia com ódio nos olhos.
- Que podridão dos demônios! Será que Deus, o Criador se
diverte com isto? Assim trabalha a natureza. Desta sacanagem viriam ovinhos e
mais baratinhas. Viriam.
Fabíola pegava a chineleta da vovó e esmagava as baratas.
- Morram, suas inúteis.
Ferdinando, o pai de Fabíola era um homem tranqüilo e, por
sinal, muito amoroso para com sua filha rebelde. Ele dizia cada coisa linda
para Fabíola.
- Minha filha, não fique triste. Lembre-se: o pôr-do-sol
ainda existe.
Fabíola irritada como os pernilongos etíopes que queriam
sugar um sangue com mais substância olha para o seu pai diz:
- Eu queria ser uma jiboia, aquela cobra grande e grossa para ter
o prazer de engoli-lo vivo. Odeio saber (ainda bem que não me lembro) da forma
que me trouxe ao mundo, seu sem vergonha.
Ferdinando com aquela fala mansa, pacífica de Jó diz:
- Minha querida, você veio ao mundo como todos os anjinhos
vêm. Foi fazendo amor com sua mamãe que nasceu esse fruto abençoado, ou essa
fruta, se preferir que é você.
Fabíola nervosa feita uma mosca velha querendo pousar no bolo,
porém, não pode porque o bolo acabou de sair do forno, responde.
- Enigma do Diabo! Ninguém faz amor. O que rola é sexo. É
veia dura no buraco molhado, fétido e maligno. Eu me odeio por saber que saí
dessa veia, entrei neste buraco sujo e fui mês além, depois voltei para esse
mesmo buraco e hoje estou aqui. Ainda bem que não me lembro disso.
Ferdinando com aquele olhar doce de cão que olha para um osso
de frango, diz:
- Tudo foi criado por Deus, filhinha. Deus é lindo e sabe o
que faz.
Fabíola cega de ódio como Tiago louro, responde.
- Você é a pior coisa que Deus já fez. É infantil. É um
psicopata. Vou dar um jeito de processar você.
Ferdinando chora.
- Meu mel, me adoce.
Fabíola irritada feita uma cadela no cio, sabendo que não tem
mais cachorros na vila por causa da carrocinha, chuta o bumbum do papai.
- Suma da minha vida sua nódoa. Vou matá-lo da pior forma que
nenhum ser humano ainda teve essa ideia.
Ferdinando fica preocupado feito um piolho na cabeça de um
calvo, que é fácil de pegá-lo.
- Como filhinha?
Fabíola tranqüila feita uma pomba muçulmana diz:
- Vou deixá-lo vivo. Vai vazar daqui de casa feita merda
grossa de vaso sanitário de primeira.
Coitado de Ferdinando, gente! Vazou mesmo. E ele era um homem
tão amoroso para com a sua filhinha.Nunca deu sequer um tapinha na bundinha
dela.
Edimala, mãe de Fabíola, fica triste com a atitude guerreira
da filha.
- Por que expulsou teu papy de casa, meu anjo?
Fabíola com olhar de loba obcecada diz para sua mãe:
- Me aguarde, velha maldita. Você será a próxima vítima.
Vixi! Que garota rebelde, gente!
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quinta-feira, 27 de março de 2014
VILA DOS PRAZERES
Dona Vicentina era uma mulher já bastante idosa. Dizia a
todos que lhes perguntavam que tinha setenta e cinco anos, mas, na verdade, ela
estava beirando quase um século de existência.
O interessante da vida e mal também, é claro, que quando a
carne humana envelhece ao ponto de apodrecer ainda em vida, aqueles que são
jovens, que ainda têm carne de primeira, querem se livrar da podridão. Pois é
exatamente que os filhos e os netos de Dona Vicentina fizeram com ela. Botaram
a velha num asilo, dando um perdido na coitada para sempre.
Dona Vicentina, apesar de ser muito religiosa, tinha dentro
de si um espírito de galinha. Sentia ainda, apesar de sua avançada idade. Frescurinhas,
o mesmo desejo que sente uma mocinha. Esperta como uma gata ladra que rouba o filézão de peixe das mãos de uma
menininha ingênua, bobinha, ela fugiu do asilo, localizado na cidade de Cerro Azul,
interior do Paraná.
Dona Vicentina sentia fortes desejos carnais e, antes que seu
coração pifasse de vez, queria era mais curtir o doce do mel ou da cana de açúcar
que a vida pudesse oferecê-la. Sonhava muito com uma Vila dos Prazeres,
localizada na região de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais. Sim, ela
sonhava com anjos e dizia religiosamente para si mesma que eles estavam
enviando mensagens em sonhos para que ela fosse para lá. Segundo os anjos, na
Vila dos Prazeres, os jovens, gatões sarados
adoravam gente velha tipo: bico de papagaio, artrose dupla, reumatismo, furúnculos,
varizes e varicoses, arca caída, gota, dermatoses, joanetes, feridas crônicas,
etc.
Dona Vicentina que não precisava pagar passagem (porque
velhos também têm suas vantagens) chegou até Belo Horizonte. Foi uma viagem
longa, gente. Ela queria era mais tomar um banho, porque fazia um calor de 40
graus e, quando um ventinho passava por ela, levava seu suor catinguento longe.
Os abutres mineiros, lá do alto já estavam de olho na velha. Coitada. Suas
moedinhas que carregava na sacolinha deram para pagar um banho na rodoviária de
Belo Horizonte. Ficou cheirosinha.
Aproximou-se de uma mocinha que estava sentada num dos bancos
da rodoviária e a perguntou:
- Mocinha, você é daqui de Minas?
- Sim, minha senhora.
- Como posso chegar à Vila dos Prazeres?
A mocinha que tomava um refrí de latinha se engasga, depois
diz:
- Desculpe-me, senhora. Nunca ouvi falar dessa vila por aqui.
Dona Vicentina pergunta desta vez para um jovem do tipo sarado.
- Olá brotinho, tudo bem? Como faço para chegar à Vila dos
Prazeres?
Vixi! O boy acabara de curtir um breu e acabou achando que
aquilo era uma pegadinha. Dá um sorriso daqueles chouriços e diz:
- To fora desta vila, velhinha. Nunca ouvi falar.
Dona Vicentina não desiste. Foi perguntando aqui e ali e, finalmente,
encontrou uma idosa, assim como ela,que conhecia tal vila.
- A senhora vai precisar pegar um ônibus circular para chegar
até lá. O ônibus passa na BR. É logo ali. Vai toda a vida reta por essa rua de
terra detrás da igrejinha, mas, vai toda a vida que a senhora vai dar de cara
com a BR. Lá vai passar um ônibus amarelinho com o nome de Vila dos Prazeres.
Dona Vicentina chega à BR, para num ponto e aguarda ansiosa
pelo ônibus. Que BR estranha! Não passava nem sequer um carro nela. Ela espera
por uns quarenta minutos e, de repente, quem vinha lá? Um ônibus amarelinho.
Dona Vicentina tinha uma visão muito boa. Deu pra lá no letreiro: Recolhe. E
ela pragueja muito:
- Maldição desse tal recolhe. Estou aqui há tanto tempo,
coringa do baralho.
Quarenta minutos depois, quem vinha lá? Outro ônibus
amarelinho, apesar de estar cheinho, recolhe também. Dona Vicentina pragueja os
céus, a terra e até sua própria vida. Ela resolve seguir a pé pela BR e já
estava perdendo o fôlego. Olha para trás e vê que vinha outro ônibus amarelinho
com o mesmo letreiro que dizia: recolhe. Como ela praguejava, meu Deus!
Vixi! O céu escurece e pensem numa chuva. Ela queria uma
marquise, porém, marquise em BR só nas idéias de Marcão, não é mesmo? Ficou mais molhada do que um peixe. De
repente, quem vinha lá? Outro ônibus amarelhinho com o letreiro: Recolhe. Desta
vez, ela entra na frente do ônibus porque queria dizer umas verdades para o
motorista e, pensem num final triste que teve essa doce velhinha, gente. Morreu
sem conhecer a antiga Vila dos Prazeres que tinha por novo nome Recolhe. Sim,
era uma vila assim tipo: espere pela
morte que ela está a caminho. Só tinha velhinhos.
Que sacanagem, gente!
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quarta-feira, 19 de março de 2014
ALBERTO E ROBERTO
Alberto e Roberto eram amigos desde a infância. Sabe aquela
amizade assim tipo grude? Assim,
língua e saliva, enfim, amigos de verdade.
Se não houvesse poréns
na vida, creio que ela não teria sentido. É interessante lembrar, e, um bom
filósofo sabe disso, que, poréns,
sempre vão existir enquanto o mundo for mundo e, isso não tem nada haver.
Alberto era um homem otimista ao extremo. Podia estar fazendo
aquele dia feio, cinzento, nublado, com aquela chuvinha sem vergonha que molha
o cachorro e quando o vento bate nele, o fedor vai longe. Alberto com aquele
olhar seguro, com aquele semblante de rei coroado por Deus, abria o bocão
alegremente e dizia em voz forte e clara: “Bom
dia!”.
Porém, Roberto era completamente diferente do amigo Alberto.
Um cara que, além de pessimista, era azarado. Acreditava em tudo, porém, sempre
com aquela frase insegura nos lábios: “Sei
lá”. Torcia feito um corintiano religioso para que as coisas dessem certo
em sua vida, porém, quando não davam (e nunca davam mesmo), ele dizia vitorioso
protestando sua derrota a todos: “Estão
vendo? Eu tinha certeza de que não ia dar certo”.
Roberto juntou-se com muitas mulheres porém, suas mulheres e uma
carreirinha de filhos o botaram pra correr. O cara era sonhador demais e,
quando tomava uns goles falava até inglês, imaginem. Quer dizer, falava inglês
do jeito dele, é claro.
Para conquistar o sorrisinho dos pêssegos, cito as mocinhas da cidade, ele se transformava. Roberto
passava talco dos pés à cabeça, se alinhava bem e ia pra pracinha paquerar as
mocinhas. Misturava gentileza com tristeza e, os pêssegos, ou seja, as mocinhas da cidade gamavam no jeitinho dele.
O homem era tão dramático, chorava muito mais que um bebê etíope no colo da
Princesa Diana, que conseguia comover até Deus e, olhem que eu tenho as minhas
dúvidas. Porém, após as mocinhas da cidade cair na real, (não no Real, esta
moeda estúpida) botaram ele pra correr também. Basta de mentiras, homem! Baixo
astral demais é capaz de até tirar o doce do mel.
Sucedeu que um dia, Roberto que morava numa cidadezinha
pacata do interior de São Paulo, chamada Socorro, viajou até a capital Sampa,
onde morava seu melhor amigo Alberto e o encontrou num dos seus escritórios, situado na Av. Paulista e, logo de chegada, deu um forte abraço no
amigo, não pôde se conter e chorou muito, mas, muito mesmo.
- Meu amigo Alberto, eu confesso que te amo tanto e, muito
mais do que a mim mesmo. Meu mundo desabou. Acabou tudo. Preciso de você.
Alberto sorridente como sempre lhe pergunta:
- Amigo, você saiu de Socorro, a cidade onde nascemos,
somente com a roupa do corpo?
Roberto chora e diz:
- Minhas roupas estão no malex. Sabe o que é malex? Estão no
malex no terminal Tietê, na rodoviária. São muitas coisas amigo. Eu não tinha
forças para trazê-las e, pelo o amor de Deus, eu não posso perder minhas
coisinhas, amigo.
Roberto não parava de chorar. Mas, pensem num chorão de
primeira. O amigo Alberto lhe acalma.
- Calma, meu amigo. Eu sou o seu melhor amigo, lembra? Vamos
lá agora, com meu carro pegar suas coisas na rodoviária.
Roberto desabafa:
- Alberto, eu não vou mentir para você. Eu não conseguiria
mentir para o meu melhor amigo, meu Deus! Minhas coisas, como roupas, Playstation
estão em três malex na rodoviária há quarenta dias. Não pude pagar as diárias e
bloquearam o malex. Sabe o que é malex, não sabe? Estou arrasado, amigo.
- Por que não me ligou esses dias todos que ficou por aí
vagando, meu amigo?
- Porque eu não queria incomodá-lo, amigo Alberto.
Que amigo do peito, gente! Alberto, um homem que era
de negócios, muito rico foi até a
rodoviária (terminal Tietê) e pagou o débito. Roberto chorava tanto, mas, tanto
que, o amigo Alberto não resistiu em dizer:
- Amigo, vou lhe dar uma força e digo mais: muito mais do que
a luz light power. Está com fome
querido amigo?
Roberto responde:
- Amigo, você é Deus. Não! Eu não conseguiria comer nada,
apesar de eu estar morrendo de fome. Que vontade de tomar uma cervejinha, meu
Deus!
Alberto sorri e diz:
- Cervejinha? Vou te levar no maior restaurante daqui de São
Paulo e vamos tomar todas, porém, com caviar, picanha ou aquilo que você
quiser. Depois, vou te levar para a minha mansão no bairro Jardins e te
hospedarei no melhor dos quartos que, aliás, não é um quarto. É uma suíte,
ouvistes?
Alberto e Roberto ficaram horas num finíssimo restaurante em
São Paulo. Para se ter uma ideia, só a cervejinha de latinha era R$ 25 (vinte e
cinco reais) a unidade e, tomaram pelo menos umas dez. Imaginem a rodada de
caviar e picanha.
Alberto morava só, com exceção aos empregados numa luxuosa mansão no bairro Jardins
(classe alta) como prometeu, cumpriu: hospedou Roberto numa grande suíte. A
alegria de Roberto era tanta que ele não parava de chorar.
- Você é meu rei, amigo Alberto. Um dia vou lhe recompensar
por tudo o que está fazendo comigo.
Na suíte onde se hospedou Roberto tinha de tudo e mais um
pouco. Roberto foi direto mexer no computador. Lamentava-se muito, falando
sozinho.
- Que droga! Pena que não sei ler e muito menos escrever.
Mas, vou aprender na marra porque também sou rei.
Foi teclando, teclando, mesmo sem conhecer as letras e,
milagrosamente foi entrando em vários sites. Ficou abobalhado.
- Que maravilha! Aprendi a mexer nesse bicho. Agora tenho o
mundo em minhas mãos.
Roberto foi dormir pelas 3 horas da manhã e, como não sabia
desligar o computador, puxou o fio da tomada e foi descansar.
No dia seguinte, pelas 10 horas da manhã o interfone da suíte
tocou. Ele atendeu. Era Dirce, a governanta da mansão.
- Sr. Roberto? Sou Dirce, a governanta do seu amigo, Sr.
Alberto. Bom dia! Dormiu bem?
Roberto sorri e diz humildemente.
- Bom dia? Dormi na glória e estou sentindo-me Deus.
Dirce diz:
- O Sr. Alberto precisou viajar para o estrangeiro a negócios
e, eu e todos os demais empregados, segundo as ordens do Sr. Alberto, ficaremos
a seu dispor. Deseja alguma coisa, Senhor?
Roberto dá um sorrisinho vitorioso, coça sua cabeça e diz:
- Traga-me um café completo daqueles que a gente vê nos
filmes, mocinha.
- Em poucos minutos lhe servirei o café completo, senhor.
Roberto foi tomar uma ducha de hidromassagem e sentia-se
realmente como um rei. Cantarolava e batia em sua própria bunda e dizia:
- Eu sou rei.
Dirce tocou a campainha da suíte e ele foi atendê-la peladão,
deixando a coitada que era evangélica vermelha feito um tomate.
- Deseja mais alguma coisa, senhor?
- No momento não, menina, porém, se eu desejar, como poderei
localizá-la?
- É só tirar do gancho o interfone, senhor.
- Só isso.
- Sim.
- Então tchau, menina. Voltarei para o meu banho.
Depois do banho foi tomar seu café completo.
- Vixi! Feijão, salsichas, bacon, ovos, cogumelos. Nesta
jarra tem leite, nesta outra suco de laranja, neste bule tem café e nesse outro
chá. Que doideira. Isso é entrada pra caganeira na certa. Só quero comer estas
torradinhas com manteiga e tomar uma xícara de café, minha nega.
Depois de satisfeito voltou a mexer no computador e, o
milagre voltou a ocorrer: entrou novamente em sites diversos.
- Que maravilha! Sou Deus e tenho o mundo em minhas mãos.
Hehehê!
Pelas 3 horas da tarde, ele, furioso pega o interfone:
- Menina, que hora que rola a bóia?
- Não entendi, senhor.
- Falo do rango, meu anjo.
- Continuo não entendendo, senhor.
- Menina, você é burra? Estou falando do almoço pro moço,
entendeu agora?
- Sim, meu senhor. A mesa ainda está posta. Deseja descer na
sala de jantar ou prefere que vá lhe servir em sua suíte?
- Sirva-me aqui, é claro. O que vem de bom na bandeja?
- Caviar, filé de peixe, bife a milanesa, arroz branco e...
- Pode parar. Quero somente arroz com um peixinho e um ovinho
frito mal passado.
Depois que almoçou bem, resolveu dar um passeio pela mansão do
amigo Alberto que estava na Turquia a negócios.
Roberto entrou na grande biblioteca da mansão e
ficou encantado ao ver a quantidade de livros nas estantes.
- Vixi! Meu amigo Alberto é letrado demais. Será
que ele já leu tudo isso? Tem que ter muito tempo.
O que mais deixou Roberto admirado foi um dos quadros
pintados que viu na parede. Uma obra de arte de um pintor famoso italiano: a
Torre de Pisa. Ficou horas olhando para aquele quadro.
Uma semana passou e Roberto sentia-se realmente
como um rei morando naquela mansão. Comia e bebia do bom e do melhor, tomava
banho de piscina, enfim, era muito bem servido pelos empregados. Mexeu tanto no
computador que conseguiu desfigura-lo. Travou tudo. Alberto chega de viagem.
- Amigo Roberto, meus empregados lhe trataram bem
durante a minha ausência?
- Fui tratado como um rei, meu Deus!
Alberto sorri.
- Não me chame de Deus, amigo. Viu como é bom morar
bem? Chega de choro agora, não é? Tudo o que você passou foi apenas uma fase
e...
Roberto o interrompe com uma risadinha cínica.
- Amigo, por curiosidade, quanto é que você pagou
por aquele quadro que tem um prédio torto?
Alberto dá uma gargalhada.
- Você quer dizer o quadro da Torre de Pisa? Foi
muito dinheiro, amigo. Muito dinheiro mesmo.
Roberto continua dando risadinha cínica.
- Onde é que você estava com a cabeça amigo? O cara
que pintou aquilo estava bêbado ou muito doido, só pode. Pintou um prédio
torto. O que é isso? Mas, você vai me agradecer e muito e vai descobrir que
tenho uma arte incrível dentro de mim.
Alberto nem piscava os olhos.
- Não estou entendendo. Arte dentro de você?
- Sim. Achei uns pincéis e tinta num armarinho em
sua biblioteca e fiz um trabalho de primeira naquele quadro. Ficaram um
borrõezinhos, mas, o prédio ficou de pé e reto, não torto.
Alberto corre para a sua biblioteca e quando olha
para o quadro da Torre de Pisa que pagou uma fortuna, por pouco não se enfarta.
- O que você fez com meu quadro, Roberto?! Cagou
nele. Não tem outro nome. A Torre de Pisa foi construída assim devido o solo
instável.
- Perdoe-me amigo. Essa foi mal e, agora me
sentirei culpado pelo resto da droga da minha vida.
- Tudo bem, amigo Roberto. Já cagou mesmo e, agora
é só limpar a merda. Mandarei Dirce jogá-lo no lixo.
Roberto chora.
- Que final triste, meu Deus! Não precisa ninguém
me jogar não. Eu mesmo me jogo.
Alberto teve que sorrir de tão nervoso que estava.
- Estou falando do quadro e não de você amigo
Roberto. Você vale muito mais para mim do que aquele quadro.
Pois é, creio que não exista um homem que chore mais do que
Roberto. Geralmente, as pessoas fogem de um cara assim, tão pra baixo feito
Roberto. Mas, a vida estava sendo muito grata para com ele, afinal, Alberto, um
homem muito rico, bom de coração, otimista, generoso, era realmente o melhor
amigo de Roberto e, era de palavra. Prometeu ajudá-lo e isso estava cumprindo.
Sucedeu que um dia, logo pela manhã, Alberto estava com a
macaca. Peraí! Mas, Alberto não era otimista? Sim, mas, naquela manhã ele
estava cuspindo fogo de tão bravo que estava. Topou com Roberto na copa da
mansão que se lambuzava de tanto comer.
- Roberto, me responda uma coisa: como é que você conseguiu
fazer isso, meu filho? Até Deus (que me ligou há pouco) quer saber. Como
conseguiu comprar passagem de avião para Miami, Tókio, Pequim, Hong Kong e
Paris? Comprou no meu cartão pela internet e o pior: não viajou. Como conseguiu
fazer isso? Você doou “dez mil reais” para um pastor de igreja pilantra feita
aquela linguinha de cobra. Você me enforcou amigo. Já estou morto. Quem está
lhe falando aqui e agora é meu espírito. Oi!
Roberto (como sempre) chora e, desta vez, muito mais do que
um veadinho frágil sendo dominado por um leão feroz. Lamenta-se entre as
lágrimas.
- Meu Deus! Eu temia muito por esse dia. Agora é o fim da
minha vida. Por que tive que nascer, Senhor da glória, se já sabias que eu
seria um erro em vida? Deverias ter me mandado embora pelo mesmo canal reto e
ereto do meu falecido pai. E agora, meu Deus? Estou aqui diante do meu rei, meu
melhor amigo e...
Roberto puxa os cabelos de Alberto, dá vários bofetões em sua
face e diz chorando:
- E agora ele está morto. Matei-o sem querer. Estou diante de
seu espírito e...
Alberto dá uma porrada tão forte na mesa de vidro que quebra,
é claro, e diz:
- Não, amigo Roberto. Pare! Eu tenho um espírito, mas, ainda
não desencarnei. Por pouco. Por favor, meu amigo, eu lhe imploro: Pare de fuçar
naquilo que você não conhece. Quer estudar? Posso contratar os melhores
professores particulares daqui de São Paulo e...
Roberto o interrompe:
- Não, meu amigo. Nunca serei capaz de aprender nada na vida.
Eu sou um erro. Sou à sombra da morte. O caminho para o inferno.
Alberto dá um forte abraço em Roberto.
- Pare de ser assim tão pessimista, amigo. Eu vou lhe ajudar.
Esta é a minha missão.
Alberto viaja novamente para a Turquia. Estava fechando um
ótimo negócio por lá, com um turco.
Roberto não atendeu o apelo de Alberto: o de não fuçar
naquilo que não conhece. Abriu vários vinhos importados e caríssimos guardados
para boas ocasiões, entre outras bebidas. Tomava-os como se fossem
refrigerantes. Muito alegre, isto é, embriagado, vivia fazendo gracinhas para
os empregados, em especial para Dirce.
- Case-se comigo Dirce. Posso te garantir que farei de você,
a rainha do lar. Lavará minhas meias e cuecas, porque o poder da mandinga é
grande e, não confiarei em outra mulher. Em troca, lhe darei a bala blindada de
ouro que é o meu tesouro. Poderemos viver em Socorro, interior de São Paulo.
Uma cidade histórica onde nasci. O sonho de Elvis era conhecê-la, porém, morreu
cantando Ismael neve. Gostava de neve
e, em Socorro nunca caiu neve. Nem agora, nem nunca.
Os empregados do Sr. Alberto (um total de oito) gostavam de
Roberto, porém, queriam entender e, ficavam cochichando pelos cantos da mansão,
por quanto tempo ainda, esse amigão do peito do patrão, ficaria hospedado ali
numa boa, desfrutando do bom e do melhor que uma pessoa possa ter. Quem não
queria ter um amigo como Alberto? Quem?
Numa manhã de segunda feira, Dirce atende um carteiro no portão
da mansão. Era uma encomenda para o Sr. Alberto, que estava na Turquia. Sem
problemas. Era só assinar e pronto. Roberto, da janela da suíte onde estava
hospedado, observava tudo. Dirce leva a encomenda num pacotão para a biblioteca
de Alberto. Roberto fica curioso feito um gato malandro que espera a vovó afiar
a faca na pia da cozinha para entender que vai rolar peixe.
O que teria naquele pacotão? O dia custou pra passar e,
Roberto, muito esperto, esperou todos dormirem e, em pulinhos de lebre (que são
leves e não fazem barulho) foi até a biblioteca conferir de perto, ao vivo e à
cores, o que havia dentro daquele pacotão. Que cara mais abelhudo, gente!
Certo dia, Roberto se embriagou de vinho e cometeu a pior de
todas as loucuras. Queria dar um role
de carro pelas ruas de São Paulo. Peraí!
Mas, ele não sabia dirigir. Depois de bêbado, muitos dizem que sabe tudo, não
é? Sabe uma ova! Roberto sabia dirigir tão bem quanto falar inglês, imaginem.
Pegou um dos carros de Alberto (um McLaren MP4) e saiu para as ruas, feito um
louco gritando:
- Eu sou Deus! Eu sou Deus!
Que perigo ambulante era esse homem, gente. Dirce muito
religiosa dobrou seus joelhos em seu quarto e pedia a Deus incessantemente para
que nada de mal aconteça com Roberto.
As horas foram se passando e, nada de Roberto chegar. Quem
chega de viagem e, por sinal muito cansado é Alberto. Quando fica sabendo pelos
empregados que o amigo Roberto fez esta loucura, ficou muito preocupado.
- Meu Deus! Roberto não sabe andar nem de carroça, imaginem
pilotar um carro.
José, o jardineiro, o mesmo quem abriu o portão da mansão
para Roberto, humildemente, com seu chapéu de palha nas mãos vem trazer a
notícia para Alberto.
- Patrão, deu na radia
agora. Um terrível acidente aconteceu. Não sobrou nada.
Alberto chora.
- Que Deus tenha piedade do meu amigo. Que final de vida mais
cruel!
- Não, patrão. Segundo o locutor da radia, com seu amigo Roberto não aconteceu nada grave não, mas,
com seu carro, não sobrou nadica de
nada.
Alberto suspira.
- Que bom que meu amigo sobreviveu. Preciso ter uma conversa
muito séria com ele. Que hospital que ele está?
E Alberto vai até o hospital e, quando chega lá, pensa em
enforcar seu amigo Roberto (mas, não faz isso) ainda mais o vendo contar
piadinhas para as enfermeiras.
- Como está Roberto?
- Sobrevivi amigo, com a graça do rei da glória, e você?
Dentro do carro, de volta para a mansão no bairro Jardins,
Alberto chama a atenção de Roberto.
- Sinceramente, creio que você está louco. Não te pedi para
não fuçar naquilo que não conhece? Foi o mesmo que falar: vá e fuce. Caramba! O
que está acontecendo com você, Roberto?
E Roberto, como sempre chora.
- Sou um erro em vida e nunca vou acertar. Essa foi a pior
das loucuras que já cometi na vida.
- Ainda bem que você reconhece isso. Você só não vai acertar
se quiser aprender. Porém, você não quer, caramba.
Roberto desabafa em lágrimas.
- Me leve para um centro bom, daqueles de Pai - de- Santo,
amigo. Só pode ser o Quimbimba que está me perseguindo.
- Que centro bom com Pai-de-santo, meu?! Quimbimba?! Quem é
este?
- É o chifrudo, o Diabo.
- Pare de dizer asneira, cara! Não existe Quimbimba nem na
sua vida e nem na de ninguém. Que perigo. Você poderia ter perdido sua vida e
também a vida de pessoas com essa loucura que cometeu. Não sabe dirigir,
aprenda meu!
Foi só Alberto dizer isso e, um terrível acidente acontece.
Ele atropela uma velhinha que atravessava a rua correndo.
- Meu Deus! De onde surgiu essa velhinha?
- É o Quimbimba.
Alberto dá um berro:
- Pare de dizer asneiras, Roberto e deixe-me socorrer esta
velhinha.
Alberto coloca a frágil velhinha dentro do carro e volta para
o mesmo hospital onde estava Roberto. Por azar, o carro pifa no caminho. Era só
a gasolina e ainda bem que havia um posto por perto para abastecer o carro.
Vixi! Que azar! Os cartões de crédito de Alberto estavam todos bloqueados. Por
sorte, Roberto tira de seu bolso um saquinho cheio de moedas.
- É tudo o que eu tenho.
Ainda bem que deu para pagar a gasolina, porém, a velhinha
não resistiu e veio a falecer antes de chegar ao hospital. Agora sim, Alberto
sofreu fortíssimas dores de cabeça. Teve que pagar velório e enterro da velha e
dar uma boa indenização em dinheiro para o viúvo que queria engoli-lo vivo. Gastou muito dinheiro.
Numa manhã, Alberto estranhou o comportamento de Dirce no café da manhã. Ela estava assim tímida feita uma avestruz adolescente.
- Está tudo bem com você, Dirce?
Dirce não conseguia encarar seu patrão.
- Está tudo bem, sim.
- Sei não. Você está com uma carinha esquisita. Já sei. Precisa tirar umas férias, é isso.
- Não, senhor. Não preciso de férias.
- O que te afliges? Fale-me.
Dirce não consegue segurar suas lágrimas e chora.
- Deixa prá lá, patrão.
- Nunca me chamou de patrão, Dirce. O que está acontecendo com você, afinal? Por que está chorando?
Dirce desabafa:
- Estou sentindo-me culpada por ter segurado nas mãos, sem saber, um pinto enorme de silicone que chegou para o senhor da Alemanha.
Alberto fica furioso.
- Pinto enorme de silicone vinda da Alemanha? Pra mim?! Que doidice é essa Dirce?
- Está lá em sua biblioteca e eu juro que não abri o pacote. Alguém abriu. Se for o senhor, por favor, guarde-o num local que meus olhos não vejam mais aquela coisa.
Alberto vai até sua biblioteca conferir de perto que encomenda era aquela. Vê aquele pênis enorme de silicone exposto sobre sua mesa, chama Roberto aos berros.
- O que fiz desta vez, meu rei?
Alberto estava com a macaca novamente.
- Não tem outro nome, Roberto. É você novamente, como sempre. Está querendo me ferrar, é isso?
Roberto fica pasmo olhando para aquele pênis de silicone.
- Amigo Alberto, eu juro que vi um deste daí, mas, igualzinho a este lá em seu computador. Como conseguiu transferi-lo para cá?
Alberto tenta se controlar.
- Acabou de confessar. Você encomendou esta porcaria pela internet, em meu nome. Como conseguiu fazer isso, Alberto? Responda-me.
Roberto coça a cabeça e simplesmente responde:
- É o Quimbimba.
Alberto grita:
- Saia da minha frente, agora!
Roberto ficou tão chateado por seu melhor amigo lhe ter
chamado a atenção que, se trancou na suíte e não quis ver a cara de ninguém.
Pobre diabo! Mas, também, um sujeito como ele que só faz tudo errado, o que se
pode esperar?
Alberto se arrependeu de ter agido assim, tão bruscamente com
o amigo e foi lhe pedir desculpas pessoalmente.
- Amigo Roberto, precisamos conversar.
- Já sei. Quer que eu arrume minhas malas e vá embora, não é?
Não sou totalmente burro e...
- Pare com isso, amigo. Não estou jamais te mandando embora.
Quero que me perdoe por eu ter gritado com você hoje pela manhã, só isso.
Também, amigo, ultimamente você vem fazendo muitas besteiras. Primeiro foi o
quadro da Torre de Pisa (que paguei uma fortuna) por ele e você o desgraçou
tirando dele sua originalidade; depois, o que até agora não consegui entender,
comprou passagens de avião caríssimas pela internet, para países que você nem
faz idéia; depois, a loucura maior: foi dirigir um dos meus carros (inclusive,
o que eu mais gostava) e destruí-lo. Graças a Deus, você não morreu e também
não matou ninguém; mas, creia que foi por pouco. Fiquei tão indignado com o
montante de besteiras que me dizia quando voltavas-mos do hospital (onde fui te
buscar) que, por distração minha, atropelei e matei aquela velhinha. Tudo bem
que ela já estava no final da vida, mas, morrer daquela forma foi terrível e,
tudo isso me custou muito dinheiro. Como se não bastasse você, pela internet
faz uma encomenda em meu nome maluca: compra um pênis de silicone da Alemanha e
não entendi até agora como conseguiu fazer isso se nem sequer conhece as
letras. Veio parar aqui. Como explicar isso, meu Deus?
Roberto com seus olhos lacrimosos responde:
- É o Quimbimba.
Alberto respira fundo e, desta vez, sorri:
- Você não vai conseguir me tirar do sério, amigo. Hoje não.
O que tenho de especial a lhe falar tenho certeza de que vai gostar e muito.
Daqui a pouco, vai chegar da Turquia, Mohamed, um turco amigo e temos algo
muito bom a lhe oferecer. Lá naquele país, você morar numa mansão muito melhor
do que esta e será patrão também como eu. Vai viver uma vida de rei e terá
lindas garotas a seus pés. É claro que vai ter que trabalhar para o turco e o
trabalho é fácil demais. Vai querer perder a boca?
Roberto se entusiasma.
- Claro que não, amigo. Meu sonho é ser rei e tendo lindas
garotas a meus pés, só se eu fosse um louco para perder esta boca. Posso chorar
de alegria?
Alberto sorri.
- Chore, amigo. Eu disse que queria lhe ajudar, não disse?
E a noitinha, chega Mohamed da Turquia. Um velhinho, por
sinal, aparentemente muito simpático.
- Bocê guarbou baquele
binho durco que lhe bei be bresente bara boas bocasiões?
Vixi! Ele quis dizer se Alberto guardou o vinho turco que
ganhou de presente para boas ocasiões.
Alberto responde animado:
- É claro que guardei amigo Mohamed. Eu mesmo vou servi-lo.
Um instante só.
Por pouco, Alberto não se enfarta. Todos os seus vinhos
importados e caríssimos estavam vazios, inclusive o que ganhou de presente de
Mohamed. Quem tomou tanto vinho assim? Será que Roberto diria que foi o Quimbimba?
- Amigo Mohamed, nem sei como lhe dizer, mas, tenho que ser
direto: alguém tomou o vinho que me presenteou como quem toma Maguari é o suco. Mandarei Dirce
preparar um café e...
Mohamed se chateia e diz:
- Café?!
Pois é, Mohamed teve que tomar café mesmo e, por outro lado
até que foi bom, afinal, conversar sobre negócios com bebidas podia não dar
muito certo. Em breve, Roberto viveria na Turquia como um rei. A história desse
pobre diabo teria que ter um final feliz, é claro.
Mohamed e Alberto viajam para a Turquia no dia seguinte e,
Roberto fica na expectativa, contando os dias para ir para lá também.
Quem não estava gostando nada disso era Dirce.
- Sei lá, Roberto, acho que esta sua ida pra lá não vai dar
muito certo. Estou sentindo um aperto tão forte aqui em meu coração que, sei lá
viu?
E passaram-se muitos dias, semanas e, o que teria acontecido
com Alberto que não voltou mais da Turquia? Roberto não estava mais suportando
ter que ficar naquela terrível expectativa. Dirce continuava com aquele aperto
no coração para que Roberto não fosse para aquele país. Ela estava achando toda
essa história muito estranha.
Roberto moraria numa mansão lá na Turquia e trabalharia para
Mohamed, o turco. Mas, peraí! Que trabalho é este que lhe renderia muito
dinheiro, segundo disse Mohamed? Roberto trataria apenas de passarinhos. Sim,
não seria necessário ler nem escrever, porque Roberto era analfabeto. Que
estranho, não é?
Às 5 horas da manhã, o telefone toca. Dirce desperta e vai
atender. Era o Sr. Alberto, seu patrão e, o homem estava muito nervoso e
preocupado.
- Dirce, está me ouvindo bem? Sou eu, Sr. Alberto e estou
aqui na Turquia. Olhe aqui, quer dizer, veja bem, não! Ouça-me bem. Está me
ouvindo?
Dirce estranha muito o tom de voz de Alberto.
- Sim, Sr. Alberto. Estou lhe ouvindo bem.
- Ouça bem Dirce, não deixe que nada, absolutamente nada lhe
tire a atenção. Está me ouvindo? Oi!
- Sim, Sr. Alberto. Estou lhe ouvindo bem.
- Você está na sala, certo?
- Sim, como sabe disso?
- Porque o telefone sem fio só fica na sala, Dirce. Vá até a
biblioteca. Vá para lá agora e continue na linha. Já chegou à biblioteca,
Dirce?
- Sim, acabei de chegar.
- Tem alguém te vigiando, Dirce? Alguns dos empregados ou meu
amigo, Roberto?
- Não, senhor. São 5 horas da manhã e todos estão dormindo,
inclusive eu que também estava.
- Ótimo. Aqui já passa das 10 horas da manhã. Então, Dirce, preste
muita atenção agora. Aí na biblioteca, tem minha mesa grande de vidro, certo?
- Sim.
- Não é esta. No canto da biblioteca, próxima do aquário, tem
uma mesinha pequena com sete gavetas, certo?
- Sim.
- Atrás do armário tem um molho de chave. Achou?
- Espera um pouco, senhor. Estou ouvindo barulho e acho que
alguém levantou.
- Pelo amor de Deus, tranque a porta desta biblioteca Dirce. Pegou
o molho de chaves?
- Sim. Estou com o molho nas mãos.
- Pegue a chave de número 3. Pegou?
- Sim. Mas, esta não é a chave que tranca a biblioteca, Senhor
- Não, Dirce. Esta é a chave da terceira gaveta que você vai
abrir. Abriu?
- Estou tentando, senhor Alberto. Está difícil fazer tudo ao
mesmo tempo.
- Abriu?
- Sim, acabei de abrir.
- Que ótimo, Dirce! Vou dobrar o seu salário por isso. Está
vendo aí um monte de envelopes amarelos, brancos e vermelhos, não está?
- Sim, são diversos.
- Esqueça dos envelopes amarelos e brancos e, procure num dos
envelopes vermelhos a estampa de um burro. Achou?
- Um momento, senhor. Leão, veado, urso, cachorro, touro,
urso e, burro. Achei.
Alberto suspira.
- Que ótimo Dirce! Abra este envelope com cuidado. Abriu?
- Estou abrindo, senhor. Abri e, meu Deus! Tudo está muito
confuso para mim, senhor. Estou vendo aqui uma identidade, a tal da RG com a
tua foto, mas, com nome de Roberto Menezes, teu melhor amigo. Vixi! Tem outra
com a foto dele, mas, com o teu nome e, meu Deus! Até que enfim, uma identidade
com a tua foto e com o teu nome.
- Dirce, pelo amor de Deus, é sério. Ouça-me bem: Envie para
mim pelos Correios a identidade de Roberto com a minha foto e...
De repente, Jerico, o mordomo do Sr. Alberto pega o telefone
das mãos de Dirce.
- Ela não vai enviar esta identidade para o senhor, meu velho.
Isso é truta.
José, o jardineiro também entra na biblioteca.
- Bom dia, Dirce! Bom dia, Jerico. Deu na radia agora: o patrão Alberto foi preso
no estrangeiro por documentação falsa.
Quem diria, hein? Alberto era mau caráter. A história é muito
mais confusa do que alguém possa imaginar.
Na realidade, Alberto e Roberto eram irmãos. Irmãos?! Sim, só
que Alberto era o filho adotivo de Napoleão Menezes, um homem muito rico que
deixou toda a sua fortuna de herança para Roberto, seu legítimo filho.
Sucedeu que um dia, Alberto muito esperto, convidou o irmão
Roberto para dar um passeio ao campo. Faz até lembrar a história bíblica de
Caim e Abel. A intenção de Alberto era matar Roberto. Deu muitas pauladas na
cabeça do coitado, mas, felizmente, ele sobreviveu. Ficou meio lelé da cuca, é claro, e, para a alegria
de Alberto, Roberto se esqueceu desse fato e também de que eram irmãos.
Roberto, assim que seu pai morreu, ficou tão desgostoso da
vida que foi viver no mato feito um bicho. Quando encontrava com o irmão
Alberto tinha assim uma vaga lembrança de quando brincavam na infância. Alberto
muito esperto, usando o nome do irmão, herdou toda a fortuna do velho Napoleão
e se deu bem na vida. Foi para São Paulo e comprou a mansão de seus sonhos num
bairro de classe alta de nome Jardins. Ainda assim, planejava matar o irmão
para se livrar de vez dele. Fez-se de seu melhor amigo e, o ingênuo Roberto,
totalmente analfabeto, acreditou nisso. O coitado, pobre e falido de Roberto,
cresceu na ignorância e tinha apenas uma certidão de nascimento.
Alberto hospedou Roberto em sua mansão e estava sempre
estudando um plano que fosse fatal para se livrar dele para sempre.
Aquelas viagens para diversos países, quem comprou pela
internet, é evidente que não foi Roberto, que nem sequer conhecia letras. Quem
fez tudo isso e, também a compra daquele pênis de silicone foi Jerico, o mordomo
feio como um frango modelo, mas, sábio como um castor.
E quem era o turco Mohamed? João Ferreira Bigulinho nunca foi
turco. Era um tremendo de um golpista e também traficante de passarinhos. Ia
fazer de Roberto, seu escravo lá na Turquia.
Jerico, o mordomo, muito sábio, contou tudo o que sabia para
a polícia de Istambul, na Turquia e, não deu outra: Alberto e João Ferreira
Bigulinho (o falso Mohamed) foram presos por usar documentos falsos e muitas
outras falcatruas.
Dirce revelou finalmente para Roberto, que este era o grande
amor da sua vida desde o primeiro momento que o conheceu. Ficaram juntos, é
claro.
Roberto Menezes ganhou a causa na justiça que, por sinal, foi
muito rápida. Agora era um milionário e, também por direito.
Jerico, o mordomo, tinha outros planos. Demitiu-se da mansão
e foi para os Estados Unidos. O homem era um poliglota, gente.
Com o auxílio de Dirce também, Roberto contratou Honésio, um
homem aparentemente honesto, para administrar o seu dinheiro.
E assim, foram felizes, se, para sempre, só Deus pode
responder.
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