Cansado de ouvir tanto choro, tanta lamúria, tanta conversa fiada, de ver tanta miséria, violência e, de sentir tanto cheiro podre de carniça poluindo mais e mais a terra, Jeová Giré (o Deus das girações e também das gerações) resolveu presentear os humanos. Desta vez não enviou anjos nem profetas, nem mandou homens escreverem nada. Disse pra si mesmo: “Descerei a terra pessoalmente e falarei com este povo estúpido, ignorante e mal criado”.
No que Giré pisa na terra uma terça parte
dela já vai pro pau. O Japão e países vizinhos desaparecem do globo devido a um
grande terremoto; chove lascado em Lima, no Peru e o país acaba-se em dilúvio; os
Estados Unidos do Nordeste Brasileiro vão parar no Alaska, aí se dana tudo.
Giré pega um gigante chicote e dá uma
surra nos humanos que restaram. Até mesmo os nenenzinhos sentem a lambada do
chicote em suas bundinhas que nem pompom com protex lhes protegem nessa hora.
Giré estava com a macaca, meu!
- Bando de vermes! Até quando vão
perturbar minhas idéias? Estão me tirando pra lók?
O povo teme a Giré e nem pisca os olhos.
Porém, por ser pai e, por sinal de muitos filhos, aplica a eles o seu grande
amor.
- Darei a vocês um presente definitivo
para que vivam em perfeita harmonia e para sempre assim como eu. Serão eternos,
entenderam? Sim ou não?
O povo suspira e, o interessante é que até
mesmo os nenenzinhos parecem entender tudo. Giré prossegue:
- Este presente é tão bom que nunca mais
vão esperar a chegada do Natal, pois o Natal será todos os dias.
O povo vibra, se coça, bate palmas e grita
numa só voz:
- Aleluia! Aleluia!
Giré prossegue:
- Fim das raspas nas panelas, da salada de
capim e do bolo de água. Fim darei a fome para sempre.
O povo se rola no chão de tanta alegria.
- Aleluia! Aleluia!
- Querem mais? Querem queijo?
Giré joga toneladas de queijo para o povo
e até mesmo os ratinhos se pudessem dizer diriam “aleluia!”
- SUS?! O que é isso?! Sistema único de
saúde? Fim darei a hemorróida, diabetes, câncer da bexiga, das tripas e
lombrigas, cirrose, trombose, artrose e toda a praga de moléstias e doenças.
O povo vibra:
- Aleluia! Aleluia!
Giré observa seus filhos e se emociona.
Até chora:
- Amados, chega de sofrimento. Assim como
eu amo as bactérias, os vírus, eu também amo vocês. Não faço acepção de nada de
forma alguma. Vocês e uma reunião de baratas discutindo onde vão atacar para
mim é a mesma coisa, porém, como um dia eu tive a ideia de criá-los a minha
imagem e semelhança quero que sejam como eu, entenderam? Sim ou não?
O povo também se emociona, chora e ora.
Giré prossegue:
- Todos vocês terão suas casas próprias.
Fim darei ao aluguel, atestado de pobreza, bolsa família, seguro desemprego.
Pode parar! Ninguém vai precisar trabalhar mais não. Quero ver vocês coçando o
pé, o escroto numa boa, sem esse diabo de preocupação.
O povo se rola no chão, chora, berra,
grita...
- Aleluia! Aleluia!
Giré prossegue:
- Fim darei ao avião, o trem, o metrô, o
ônibus, o carro, o navio, o barco, a carroça, a escada rolante, o elevador e a
todo veículo de transporte. Isso é tudo besteira, amados. Darei a vocês asas e
voarão para onde quiserem. Sugiro que voem para a igreja.
O povo se cala e fica imaginando como será
essa mudança assim tão radical. Giré prossegue:
- Voltando ao item fome: exterminarei da
face da terra a galinha. Muitos de vocês estão comendo até o cérebro da
bichinha, sem falar dos bicos e unhas. Pode parar! Até os ovos, bando de
esfomeados darei fim. Vai acabar esse negócio de franguinho na panela. Aliás,
fim darei as panelas também. Vocês vão comer frutas. Eu sugiro a banana que faz
um bem enorme pros ossos.
O povo se cala de vez e Giré prossegue:
- Fim darei as festas também. Esse negócio
de carnaval é festa da carne e jogo de bundas me dá nojo. Vocês viverão como
irmãos e, inclusive fim darei as bundas também. Desde que criei a bunda, no
princípio do mundo, ela só tem me causado sérios problemas. Vocês não precisarão
mais de bundas. Sem bundas, entenderam? Sim ou não?
Um bundão no meio daquela multidão fica
preocupado e pergunta para Giré:
- Cem bundas só, Senhor?
Giré entende a preocupação daquele sujeito.
- Eu disse: Sem bundas e não cem bundas,
seu sem vergonha.
O povo fica triste porque a maioria gosta
de bunda. Fica imaginando como poderá viver sem ela. Giré prossegue:
- Chega de sexo. Fim darei a todos os
prazeres carnais, filé de bundas, surubas, etc.; pode parar.
O povo coça a cabeça, a orelha e não diz
nada. Giré prossegue:
- Querem queijo?
O povo se alegra e diz numa única voz:
- Queremos.
Giré responde:
- Acabou. Fim darei as vacas também. Fim
darei ao leite e seus derivados como a manteiguinha e o queijinho, etc. Chega
de gases intestinais. Isso polui a terra e, depois outra: vocês não terão
bundas.
O povo baixa a cabeça entristecido. Giré
prossegue:
- Vocês comerão capim como o cavalo e
frutas, só isso. Não vão se chapar de suco de uva que eu não quero nenhum nóia
no paraíso.
O povo faz cara feia, mas nada diz. Giré
prossegue:
- Tudo isso darei a vocês, porém, com uma
única condição: aceitem meu filho.
O povo se retira aos poucos da presença de
Giré e vai embora. Giré fica tão indignado que tem vontade de chicoteá-los de
novo, mas não faz isso. Diz pra si mesmo: “Por que esse povo não aceita meu
filho? Ele é tão legal".
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